Por:Renato Casimiro
Ontem reli um
comentário de Célia Morais em sua página no Facebook, sobre algo em torno dos
museus de Fortaleza, destacando o quanto eles nos remetem à constatação de que
a arte e a cultura de Juazeiro do Norte estão presentes em sua cenografia, nos
seus acervos, nos seus eventos, a partir de seus grandes mestres e suas obras.
Citando
exemplos, ela terminava sua nota considerando o nosso retardo em não ter
instalado novos museus na cidade, a despeito dos três existentes. Esse
comentário de Célia Morais foi feito no dia 10.07.2019 - um dia antes do
falecimento de Daniel Walker Almeida Marques. Relevo esta coincidência para
prestar neste dia, ainda imerso em grande tristeza, um tributo a Daniel Walker
pela visão esclarecida e privilegiada com que tratou deste assunto em sua
grande cruzada, a ponto de ter formalizado um projeto, e sobre ele ter
trabalhado insistentemente, para que o mesmo contemplasse satisfatoriamente a
implantação de equipamentos desta natureza.
Era o tempo do
IPESC, na URCA, aqui em Juazeiro, e isto o sensibilizara a ponto de reconhecer
e formular propósitos para a montagem de diversas destas unidades, voltadas
para um relevo a mais para a arte popular através das manifestações artísticas
de xilogravura, de literatura de cordel, de cerâmica decorativa, do imaginário
em madeira e outros materiais, da arte sacra incarnada, da ourivesaria das
nossas tradições, da memória jornalística e do patrimônio entre imagem e som.
Neste sentido,
ele foi um visionário que se angustiou, exatamente pelo difícil confronto com a
realidade posta pela indiferença dos gestores públicos, habitualmente tidos
como os inevitáveis financiadores destas empreitadas. Muito recentemente, nós
tivemos um exemplo marcante, da mente e dos braços de Alemberg Quindins, que
chegou a cometer a “inexplicável” façanha de instalar um museu, o do couro, em
Nova Olinda, com pouco mais de 15 mil reais. Na contramão de tal iniciativa,
até nos parece que a maior parte destes prefeitos e secretários, que vivem
sonhando com milhões (claro – para suas grandes obras de ferro e cimento), a
questão da cultura é um trato menor, inexpressivo para seus sonhos de
desenvolvimento.
Nas contas de
Daniel Walker, aparelhar esta terra de tantos milagres, de tantos hábeis e
férteis mestres, o custo era inexpressivo – e ele estava certo, algo como o
administrável com pouco esforço, sem qualquer sangria no erário público,
confortável aos olhos inquietos de tantos visitantes nestes museus, entre
romeiros e a gente da terra.
Daniel Walker,
com quem convivi por quase sessenta anos, era destes que sonhavam com esta cena
possível, para o resgate deste compromisso inadiável com a cultura popular.
Incansável nos seus gestos, ele os aprimorou para que a mensagem não faltasse,
na direção do que tinha de ser feito, do que tinha de ser escrito, do que tinha
de ser dito, do que tinha de ser realizado, do que tinha de ser sonhado, sempre
em grande estilo.
Ao
lembrar-lhes, nesta amarga efeméride, a perda imensa que tivemos de suportar
com sua morte prematura, ficou-nos, acima de tudo, esta marca indelével de sua
ação cultural, da sua personalidade de escol, a não desistir jamais dos seus
sonhos, daquilo que ele fomentou por atitudes inconfundíveis, entre o
profissionalismo exemplar, desde e sempre, ao jornalismo de rádio, dos jornais
de folhas e da rede mundial de computadores, ao fazer cultural entre a docência
e a farta produção livresca.
Renato Dantas,
Daniel Walker, Jonas Luis, Manoel Severo, Aderbal Nogueira e Renato Casimiro no
Cariri Cangaço Juazeiro do Norte
Escreveu sobre
coisas e gente amada, nunca foi fútil nem pretensioso. Presenteou-nos e
permanece imortal em nossas prateleiras com seus livros fartos, a nos dizer de
uma atualidade de seus temas, sempre preocupado com a memória histórica de seu
chão tão amado, na ansiedade de esclarecimentos e do “conhecereis a verdade”.
Há um ano, por
sua partida, somos uma gente endividada com esta continuidade dos seus
traçados, aqueles que nos resgatam, de longa data, a sensação de um certo, e
pouco explicável, complexo de inferioridade, sentido a partir desta vontade
compulsiva para legar à sua terra o melhor esforço para o seu desenvolvimento,
especialmente no educacional, no artístico e no cultural.
Neste dia de
hoje, lembrar Daniel Walker a todos nós é manifestar-lhe num Tributo. Um
tributo que se arrastará pelos anos na tristeza e na angustia do que sentimos
em seu calvário. Morreu Daniel Walker há um ano, deixando-nos moralmente,
seus amigos e sua gente, com a tarefa inadiável, o do compromisso pela
resolução desta pauta inarredável, por um Juazeiro melhor, por um Cariri mais
fraterno, diante do que pela arte e pela cultura, tudo isto é possível.
E que você,
Daniel, saiba pelos tempos, que suas lições estarão sempre à nossa frente,
guiando, orientando, fortalecendo, insistindo, entusiasmando – nunca
desanimando. E disto lhe damos noticia, porque nada ficou mais fácil depois que
você se foi. Isto é um bom sinal, daqueles que nos dizem que ainda vamos
precisar muito de você por perto. Talvez você não imagine a falta que está
fazendo a cada um dos que por aqui ficamos, até um dia qualquer, num tempo em
que tudo pareça um domingo pela manhã ensolarada, entre nove e meio dia, num
daqueles bancos da Praça Padre Cícero, no Juazeiro de todos os seus amores e de
todas as suas lembranças.
Renato
Casimiro
Juazeiro do
Norte
http://blogdomendesemendes.blogspot.com