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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

LAMPIÃO, REI DO CANGAÇO, FOI ASSOMBRO DO SERTÃO.

Por José João de Souza

https://www.youtube.com/watch?v=gKnWFUo2vJM&feature=share&ab_channel=Jos%C3%A9Jo%C3%A3odeSouzaSouza

Lampião o rei do cangaço - Ivanildo Vila-Nova e Geraldo Amâncio.

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Song

Lampião, o Rei do Cangaço (Mote de Dez)

Artist

Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amâncio

Album

De Repente, 30 Anos, de Repente

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O VAQUEIRO "SANTO" SAI DA FAZENDA EXU, E MUDA-SE PARA A FAZENDA MANDAÇAIA, E LÁ, SE DEU MAL COM O CANGACEIRO CORISCO.

 Por José Mendes Pereira

Adquira-o através deste e-mail: franpelima@bol.com.br

Diz o escritor Alcino Alves Costa em seu livro “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico", que em Poço Redondo, o maior criador de gado era um senhor de nome Manoel do Brejinho. Homem do trabalho, e com isso conseguiu amealhar grandes posses de terras, tornando-se um dos mais ricos da região daquela cidade. Mas o Manoel do Brejinho era filho de Porto da Folha, e todas as suas fazendas eram em terras de Poço Redondo, no Estado de Sergipe. Possuidor de grandes rebanhos de bovinos, caprinos e ovinos. O seu gado era em torno de 4 e 5 mil reses.

O velho caipira não tinha desejos de luxar ou demonstrar ser rico, e nunca desejou ser coronel ou ter outra patente semelhante. O seu desejo era somente permanecer entre as suas fazendas, e cuidando dos seus animais. Não costumava sair para frequentar feiras..., e quando saía a um lugar qualquer, era confundido com qualquer um catingueiro, ninguém o via como um senhor proprietário de grandes fazendas e animais. O portofolhense tinha a fala mansa e arrastada, e suas fazendas eram: Brejinho, Exu, Propriá, Emendadas, Caibreiras, Poço Dantas, São Joaquim, Logrador, Quiribas e Carnes.

Manoel do Brejinho tinha o maior prazer de andar pela caatinga para ver a sua bezerrada engordar, e, além do mais, acompanhar passo a passo o seu crescimento. E ainda andar no pino do meio-dia pastoreando o gado, que procurava uma sombra embaixo das árvores daquelas terras do rio São Francisco. Isto para ele era o mais importante para o seu viver, considerando um paraíso. Mesmo não gozando de certos confortos, para seu Manoel do Brejinho, nada melhor do que viver entre aquela caatinga que o viu nascer. Era um tanto sovino, mas atendia todos os pedidos que lhe faziam os exploradores.

Na sua fazenda “Exu” o vaqueiro era o Santo sendo este filho lá da cidade de Poço Redondo, grande e veterano pelejador de gado, este era casado com uma senhora carinhosamente chamada de Caçula, que era da família dos Santanas. O casal tinha uma numerosa família, os quais eram: Manoel, Daniel, Rosalvo (aqui abro um parêntese para informar ao leitor que o escritor Alcino Alves não diz se este Rosalvo era aquele que acoitou o ex-cangaceiro Juriti em sua casa, e por infelicidade, ele foi capturado em sua residência pelo sargento Deluz, e que o matou em uma fogueira em plena caatinga), Miguel, Pedro, Angelino, Celestina, Maria Mariquinha e Josefina. Angelino e Josefina uma febre que assolou aquele sertão foram vítimas e faleceram.

Escritor Alcino Alves Costa

Diz o escritor Alcino Alves que no ano de 1932, a seca assolou aquela região. Sentindo dificuldade para tanger o barco, isto é, para sustentar a sua família, o “Santo” resolveu pedir aumento ao seu Manoel do Brejinho, alegando que o seu ordenado não estava dando para o sustento de casa. Mas o seu Manoel do Brejinho não cedeu o solicitado, alegando que se ele estava em dificuldade, ele também estava, e assim não poderia lhe ceder um possível aumento.

Santo desgostoso, deixa a fazenda Exu e vai morar na Fazenda Mandaçaia, na intenção de melhorar aquele sofrimento, isto é, talvez achava ele, que o seu ordenado não estava à altura dos seus trabalhos. 

Mas infelizmente, o Santo não se deu bem com a sua decisão, deixar a Fazenda Exu do seu Manoel do Brejinho para se  tornar morador da Fazenda Mandaçaia (Lamento, leitor, pois o escritor Alcino Alves não fala quem era o verdadeiro dono da Fazenda Mandaçaia).

Santo está ali, achando ele que estava tudo bem, mas, infelizmente, ele havia feito mal escolha. E meses depois, sem desejar, recebe a visita inesperada do cangaceiro Corisco. 


O bandido que o conhecia desde quando ele morava na Fazenda Exu, ordena que, vá até a casa do seu ex-patrão Manoel do Brejinho levando um bilhete, solicitando uma quantia de três contos de Reis. E sem muita demora, o Santo vai até a casa do ex-patrão com o bilhete. 

O seu Manoel não nega a solicitação, e diz ao seu ex-vaqueiro que diga ao cangaceiro Corisco, que no momento não tem, mas irá providenciar a quantia solicitada dentro de oito dias. O prometido não foi com oito dias, mas 10 dias, e que não fez tanta diferença, o cangaceiro Corisco iria receber o valor pedido ao fazendeiro, aliás, a exploração. Santo recebe o valor em sua nova residência, localizada na Fazenda Mandaçaia, e o guarda cuidadosamente, até que o Diabo Loiro apareça.

Na mesma semana, era um sábado, Lampião visita o vaqueiro, e como sabia da solicitação que fizera o Diabo Loiro ao Manoel do Brejinho faz-lhe a seguinte pergunta:

- Santo, o dinheiro que o compadre Corisco pediu ao fazendeiro Manoel do Brejinho já está com você?

Sem poder negar, Santo diz:

- Já, capitão! Estou aguardando a sua presença aqui para ele levá-lo.

Lampião muito esperto, e possivelmente estava precisando de alguns trocados, para comprar alimentos para os seus comandados, diz-lhe:

- Este dinheiro é para ser entregue a mim, Santo.

Sem poder negar, e também não iria desobedecer a ordem do capitão, vai lá dentro da casa e traz a quantia, entregando-a ao famoso Lampião.

O rei a recebe, guarda-a em seu embornal, e, em seguida, faz outro bilhete, endereçado ao Manoel do Brejinho, pedindo-lhe mais três contos de reis, porque o que era para o compadre Corisco ele precisara, e que o fazendeiro não se aborrecesse, que com certeza, um dia qualquer, seria recompensado.

Mesmo aperreado e resmungando, e sem outra alternativa, o velho caipira vende mais alguns bois, e uma semana depois, a outra quantia, desta vez, solicitada pelo capitão Lampião chega às mãos do vaqueiro Santo em sua residência Fazenda Mandaçaia. 

Mas o pobre vaqueiro não estava com sorte. Misteriosamente dois sargentos, o Ernani e Amintas que trabalhavam no destacamento de Poço Redondo, tomaram conhecimento do envio deste dinheiro para o Diabo Loiro, pelo o Manoel do Brejinho. E astuciosos, intimaram o vaqueiro para suas devidas explicações sobre este envio de dinheiro.

Santo que era um homem honesto e que nunca havia sido intimidade para nenhuma explicação na vida, sentira-se desonrado. Sem outro meio de escapar desta intimação, foi atender ao pedido dos espertos sargentos, e lá, foi logo trancafiado, e todas as perguntas que os patenteados lhe fizeram, não obtiveram respostas. A causa, vingança, por ter sido decepcionado, coisa que nunca havia lhe acontecido, ser chamado aos pés de uma autoridade. Santo foi solto no cair da tarde, mas numa condição, avisar ao destacamento quando os cangaceiros aparecessem em sua casa.

Santo ficou triste, como se estivesse depressivo, não queria mais se alimentar, o jantar que a dona Caçula preparara, não foi usado por ele. Deita-se e quer ficar sozinho, imaginando a grande desonra que ora ganhara. Não imaginava ele qual a verdadeira desgraça que o esperava.

O cantar do galo está próximo, e alguém o chama:

- Santo! Santo! Abra a janela! Sou eu, Corisco, vim apanhar o dinheiro, não precisa acender candeeiro não, estamos com pressa e já vamos.

O vaqueiro estranhou aquela voz, achando que não era a voz do Corisco, mas melhor entregar aquele maldito dinheiro, do que partir para uma discussão. Santo jamais poderia imaginar que aquela voz não fosse de cangaceiro algum, mas a do sargento Ernani que estava acompanhado do outro que juntos, queriam roubar o dinheiro do cangaceiro Corisco. Santo estava condenado, poderia ser justiçado injustamente por policiais ou cangaceiros.

Uma semana depois o cangaceiro Corisco visita a cidade de Poço Redondo, e de lá, sai bêbado, levando preso, sobre ordens, um jovem chamado “Airton” um rapaz filho de um senhor chamado “Horácio”. O destino do Diabo Loiro seria a Fazenda Mandaçaia, lugar onde está o vaqueiro Santo, e que é lá, que ele deveria receber o envio da quantia, mandada pelo Manoel do Brejinho, mas desta vez, solicitada pelo capitão Lampião.

O dia amanheceu claro, alegre e simpático. Santo já estava na roça cuidando das suas obrigações, acompanhado de alguns amigos. Lá da roça, ele ver os cangaceiros chegarem em sua casa, seu coração fica agitado, como se estivesse lhe avisando algo ruim. Estava com medo, mas o que fazer?

Santo diz aos amigos que temia algo que pudesse acontecer naquele momento. Os amigos o aconselharam para não ir até a sua casa. Mas ele pensava na sua família, pois os cangaceiros poderiam fazer algo contra ela. Jamais deixaria sua esposa e filhos sozinhos no meio daqueles delinquentes. Se algum deles morressem causados pelos cangaceiros, possivelmente ele queria ser vítima também. Afinal, era pai e esposo daquela gente.

Assim que chegou, deu bom dia a todos os cangaceiros que ali estavam.

Corisco respondeu o cumprimento e perguntou:
- Cadê o dinheiro? Vim buscá-lo!

Santo fica apavorado com o que estava ouvindo, dito pela boca do Diabo Loiro, respondendo-lhe:

- Ôxente! Eu lhe entreguei na semana passada? Naquela noite?

Na verdade, Santo enganadamente, havia entregue aos sargentos a quantia de dinheiro que o Manoel do Brejinho enviara para Corisco, mas desta vez, solicitada pelo então capitão Lampião, porque a primeira quantia, fora Lampião que ficara com ela. E a segunda, fora roubada pelos dois sargentos que se passaram por Corisco.

Ouvindo isso do Santo Corisco ainda bêbado, achou que o vaqueiro estava querendo lhe enganar.

Agora Santo irá morrer. 

O cangaceiro Diabo Loiro ficou louco, e logo apontou a sua arma para Santo, e não pensou duas vezes. Infelizmente, o Santo caiu morto, a bala estraçalhou a cabeça do coitado catingueiro.

Foi-se mais a vida de um um homem honrado por assassinato. Um bom pai, um bom marido, um bom trabalhador. Os filhos e a dona Caçula viram seu pai e esposo ser assassinado, por um delinquente que não tinha dó de ninguém.

Fonte de Pesquisas:
Livro: “Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico”.
Páginas: 145, 146, 147 e 148.
Autor: Alcino Alves Costa

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FREI DAMIÃO, FARRAS E VELÓRIOS

Clerisvaldo B, Chagas,1 de fevereiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.652

Praça Frei Damião (Foto: B. Chagas

Em tour pela cidade, demoramos alguns minutos na Praça Frei Damião que fica no Bairro Camoxinga. O Largo faz parte de convergência de quatro ruas: Delmiro Gouveia, Maria Gaia, Manoel Medeiros e mais outra pequena rua. É naquele largo onde está montada toda a estrutura de moderníssima funerária, mercadinho que se expande a cada dia e, outras estruturas que vão fazendo do lugar um dos maiores pontos de referência de Santana do Ipanema. Aproveitamos para bater uma foto, mas a hora imprópria do meio-dia e um sol escaldante não permitiram àquela sonhada apresentação. A Estátua do Frei está completamente desbotada e arranhada pelos vândalos, motos em cima da praça, nos canteiros e um privilegiado grupo de motoqueiros donos absolutos das reduzidíssimas árvores que margeiam o logradouro.

Pela noite, principalmente fins de semana, dezenas de motos com rapazes e “cocotas” de shortinhos” curtos, preenchem o lugar, a bebida, o churrasquinho, a música, estão em todos os espaços do logradouro, transformado em verdadeira Babel. Do outro lado da rua, a cerca de 4 ou 5 metros de distância, onde fica a Central de Velórios, quase sempre tem familiares chorando os seus mortos. Choro de um lado da rua, farras homéricas do outro lado. Ainda não indagaram a Frei Damião o que acha disso tudo. O “cachorro-quente do Tonho”, ali na esquina da Maria Gaia com Delmiro Gouveia, vai alimentando a multidão faminta. Naquela hora de meio-dia em que por ali passamos, apenas um conhecido e querido alcoólatra daquelas imediações, parecia se lamentar solitariamente aos pés do Santo do Nordeste.

Após a pavimentação asfáltica por diversas ruas do Bairro Camoxinga e São José, parece ter aumentado o fluxo de veículos pela Rua Delmiro Gouveia via Praça Frei Damião, para a saída Oeste de Santana do Ipanema rumo ao Alto Sertão. Aos poucos, o Largo da Praça ganha notoriedade e atrai investimentos para àquela área. Não há de se negar que a Rua Delmiro Gouveia até à Praça Frei Damião é um dos trechos mais movimentados de Santana do Ipanema, tanto de dia quanto de noite, embora  não tenha alcançado ainda o estresse da Rua Pedro Brandão, que virou comércio e expulsa residências. Assim como o Largo do Maracanã, o Largo da Praça Frei Damião também continua humilde e popular.

Salve o Santo do Povo.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2022/01/frei-damiao-farras-e-velorios.html

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O VOO DO “PLUS ULTRA” E A ATRIBULADA VIDA DO PILOTO RAMON FRANCO

 

O Dornier Do J Wal “Plus Ultra” em Buenos Aires, no fim da longa viagem

Autor – Rostand Medeiros – IHGRN

A Espanha havia sido um grande império colonial, entretanto, no fim do século XIX, o império espanhol acumulava derrotas, humilhações e um quadro social dos mais terríveis.

A partir de 1902, com o reinado personalista de Afonso XIII, a própria monarquia encontrava-se em uma posição muito delicada. Ocorrem conspirações, forte crise econômica, social e intenso fortalecimento do regionalismo Catalão e Basco, que sonhavam com suas respectivas autonomias. Ocorrem igualmente fortes distúrbios sociais, fortalecidos pelo crescimento dos movimentos socialistas e anarquistas, principalmente na Catalunha. Devido a toda esta crise, desencadeia-se uma forte imigração espanhola para outros países. Entre os anos de 1904 e 1913, por exemplo, serão 224.672 espanhóis que emigram para o Brasil.

Ramon Franco – Fonte – http://en.wikipedia.org/

Diante desta situação tumultuada e visando manter sua sobrevivência política, o Rei Afonso XIII encoraja o golpe militar do general Miguel Primo de Rivera y Orbajena, que no dia 13 de setembro de 1923, dissolve as Cortes (Parlamento) e estabelece a ditadura. Com o apoio de uma junta militar, implanta a censura e uma forte perseguição política.

Em meio a estes acontecimentos um grupo de jovens oficiais das Forças Armadas Espanholas, entusiastas da aviação, decidem organizar um voo transoceânico, ligando a Espanha e a Argentina, passando pelo Brasil. À frente deste planejamento, estava o comandante de infantaria do exército espanhol Ramón Franco y Bahamonde Salgado Pardo de Andrade, natural de El Ferrol, na província de La Corunã. 

Dornier Do J Wal   

Ramon Franco utilizou os seguintes argumentos como justificativa para este voo – Mostrar em meio a um tumultuado momento o valor da aviação espanhola, buscar propaganda positiva no exterior para o país, utilizar este projeto para conhecer as características de um voo de longo alcance com uma aeronave melhor equipado e preparado, visando à abertura de futuras linhas aéreas e utilizar a repercussão do voo para estreitar os laços diplomáticos com os países da América do Sul, principalmente os de língua espanhola. Além de mostrar para os espanhóis emigrados que um novo e moderno país se fazia presente no cenário mundial.

Ramon Franco entrega então um plano detalhado ao diretor da aeronáutica militar, que vislumbra uma ótima oportunidade de promoção do regime e aprova o vôo em 1925. Neste momento é convocada a tripulação. Como copiloto seguirá o capitão de artilharia do exército Julio Ruiz de Alda Miqueléiz, de Estella (Navarra), como terceiro piloto e navegador, o alferes da marinha Juan Manuel Duran Gonzáles, professor da Escola Naval de Barcelona, natural de Jerez de la Frontera (Cadíz) e como mecânico, o soldado Pablo Rada Ustarroz, de Caparroso (Navarra).

Tripulação principal do “Plus Ultra” – No alto, a esquerda está Ramon Franco, a direita vemos Julio Ruiz de Alda Miqueléiz. Abaixo a esquerda está Pablo Rada Ustárroz e a sua direita Juan Manuel Durán González.

Foi escolhido para o voo o hidroavião Dornier Do J Wal, planejado e construído pela fábrica Dornier Flugzeugwerke, de Friedrichshafen, Alemanha. Por esta época, devido às restrições existentes no Tratado de Versailles, os alemães não podiam fabricar este tipo de aeronave, por esta razão o comandante Ramon Franco foi buscar o seu exemplar na Itália, onde era fabricado pela a Construzioni Meccaniche Aeronautiche S.A. (CMASA), na Marina de Pisa.

O hidroavião era um dos melhores produtos existentes no seu tempo, possuía um casco central, era de construção totalmente metálica, tripulação de cinco pessoas, com piloto e copiloto sentados lado a lado em cabine aberta. Era motorizado por dois motores Napier Lion, montados em tandem e com potência de 450 hp cada um. Seu peso normal era de 2.500 kg e peso total carregado de 7.500 kg. Tinha uma envergadura de 23,20 metros, comprimento total de 18,20 metros, alcance de 1.080 km, altitude máxima de 3.600 metros, velocidade de 180 km/h, quantidade de combustível de 400 litros de gasolina. Especificamente para este voo a aeronave foi equipada com um sistema de radiotelegrafia com alcance de 600 km, bússolas, derivômetro (Instrumento de voo, usado para indicar o ângulo de deriva), material salva-vidas, uma máquina de destilação de água, sextante, mapas e, visando o apoio no transporte de gasolina de reserva, o comandante Franco solicitou a Marinha Espanhola o apoio de dois navios de guerra, sendo designados o cruzador “Blas de Lezo” e o destroier “Alsedo”. 

Plus Ultra 

Fonte – elladooscurodelahistoria.blogspot.com

Estando tudo pronto, o comandante Franco recebe a ordem de voo no dia 18 de janeiro de 1926, mas faltava um detalhe, o nome da aeronave. Foi escolhido o termo latino “Plus Ultra”, que significa “mais além”. Sua origem vem da antiguidade, quando a Espanha era a terra mais ocidental que havia no mundo antigo, pois se considerava que após o estreito de Gibraltar, não haveria mais nada, só um grande abismo povoado por monstros terríveis. Reza a lenda que o herói mitológico Hércules colocou duas colunas no estreito, eram as conhecidas Colunas de Hércules, sendo uma na Espanha (no monte Calpe) e outra na África (monte Abile), com uma inscrição latina que advertia aos navegantes que não deveriam ir mais adiante “Non Plus Ultra” (não mais além). Mais tarde, com o descobrimento da América por Colombo, o povo passou designar somente “Plus Ultra” (mais além).

A rota escolhida teria início na cidade de Palos de la Frontera, na província de Huelva. A escolha era antes de tudo baseada em fatores históricos e sentimentais para o povo espanhol. Pois foi do porto de Palos que Cristóvão Colombo iniciou a sua épica viagem ao novo mundo 1492. Os aviadores participaram de uma missa solene na igreja de São Jorge, a mesma utilizada por Colombo e seus homens antes da sua viagem.

No dia 22 de janeiro de 1926, às 07:55 da manhã, o “Plus Ultra” decolava do Muelle de La Calzadilla, no porto de Palos, diante de uma grande multidão. A aeronave seguiu sem maiores problemas em direção as Ilhas Canárias, mais precisamente ao seu principal porto, também conhecido como Puerto de la Luz. Chegaram ás 15:03, tendo percorrido o trajeto de 1.315 km, em oito horas e oito minutos, com uma velocidade média de 163 km/h (velocidade esta comum a modernos automóveis com motorização 1.6).

No Puerto de la Luz foi realizada uma minuciosa revisão, mas, pelas condições do mar, o hidroavião foi transferido para a Baía de Gando. Neste local, devido ao pequeno espaço para decolagem, destinaram 400 kg de cargas em um navio holandês para a Argentina.

No dia 26, às 07:35, decola o “Plus Ultra” em direção as ilhas da então colônia portuguesa de Cabo Verde, a 500 km da costa de Senegal. Este trajeto seria monitorado por diversas estações de rádio e navios, que ajudaram o hidroavião Dornier Do J Wal a seguir a melhor rota. Depois de nove horas de voo, avistam a ilha de São Tiago e a cidade de Porto Praia, em uma etapa de 1.670 km, com uma velocidade média de 185 km/h. Em Porto Praia encontram os dois navios de guerra espanhóis que darão apoio na travessia Atlântica. Neste ponto, o alferes Duran, para diminuir o peso, é transferido para o destroier “Alsedo”, que zarpa no dia 27 de janeiro em direção ao Arquipélago de Fernando de Noronha.

A partir daquele ponto teria início a fase considerada mais difícil pelos aviadores – a travessia do Atlântico Sul. 

Sobre o Atlântico Sul 

No dia 30 de janeiro, o hidroavião decola as 06:10 para o “salto”. Durante uma hora mantém contato com Cabo Verde e os navios, depois só o silêncio.

Fernando de Noronha visto pelos aviadores espanhóis.

Voam a 300 metros de altitude, sobre um mar agitado e fortes ventos. Apesar desta situação, o voo transcorreu sem maiores problemas. O moral estava extremamente elevado e as máquinas respondiam aos comandos perfeitamente. Depois de mais de doze horas de voo, quando o sol já estava se pondo, avistam as ilhas brasileiras e as suas luzes.

Sendo impossível o pouso noturno, amerissam a vinte milhas de Fernando de Noronha, recebendo apoio de um navio inglês que reboca a aeronave até as proximidades do porto da Vila dos Remédios (alguns historiadores afirmam que a aeronave amerissou de forma equivocada, mas sem maiores consequências e a tripulação foi socorrida pelo navio).

Quando ancoram definitivamente recebem a visita do tenente Queiroz, comandante interino do presidio que existia no arquipélago, chega em uma grande balsa e informa que naquele momento as condições do mar não ajudariam ao desembarque da tripulação no porto. Passaram então à noite no “Plus Ultra” e no outro dia chega o destroier “Alsedo”. Os espanhóis finalmente desembarcam em Fernando de Noronha, tendo percorrido 2.305 km, em 12:40 de voo.

Mesmo sem amerissarem no Rio Potengi, em Natal, a expectativa na capital potiguar com uma possível chegada do “Plus Ultra” era intensa. Até mesmo grandes propagandas de marcas de gasolina que abasteceram a aeronave eram vistas nos jornais natalenses da época.

No dia seguinte, 31 de janeiro de 1926, o hidroavião decola as 12:10, com destino a Recife. Estações de radiotelegrafia em Natal, Cidade da Paraíba (atual João Pessoa), Recife e Fernando de Noronha acompanham o trajeto do “Plus Ultra”.

Após a decolagem ouve o problema mais sério de todo o trajeto – a hélice do motor traseiro rompeu-se e houve um princípio de incêndio em pleno voo, debelado pelo mecânico Rada com suas próprias roupas. Neste momento todo material dispensável foi lançado no mar, com o intuito de tornar a aeronave mais leve e poder seguir com apenas um motor.

Este desenho mostra a expectativa da chegada do “Plus Ultra” ao Rio de Janeiro, na época a Capital Federal

No meio de toda tensão, segundo os tripulantes, houve momentos em que o casco do hidroavião Dornier Do J Wal roçou nas ondas, sendo necessário muito esforço e forte tensão para mantê-lo no ar.

Finalmente avistam as praias, provavelmente em algum ponto do litoral paraibano, pois teriam que voar mais 100 km em direção sul para chegarem a Recife. Durante todo este trecho os espanhóis seguiram perigosamente na altura dos coqueiros e já avistavam as pessoas nas praias acenando.

As 16:48, depois de quatro horas e trinta e oito minutos de voo, amerissam em Recife, após realizarem um rasante entre Olinda e o porto da cidade. 

Chegada em Recife

Houve uma grande concentração de pessoas, que começou a se reunir desde as duas da tarde, os aguardava no cais do porto, próximo ao atual bairro do Recife Antigo. A cidade, que em 1922 já havia recebido os pilotos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, repetia a calorosa recepção a um novo hidroavião que atravessara o Atlântico Sul, adicionado pela grande expectativa gerada pela Rádio Clube do Recife, que a todo o momento irradiava boletins sobre a chegada do aeroplano espanhol.

Notícias sobre a chegada do hidroavião espanhol ao Nordeste brasileiro.

Luiz Amador Sanchez, cônsul espanhol na cidade (futuro escritor, professor da USP e pai do recentemente falecido ator global Luiz Gustavo, que interpretou personagens como “Beto Rockfeller” e “Mário Fofoca”), junto com mais de 500 espanhóis residentes na cidade recepcionam os pilotos. Os tripulantes estavam cansados e a imprensa notou que todos traziam medalhas de Nossa Senhora do Carmo. Ramon Franco esteve no Palácio do Campo das Princesas, onde foi saudado pelo então governador pernambucano Sergio Loreto e foi cumprimentado pela oficialidade do contratorpedeiro Piauí (CT-3), comandados pelo capitão Jorge Dodsworth Martins, futuro ministro da marinha brasileira.

Em meio a pouco descanso no Palace Hotel e muitas solenidades em vários locais, a tripulação do “Plus Ultra” esteve presente no Casino Boa Viagem para uma festa na noite de 2 de fevereiro, onde os tripulantes encaram a pista de dança. E parece que a noite foi muito positiva, pois no outro dia, as nove da manhã, Ramon Franco, na companhia de Pablo Rada, realizou um voo de testes de 20 minutos sobre Recife. Além dos dois tripulantes, acompanharam os espanhóis o cônsul Sanchez, o comandante Dodsworth Martins e duas beldades pernambucanas, Carolina Burle e Dolores Salgado. 

A Caminho do Rio de Janeiro 

Contudo, a jornada não estava encerrada, pois havia mais de 2.100 km de distância até o Rio de Janeiro, que até então nunca haviam sido percorridas sem escalas. No dia 04 de fevereiro, o “Plus Ultra” decolava do Rio Capibaribe as cinco da manhã, seguindo em direção sul. Depois de doze horas e dezesseis minutos de voo sem alterações, chegavam a Baía da Guanabara, o pouso inclusive teve alguma dificuldade, devido a grande quantidade de barcos que aguardavam o hidroavião Dornier Do J Wal.

Ramon Franco e o então presidente brasileiro Artur da Silva Bernardes, em recepção no Rio.

Ramon Franco e seus amigos foram recepcionados pelo Presidente Arthur Bernardes e outras autoridades. Como em Recife, grandes festividades aguardavam os espanhóis, sendo o comandante do hidroavião homenageado com seu nome batizando uma rua no bairro da Urca. Esta rua conserva até hoje o seu nome.

Placa da Rua Ramón Franco, no bairro da Urca, Rio de Janeiro.

Depois de cinco dias de eventos e festas, no dia 09 de fevereiro decolam rumo a Buenos Aires. Os tripulantes estão com sorte, pois um vento francamente favorável ajuda-os a percorrerem 2.600 km sem escalas, em doze horas e cinco minutos. Apesar disto, o sol já está se pondo, o que dificultaria a amerissagem no Rio da Plata. Os espanhóis decidem amerissar em Montevidéu, Uruguai, escala não prevista.

A rota do “Plus Ultra” em 1926.

No dia 10 de fevereiro de 1926, decolam para Buenos Aires, chegando depois de uma hora e doze minutos de voo. O hidroavião evolui três vezes sobre a capital Argentina e, após amerissar no Rio de La Plata, ocorre uma estrondosa recepção da população local.

Neste momento ocorre uma situação que poderia ter ampliado muito mais a conquista dos tripulantes do “Plus Ultra” e poderia tê-los trazido a Natal. O comandante Franco prontamente telegrafou ao Rei Afonso XIII, informando a finalização do voo e solicitando a permissão de continuar seguindo viagem pela costa sul americana do Oceano Pacifico, até Cuba. Depois continuariam voando até o norte do Brasil, até Natal e cruzariam pela segunda vez o Atlântico sul. Mas, a resposta foi não.

O Rei e as autoridades aeronáuticas espanholas decidiram encerrar a missão na Argentina, pois já estavam imensamente satisfeitos com o feito e não tinham total confiança de que o “Plus Ultra” poderia concluir o trajeto. Seria melhor ovacionar quatro heróis vivos, do que chorar por quatro mártires. Mais uma vez Natal não poderia ser palco da passagem do hidroavião espanhol.

Grande recepção aos aviadores espanhóis em Buenos Aires.

A distância total percorrida do trajeto Palos/Buenos Aires foi de 10.270 km, com um tempo estimado de cinquenta e nove horas e trinta e nove minutos de voo, em dezenove dias. Atualmente este trajeto é realizado em uma média de doze horas e meia de voo em um moderno Airbus, ou em um Boeing.

O “Plus Ultra” original, preservado em Lujan, Buenos Aires, Argentina – Fonte – https://www.laprensalatina.com/first-plane-to-fly-from-europe-to-latam-still-gleams-95-years-on/

O grande compositor argentino Carlos Gardel não deixou escapar a oportunidade e gravou o tango “La gloria del aguila”, narrando a epopeia dos espanhóis.

A aeronave deveria ser doada a nação Argentina, e lá ela ficou prestando serviços à aviação naval até sua retirada de serviço. Hoje está em exposição no Complexo Museógrafo Enrique Udaondo, de Luján, cidade localizada no extremo oeste da grande Buenos Aires. Uma cópia fiel do hidroavião está exposta no Museo Del Aire, em Madri, Espanha.

Os aviadores espanhóis retornam ao seu país no cruzador argentino “Buenos Aires”, chegando a 5 de abril de 1926. Foram cobertos de glórias e receberam do Rei Afonso XIII medalhas alusivas ao feito.

Esta viagem foi considerada na época, um grande salto na modernização do estado espanhol. Depois o país acompanharia mais dois “raids” aéreos com sucesso, um para as Filipinas e o outro a Guiné Equatorial, com outros aviões e tripulantes. Ramon Franco e Alda tentariam mais uma empreitada aérea, mais sem sucesso (ler mais adiante). 

Caminhos Distintos 

O destino final dos aviadores seria muito diferente, em meio a situações político-sociais extremas na Espanha e na Europa.

Como resultado da crise da bolsa de valores de Nova York agravou-se a situação social e econômica da Espanha, levando a deposição do General Primo de Rivera e, em seguida, caiu também a monarquia. O Rei Afonso XIII foi obrigado a buscar o exílio e a República foi proclamada em 1931.

Havia com a proclamação da república a intenção da Espanha buscar uma maior aproximação com os seus vizinhos europeus, realizando uma reforma social que iria retirar a nação do oásis tradicionalista no qual vivia. Existiam projetos para a separação da igreja e do estado (No Brasil, este fato ocorreu em 1889), introdução de conquistas sociais, liberdade eleitoral, liberdade de expressão e organização sindical.

Contudo, a profunda depressão econômica provocou uma enorme frustração generalizada na sociedade espanhola, que apoiada em forte radicalismo de determinados setores, terminou levando o país a conhecer um violento enfrentamento de classes. O mais dramático e sangrento ocorrido na Europa antes da Segunda Guerra Mundial.

Em meio a esta situação política o alferes da marinha Juan Manuel Duran Gonzáles viria a falecer cinco meses depois do voo, em um acidente de aviação. Já os outros três tripulantes estariam presentes na tragédia quer foi a Guerra Civil Espanhola.

Julio Ruiz de Alda torna-se em 1927, membro do Conselho Superior de Aviação e Automobilismo e representante espanhol para a Federação Internacional de Aeronáutica. Em 1928 é nomeado chefe de um grupo de aviação. Foi neste período que ele tenta, juntamente com Ramon Franco, realizar uma volta ao mundo em um avião Dornier 16, mas sem sucesso. Logo após solicita baixa do exército. Torna-se empresário e, com o fim da ditadura, aproxima-se da política. Tanto que em 1932, já é considerado por alguns setores políticos espanhóis chefe do fascismo na Espanha. Em 29 de outubro de 1933, funda com José Antonio Primo Rivera (filho do ex-ditador Primo Rivera), a Falange Espanhola. Este grupo seria conhecido como tradicionalista, fascista, paramilitar, que participaria da guerra civil junto ao futuro ditador Francisco Franco. Por suas atividades, Alda seria preso pelo governo republicano em 14 de março de 1936 e fuzilado em 23 de agosto do mesmo ano.

O soldado mecânico Pablo Rada Ustarroz, depois de agraciado pelo Rei Afonso XIII, inicia estudos e obtém o brevê de piloto. Por sua forte amizade a Ramon Franco participa, em 1930, de um fracassado movimento de ação política (ver mais adiante).

Dedicou-se a política durante a república, tornando-se militante de esquerda. Participou da queima de conventos católicos durante a Guerra Civil. Com o desfecho do conflito, foi obrigado a exilar-se na Colômbia, aonde se dedica a indústria de automóveis. Retornou em abril de 1969, para falecer na Espanha, com uma grave enfermidade hepática, tinha 67 anos. 

O Último Voo de Franco 

Contudo, a figura com a biografia mais intensa após o vôo do “Plus Ultra”, seria o próprio comandante Ramon franco. Se já seria muito comentar que o mesmo era irmão caçula do próprio general e futuro ditador Francisco Franco, mais interessante é saber que o aviador, durante um período, foi opositor do poderoso irmão e posteriormente seu aliado, para depois de sua morte ser esquecido durante muito tempo pelo governo espanhol.

Depois do vôo do “Plus Ultra”, Ramon Franco torna-se da noite para o dia uma figura muito popular na Espanha, mais que qualquer artista ou toureiro, tal era a admiração da população pela aviação e pelo seu glorioso “raid”, chegando a escreve em 1926, o livro “De Palos a Plata”, narrando o voo.

Tenta juntamente com Alda, em 1928, à volta ao mundo em um Dornier 16, mas o avião cai no mar. Eles passam alguns dias à deriva, sendo enfim resgatados por um porta aviões britânico. Ramon é fortemente criticado pelo fracasso da missão, torna-se um forte opositor e conspirador contra a monarquia e a ditadura.

Devido a sua popularidade era considerado um adversário muito perigoso. Seria preso e, posteriormente, conseguiria fugir com a ajuda de Rada. Em 15 de dezembro de 1930, junto com o mesmo Pablo Rada, Queipo de Llano e outros aviadores que apoiavam a república, apoderam-se de alguns aviões no aeroporto de “Quatro Vientos”, com a intenção de bombardear o Palácio Real, em Madri. Não conseguiram realizar a ação, fugindo para Portugal. Deste episódio, Franco escreveria em 1931, o livro “Madrid bajo las bombas”.

Após a sua fuga da Espanha, Ramon só retornaria com a proclamação da república. No regresso foi nomeado Diretor Geral da Aeronáutica, sendo destituído por participar de uma revolta anarquista na Andaluzia. Foi depois eleito para o parlamento por grupos republicanos de Sevilha e Barcelona, declarava-se um tanto estranhamente “republicano de esquerda, mas não comunista”. Retirou-se do exército, que por esta época era uma instituição que cada dia mais se tornava antirrepublicana. Não foi um grande parlamentar e seus biógrafos consideram o maior erro de sua vida a sua entrada na política.

Quando estourou a Guerra Civil, Ramon encontrava-se nos Estados Unidos como membro agregado do adido aeronáutico espanhol. Ao retornar a sua nação, mostrando a sua inconsistência ideológica, não mais apoia os republicanos e segue as ideias do irmão, “El Generalíssimo Franco”. Foi nomeado tenente-coronel e chefe da Base Aérea de Barcelona, a mesma Barcelona que o elegera deputado republicano. O comandante Ramon Franco sempre foi considerado um homem de ação, mais de poucas ideias políticas concretas.

Em outubro de 1938, seu hidroavião italiano caiu nas proximidades da Ilha de Maiorca, quando pretendia bombardear a zona republicana. Existe até hoje na Espanha uma discussão se o comandante Franco caiu com seu hidroavião, suicidou-se ou se a aeronave caiu por um ato de sabotagem. Nada ficou totalmente esclarecido. Seu irmão, que na época combatia em Elbro, não foi ao seu enterro em Maiorca. 

Conclusão 

Durante o terrível regime franquista, talvez por ter sido muito contraditório, o comandante Ramon Franco se converteu em um personagem muito incômodo, sendo ele praticamente esquecido do panteão dos heróis nacionais.

Mas a Espanha mudou, Francisco Franco se tornou passado e um novo país surgiu no sul da Europa.

Em 30 de janeiro de 2001, com a presença do então Príncipe de Astúrias, atual Rei Felipe VI, decolou da mesma Palos de La Fronteira, um hidroavião de combate a incêndio, buscas e salvamento Canadair CL-215T, do Grupo 43, da Força Aérea Espanhola, acompanhado de um Hércules C-130. As duas aeronaves realizavam a mesma rota, ponto a ponto, percorrida por Ramon Franco e seus companheiros do “Plus Ultra”. 

O voo do “Plus Ultra”, não veio a Natal e nem sequer sobrevoo terras potiguares. Entretanto, na sua época, seu “raid” teve uma repercussão enorme no cenário da aviação mundial. Os espanhóis mostrariam que com o aparelho certo, tecnologia de ponta e correto apoio, estava pronto o cenário para a realização de grandes viagens aéreas sobre o Atlântico Sul.