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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

AUGUSTO SANTA CRUZ UM CANGACEIRO DOUTOR

Por: Pedro Nunes Filho

Pedro Nunes Filho
Um dia, Antônio Silvino, vendo sua fama declinar, queixou-se enciumado: ”De uns tempos desses para cá, só se quer saber de cangaceiro-doutor!

Referia-se ao Dr. Augusto de Santa Cruz Oliveira, graduado pela Faculdade de Direito do Recife, em 1895. Moço, esquentado e imbuído dos ideais libertários da Casa de Tobias, foi nomeado promotor público em Alagoa do Monteiro, sua terra natal. Naquele tempo, existia a politicagem togada. Juízes e promotores podiam envolver-se em política e até disputar eleições majoritárias. Numa dessas disputas calorosas, Augusto se indispõe com seu opositor, juiz José Neves, de quem descende a clã dos Neves, que até hoje matém tradição de honradez e dignidade na vida privada e no mundo jurídico do Recife. 

Fonte: Tok de historia "Rostand"
Augusto (foto a esquerda) não demora também a discordar da oligarquia que dominava a Paraíba do Norte, rompendo com o presidente da província, João Lopes Machado. Sentindo-se com suas prerrogativas políticas abolidas e com o direito de defesa cerceado, recruta 120 cabras dos porões do cangaço e, no dia 6 de maio de 1911, invade a cidade de Monteiro, quebra a cadeia pública, solta um protegido seu e os demais presos que se incorporam ao grupo armado. Em seguida, encarcera o destacamento de polícia local, pego de surpresa ainda dormindo, numa madrugada-manhã invernosa e fria. 

Depois, os revoltosos avançam contra a cidade, vencem a resistência armada que lhe fizeram as autoridades auxiliadas por alguns cidadãos desafetos do chefe. No final da tarde, a cidade resta dominada e presos o prefeito Pedro Bezerra, o promotor público José Inojosa Varejão, capitão Albino, major Basílio e capitão Victor Antunes, pai do ilustre professor internacionalista da Faculdade de Direito do Recife, Mário Pessoa. No tiroteio, morreram algumas pessoas e, em pavorosa, a população da cidade evade-se, deixando suas casas comerciais e residências abandonadas.Sem condições de resgatar os reféns, o governador João Machado pede ajuda ao governador de Pernambuco, Herculano Bandeira.

Corria o ano de 1911 e confrontavam-se em acirrada disputa pelo governo de Pernambuco, o prestigiado político, comendador Rosa e Silva, e o general Dantas Barreto, herói da Guerra do Paraguai. Em sua mocidade, antes de ir para a guerra, Dantas Barreto havia morado em Monteiro, onde exercia a profissão de relojoeiro e fez amizade com a família Santa Cruz. Por esta razão, o general resolve dar apoio ao bacharel revoltoso. Temendo que durante a disputa política Dantas Barreto pudesse se socorrer do braço armado das hostes guerreiras do paraibano rebelado, o governador de Pernambuco, que era rosista, autorizou um batalhão de 240 praças e 10 oficiais, sob o comando do Major Alfredo Duarte, invadir a Paraíba, munidos de 40 mil cartuchos mauser para guerrear o bacharel-cangaceiro, como o chamavam seus inimigos.

Ao contingente de Pernambuco, somaram-se 120 homens da polícia paraibana. No dia 27 de maio de 1911, um século atrás, atacam a Fazenda Areal, onde o bacharel estava aquartelado e mantinha os reféns prisioneiros. O combate dura uma manhã inteira. Não conseguindo resistir, Dr. Augusto bate em retirada e vai se refugiar no Juazeiro, levando consigo os prisioneiros. Ao longo da fatigante trajetória de muitos dias, vai libertando os reféns um por um, pois não ficaria bem chegar com prisioneiros no reduto sagrado. Na condição de perseguido político, entra no Juazeiro e é recebido pelo padre Cícero que o acolhe, desarma seus homens e arranja-lhes trabalho digno. Naquele mês de junho, o Juazeiro estava em pé de guerra com o Crato, lutando por sua independência e o padre precisava mostrar-se forte.

Homens do Cangaceiro Doutor
O patriarca tenta pacificar a Paraíba e não consegue. O conflito se estende até o ano seguinte e é chamado Guerra de 12. Frustrada em seu intento de resgatar os reféns, antes de deixar o palco da luta, a polícia destrói e queima a fazenda Areal e mais algumas propriedades de familiares do bacharel Santa Cruz.Em 1912, o Dr. Augusto retorna à Paraíba e se junta com o médico-fazendeiro Franklin Dantas, pai de João Dantas. Igualmente insatisfeitos com o desprestígio político que suas famílias estavam sofrendo, os dois doutores formam um exército de 500 homens e saem invadindo as principais cidades do sertão paraibano, com o propósito de depor o governador João Machado. Não conseguindo o intento desejado, Augusto refugia-se em Pernambuco, sob a proteção de Dantas Barreto que havia assumido o governo do Estado. Alguns anos depois, é nomeado Juiz de |Direito de Afogados da Ingazeira. Correto, exemplar e temido por sua história de vida, fez justiça e impôs respeito nas comarcas por onde passou. Morreu na comarca de Limoeiro em 1944. Esse fato histórico está minuciosamente descrito no livro Gurreiro Togado, do autor desta coluna.

Pedro Nunes Filho é advogado tributarista e escritor, sendo o livro Guerreiro Togado a sua obra de mais destaque.
Contato: pnunesfilho@yahoo.com.br


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A QUESTÃO COM ZÉ SATURNINO DEPOIMENTO DO FILHO DO 1º INIMIGO DE LAMPIÃO

Documentário da Laser Vídeo com direção de Aderbal Nogueira.

João Saturnino é filho do célebre Zé Saturnino, primeiro inimigo de Virgulino. Participação do escritor José Alves Sobrinho, filho de Luiz Cazuza.






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ALAGOAS:TURISMO REPETE COLONIZAÇÃO

Clerisvaldo B, Chagas, 29 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.049


   Notícias sobre turismo em Alagoas, nessa época do ano, são sempre auspiciosas. É aquela eterna citação de percentagem ocupacional dos hotéis da capital.  Nas praias da cidade, principalmente em Pajuçara, Jatiúca, Ponta Verde, é apresentada uma verdadeira babel de visitantes, pelas origens das Cinco Grandes Regiões Geográficas. Os atrativos principais para os viajantes são as praias mais bonitas do Brasil. Depois da caprichada urbanização naquela área e a intensa divulgação das belezas da orla, o fluxo turístico tem aumentado sensivelmente e no comércio praieiro é só comemoração. Mas também são procuradas outras fontes como museus, gastronomia, passeios lagunares e mesmo compras e visitas ao Comércio local. Atualmente o Turismo faz parte da cabeça econômica do estado.

(SISTEMA CHESF/DIVULGAÇÃO)

       O sertão alagoano foi conquistado através do rio São Francisco. As expedições exploradoras e colonizadoras chegaram pela foz do Grande Rio, navegaram à montante e ocuparam gradativamente toda a região sertaneja. Somente muito depois foram surgindo com imenso sacrifício estradas para a capital. Atualmente, após centenas de anos no marasmo, o turismo vai chegando também seguindo as pegadas dos colonizadores, no sertão. Penedo, que sempre reinou só na área turística do interior, vai dividindo espaço com outros municípios ribeirinhos. Depois das filmagens da Globo em Piranhas, houve um despertar gigantesco para a hidrelétrica de Xingó, cânions da região, e roteiro para a fazenda Angicos onde foram assassinados Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros em1938.
       A tendência é que a expansão turística de Piranhas continue através de Pão de Açúcar, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado e Belo Monte, na área de caatinga. Mas nada vem de graça e será preciso muito empenho de prefeitos interessados em atrativos mínimos para os visitantes. Enquanto isso o Sertão mais distante do rio não acena uma palha para essa atividade. Parece dormindo em relação aos dólares e, ao que parece, está aguardando mais cem anos para que o Turismo venha após a consolidação no São Francisco. Não se considera o turismo religioso, de fazendas, de trilhas, de escaladas, religioso e gastronômico... Nada, absolutamente nada. Esta visão medieval é irritante e só deságua no umbigo dos coronéis
       Arre!  Quanto  egoísmo nos feudos!

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AS FLORES QUE ESTAVAM ALI

*Rangel Alves da Costa

E de repente, a normalidade se transforma em caos, os passos seguros se tornam em correria, as palavras passam a ecoar em gritos, e tudo também aflige as flores. As flores que estavam ali...
Flores de Brumadinho. E quantas flores. Flores humanas, flores da terra, flores nas plantas, flores nos bichos, flores nas vidas.
E de repente as comportas se rompem, as engenharias cedem às pressões dos descasos e das omissões, as estagnações transbordam em rios de lama, as furiosas enxurradas se lançam derramam em mar de sofrimento e morte. E levam as flores que estavam ali...
Flores que apenas queriam viver, brotar, florescer. Flores acostumadas com os seus dias, até sem medo, e que jamais esperaram que o horror viesse na fúria da lama.
E de repente, quando a brisa se transforma em ventania, quando a ventania logo se torna em vendaval, quando a calmaria se transmuda em todo o mal, logo as flores se vão. As flores que estavam ali...
Flores dando vida aonde a morte se espreitava em sombras. Às sombras dos minérios, dos dejetos mortais, dos metais perigosos, da química acumulada em lamaçais ferozes.
E de repente, os rejeitos rejeitando a vida. E sobre as vidas avançando sem piedade. Não adiantou correr, não adiantou fugir, não adiantou gritar, não adiantou chorar. Quanto mais se abraçava à esperança de salvação, mais os braços do lodo sufocando a existência. A existência das flores que estavam ali...
Flores da Mina Córrego do Feijão, flores de jardim e de algodão. Flores com nomes, sobrenomes, famílias, vidas. Flores nas espécies, nas feições, nos arredores de tudo.


E de repente o outono mais perverso, desumano e furioso, que pudesse existir. Não o outono da natureza, do desfolhamento de folhas e murchamento de pétalas, mas o outono da insensatez humana, da ganância, da ambição, dizimando tudo o que encontrasse pela frente. Dizimando as flores que estavam ali...
Flores do Igarapé, flores das nascentes e das corredeiras, das fontes e das junções. Flores aguadas não pela água boa, água limpa, mas do lixo, do lixo e da química putrefação.
E de repente as pessoas sendo arrastados, encobertas, sumidas, desaparecidas. De repente os gritos sufocados e as agonias pela incapacidade de salvação. De repente apenas a lama, o terrível e voraz lamaçal, encobrindo e levando tudo. Levando as flores que estavam ali...
Flores do Rio Paraopeba, flores de outras águas, flores são franciscanas, flores que um dia nasceram em jardim e que de repente se transformaram em espinhos na alma.
E de repente o bicho feito um brinquedo miúdo sendo revirado, sacudido e levado pela voracidade da lamacenta correnteza. Casas, veículos, utensílios domésticos, pequeninos animais, tudo de repente tornado em triste folha seca sendo açoitada. E na imensidão jazendo as flores que estavam ali...
Flores da Bacia do São Francisco, flores de um mundo ajardinado e que de repente se viu em escombros de guerras. As mãos implorando salvação apenas afundando na fúria sem fim.
E de repente apenas o luto e a certeza da incerteza de quantos partiram assim, na agonia, no sofrimento e na aflição. Sequer partiram, pois simplesmente afundados e levados pelos esgotos humanos da ganância e da ambição, do lucro e da insensatez. E assim morreram as flores que estavam ali...
Flores da dor, do choro, da lágrima. Flores sem vida, pois flores mortas. O que vale uma vida para uma Vale que negligenciou a vida e gestou a morte das flores que estavam ali?

Escritor
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NAS VEREDAS DA HISTORIOGRAFIA CANGACEIRA.


Por Sálvio Siqueira

O INCANSÁVEL PESQUISADOR/POETA EGIPCIENSE -PAULOAFOSINO, JOÃO DE SOUSA LIMA É CONSIDERADO UMA DAS MAIORES AUTORIDADE NO TEMA ATUALMENTE.






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CARTA DE THEOPHANES FERRAZ PARA EUCLIDES DE SOUZA FERRAZ


Por Geraldo Ferraz

Carta de Theophanes Ferraz para Euclides de Souza Ferraz (Euclides Flor). Correspondência cedida, gentilmente, pelo primo Hildebrando Nogueira Neto.





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VÁRZEA DA EMA, UM PEQUENO POVOADO NO MUNICÍPIO DE CHORROCHÓ NO ALTO SERTÃO BAIANO! NINHO DE ANTIGOS CANGACEIRO!!!!


Por Guilherme Machado

O calor do sertão deixa a terra seca, porém permite as cores reluzentes, as marcas nas peles, as texturas das paredes de adobe e da aridez do chão. Várzea da Ema, povoado pertencente a Chorrochó (Bahia), com todo o emaranhado de tradição sertaneja, povoou a concentração fotográfica do baiano Luciano Carcará. “Mostrar essa realidade para o público foi a minha intenção, sobretudo, pela grande chance de trazer, ao debate, as condições de vivência do sertanejo que, acima de tudo, mantêm vivas suas raízes e heranças culturais. O sertanejo é patrimônio brasileiro”, resume Carcará.

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O PUXA SACO DE DOM PEDRO


Por Junior Almeida

Conta a piada que o cabra era tão babão, mas tão babão, que disse ao homem para quem trabalhava e puxava muito o seu saco, que “só tinha duas coisas na vida que gostava: uma era ele, seu patrão...”
E a outra? Quis saber o chefe.
A outra o senhor escolhe. Disse o adulador
O safado da piada era de um jeito, que quando saía de perto do chefe já se adiantava dizendo:
Meu patrão, tô indo ali, se por acaso senhor espirrar e eu não estiver aqui, saúde!

Anedotas à parte, encontrei numa passagem do livro do confrade Antônio Corrêa Sobrinho, sobre a visita do imperador Dom Pedro II à Piranhas, Penedo, Entremontes, Curralinho e Paulo Afonso, dentre outras, em outubro de 1859, um personagem que se encaixaria perfeitamente no anedotário popular. O repórter do “Jornal da Bahia” que não tem seu nome citado fazia parte da grande comitiva do monarca, sendo um correspondente de viagem. O cabra safado, para usar um adjetivo bem leve, só passou para os seus leitores o glamour da viagem, se preocupando até em informar as cores das roupas e lenços de Dom Pedro. Quem lesse o relato deve ter imaginado um conto de fadas das 1001 noites, ou algo parecido. Imagino que o então dirigente do Brasil não tenha tomado banho no Velho Chico, isso apenas com receio de afogar o informante do jornal baiano. Vejam uma parte do texto bajulador do dito repórter:
Os penedenses vos esperam, e a concessão de uma
semelhante graça será recebida por eles como uma
esperança do pobre e uma aventura do infeliz, porque
esta cidade jamais pode esquecer os dias de sua maior
glória; aqueles em que V.M. Imperial, estando nela,
demonstrou ainda uma vez ao mundo inteiro que o
Imperador D. Pedro II, presidindo os destinos gloriosos
do Império do Brasil, deixa por onde passa os vestígios
de que é ele a verdadeira imagem de Deus cá na terra.
É mole ou quer mais?!

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HERÓI


Adquiri no acervo da Roberta Lacertda

Jefferson, 34 anos, desempregado, viu sua pequena casa ser levada pela barragem, lutou contra a lama. Ajudou a salvar 40 pessoas, ficou ao lado de uma mulher no chão reanimando-a até os bombeiros chegarem. A irmã dele ainda está desaparecida. 

Jefferson perdeu tudo que tinha, até a família. Mas, dentro dele existe uma força que é maior que tudo debaixo do sol: a força que vem de Deus e o sentimento de nunca se entregar e ajudar o próximo. 

Jefferson é um herói, daqueles que a gente só vê nas séries da netflix. 

Quando te falarem que participantes do BBB são heróis, você dê aquele sorriso de canto de boca e pense em jefferson. O cara que não precisou de holofotes pra se jogar na lama e ajudar 40 pessoas, mesmo tendo perdido tudo.

#Repost Amigos de luz

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

LAMPIÃO: SURRA, ESTUPRO E PRAGA DE CANTADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.039
       
08/09.01.1927.Cacimbinhas (AL). Lampião, “passando na casa de um roceiro o intimou a arranjar-lhe dois contos de reis. Muito longe de possuir essa quantia, saiu uma filha do agricultor peregrinando tentando arrecadá-la, mas só conseguiu setecentos mil reis. Louco de raiva, o bandido disse: ‘Eu vou aceitar essa porcaria, mas você, seu peste, fica deveno o resto – um conto e trezentos. E se quando eu vortar esse dinheiro não tiver contado, não fica ninguém vivo aqui’. Virgulino reuniu os cabras e já ia embora quando ouviu a moça dizer: ‘Eu só sinto é ver meu pai, velho e sacrificado, trabalhando para dá dinheiro a ladrão! Mas isso só vai servir para ele comer de pinto magro nas profundas do inferno!’. Lampião respondeu: ‘Como é a história, égua da peste?! Espere aí que eu vou te amostrar uma coisa!’ – e saltou do cavalo embaixo. A infeliz não conseguiu escapar. Teve as vestes rasgadas, foi estuprada e levou uma surra com chibata de couro cru de duas pernas de tanger animais.
       O cantador Manoel Nenen era um admirador de Lampião. Como tinha seus rasgos de valentia, o repentista dizia que só um monstro era capaz de fazer o que o bandido fez com a moça, inclusive de gente que ele gostava. E que gostaria mesmo de pegar Lampião na ponta do punhal. Não podendo, recolheu-se para fazer um ritual de pragas. Demorou-se ou não, Lampião tombou onze anos depois. Após a tragédia de Angicos, o célebre repentista de Viçosa, cidade da Mata Alagoana, cantou alguns versos, entre eles, estes:

Eu tava com raiva dele
Esta praga lhe roguei
Tu hás de ser degolado
Tu vais ver se eu me enganei
E assim o peste pagou
As mil bramuras que fez”. (42).

       Extraído do livro:
     CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 179-180-181.


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ANOTAÇÕES SOBRE O AMANHECER DE UM POVO

*Rangel Alves da Costa

Bairro São José, cidade de Poço Redondo, Sertão Sergipano do São Francisco, amanhecer deste domingo (ou de outro dia qualquer) - Tudo parecia ainda adormecido até às cinco da manhã. Apenas aparência, vez que os pais de família sempre despertam após a madrugada desapartar da noite e os primeiros raios da aurora surgirem. Mas tudo ainda silencioso e calmo pelas ruas, esquinas, travessas, vielas, becos e descidas.
As noites velam, e principalmente escondem, realidades absurdamente desconhecidas após as portas e janelas fechadas. Enquanto lá fora os gatos passeias, os andantes noturnos buscam os seus mistérios e os sopros de vento vão levando as folhas secas, outras realidades vão sendo gestadas nos interiores residenciais, dentro de seus aposentos. Quem avista de fora, certamente está tudo bem, mas nem sempre assim. Somente após o madrugar, assim que as primeiras alvas do dia vão chamando ao despertar, é que as feridas não saradas começam a doer mais fortemente.
Os primeiros lumes do dia. Como dito, as portas ainda fechadas nada dizem dos interiores das residências. Sons vão surgindo aqui e acolá. Barulhos de portas de quintal sendo abertas, as primeiras vozes no radinho de pilha, panelas sendo arrastadas de seus armários. Somente depois é que as portas vão sendo abertas, lentamente. Olhares pelas frestas, pelas semiaberturas. Olhares que bem desejariam avistar um mundo mais esperançoso e alegre, que gostariam de encontrar motivações para encontrar caminhos de paz e realizações. Mas tudo parece nevoento aos olhares já infelizmente acostumados com os dias se iniciando em terríveis sombras.
As pessoas procuram manter-se como que se escondidas. Dificilmente mostram o corpo inteiro quando a porta se abre. Não demora muito e surgem os sons de vassouras varrendo as dependências, as calçadas e arredores. Os cachorros magros desandam a se espalhar, os gatos fogem em correria, as galinhas cacarejam famintas. Também. Mas haverá galinhas nos quintais? Não. Galinha é fortuna demais para ciscar por ali. Um menino chora, a mãe pede calma. Está com fome, certamente. Ou despertando com alguma enfermidade, também não muito difícil de acontecer.


A maioria da comunidade já despertou para o dia. O relógio já marca por volta das seis. As vozes se acentuam e os sons também. Pessoas arrastam cadeiras pelas calçadas, esteiras empoeiradas são batidas no meio da rua, um leiteiro aparece implorando por freguesia, meninos passam com gaiolas de passarinhos, cumprimentos de bom dia pelas esquinas e mais adiante. Amigas se juntam nas calçadas de vassoura à mão, outras fazem dos portais das janelas o início de um estudo profundo sobre o bem e o mal. Não há sino tocando. Somente aos domingos, dia da missa, os sinos dobram chamando à fé. Todas as orações do mundo já foram rezadas. E ao final os mesmos pedidos: forças para o enfrentamento da vida.
Contudo, em localidades mais distanciadas do bairro, principalmente nos limites dos descampados que se alongam em direção aos matos, a maioria das portas continua fechada. Sim, ouvem-se sons, barulhos, mas com as portas continuando fechadas. Infelizmente, há que se dizer que nem sempre há o prazer de abrir janelas e portas e deixar a manhã entrar trazendo esperança e alegria. Na maioria das situações, é a preocupação e o sofrimento que despertam juntos com aqueles moradores, aquelas famílias, principalmente naqueles que precisam oferecer algum alimento aos filhos.
Que bom que em toda cozinha houvesse panela esperando alimento para ser preparado. Que bom se toda mesa pudesse receber o cuscuz, o café, o leite, os ovos mexidos, a tripa de porco, um mingau, um naco de carne. Mas nem sempre assim acontece. Ou melhor, dificilmente acontece. Daí que a partir das seis, nas vagas das sete em diante, os sons se acentuam, porém sons chorosos, aflitivos, angustiantes. Portas e janelas fechadas e crianças chorando lá dentro. Portas e janelas fechadas e pais chorando por dentro. E o pior: um estado calamitoso que pode ir até a hora do almoço e da janta.
O sol já se levantou e agora se abre por todo o bairro. Algumas crianças brincam pelas ruas, correm descalças, fantasiam felicidades. Outras permanecem desanimadas até para as maravilhosas traquinagens da idade. E o tempo vai passando e passando. Retornar mais tarde aos mesmos locais é ainda encontrar a maioria daquelas janelas e portas fechadas. E lá dentro o quadro dantesco e estarrecedor da pobreza. Infelizmente, a pobreza ainda é alarmante perante algumas famílias daquela comunidade e de outras que avançam dentro e pelos arredores de Poço Redondo. Contudo – e infelizmente -, uma situação que apenas exemplifica uma realidade ainda existente por todos os rincões nordestinos e brasileiros.
No radinho uma música jovem, animada. Algum sorriso, alguma palavra boa. Mas onde estará a beleza da felicidade? Onde estará a felicidade desse povo que está bem ali e que é nosso irmão?

Escritor
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SARGENTO ELIAS - CORISCO E ANGICO

Por Aderbal Nogueira
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Publicado em 8 de dez de 2017

Sargento Elias fala um pouco sobre Corisco e Angico.

Categoria

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ANGICOS O MELHOR LUGAR DO MUNDO SIMPLESMENTE AMO.


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LOCAL ONDE LAMPIÃO E SEUS CABRAS POUSARAM PARA SEREM FOTOGRAFADOS. EM RIBEIRA DE POMBAL-pb.


Por Josevaldo Matos

Este é o local exato em que Lampião e os sete cangaceiros, (Ezequiel, Moderno, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e Arvoredo), pousaram para a histórica foto feita pelo alfaiate Alcides Fraga em 17/12/1928, em Ribeira do Pombal, BA. Hoje, Praça Getúlio Vargas. 




(Primeira foto datada de 1950 - colorizada por mim; a segunda de Lampião, 1928; a terceira, foto atual do local).

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

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ESTOU TROCANDO OU VENDENDO!


Entre em contato com: Marcio J. Silva pelo facebook

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LIVRO VIDA E MORTE NO SERTÃO


Acervo do Antônio Corrêa Sobrinho

"VIDA E MORTE NO SERTÃO, História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX" (primeira edição publicada em 2001), é a valiosa obra do jornalista e historiador Marco Antonio Villa, que recomendo. 

Nas orelhas do livro é dito: 

"Uma história para não esquecer: 

Afinal, quantos morreram nas secas?, é a pergunta que o autor faz no final deste livro, constatando que é impossível dar a ela uma resposta precisa. Mas a resposta possível é suficientemente assustadora: considerando-se o período estudado, que vai de 1825 até 1983, o total de mortos em decorrência das secas no Nordeste brasileiro deve chegar aos 3 milhões de pessoas. Não há engano, o número é esse mesmo. Só para comparar, equivale à metade do número de judeus mortos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. A história desse processo, que o autor não hesita em chamar de genocídio, é o assunto desta obra. Recorrendo às mais diversas fontes, especialmente a imprensa escrita, Marco Antonio Villa reúne um material que impressiona, seja pela abrangência, seja pelo detalhamento dos fatos narrados. Mas o que mais chama a atenção, à medida que vamos lendo o texto - bastante fluente -, é a repetição da tragédia. A cada nova seca - relativamente previsível -, a sede, a fome, a fuga ou a morte de milhares de sertanejos; do outro lado o descaso, a insensibilidade, a exploração (será possível?, nos perguntamos, mas é) da miséria. Os que estariam, até por dever de ofício, obrigados a ajudar - autoridades e governos de todos os níveis - ou regateiam a ajuda ou parecem estar mais preocupados em tirar dela o melhor proveito... O retrato do Brasil - pois é disso que se trata - que surge ao longo de um século e meio de secas no Nordeste não é nada lisonjeiro. E é justamente essa a importância deste livro. Ele nos mostra sem retoques aspectos importantes de nossa história, de nosso modo de ser como país. É certo que muita coisa mudou nesse período, e para melhor. Mas é certo também que alguns dos traços mais nocivos de nosso sistema social e político continuam aí bem firmes. A história contada aqui não deixa que nos esqueçamos disso."

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QUIXADÁ


Por Abellard Franca

Quando o exército de fome marchou pela estrada escaldante nas manhãs sem pão e sem água dos dias de 1877, já os velhos e esqueléticos jumentos olhavam para o céu, estirando o pescoço murcho para ver se Deus lhes acudia, com a sombra de uma nuvem ou se lhes respondia os gritos com a descarga elétrica das trovoadas. A indiferença, porém, foi longa. E o milagre tardou. A distância que separava aquele povo amaldiçoado dos outros mais felizes matou, para sempre, na alma de toda aquela gente, a crença herdada de quatro séculos de promessas e fitas bentas. E o peito do caboclo, vestido de queimaduras e de rosários, foi, lentamente, mudando de indumentária.

A seca piorava. Estava iniciando-se o período triste do fim. O prelúdio daquela sinfonia horrenda morrera com o primeiro filho que a fome devorara. E tanto a sede trabalhou nos pobres camelos humanos que um dia o crime lhes aparecera como única porta de saída para a vida.

O drama de 77. No fundo o cenário da paisagem árida, profundamente má. A casa de taipa, deserta, pendida sobre escoras com imagens preás pelas paredes do rancho. Os santos são as companhias mais íntimas do sertanejo. Ficam na casa abandonada para que o Diabo não venha ser inquilino. O sertanejo sabe que volta, de qualquer maneira. Eles quando partem, na retirada faminta, deixam tudo: desde os cacarecos de estimação ao plantio que morreu de tanto esperar as chuvas. Mas, a maior saudade que eles levam, na mochila da marcha, é a da terra. Da terra que os enxota sem piedade, sem lágrimas.

Num contingente de vinte sertanejos na vinte medalhas com a efígie do padre Cícero Romão Batista. Os santos ficam esperando o milagre, mas a fé que eles ensinaram aos retirantes é tão grande que ela vai também, no corpo, no calo das mãos, nas chagas e nos trapos.

Passam as colunas. E atrás das secas como espantalho, está o cangaceiro. O produto do meio, a fruta venenosa da árvore que o verão matou. Desesperam as mães, porque o filhinho gemeu de sede. O pai fica olhando a encruzilhada do destino terrível. E do roubo ao crime é um passo rápido, natural. O homem trabalhador, fiel ao seu dever, trocou a enxada pelo punhal das tocaias.

Os homens de governo, entretanto quando estudam planos para combater os bandidos, que em determinadas épocas aparecem pelas regiões do Nordeste, não procuram saber antes a origem desses indivíduos desalmados. E partem blindados até os olhos atrás de um Antonio Silvino ou de um Manoel Germano. Lampião está aí como exemplo, herdeiro autêntico de quatro gerações martirizadas. Quantos Lampiões a esta hora estão agindo pelos sertões do Nordeste, matando para poder viver?

Não se recordam os moradores de Quixadá, da época em que o seu açude, o maior do sertão, ficasse como está agora: sem uma gota d’água.

Recordo-me de uma tarde, viajando pelo sertão paraibano, na fronteira rio-grandense do norte, parei num rancho para ouvir duas palavras de uma velhinha que fiava à porta, sentada no batente de pedra.

Tudo para mim, naquela região vermelha, era inédito. E aqueles oitenta anos, onde uma linda cabeleira branca parecia prata fundida ao sol, pertenciam por certo, a uma personagem típica das histórias das calamidades.

- Mora só, velhinha, neste deserto?

- Não, seu moço, moro com Deus. Os quinze filhos que tive partiram:

uns para o Amazonas, outros para o Acre e dois para o Sul...

- E nunca mais voltaram?

- Todos estão enterrados ali – respondeu a pobre viúva apontando com o dedo. Correram mundo e, um a um, todos voltaram, sem que ninguém chamasse. A terra sertaneja tem mandinga. O último que voltou foi o mais velho. Andou doze anos dentro do Amazonas e um dia a voz do sertão cantou perto dele... desceu nas águas do maior rio do mundo e veio morrer de sede aqui, juntinho de mim, juntinho da terra...

No céu, enquanto a velha falava, bandos de jandaias, muito altos, passavam, como esquadrilhas aéreas, anunciando o verão que recomeçava...

“Correio da Manhã" (RJ) – 24.04.1932

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