Por: Honório de
Medeiros
Detalhe da
Casa de Rodholfo Fernandes em foto da Resistência ao Ataque de
Lampião
Em dias do início
do mês de maio do ano da graça de 1927, pelas terras do Rio Grande do Norte que
confrontam com aquelas da Paraíba, lá no alto Sertão desses estados, mais
precisamente as que ficam entre as cidades de Uiraúna e Luis Gomes, vindos de
Aurora, no Ceará, Cariri velho de Nosso Senhor Jesus Cristo, eles, os
cangaceiros, entraram no território potiguar.
Era uma horda
selvagem com aproximadamente uma centena de homens, para o mais ou para o
menos, imundos e bestiais, a cavalo, fortemente armados, portando rifles,
fuzis, revólveres, pistolas, punhais longos e curtos, e farta munição. Vinham
ébrios, ferozes, e sedentos de violência, sem qualquer outro propósito que não
a rapinagem, pura e simples.
E assim
entraram. Durante os quatrocentos quilômetros e quatro dias que durou a
epopéia, deixando e voltando à Aurora após alcançarem
Mossoró, desenharam, com a ponta dos cascos dos cavalos ou a face
externa das alpargatas com as quais pisavam o chão, como que um movimento cujos
contornos lembram o de uma flor de mufumbo, cujas laterais seriam as margens da
Serra de Luis Gomes e Serra do Martins, por um lado, e, pelo outro, as margens
do serrame do Pereiro, limites com o Jaguaribe, Ceará adentro.
Espalharam o
terror por onde passaram. Humilharam, surraram, feriram, extorquiram, sequestraram,
furtaram, roubaram, mataram... Em toda a história do cangaço, complexa e
específica por si mesma, nada há igual. Não foi um ataque qualquer a um
arruado, vila ou povoação. Nem mesmo a uma cidade pequena.
Foi um ataque
a uma cidade de grande porte para os padrões da época, bem dizer litorânea, a
segunda maior do Rio Grande do Norte, com quatro igrejas, três jornais, agência
do Banco do Brasil, população que rivalizava com a da capital do Estado, um
comércio rico e pujante, que funcionava como centro para o qual convergiam
paraibanos, norte-rio-grandenses e cearenses, e, por intermédio do porto de
Areia Branca, ao qual se chegava pelo Rio Mossoró ou Apodi, caso necessário, o
Brasil todo.
Mossoró não
acreditava que tal ataque pudesse se concretizar. O Governo do Estado do Rio
Grande do Norte também não. Era inconcebível. O Brasil, representado por sua
capital, o Rio de Janeiro, que dou perplexo.
Tanto anos
depois é possível algo novo quanto às causas que levaram Lampião a empreender
esse ataque?
Os cangaceiros
acima foram nominados por Jararaca, a quem a fotografia foi mostrada enquanto
ele convalescia, preso em Mossoró, pouco antes de morrer
De antemão,
que se diga: não é consenso que haja mistério quanto às causas do ataque de
Lampião a Mossoró.
Ao contrário.
Excetuando-se algumas vozes isoladas aqui e ali, outras ouvidas aos sussurros
em Mossoró, é prática corrente atribuir à ganância de Lampião, Isaías Arruda e
Massilon – este com papel secundário, a existência do episódio.
Entretanto ao
estudarmos com atenção redobrada, até mesmo com obstinação, o acervo do qual
dispõem os pesquisadores, constata-se a existência de questões, dúvidas,
perplexidades, que insistem em aparecer desafiando o passar dos anos e a
natural inércia originada das versões consideradas consumadas.
Levando-se em
consideração todas essas questões, após tê-las colhido, assim é que, a seguir,
dando-lhes o tratamento mais racional e factual possível, buscando a isenção
necessária à qual se deve ater quem busca encontrar a melhor explicação entre
várias concorrentes, são elas elencadas, analisadas e colocadas à disposição do
leitor, para que este possa fazer sua escolha ou, se não for o caso, meramente
ser colocado a par de suas existências.
Há, portanto,
e basicamente, quatro teorias acerca das causas do ataque de Lampião a
Mossoró:
(i) o ataque a
Mossoró resultou da ganância do Coronel Isaías Arruda e de Lampião, no que
foram secundados por Massilon;
(ii) o ataque
a Mossoró resultou unicamente da cobiça de Massilon.
(iii) o ataque
a Mossoró resultou da paixão de Massilon por Julieta, filha de Rodolpho
Fernandes;
(iv) o ataque
a Mossoró resultou de um plano político.
Qual delas é a
verdadeira?
FONTE: honoriodemedeiros.blogspot.com
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