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domingo, 27 de dezembro de 2020

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA

Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

franpelima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

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CORONEL MARCOLINO DINIZ E SEUS HOMENS DE CONFIANÇA, PARAÍBA.

Do acervo do historiógrafo Rostand Medeiros.

https://tokdehistoria.com.br/2020/12/22/as-metamorfoses-do-coronelismo/

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A FASCINANTE VIDA SEXUAL DE DOM PEDRO II

Por Paulo Rezzutti

Dom Pedro II - Getty Images

Filho do Demonão, o imperador do Brasil também colecionou polêmicos casos extraconjugais.

Dom Pedro II tinha fama de sábio. Conhecia aramaico, além de diversas línguas vivas. Correspondia-se com a maior parte dos cientistas de seu tempo, bem como com compositores, cantores e atores. Mas sua famosa biblioteca no Rio de Janeiro também tinha outra finalidade. Servia de ninho para seus amores clandestinos.

Quando jovem, o imperador foi criado em uma monarquia sem qualquer brilho após a abdicação de seu pai, dom Pedro I, em 7 de abril de 1831. Ele e suas irmãs herdaram uma corte que, segundo testemunho de um de seus primos europeus que o visitaram, era “a mais miserável do universo”. Essa austeridade também foi a grande marca da criação do futuro imperador, que, além da pobreza da corte, herdou o pesado fardo da lembrança dos escandalosos relacionamentos extraconjugais de seu pai.

Noites atenienses

Dom Pedro II / Crédito: Getty Images

Para que o Império e o futuro imperador dom Pedro II passassem uma imagem mais séria, a educação moral do jovem príncipe foi rígida. Desde o princípio, ele sabia o quanto o romance escancarado de seu pai com a fogosa paulista jogara lenha na fogueira moral ateada pelos inimigos da monarquia, e assim a discrição amorosa do imperador virou lei.

Como afirma o historiador Renato Drummond Tapioca Neto, “o sexo para as mulheres das classes mais abastadas tinha apenas uma função: produzir filhos, a maior alegria para o casal. O prazer não entrava nesse jogo. Dessa forma, no leito conjugal, a lei que ditava o desempenho dos homens era a perpetuação da linhagem, enquanto a paixão e o desejo carnal eles reservavam a outras mulheres, as amantes. Mas tudo por baixo dos panos. Afinal, qualquer escândalo poderia vir a prejudicar a imagem da família perante a sociedade”.

Quem olha para as pinturas e fotos daquele senhor sisudo, bochechudo e com longas barbas brancas não imagina que ele abalou tantos corações, de maneira muito mais discreta que seu pai. O mais famoso relacionamento extraconjugal de dom Pedro II foi com Luísa Margarida de Barros Portugal, a condessa de Barral, exposto por Mary Del Priore em Condessa de Barral, a Paixão do Imperador.

Ela era uma rica dona de engenho casada com um nobre francês e foi preceptora das princesas imperiais, Leopoldina e Isabel. O relacionamento durou 34 anos de ânsias e suspiros apaixonados em cartas interatlânticas, nas quais dom Pedro II relembrava com carinho das “noites atenienses” ou de quartinhos de hotéis em Petrópolis. Porém havia também nesse relacionamento uma certa paixão intelectual.

Nada, ao menos da correspondência amorosa que sobreviveu entre ele e a condessa, lembra o fulgor do pai, que tratava com paixão a Marquesa de Santos, ora com versinhos malconstruídos, ora com palavras das mais vulgares, chegando a enviar pelos pubianos à amante e sentir saudades de “ir aos cofres” dela.

Existe na historiografia brasileira a lenda de que o historiador Tobias Monteiro teria encontrado cartas picantes envolvendo dom Pedro II, e as depositou na Biblioteca Nacional, porém um arranjo na numeração as teria feito ficar desaparecidas por muito tempo no arquivo. Afinal, não pegava bem para a imagem do ex-imperador ter sua vida amorosa exposta de maneira indecorosa, como aconteceu com seu pai.

Dom Pedro II e Teresa Cristina / Crédito: Wikimedia Commons

Finalmente, o historiador José Murilo de Carvalho conseguiu catalogá-lo, o que acabou por revelar um dom Pedro II menos morno que sua figura bonachona. Como diz um ditado holandês: a fruta não cai longe do pé. O velho imperador também teve seu lado Demonão.

“Te amo e sou tua”

Se as cartas da condessa de Barral para dom Pedro II são mornas, o mesmo não acontece com a sua correspondência com a condessa de Villeneuve. Casada com Júlio Constâncio de Villeneuve, conde de mesmo nome, Ana era nove anos mais nova que dom Pedro II.

Em suas cartas para o imperador, ela lembra que “cada uma de tuas expressões tão apaixonadas me fazem estremecer de amor” e declara: “Eu te amo e sou tua de toda a minha alma. Eu te abraço tão ardentemente como tu desejas”. A pedido do imperador, enviou-lhe uma foto com vestido decotado, diante da qual dom Pedro II delira, em carta de 13 de maio de 1884: fantasia uma tórrida cena de amor no sofá da casa da condessa, com corpos entrelaçados, desfalecendo de prazer.

Em carta de 7 de maio, afirma: “Que loucuras cometemos na cama de dois travesseiros!”, e, adiante, como se estivesse para atingir o clímax, declara que não consegue mais segurar a pena: “Ardo de desejo de te cobrir de carícias”.

Uma testemunha da época do Segundo Reinado, o diplomata espanhol Juan Valera, confidenciou a um amigo que “a imperatriz do Brasil (dona Teresa Cristina) é tão virtuosa quanto feia, e dom Pedro II lhe é infiel de vez em quando. O teatro de suas infidelidades é a biblioteca do palácio; o que acontece é que as damas se instruem...”.

Outra característica que dom Pedro II herdou do pai era a sovinice: esbanjava com esmolas e bolsas de estudo, mas era miserável com as amantes. Valera chega a comentar que não foram poucos os homens que acabaram falindo para manter as esposas frequentadoras assíduas da corte e da biblioteca do imperador.

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D. Pedro II, de José Murilo de Carvalho  (2007) - https://amzn.to/34pqCR3

As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz (1998) - https://amzn.to/2OU5L1P

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“ADEUS, POIS, PARA SEMPRE, ADEUS!” – A EMOCIONANTE CARTA DE DONA AMÉLIA DE LEUCHTENBERG PARA D. PEDRO II!

 Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Dom Pedro II

Logo após ter aportado na baia de Guanabara, em 16 de outubro de 1829, D. Amélia de Leuchtenberg, segunda imperatriz consorte do Brasil, surpreendeu seus enteados com brinquedos trazidos da Europa e gestos carinhosos. A partir daí, passou a ocupar no coração dos pequenos o posto de mãe, vacante desde que a morte da imperatriz Leopoldina. Mais jovem do que as irmãs, o príncipe Pedro demonstraria uma conexão especial com a madrasta, uma vez que tinha apenas um ano de idade quando se tornou órfão e, portanto, não tinha recordações de sua genitora, exceto pelo que lhe contavam sobre ela ou pelos retratos que via da mesma. A carta que segue, por sua vez, foi escrita por D. Amélia ao enteado, por ocasião da partida desta para Paris, após a abdicação de D. Pedro I ao trono brasileiro. Nela podemos constatar mais uma prova do carinho que a ex-imperatriz nutria pelo garoto e o seu pesar ao deixa-lo, visto que era a “delícia de minh’alma” e a “alegria de meus olhos”. O seguinte texto pretende analisar parágrafo por parágrafo da carta de D. Amélia, apresentando fatos circunstanciais que estiveram ligados à partida de D. Pedro I, assim como o viés emocional da autora. Começando com um triste adeus, a missiva prossegue da seguinte maneira:

Adeus menino querido, delícia de minh’alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado: adeus, para sempre adeus! Quanto és formoso, neste teu repouso. Meus olhos chorosos não se podem fartar de te contemplar; a majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos anjos cingem tua engraçadíssima fronte de um resplendor misterioso, que fascina a mente.

D. Pedro II enquanto criança, por Armand Julien Pallière (c. 1830).

D. Pedro II enquanto criança, por Armand Julien Pallière (c. 1830).

Nesse trecho inicial da correspondência, a autora revela as circunstâncias em que deixava o filho que não era seu, mas que seu “coração tinha adotado”, a sua dor pela partida e a crença de que nunca mais o reencontraria. Na sequência, ela traça um retrato vivo, através de suas palavras floreadas, de como o vira pela última vez: enquanto ele estava dormindo. Os filhos do Imperador que permaneceram no Brasil não presenciaram a partida do pai que, na madrugada de 7 de Abril de 1831, foi aos leitos de cada uma e lhes deitou um beijo de despedida nas faces. Foi enquanto dormia em sono profundo que a Dona Amélia viu aquela criança e apesar de seus olhos enxergarem nela a inocência angelical própria de um menino de cinco anos, já vislumbrava o fardo que ele teria de carregar em tão tenra idade: o da coroa. Os trechos seguintes do documento são ainda mais comoventes:

“Eis o espetáculo mais tocante que a Terra pode oferecer. Quanta grandeza, quanta fraqueza a humanidade encerra representada por uma criança. Uma coroa e um brinco, um trono e um berço! A púrpura ainda não serve senão para estofo e aquele que comanda exércitos e rege um império carece de todos os desvelos de uma mãe.”

Mais uma vez aqui Dona Amélia transparece o medo que sente em deixar um menino sem o zelo materno, ainda mais quando este tem tamanhas responsabilidades que seriam impossíveis de ser compreendidas em tão tenra idade, mesmo por um garoto tão bem dotado intelectualmente como Pedro II. Era ainda tão pequeno, que o manto cor púrpura dos reis servir-lhe-ia como um estofo. O tom de preocupação é ainda mais notável pelo contraste que a escritora faz: enquanto ele dormia ainda em um berço, deveria abdicar dos brinquedos para portar a coroa e reger tão vasto Império. Em seguida, ela diz:

“Ah! Querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se minhas entranhas te houvessem concebido, nenhum poder valeria para me separar de ti, nenhuma força de arrancaria de meus braços. Prostrada aos pés daqueles mesmos que abandonaram meu esposo, eu lhes diria entre lágrimas: Não vede mais em mim a Imperatriz, mas uma mãe desesperada. Permiti que eu vigie nosso tesouro. Vós o quereis seguro e bem tratado e quem o haveria de cuidar e guardar com maior devoção? Se não posso ficar a título de mãe, eu serei sua criada ou escrava.”

Partida de D. Pedro, duque de Bragança, D, Amélia de Leuchtenberg, e D. Maria da Glória, na madrugada de sete de Abril de 1831.

Partida de D. Pedro, duque de Bragança, D. Amélia de Leuchtenberg, e D. Maria da Glória, na madrugada de sete de Abril de 1831.

Esse provavelmente é o trecho mais revelador de toda a missiva. Em primeira instância demonstra o pesar de uma mulher que amou uma criança, mesmo sem ser sua, e que se pudesse faria tudo ao seu alcance para ficar ao lado dele. Todavia, por outro lado pode demonstrar uma espécie de reserva para com o menino, na medida em que ela deixa claro que, como não é a mãe do mesmo, teria que se separar dele, apesar de sua vontade em se ajoelhar aos pés “daqueles que abandonaram meu esposo” e implorar para cuidar do pequeno. Nessa frase, Dona Amélia demonstra raiva provavelmente para com os ministros de Pedro, que pouco, ou quase nada fizeram para reaver seu prestígio junto ao povo brasileiro. Já não se via mais como Imperatriz do Brasil e aceitara o fato de que tinha de partir com o marido, para o bem da nação e do regime político. Por fim, o tom do parágrafo fica quase apelativo, quando ela diz que se não podia ficar com o “título de mãe, eu serei sua criada ou escrava”. Na sequência, ela revela um pouco mais do seu pesar por não ser a progenitora daquela criança:

“Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me pertence senão pelo amor que dediquei ao teu augusto pai; um dever sagrado me obriga a acompanha-lo em seu exílio, através dos mares e terras estranhas. Adeus, pois, para sempre, adeus!”

Nessa passagem, Dona Amélia conta ao seu correspondente qual era a sua primeira e verdadeira obrigação: o de esposa. Segundo o costume brasileiro e português daquele período, a mulher de classe aristocrática tinha em sua vida dois responsáveis: primeiro o pai e depois o marido. A partir do momento em que contraía bodas estava condicionada à vontade do cônjuge, devendo obediência a ele em praticamente todas as coisas. A felicidade da mulher, pois, deveria se concentrar no cumprimento de seus deveres conjugais, ou pelo menos era assim que a primeira Imperatriz Dona Leopoldina concebia a vida no casamento e suas particularidades. Dona Amélia, como uma mulher católica praticante, tinha plena consciência de suas obrigações para com Deus e o sagrado estado do matrimônio. Deveria, portanto, acompanha-lo no “exílio, através de mares e terras estranhas”. A última linha desse trecho soa apelativa demais. Afinal, a família imperial retornaria à Europa por um percurso marítimo feito pela própria Amélia quando de sua vinda ao Brasil:

“Mães brasileiras, vós que sois meigas e afagadoras de vossos filhinhos, a par da rola de vossos bosques e dos beija-flores das campinas floridas, supri minha vós; adotai o órfão coroado, dai-lhe todo um lugar em vossa família e em vosso coração.”

D. Amélia,augures de pois de 1839, por Friedrich Dürck.

D. Améllia, por Friedrich Dürck.

A partir dessa parte, D. Amélia lança um apelo às mães brasileiras, para que cuidassem de seu precioso “filho adotado pelo seu coração”. O fato de se dirigir a outros indivíduos naquela missiva endereçada ao seu enteado indica que ela tinha plena consciência que esta seria lida por outras pessoas, além de Pedro II. Desse modo, ela tomou cuidado com cada palavra que escrevia (apesar de expor seu pensamento contrário a alguns acontecimentos, conforme podemos ler em muitas passagens da carta), que muito longe de se tornar um mero artefato pessoal, era um documento de Estado. Não obstante, a mensagem ali contida também estava voltada para as pessoas que se tornaram responsáveis pela guarda do chamado “órfão da nação” após da partida dos novos duque e duquesa de Bragança:

“Ornai seu leito com folha de arbusto constitucional, embalsamai-o com as mais ricas flores de vossa eterna primavera, entrançai, o jasmim, a baunilha, a rosa, o cinamomo, para coroar a mimosa testa, quando o pesado diadema de ouro o tiver machucado.”

Aqui a autora se utiliza de seu suposto conhecimento da flora brasileira para ilustrar que, embora criança e indefesa, as mães do Brasil deveriam lhe prestar louvores, criando, através de suas palavras, a imagem de uma criança enquanto salvadora da pátria, deitada num berço ornado pelas folhas do arbusto constitucional. Deveriam, pois, lhes perdoar as faltas que pudesse cometer para com o país, devido à sua pouca idade e também ao fardo do “pesado diadema”. Nos trechos seguintes, Dona Amélia vai se utilizar de muitas figuras de linguagem para alertar as pessoas sobre a importância de seu pedido, quando ela diz:

“Alimentai-o com a ambrosia das mais saborosas frutas: a ata, o ananás, a cana melíflua; acalentai-o à suave entoada de vossas maviosas modinhas.”

“Afugentai para longe de seu berço as aves de rapina, a sutil víbora, as cruéis jararacas e também os vis aduladores, que envenenam o ar que se respira nas cortes.”

Estes dois parágrafos que acabaram de ser citados, por sua vez, revelam o medo e o da autora: primeiro como, já salientado anteriormente, que fossem gentis com seu menino; segundo que afastem dele pessoas más que, por causa de sua tenra idade, poderiam se aproveitar de suas fraquezas, ainda mais em uma corte como a carioca, onde o bafo dos “vis aduladores” envenenava o ar. Parece que a duquesa de Bragança estava prevendo as desventuras pelas quais o pequeno Pedro passaria no período conhecido como regencial (1831 – 1840). Esse fato se torna tão apócrifo, quanto mais se alisarmos o seguinte trecho da longa correspondência:

“Se a maldade e a traição lhe preparem ciladas, vós mesma armai em sua defesa vossos esposos, com a espada, o mosquete e a baioneta. Ensinai à sua voz tenra as palavras de misericórdia, que consolam o infortúnio, as palavras de patriotismo, que exaltam as almas generosas e, de vez em quando, sussurrai a seu ouvido o nome de sua mãe de adoção.”

D Amélia de Leuchtenberg, então duquesa de Bragança, em seu últimos anos de vida.

D Amélia de Leuchtenberg, então duquesa de Bragança, em seu últimos anos de vida.

Ainda se dirigindo às mães do Brasil, Dona Amélia, que deixou este país em um clima político tenso, diz-lhes que seria preciso incorrer em violência, caso a defesa do pequeno imperador assim o exigisse. Provavelmente, as várias revoltas ocorridas no período regencial pouco afetaram o menino afugentado no palácio de São Cristóvão. No entanto, sua autoridade estava sendo contestada e, portanto, medidas extremadas foram necessárias para garantir a unidade do Império. Não obstante, as palavras de patriotismo a que a autora se refere, foram muito bem utilizadas por D. Pedro II em episódios como a Guerra do Paraguai ou mesmo quando ele passeava pelas ruas do Rio de Janeiro, com seus trajes simples, querendo passar para os súditos a imagem de um “monarca cidadão”. Por fim, ela implora para que não deixem que o pequeno se esquecesse dela, algo que jamais aconteceria.

“Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor de felicidade de vosso país e de vosso povo; ei-lo tão belo e puro como o primogênito de Eva no paraíso. Eu vo-lo entrego agora e sinto minhas lágrimas correrem agora com menor amargura. Ei-lo adormecido.”

Aqui, a escritora observa que se sentiria mais tranquila sabendo que seu enteado estaria sob o cuidado atento das mães brasileiras, na medida em que cumprissem com fervor os pedidos que lhes fizeram ao longo da missiva. Por último, ela alude mais uma vez sob em quais circunstâncias o viu pela última vez: dormindo, como o “primogênito de Eva no paraíso”.

“Brasileiras, eu vos imploro que não o acordeis antes que eu me retire. A boquinha, molhada de meu pranto, ri-se à semelhança do botão de rosa ensopado do orvalho matutino. Ele ri e o pai e a mãe o abandonam para sempre.”

No penúltimo parágrafo da longa carta, D. Amélia demonstra a consciência de que sua missiva seria lida primeiro por outras pessoas que não o destinatário. Por isso, agora se dirige às brasileiras, e não somente às que são mães, pedindo-lhes que não o acorde antes que tivesse ido embora “para sempre”. Enquanto o herdeiro do império dormia à semelhança de um querubim, seus pais o abandonavam. Todavia, Pedro, apesar da tenra idade, demonstrava consciência dos motivos pelo quais seu pai abdicava, quando este pedia em correspondência ao mesmo “que nunca se esqueça deste filho que sempre há de guardar a obediência, respeito e amor ao melhor dos pais tão cedo perdido para seu filho” (apud GOMES, 2010, pag. 294). Na última parte da carta, a autora reitera o clima de pesar pela partida, quando escreve:

“Adeus, órfão Imperador, vítima de tua grandeza, antes que a saibas conhecer. Adeus, anjo de inocência e formosura, adeus!”

“Toma este beijo e este… e este último. Adeus, para sempre, adeus!”

“ass. Amélia, Duquesa de Bragança”.

Apesar do clima de tristeza, esse não seria o último adeus entre a agora duquesa de Bragança, e seu enteado. Em 1871, quando D. Pedro II, já com 45 anos, viajava pela primeira vez à Europa ele faria uma visita à madrasta em Portugal, encontrando-a já velha e fatigada pelas dores, tanto que faleceria apenas dois anos depois do felicíssimo reencontro com o soberano. Esta carta, por sua vez, revela  a maturidade na escrita da soberana, uma vez que em 1831 tinha apenas 19 anos de idade. Apesar das distâncias, eles ainda continuariam a se corresponder frequentemente até a morte de D. Amélia, em 1873. Com efeito, até o fim permaneceriam como o “filho que meu coração tinha adotado” e ela como a sua “querida mamãe”.

Referências bibliográficas:

Carta de D. Amélia de Leuchtenberg a D. Pedro II. – Disponível em: http://ateneu1957.blogspot.com.br/2011/09/pedro-ii-e-dona-amelia.html. Último acesso em: primeiro de Maio de 2013.

GOMES, Laurentino. 1822. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

SCHWARCZ, Lília Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. – 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

https://rainhastragicas.com/2013/05/01/a-emocionante-carta-de-dona-amelia/

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CORONÉIS DA CHAPADA DIAMANTINA.1921 EM MORRO DO CHAPÉU (BA)

 Por Adelson Mota



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A SEPULTURA DO CANGACEIRO.

Por Rangel Alves da Costa

Canário (Bernardino Rocha), cangaceiro filho de Poço Redondo, ao ser traído e morto pelo também bandoleiro Penedinho em setembro de 38, teve seu corpo enterrado sem a cabeça debaixo de um umbuzeiro (foto abaixo), logo adiante do local da traição, num lajedo beira d’água na Fazenda Coruripe, em seu berço de nascimento. Enterrado apenas o tronco porque o comandante Zé Rufino, famoso caçador de cangaceiros e sedento pelas riquezas do cangaço, logo chegou diretamente da vizinha e baiana Serra Negra para se certificar da morte e do possível espólio deixado. Tomou conhecimento da morte através do próprio Penedinho, que após matar o companheiro de sua prima Adília correu para se entregar no quartel do famoso comandante, logo após a fronteira. A entrega sempre era facilitada após a baixa de outro companheiro do bando. Assim que soube, Zé Rufino esfregou as palmas da mão, lambeu-se nos beiços, e cortou chão até Poço Redondo. Seus olhos brilhavam na avidez do que poderia encontrar, até mesmo porque o traidor já tinha confessado que havia dinheiro e joias enterrados pelos arredores. Há incerteza do que e do quanto encontrou, mas há certeza que decepou a cabeça do morto e com ela retornou. O restante do corpo foi enterrado embaixo do umbuzeiro, sob uma cruz torta e desolada e - dizem ainda hoje - o fantasma de um cachorro que por muito tempo, em noites de breu e tristezas, chorou e uivou a saudade de seu dono. O mesmo cachorro de Canário que continuou velando o corpo estendido no lajedo e que foi morto com a chegada da volante.

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