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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

PRELIMINARES DE MOSSORÓ O OURO DOS CANGACEIROS PARA YOLANDA

por Rostand Medeiros, Pesquisador

Recentemente estava realizando um trabalho de pesquisa histórica para o SEBRAE-RN, que consistia em buscar informações sobre uma determinada cidade do interior do Rio Grande do Norte. Utilizava como uma das fontes de pesquisa uma série de fotografias que tirei das páginas já amareladas e frágeis, de velhos jornais potiguares arquivados na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Buscava informações relativas ao crescimento demográfico, questões políticas, fatos relativos à história desta urbe e outros fatos. Observava as fotos atentamente, quando uma manchete me chamou a atenção. Impresso no extinto jornal “A Republica”, na edição de 8 de outubro de 1933, um domingo, temos uma matéria de página inteira, com o destacado título “A História de um Cangaceiro”. Evidentemente que parei e comecei a ler este material atentamente.

O artigo é assinado pelo respeitado advogado Otto de Brito Guerra. Este era sobrinho do coronel Antônio Gurgel do Amaral, (foto em família) o mesmo que foi capturado por membros do bando de Lampião quando este seguia comandando, em julho de 1927, um grupo de cangaceiros para o famoso ataque a Mossoró.

Diante desta privilegiada aproximação através do parentesco, o autor relata em seu artigo as diversas agruras que seu tio passou. É descrito como o parente foi capturado, do valor exigido pela sua libertação, do ataque fracassado do bando a Mossoró, do carteado que utilizava munição de fuzil como fichas e outros pontos. Muito do que Otto Guerra comenta neste artigo, foi fartamente pesquisado e divulgado ao longo dos anos, por diversos pesquisadores que se debruçaram na tentativa de conhecer mais em relação ao famoso combate na terra de Santa Luzia e a controversa figura de Virgulino Ferreira da Silva.

Conforme seguia lendo, não encontrava nenhuma informação nova sobre a permanência do coronel Gurgel em meio aos cangaceiros. Mas aí o autor comenta sobre a figura do “cabra” chamado Luís. Este jovem cangaceiro paraibano, um tipo alto, magro e moreno, era afilhado do famoso e famigerado Sabino, o violento braço direito de Lampião e por esta razão era conhecido como “Luiz Sabino”. Dizia que havia entrado no cangaço no dia que seu padrinho realizou um “trabalho” para um potentado do sertão da Paraíba e daí não parou mais.

Em um dia quente, ainda prisioneiro no Ceará, em meio às muitas cogitações sobre o seu destino, o coronel Gurgel percebeu o jovem Luís Sabino andando um pouco mais afastado do resto dos companheiros, de cabeça baixa e pensativo. Entretanto, ao procurar dialogar sobre o seu passado, o coronel Gurgel percebeu que não parecia haver uma boa receptividade por parte do jovem cangaceiro e logo ele buscou desviar o assunto. Em meio a conversa, Luís perguntou.

- O coronel tem família?
- Tenho sim, pai, mãe, filhos... E até uma netinha...
- Já têm netos?
- Tenho.
Otto Guerra escreve que Luís Sabino fitou o prisioneiro uns instantes, daí abriu uma bolsa, “dessas arredondadas, cheias de compartimentos, o couro artisticamente bordado, que o sertanejo nordestino conduz a tiracolo”. Dela tirou um papel amarelado e entregou ao espantado coronel, uma reluzente moeda de ouro, da época do império brasileiro.
- Tome coronel, quando se livrar daqui dê a sua netinha.
- Ora Luís, isso vale muito. Guarde.
- É... Já me falaram em sessenta mil réis. Porém eu sei que coisa de bandido não vale nada não... Tome.
Daí o jovem cangaceiro saiu cabisbaixo.

O coronel Gurgel relatou ao autor do artigo que o jovem cangaceiro, apesar de viver entre homens que tinham como característica comum à violência, a brutalidade e, além de tudo, ser afilhado logo de Sabino, era um membro do bando que estava sempre próximo aos prisioneiros levados, era extremamente atencioso e muitas vezes buscou de alguma forma amenizar as agruras dos cativos. Na famosa foto que registra o bando de cangaceiros de Lampião e os prisioneiros em Limoeiro do Norte, Ceará, obtida no dia 16 de junho, entre os membros listados pelo famigerado Jararaca, o cangaceiro que aparece com o número “31” grifado acima do chapéu de aba quebrada, foi apontado como sendo “L. Sabino”. Na época que listou os companheiros na famosa foto, Jararaca era então prisioneiro na cadeia de Mossoró e pouco tempo depois foi morto de maneira cruel e covarde pela polícia local.

Esta pequena história, simples, sem sangue nem disparos de fuzis, mostra um outro lado de um bandoleiro que vagava pelos sertões, em meio a um grupo que vivia do saque e do roubo. Mas que em um certo momento, teve o total desprendimento pelo vil metal e mostrou um aspecto diferente do que normalmente é apresentado em relação e estes homens, que Frederico Pernambucano de Mello chamou de “Guerreiros do Sol”. E todo este fato contado através de uma reportagem escrita a setenta e seis anos atrás, por um dos mais respeitados juristas potiguares.

Entretanto.....

Sabemos pela descrição feita pelo próprio Antônio Gurgel do Amaral, em seu famoso diário, onde ele narra os vários dias de sofrimento junto a Lampião e seus homens, que o mesmo criou certos laços de amizade com o cangaceiro conhecido como “Pinga Fogo”. Gurgel descreve-o como um “rapaz de 24 anos, alvo, muito simpático, maneiroso”. Terminantemente não se encontra nenhuma linha sobre Luís Sabino.
 

Sabemos igualmente que no livro do conceituado médico Raul Fernandes, “A marcha de Lampião – Assalto a Mossoró”, na página 264, da 3ª edição, através de um relato da senhora Yolanda Guedes, (a criança na foto acima) dita neta do coronel Gurgel, que informou ter o seu avô recebido do próprio Lampião não uma, mas duas moedas de ouro de libra esterlina e lhes deu as moedas de presente. Foi uma suprema deferência, feita não por um cangaceiro qualquer, mas pelo próprio chefe caolho, que gentilmente regalou a netinha do seu sofrido sequestrado com estas duas reluzentes lembranças. Ademais as duas brilhantes peças metálicas nem eram da extinta realeza tupiniquim, mas da suntuosa casa real Britânica.

Raul Fernandes afirma que Yolanda Guedes lhe concedeu estas informações em uma entrevista ocorrida no Rio de Janeiro, em 1971. Mas daí vem outra questão...

E agora, em quem acreditar?

Raul Fernandes e Otto de Brito Guerra, já falecidos, eram naturais de Mossoró, oriundos de famílias tradicionais, foram consagrados professores nas suas respectivas áreas na UFRN, pesquisadores, escritores e durante suas vidas desenvolveram muitas outras atividades interessantes. Se para estes dois iluminares das letras potiguares, homens consagrados no meio intelectual da terra de Felipe Camarão, contemporâneos ao ataque de Lampião a Mossoró, existe uma pequena divergência ao contarem sobre a história da “visita” do “Rei do Cangaço” ao nosso estado, imaginemos então os que buscam conhecer mais deste assunto oitenta e dois anos depois dos fatos.
Otto de Brito Guerra

Na verdade, tudo que envolve este tema, tão calcado em referências orais, onde em determinados momentos, vítimas e perseguidores, apaixonadamente se engalfinharam para fazer prevalecer suas versões dos acontecimentos, escrever sobre o cangaço é sempre um terreno escorregadio e perigoso para quem o adentra.

E ainda temos a figura dos ditos “intelectuais” tão desejosos dos holofotes, das adulações baratas, das bajulações desmedidas, que escrevem livros que foram produzidos praticamente sem nenhuma pesquisa de campo. Ou ainda dos autores que se digladiam em querelas bobas e estéreis, sobre temas tão pequenos e inúteis, como o que acabei de aqui relatar, em um afã de superioridade desnecessária.

Eu tenho a minha hipótese para o caso das moedas; o coronel Gurgel era uma pessoa tão especial, tão interessante, que não recebeu nem uma e nem duas moedas de ouro dos cangaceiros, mas três. Uma de Luís Sabino e duas de Lampião, uma brasileira e duas inglesas. Daí, se esta hipótese for correta, talvez o coronel Gurgel seja o primeiro caso de um sequestrado que, ao invés de pagar o resgate pela sua liberdade, voltou para casa ganhando presentes na forma de moedas de ouro dos seus algozes.

De repente, cada um pode criar a sua versão.....

Um abraço a todos,
Rostand Medeiros


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ALI JAZ SEPULTURA DO CANGACEIRO ARVOREDO


Por: Rubens Antonio  

O cangaceiro Arvoredo nascido em 1905, aparece citado na literatura como Hortêncio Gomes da Silva, seu nome correto, e menos comumente como Hortêncio dos Santos, nome errado.

Arvoredo deixou uma correspondência a um "coronel" baiano:


“Ilmo sr. Francisco de Souza - Aspiro boa saúde com a exma. Família, tendo eu frequentado uma fazenda sua, deliberei saudando-o em uma cartinha, pedir um cobrezinho. Basta dois contos de réis. Eu reconheço que o sr. não se sacrifica com isto e eu ficarei bem agradecido e não terei razão de lhe odiar nem também a gente de Virgulino terá esta razão. Sem mais, do seu criado, obrigado. Hortêncio, vulgo Arvoredo, rapaz do bando de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.”

Depoimento de Risa Galdina dos Santos Conceição, então com 83 anos, de Jaguarari/BA:


O bando de Arvoredo tava escondido na Serra da Conceição, quando o chefe do grupo resolveu descer pra pegá água. Enquanto isso, dois jovens, o João da Biana e o Cícero José Ferreira, o Xisto. Eles estão na mata à procura duns jumentos que haviam desaparecido. No meio da mata, eles se encontraram com Arvoredo que obrigou eles a segui ele. O cangaceiro ia conduzindo os dois pra mata fechada.

E eles imaginando que a intenção do bandido era conduzi ele até o bando para matá. Começaram a fazer sinal um pro outro para dominá ele. João Biano estava com um canivete e Xisto com um facão. Num momento, João derrubou Arvoredo e começaram a rolar pela caatinga.
Aí, o Xisto tento fugir e o João gritou:
- Se fugir eu te pego depois!

Durante a luta, o cangaceiro tava pesado, todo aparatado. Acabou desarmado e recebeu várias furada de canivete. Os rapazes saem para irem embora quando lembram que precisam levar alguma prova para a polícia. Quando voltam, encontram Arvoredo já de joelho. O qual implorou por Nossa Senhora para não morrer. Mas, depois de arrancar-lhe o patuá que carregava no pescoço, ele foi sangrado a golpe de facão...

Para levar como prova cortaram a mão para mostrar às tropas da policia que se encontravam em Barrinha. Eles se reuniram indo em companhia dos dois rapazes ao local onde estava o corpo, que tava no mesmo lugar. Levaram para o Povoado de Barrinha e que foi é trazido de trole para a sede de Jaguarari.

Eu fui ver o corpo quando chegou na estação. Depois disso, nunca mais eu fui ver pessoas que morrem de acidente, pois fiquei com trauma do que vi. Oh! coisa feia. Sei que tá enterrado no cemitério velho de Jaguarari próximo ao cruzeiro.”
  


Objetos pessoais de Arvoredo
"Os matadores receberam 4 contos de réis.
Acervo de Ivanildo Silveira Colecionador do cangaço 




 Detalhe da placa: 
Acervo de Rubens Antonio

Depoimento de Vicente Romualdo dos Santos, então com 97 anos, de Jaguarari/BA:

"Quando eu morava com papai Felix, em São Miguel, foi quando chegou Arvoredo, Calais com seu bando e começaram a fazer perguntas sobre a polícia volante, a riqueza dos fazendeiros entre outras coisas. Meu pai não deu informações. Então eles pediram para que ele não os denunciasse. Mas ele fez o contrário e a polícia foi atrás deles. Um vizinho, coiteiro do bando, avisou que papai havia denunciado.

Passaram-se alguns dias e Arvoredo morreu próximo a Barrinha [em 26 de maio de 1934]. Após sete dias de sua morte, Calais e seu bando voltou à Fazenda São Miguel encontrando eu e meu irmão na roça de mandioca. Sabendo que os assassinos de Arvoredo são parentes do meu pai e que ele havia denunciado o bando, fizeram muitas perguntas.

Então Calais mandou nos amarrar. Então eu, que me encontrava resfriado, senti um calor subir no corpo, e pedi a Nossa Senhora que me protegesse. Calais percebeu essa reação e mandou me segurar. Juremira foi quem agarrou. Foi então que reagi e lutei com ele até cair os dois no chão.

E então consegui me soltar e correr até a porteira que estava aberta. O bando atirou, mas as balas passaram por eu e só uma pegou na manga da camisa. Pensei que meu irmão havia corrido também. Fui em casa e contei a meus pais. E fui a Jaguarari contar à polícia. Mas, em Jaguarari, não havia soldado suficiente. E o delegado Zé Gringo buscou reforço em Bonfim. E somente no outro dia iriam ao local do acontecimento.

Na mesma noite, eu fui à casa de João Resenaldo, e lá apareceram João Biana, Xisto e outros homens dispostos a irem ao local da luta. Mas não tinham armas. Foram à casa de algumas pessoas. Zé Ferreira, Zé Melado e outras, conseguindo armas, indo até a roça. Chegando lá, encontramos Antônio dos Santos, meu irmão, morto. Estava sangrado, com a boca cheia de terra, para não gritar, com nove facadas no peito e o rosto todo cortado. Eu coloquei ele em cima de umas tábuas no jumento e o levei para casa. E os demais foram procurar os bandidos.

Passado algum tempo, apareceu uma espírita, de Petrolina, trazida por minha sobrinha. Ela entrou na casa pela porta da frente e parou na dos fundos. Perguntou:
– Seu Vicente... Seu irmão que morreu gostava de tomar café?
Eu disse que sim, então ela pediu café em pó e açúcar. Pôs em uma vasilha e colocou brasas. A fumaça tomou a casa. Ela disse que, no canto do alpendre, eu deveria conservar sempre com uma luz, porque havia alguém ali. Após isso, a mulher recebeu o espírito de alguém. Eu ouvi uma batida na parede e a mulher falou:
- Boa noite, ô irmão, sabe quem eu sou?
E eu disse:
- Não.
– Você tá falando com seu inimigo.
E me abraçou. Eu senti que os ossos quebraram-se. A mulher falou:
- Até hoje eu era seu inimigo. Agora sou seu maior amigo. A partir de hoje você só tenha medo dos castigos de Deus, porque dos males da Terra eu lhe livro.

Então eu reconheci. Era Arvoredo. Disse ainda Arvoredo:
- No dia que seu irmão morreu, eu estava lá.
Depois a espírita recebeu meu irmão Antônio. Ele disse:
- Irmão. Aquela era chegada à minha hora. Agora eu vou ver minha mãe.
Outro dia, a mesma mulher voltou até minha casa onde encontrou todos dormindo. Ela chamou:
- Vicente!
Em um dos cômodos, ela recebeu novamente o espírito de Antônio que disse:
- Agora eu vou me libertar... 
Nesse momento vi a mulher colocar grande quantidade de terra pela boca até ficar com a voz limpa. Tempos depois eu fui a Petrolina, à casa da espírita e no Salão de suas consultas. A espírita recebeu doutor Antônio, que perguntou a mim se eu sabia dos benefícios que ele, o doutor Antônio, já fez. Nisso apareceu o esposo da espírita vestido de cangaceiro e tocando sanfona.

A mulher recebe Arvoredo que me chama no salão e coloca as mãos em meu ombro e pede para eu contar como foi sua morte. E depois disse:
- Fui morto por dois meninos... um de catorze e outro de quinze anos... Nunca pensei que o perigo estivesse ali.
Alguns anos depois, a mulher voltou à fazenda de nossa família e pediu para nós irmos ao cemitério para arrumar a cova de Arvoredo. A cova estava funda. Após arrumar a cova, rodearam velas na mesma e acenderam.

Arvoredo apareceu novamente através da espírita. O céu estava fechado. Era época de inverno, parecendo que ia chover. Estava escurecendo. Arvoredo falou:
- Graças a Deus, agora tou liberto... As armas que estavam comigo caíram agora...
O céu se abriu e num clarão ele disse:
- Meu espírito está agora como o céu...
A espírita acendeu vela em todos as covas, mas ao chegar no canto do cemitério não consegue acender em uma carneira antiga. A vela apagava.

Em outra ocasião a espírita retornou ao cemitério na companhia minha e de duas pessoas ajudantes para colocar uma cruz de ferro no túmulo de Arvoredo.

Daí eu sempre acendia velas e rezava um “Pai Nosso” para a alma de Arvoredo. Hoje em dia, estou com dor nas pernas, por causa da velhice. Estou impossibilitado de ir ao cemitério mas oro em casa.”


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VEM AÍ O MEMORIAL CASA DE CAPISTRANO DE ABREU POR:ACLA

Por Manoel Severo
Paulo Neves e Manoel Severo diante do alicerce da Casa de Capistrano de Abreu
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João Capistrano Honório de Abreu; o Príncipe dos Historiadores Brasileiros;  nasceu na  cidade de Maranguape no estado do Ceará no dia 23 de outubro de 1853; no sítio Colominjuba, cerca de 15 km da sede do município. Capistrano de Abreu realizou seus primeiros estudos em rápidas passagens por várias escolas para em 1869, viajar para Recife, onde cursou humanidades e retornando ao Ceará dois anos depois fundou a Academia Francesa, órgão de cultura e debates, progressista e anticlerical, que durou de 1872 a 1875. 

Capistrano de Abreu, o "Príncipe dos Historiadores Brasileiros"

Capistrano de Abreu mudando para o Rio de Janeiro onde foi aprovado em concurso público para a Biblioteca Nacional. Em 1879, foi nomeado oficial dessa mesma Biblioteca, lecionou Corografia e História do Brasil no Colégio Pedro II e foi nomeado por concurso em que apresentou tese sobre O descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século XVI. Capistrano dedicou-se ao estudo da história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional, tendo por base os conceitos de clima, terra e raça, que reproduzia os clichês típicos do colonialismo europeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do «bom selvagem». Por seu talento invulgar, dedicação e pela grande Obra, foi considerado o "Príncipe dos Historiadores Brasileiros". Capistrano de Abreu ; membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), patrono da cadeira 15 da Academia Cearense de Letras e da cadeira 23 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, morreu no Rio de Janeiro, aos 73 anos, em 13 de agosto de 1927. 
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ACLA, diante do Obelisco do Centenário do alicerce da Casa de Capistrano de Abreu
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Para celebrar e resgatar a memória do maior historiador brasileiro, nasce há 27 anos a ACLA - Academia De Ciências Letras e Artes De Columinjuba ; sob ideia de Américo de Abreu; com sede na mesma Colominjuba de Capistrano , assumia o desafio desse resgate. Com ela o sonho , a dedicação e o trabalho de abnegados defensores de sua memória e obra do "Príncipe dos Historiadores Brasileiros". Tempos depois nasce o projeto do Memorial Casa de Capistrano de Abreu; projeto ousado de reconstrução da Casa Original de Capistrano de Abreu em sua Colominjuba.
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 Mesa solene da Reunião da ACLA, no"maravilhoso barracão da obra" da construção da Casa de Capistrano de Abreu
Presidente da ACLA, Paulo Neves
Odaílson da Silva, Manoel Severo, Pedro Abreu e Moreira Lopes

Na manhã deste último domingo, dia 29 de setembro de 2019, sob a presidência de Paulo Neves, aconteceu a Reunião Itinerante da ACLA, bem diante do Obelisco que celebra o 1º Centenário de Capistrano de Abreu e bem diante dos primeiro alicerces da reconstrução da Casa Memorial Capistrano de Abreu. "Essa presente reunião deste domingo da ACLA, neste maravilhoso barracão da obra da reconstrução da Casa de Capistrano de Abreu, bem no meio de nosso sertão amado é mais uma demonstração da visão, do entusiasmo e dinamismo de nosso querido Paulo Neves, avante !" ressalta Manoel Severo Barbosa.
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 Emanuela Honório e Karine Coelho em momento solene de Juramento
Karine Coelho e Odaílson da Silva
Alonso Hygino e esposa com a filha, Emanuela
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A reunião marcou a apresentação por parte do Sodalício das primeiras obras referentes à reconstrução do precioso imóvel, à frente a Comissão da Obra, que conta com o presidente da ACLA, Paulo Neves, os engenheiros Walter Veloso e Francisco Moura, além de Pedro Abreu, acadêmico, ex-presidente e representante da família. "A ideia é  inaugurarmos a primeira etapa da obra ainda no primeiro semestre de 2020" comenta um dinâmico e entusiasmado Paulo Neves.

Na oportunidade a ACLA promoveu a posse de mais duas integrantes; a escritora Karine Coelho que assumiu uma das cadeiras de Letras da referida academia e a jovem Emanuela Honório, a primeira a ocupar uma cadeira do sodalício destinada aos membros juvenis.

 Capistrano de Abreu e Manoel Severo
Manoel Severo e Paulo Neves e os alicerces da Casa de Capistrano de Abreu

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A ACLA - Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba foi criada em 21 de junho de 1992, no Sítio Columinjuba, na cidade de Maranguape, na região metropolitana de Fortaleza. A data de sua inauguração homenageia o nascimento de Antonio de Abreu, primeiro dentre os Patronos a ter um livro publicado. Seu primeiro presidente foi o intelectual Américo de Abreu, escolhido por suas virtudes, raras qualidades e reconhecido saber cultural. Por ocasião de criação deu-se a solenidade de posse da primeira Diretoria Executiva e do seu Conselho Fiscal, além da posse dos primeiros Membros Titulares da ACLA, assim, plantada a semente de um sodalício em um aprazível local, berço de figuras exponenciais cujas principais virtudes sempre foram a honra, a disposição para o trabalho e, principalmente, o sentimento de fraternidade.

Reunião da Acla
Sitio Colominjuba de Capistrano de Abreu
Maranguape, CE 29 de Setembro de 2019 


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O SERTÃO AGRADECERÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.192

Sempre divulgando notícias boas porque de notícias péssimas já estamos cheios. Embora duas promessas ainda estejam pendentes – asfaltamento de Belo Monte e Pindoba – as afirmações foram feitas em palanque na cidade sertaneja de Carneiros pelo governador do estado. Duplicar as rodovias Arapiraca – Delmiro Gouveia quando encerrar esse trabalho Maceió – Arapiraca. Subtende-se o roteiro Arapiraca, Olho d’Água das Flores, Olho d’Água do Casado, Delmiro. Achamos até estranho porque o movimento fraco de veículos no Sertão nem precisa disso. Mas, a decisão é problema do governo. Quer duplicar, duplique. Não preciso de terno de ouro, mas quer me presentear, agradeço. Nesse caso, não tão bem explicado, o trecho entroncamento Olho d’Água das Flores – Delmiro Gouveia via-Santana do Ipanema, estaria de fora. Pelo menos a interpretação foi esta.
CARNEIROS

A segunda notícia boa, é que houve também promessa do homem para fazer a estrada Carneiro – Santana. E como a estrada de barro já é bastante antiga, a dedução é que a estrada quer dizer asfalto. Carneiros faz fronteira com Santana e não é tão longe assim, porém, os políticos sertanejos nunca tiveram interesse em lutar pelo asfalto direto (e por dentro): Senador Rui Palmeira – Carneiros – Santana do Ipanema. Isso representa sonho antigo dos carneirenses, mas também de Senador com uma das maiores feiras do Sertão. Seria um reforço enorme para o Comércio de Santana e para a economia sertaneja geral. Todavia, o anúncio não contempla Rui Palmeira – Carneiros. Quando isto acontecerá? Continuarão na poeira inúmeros dos mais ricos e produtores sítios do trecho.
Onde não existe união, todos brigam e ninguém tem razão. As lideranças sertanejas olham apenas para o próprio feudo, algumas centenas de metros quadrados. Não existe liderança regional. Assim diz a juventude: “Cada qual no seu quadrado”. Desse modo, só chega alguma coisa para beneficiar o Sertão como um todo, quando a boa vontade federal ou do estado decide. Além disso, somos obrigados, pela experiência, acreditar nas palavras, tanto dos sérios quanto dos demagogos, que aprendem rápido o almanaque esdrúxulo de Maquiavel.
Mesmo assim, parabéns aos dois municípios que serão beneficiados diretamente.
BOAS MARRADAS, AS DOS CARNEIROS.


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UM PÁSSARO TRISTE

*Rangel Alves da Costa

Muito melhor que gaiola é o viver em liberdade, é ter diante de si os horizontes e mais além. Após a porta sempre há um destino a seguir, um lugar para ir.
O pássaro quer, o pássaro precisa de liberdade. Contudo, não é toda forma de liberdade que garante a sua canção, o seu voo contente, o seu reencontro com as alegrias da vida.
A porta pode estar aberta, escancarada, e o mundo lá fora chamando a viver. Mas qual a motivação do pássaro se o mesmo está aprisionado por outros motivos? Qual sua propensão ao canto e ao voo se continuará preso em liberdade?
Não há pássaro que voe feliz levando nas asas o peso da dor. Não há pássaro que voe contente carregando consigo a angústia e a melancolia. Não há pássaro que alce os céus tendo os pés aprisionados em sofrimentos passados. Não há pássaro que cante a sua própria dor.
Coisa mais triste avistar um pássaro em liberdade e o seu primeiro voo ser em direção a uma solitária copa de árvore. Talvez queira até cantar, mas qual gorjeio traduzirá seu estado de espírito? Não é fácil ser pássaro cujo voo ainda está aprisionado ao passado.
Pássaro também sofre. O pássaro vive a dor da solidão, padece o sofrimento da perda, chora por dentro as angústias da vida. Sua prisão maior talvez não seja sequer a gaiola, mas as dores interiores que não permitam nenhum ânimo para voar, cantar e viver.
Também temos a nossa gaiola e o nosso entristecido ninho. Também somos pássaros cuja gaiola se abriu para o nada. Tantas vezes somos assim. Portas e janelas abertas à nossa frente, céus e horizontes, estradas e caminhos, mas continuamos sem desejo algum de voar.


A solidão nos aprisiona em quartos escuros, ainda que na liberdade das ruas. A tristeza nos encarcera como se nenhuma luz e nenhum sol pudessem chegar pelas frestas. As dolorosas nostalgias nos colocam em tamanha redoma que não há esperanças que nos permita sair.
O pássaro, entristecido, emudece no alto, na copa da árvore, no galho de maior altura. Tudo avista, mas é como nada avistasse, pois sem motivo algum para tirar proveito dessa liberdade. E o homem, o que faz com sua liberdade aprisionada na dor? Torna-se um pássaro triste na copa da árvore.
Tem-se, assim, que não é toda liberdade que verdadeiramente liberta. Estar livre não significa estar com o mundo aberto adiante. A primeira liberdade que deve ser conquistada é a interior, pois é no âmago que as asas humanas ganham forças para seguir adiante.
Sair pela porta sem ter aonde ir. Avistar o mundo sem sentir prazer. Ter tudo adiante e nada aproveitar. Ter a voz de canto e não poder cantar. E nada por acaso. Mesmo que os outros não percebam, é dentro do ser que continuam as correntes e os grilhões.
Ninguém é feliz desamado. Ninguém canta sem felicidade. Ninguém quer voa sem desejar o azul. Assim no pássaro, assim no homem. Daí a existência de pássaros tristes e de homens tristes: continuam aprisionados em alguma gaiola da alma.


Escritor
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AS TRÊS PERGUNTAS DO REI (UMA HISTÓRIA DE TRANCOSO).

Por José Gonçalves do Nascimento

AS TRÊS PERGUNTAS DO REI
(Uma história de Trancoso)

A inveja, caro leitor,
é amiga da ambição,
favorece o mau instinto,
e empobrece o coração,
roubando a dignidade,
levando à corrupção.

II
Um príncipe muito rico,
mostrando coração nobre,
com toda boa vontade,
chamou um fidalgo pobre,
e a título de comenda,
deu fazenda, ouro e cobre.

III
O novo proprietário,
cheio de generosidade,
dividiu em cinco partes
aquela propriedade,
reservando duas partes
para sua necessidade.

IV
As três partes restantes,
reservou o comendador
para o bem do povo pobre,
do doente e sofredor,
demonstrando em tudo isso
ser um homem de valor.

V
Não se via mais miséria
na inteira freguesia,
o povo estava contente,
na mais plena harmonia,
e o novo proprietário
de tudo se comprazia.

VI
Mas ali havia um homem
Que vivia a reclamar
do bem que se fazia
aos pobres do lugar,
querendo de toda forma
de tudo isso desfrutar.

VII
Tomado pela inveja 
procurou o comendador,
e sem qualquer cerimônia,
foi dizendo: “meu senhor,
por que gasta sua fortuna
com esses cães sem valor”?

VIII
“Por que em vez de manter
essa corja de bandido,
não dá o dinheiro a mim,
que tanto tenho servido”?
Ao que o comendador
se recusou decidido.

IX
Com isso o invejoso
partiu pra casa do Rei,
e chegando lá falou: 
“quero contar o que sei,
o que faz Dom o Simão,
de certo não é de lei”.

X
“O comendador Simão
não está girando bem,
desperdiça sua fortuna
ainda o tempo que tem,
alimentando seus cães,
que aliás são mais de cem”.

XI
O Rei então deduziu:
“deve ser um caçador,
gastando tanto dinheiro
com coisa desse teor!”
E partiu sem demora,
pra ver o comendador.

XII
O comendador ficou
tomado de emoção,
quis beijar a mão do Rei,
mas o Rei negou a mão,
chateado que estava 
com toda situação.

XIII
Disse o Rei caro amigo: 
“erro não me satisfaz,
vim aqui para puni-lo
do mal que tanto faz,
se responder três perguntas,
contudo, terá a paz”.

XIV
“Eis a primeira pergunta,
que eu faço sem rodeio,
e espero que responda
sem vacilo, nem bloqueio,
me diga caro Simão:
onde do mundo é o meio”.

XV
“Eis a segunda pergunta,
que faço sem escarcéu,
e se souber responder,
vou até tirar o chapéu:
me diga qual a distância 
entre a terra e o céu”.

XVI
“Eis a terceira pergunta,
que faço sem confusão,
e espero que responda
com a maior precisão,
me diga o que agora
pensou o meu coração”.

XVII
Falou o Rei decidido:
“terá tempo pra pensar,
pensa bem no que dizer,
pois não poderá errar,
quando tiver as respostas
por favor me procurar”.

XVIII
O comendador Simão
ficou muito preocupado,
se não respondesse ao Rei,
Iria ser penalizado,
deixando todo seu povo
por demais prejudicado.

XIX
A fim de esfriar a mente,
saiu ele a passear,
e para a sua alegria,
viu alguém a trabalhar:
era o homem que cuidava
da limpeza do pomar.

XX
Esse dito lavrador
era muito parecido
com o bom comendador,
podendo ser confundido,
mesmo que o parentesco
nunca tivesse existido.

XXI
Percebendo o lavrador
quão grande era a tristeza
do comendador Simão,
implorou por gentileza,
que contasse a sua mágoa,
que ele ouvia com presteza.

XXII
Vendo o comendador
tamanha afabilidade.
resolveu abrir o jogo
e contar toda a verdade,
revelando ao amigo
toda sua infelicidade.

XXIII
Então disse o lavrador:
“tudo se remediará
se nós dois nos parecemos,
isso só nos bastará,
a partir desse momento,
em minha pele atuará”.

XXIV
“Tome aqui as minhas roupas,
dê-me as suas por favor,
doravante será eu,
e eu serei o senhor,
e no lugar um do outro,
cada um será ator”.

XXV
Partiu então Dom Simão,
com roupa de lavrador,
foi fazer o seu trabalho,
junto aos pobres do setor,
enquanto falava o outro
com o Rei perguntador.

XXVI
Ao se aproximar do Rei,
disse o falso Dom Simão:
“pronto estou pra responder,
e não pularei questão,
começarei do começo,
com a sua permissão”.

XXVII
“Quanto à primeira pergunta,
é fácil de respostar,
pois sendo o mundo redondo,
o meio é qualquer lugar”.
Diante dessa assertiva
teve o Rei de concordar.

XXVIII
“Quanto à segunda pergunta,
é fácil de responder,
a distância para o céu
é quanto o olho pode ver”.
Diante de tal verdade 
teve o Rei de aquiescer.

XXIX
“Quanto à terceira pergunta,
falo com convicção,
perguntou a Vossa Alteza
que pensa seu coração,
é evidente que ele pensa
que fala com Dom Simão”.

XXX
“A verdade, todavia, 
é de outra natureza,
Dom Simão agora está
percorrendo a redondeza,
visitando a sua gente,
e socorrendo a pobreza”.

XXXI
Naquele momento o Rei,
caiu na realidade:
descobriu que os tais cães
não eram cães de verdade,
eram os pobres que Simão
socorria de boa vontade.

XXXII
O Rei de tudo aquilo,
admirado ficou,
e chamando os dois amigos,
sem demora premiou,
enquanto que o invejoso,
para o xilindró mandou.



José Gonçalves do Nascimento


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