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sábado, 2 de junho de 2012

Roteiro Histórico e Cultural de Mossoró V - 02 de Junho de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

 Do lado esquerdo da Catedral de Santa Luzia, existe um espaço chamado de “Largo Monsenhor Huberto Bruening”, que foi projetado pelo arquiteto Carlos Augusto Nogueira Mendes. Esse Largo, consta de pavimentação de calçadas, construção de um pórtico, construção de pedestal, colocação de um busto do Monsenhor Huberto, jardineiras, bancos e iluminação central. O busto foi doado pelo Sr. Francisco Ferreira Duarte e fica apoiado em um pedestal de 40 x 75 cm, em granito branco. O conjunto repousa sob um pórtico de 4,0m de altura, construído em granito ouro, tendo em sua base uma jardineira com revestimento de cerâmica, sendo toda a área iluminada por um poste de 12,0m de altura com três luminárias. Em uma placa de bronze afixada no pedestal está escrito: “

Largo Monsenhor Huberto Bruening
                 
“Ao Mons. Huberto Bruening o carinho e a gratidão da Cidade e da Diocese de Santa Luzia de Mossoró.                
* 30-03-14 – S. Ludgero – SC
+ 29-08-95 – Mossoró – RN.” 
               
Huberto Bruening nasceu em São Ludgero, Santa Catarina, no dia 30 de março de 1914, às 8:00h de uma segunda feira. Cursou o primário na Escola Paroquial de São Ludgero; o ginasial fez em Brusque, no Seminário Arquidiocesano. Estudou filosofia em latim por três anos ainda em Brusque. Fez humanidade em São Leopoldo, RS e teologia em Fortaleza, no Ceará.
              
 Chegou à Mossoró no dia 25 de abril de 1936. Em maio do mesmo ano foi incardinado na Diocese pelo Bispo D. Jaime de Barros Câmara, que lhe conferiu o Presbiterato na Catedral de Santa Luzia à 30 de janeiro de 1938.
               
Como homem de saber, lecionou nos seminários de Brusque, São Leopordo, Fortaleza, Belém do Pará, São Ludgero e Mossoró. As matérias que lecionava era o Latim, Português, Alemão, Filosofia e Música, dentre outras. Foi Reitor de Seminário, Capelão de Hospital, Censor, Cura de Sé e Presidente do Instituto Amantino Câmara, de amparo aos idosos.
               
Tinha uma paixão material que era a criação de abelhas Jandaíra, da qual se tornou especialista, participando inclusive de seminários Internacional em Munique sobre Apicultura em 1969 e nacional em Salvador, em 1989.
               
Monsenhor Huberto semeou amizade durante toda a sua vida. E essas amizades não lhe faltaram nos momentos finais de sua vida. Morreu em Mossoró no dia 29 de agosto de 1995, sem nunca ter lhe faltado à presença de suas “Camilas”, nome pelo qual chamava a todas que o ajudava. Sensibilizado pelo ato de compaixão que via em todas, sempre lhes dizia: “Eu não tenho com que pagar a ninguém, só Deus é que pagará a todas”.
               
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Autor:
Geraldo Maia do Nascimento

Fonte:
http://www.blogdogemaia.com/  #

Se você quiser saber o que aconteceu com  Anathália Cristina Queiroga, clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2012/05/direito-que-anathalia-cristina-queiroga.html

O Banditismo nos Sertões do Nordeste

Por: Lemuel Rodrigues
Lemuel Rodrigues, Sandro Leonel e Danielle Esmeraldo

O banditismo sempre gerou o interesse e alimentou a fantasia do povo. O homem ou a mulher que vive às margens da lei como um celerado errante desperta na população, atração e admiração, certo fascínio por aquela vida “livre” das restrições impostas pela sociedade. Basta lembrar o que representa Robin Hood para os ingleses, Jesse James, para os americanos, Pancho Villa para os mexicanos e, como não poderia ser diferente, Lampião para nós brasileiros.

A vida desses homens é contada em verso e prosa, sem a preocupação com a história, seus feitos “heroicos”, exageradamente narrados pelos contadores de estórias, ajudaram a mitificar tais personagens. No caso específico do Brasil, as bravuras de Lampião, que são narradas pela literatura de cordel, por exemplo, contribuem sobremaneira para mitificá-lo. Essas narrativas sem uma preocupação histórica exigem uma atenção especial. Ao invés da ênfase ao bandido, era preciso estudar a realidade de suas vidas e a sociedade na qual viveram e morreram. Daí o motivo pelo qual precisamos retroagir no tempo e no espaço e procurarmos entender as ações desses agentes históricos que são os cangaceiros. Tomaremos como referência a colonização, em especial a expansão territorial através da criação extensiva do gado.


As grandes famílias que ocuparam os sertões do Nordeste no período colonial, através da atividade acima citada, mantiveram sob seu controle bandos de homens, muitos dos quais vivendo em suas terras, como “morador” ou “agregado” em troca de “serviços” ocasionais. Eram comuns, entre as famílias que dominavam os sertões, conflitos gerados muitas vezes por questões de terra, gado, liderança política, herança, casos amorosos ou qualquer outra pendenga, o que exigia delas a permanência de “seus homens” sempre em prontidão para uma eventual “guerra de famílias”, como por exemplo, na luta entre os Pereiras e Carvalhos na zona do Pajeú de Flores, em Pernambuco, bem como os Cunhas e Patacas, no Ceará; Dantas e Carvalhos Nóbrega, na Paraíba, e tantas outras espalhadas pelo Brasil.

Destacaremos a titulo de ilustração o conflito entre os Pereiras e os Carvalhos, em Pernambuco, uma vez que foi do confronto dessas duas famílias que nasceu, por volta de 1916, um dos grupos de cangaceiros mais atuantes nos sertões do Nordeste, liderado por Sebastião Pereira (Sinhô Pereira), neto do Barão de Pajeú, e seu primo Luis Padre. Os dois arregimentaram dezenas de homens e passaram a perseguir membros da família Carvalho por serem responsáveis pela morte de membros de sua família. Os Carvalhos, que naquele momento dominava a política em Pernambuco, usavam a polícia e as milícias para se defenderem, acusando seus adversários políticos e inimigos pessoais de “perigosos bandidos.” Nesse cenário de rivalidade entre as famílias, iremos perceber a ligação do cangaço com a política.

Já no período imperial, a existência de dois partidos, o liberal e o conservador, colocava em lados opostos as famílias rivais. Como afirma Queiroz (1997: 24) Quando o Partido Conservador, por exemplo, estava dominante num município ou numa região, as parentelas que compunham o Partido Liberal, seus bandos de capangas, as autoridades que pertencessem ao mesmo partido, eram consideradas “na ilegalidade”. Como tal, viam-se perseguidas, aprisionadas, dizimadas, e as autoridades administrativas destituídas de seus cargos.”


A Proclamação da República e a extinção dos partidos não foram suficientes para superar as diferenças históricas existentes entre as famílias rivais. As lutas continuam, agora enfatizando as querelas pessoais, daí o derramamento de sangue ao longo da chamada república velha em todo o país. É bem verdade que a continuidade das lutas entre as famílias não pode ser vista apenas como frutos de questões pessoais, uma vez que o fim do império e a extinção dos partidos não cessaram as disputas políticas entre os grupos. O que podemos perceber era uma nova disputa, dessa vez interna. Ainda tomando como referência Queiróz (1997: 26) Durante o Império, lutavam Conservadores contra Liberais, partidos políticos que eram nacionalmente reconhecidos. Na 1ª República, passou a existir um partido único, o Partido Republicano. A luta pela dominação local se travou, então, entre os que ocupavam os cargos político-administrativos e neles procuravam eternizar-se (oligarquias), e seus contrários, rotulados por eles como bandidos.

Com o advento da república, a tendência foi o cangaço se tornar independente dos grupos familiares, uma vez que as oligarquias no poder passaram a se utilizar de novos instrumentos de controle local, como a polícia. É bem verdade que a passagem dos grupos de cangaceiros dependentes para independentes não excluía a relação com políticos da região. Os três grandes nomes do cangaço independente, Antônio Silvino, Lampião e Corisco, mantinham boas relações com alguns chefes políticos locais, chegando ao ponto de gozar de certas regalias em suas áreas de atuação. No entanto, isso não tornava os cangaceiros elementos com habitat fixo, pois eram pessoas que viviam às margens da lei e frequentemente perseguidos pelas polícias estaduais.

Lemuel Rodrigues
Presidente da SBEC
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

NOTA CARIRI CANGAÇO: O texto acima faz parte da espetacular apresentação do professor doutor, Lemuel Rodrigues, presidente da SBEC, na abertura do Semínário Cariri Cangaço 2009, com o tema: Cangaço e Religiosidade. Convidamos a todos para acompanharem na íntegra a apresentação acessando o site oficial da SBEC:

Publicado em Novembro de 2010 no site abaixo:

Sinho Pereira, uma vida de aventura!

Por: Ivanildo Alves Silveira

Vejam abaixo a famosa entrevista que o cangaceiro Sinhô Pereira, chefe de Lampião, concedeu ao senhor Luiz de Lorena, na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, em 1971, quando de seu retorno, 50 anos depois de sua ida para Goiás. Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São Sebastião, 20 de Janeiro de 1896.

SEBASTIÃO PEREIRA DA SILVA (SINHÔ PEREIRA) nasceuem Vila Bela, em meio a  uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho. Foi chefe de cangaceiros e das suas mãos LAMPIÃO recebeu o bando.  Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeu no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada/PE.

Naquela ocasião Luiz Lorena e Sá, da família Pereira , travou o seguinte diálogo com seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã:

Lorena - Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével ?

Sinhô - Foram tantos os momentos dramáticos no meu trajeto que seria impossível escolher um.

Lorena - Qual seu dia de maior alegria?

Sinhô - Chegar a Serra Talhada 50 anos depois e ser recebido por todos os parentes com carinho que me dispensaram, foi na verdade motivo de muita alegria.

Lorena- Qual seu dia de maior tristeza ? 

Sinhô - Estando eu em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário/MG, recebi a noticia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao sepultamento compareci.


Lorena - Você tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro ?

Sinhô - Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família. Fui namorado da moça mais bonita do Pajeu. 

Lorena - Por que se envolveu nessa tragédia ?

Sinhô - A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do assassinato de seu Né - meu irmão - nem inquérito policial foi aberto.

Lorena - Você reconhece o que seus contemporâneos dizem sobre o seu espírito guerreiro e de ser você o mais valente entre esses ?

Sinhô - havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias matar ou morrer para mim, seria a mesma coisa; daí a diferença. 

Lorena - Desses confrontos, qual o que você teve mais proveito ?

Sinhô - A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história. 

Lorena - Quais os fatos que mais perturbavam você ?

Sinhô - Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado. 

Lorena - Entre estes, você poderia destacar um ?

Sinhô - Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Naforma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustada que já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.

Lorena - Em que circunstância Lampião apareceu em sua vida ?

Sinhô - Ele e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum. Não tinham condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita bravura de alguns combates.

Sinhô Pereira

Lorena - Por que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião ?

Sinhô - Num combate, a noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dê Araújo comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei, dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o Lampião que aterrorizou o Nordeste.

Lorena - Você não quis Lampião em sua viagem para Goiás ?

Sinhô - Ao despedir-me dele na Fazenda Preá, no município de Serrita/PE, pedi para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis, entretanto, seguir viagem comigo.

Lorena - Depois de instalado em Goiás você convidou Lampião para ir morar naquela região ? 

Sinhô - Sim. Quintas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraços.

Lorena - Você recebeu o convite de alguém para atacar Antônio da Umburana em Queixada (Mirandiba) ?

Sinhô - Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco. 

Lorena - E o seu problema com Isnero Ignácio, como aconteceu ?

Sinhô - Naquele tempo chegou para se agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira Nunes (Luiz do Triângulo) acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que estavam comigo por que foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa Rita pelo primo Isnero Ignácio. Estavam se preparando para desforra e esperava o meu apoio. 

Lorena - Qual foi sua reação ?

Sinhô - Ponderei que já bastavam as inimizades já existentes e que Sinharinha, mãe de Isnero, era filha de tia Donana, figura considerada sagrada pela minha mãe.

Lorena - E Luiz do Triângulo, como reagiu ?

Sinhô - Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto, concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio de Medeiros também primo de Isnero, Sr. Sebastião Inácio de Oliveira, concordou. Isnero e mãe Sinharinha foram radicais, não aceitaram qualquer forma de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar a sua propriedade. 

Lorena - E daí, o que aconteceu ?

Sinhô - Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na Fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda. 

Lorena - Dos oficiais da policia militar que o combateram, qual o de maior respeito ?

Sinhô - O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da refrega. 

Lorena - Qual o combate mais dramático que você participou ? 

Sinhô - Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando. Éramos doze homens, cercados num casebre, por cento e vinte policiais. Sem outra alternativa bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal. 

Lorena - O que aconteceu ?

Sinhô - O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos.

Lorena - Por que a idéia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que continuariam a luta, mas, na verdade, abandonavam o refúgio ?

Sinhô - Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos. 

Lorena - Você viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros ?

Sinhô - Não. Isidoro Conrado e Né da Carnaúba financiaram a nossa viagem com dinheiro que compraríamos duzentos bois. 

Lorena - Em Dianópolis, onde se instalaram, tudo correu bem ?

Sinhô - Vivemos uma epopéia mais dramática do que aqui, expressar numa entrevista nem vale a pena...

Lorena - Por que essa expressão! "minhas navegações" quando sabemos que navegar é próprio do oceano ?

Sinhô - Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e como a extensão de nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão "nossas navegações". 

Lorena - É verdade que você anteviu a genialidade de LAMPIÃO ?

Sinhô - Dos homens que deixei em armas no Pajeu, só Virgolino podia chegar à celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo".


Sinhô Pereira faleceu numa manhã no dia 21-08-1979, em Lagoa Grande - Estado de Minas Gerais, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.

Sinhô Pereira era uma baraúna ! (Luiz Lorena)

Fotos: Algumas foram cortesia do Museu do cangaço/Serra Talhada-PE e amigo SOUSA NETO.
 
Ao elaboramos essa matéria, contamos com a colaboração dos amigos: Kiko Monteiro (Lampião aceso) ; Sousa Neto/Barro-CE, além da Prefeitura de Lagoa Grande/MG (Site) E do escritor LUIZ LORENA/Serra Talhada/PE (saudosa memória) .
Um abraço a todos
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN

A vida após o cangaço. 1

Ex Soldado de Volante "Marancó"

"Lampião tornou-se um herói aos olhos dos pobres e miseráveis"

Oresto integrou uma das volantes (unidades que caçavam cangaceiros), de José Osório de Farias, conhecido como Zé Rufino, o homem que mais matou cangaceiros no Nordeste e também o mais respeitado por Lampião.

Além da guerra na caatinga, comendo apenas raízes, ele afirma que a sua maior batalha não foi o cangaço, mas sim em São Paulo, em 1944, quando trabalhou na construção da Via Anchieta. Também acompanhou o desenvolvimento político de Cubatão. Viúvo, atualmente mora na Cota 400.

Como foi que o senhor conheceu o rei do sertão?

Eu conheci Lampião com 12 anos. Ele era de estatura média, moreno, cabelos negros e lisos, muito franzino e de pouca conversa. Começou a lutar para vingar a morte do pai, assassinado pelo fazendeiro Zé Saturnino, por questões de brigas por terras. Era tropeiro e o mais velho de seis irmãos. Deixou José Ferreira para tomar conta de duas irmãs e levou os outros para vingar a morte do pai. Luís Pedro, primo de Lampião também se integrou ao grupo para matar os macacos (como eram chamados os soldados). Ele aderiu ao bando de Sinhô Pereira, em 1920, aos 22 anos. Já Maria Bonita morava na fazenda Santa Brigida, povoado pertinho da onde eu morava, em Marancó. Ela tinha 17 anos quando Lampião passou pelo povoado e foi embora com ele. Ao contrário de Lampião, era muito bonita, simpática e falante. Com 15 anos se casou com o sapateiro Zé de Neném. O rei do sertão, cabra macho, escreveu explicando que Maria Bonita estava abandonando o marido para acompanhá-lo. 

Apesar de ter aderido ao cangaço por uma motivação pessoal, Lampião acabou sendo reverenciado como salvador da pátria pelos nordestinos. Como isso ocorreu?

Lampião era o defensor do povo. Tornou-se um herói aos olhos dos pobres e miseráveis porque viam nele um sonho de liberdade e justiça. Nas execuções de espiões e mortes de inimigos, ele nunca matou uma pessoa indefesa, não cometia ato de covardia e de maldade. Lampião defendia o povo dos coronéis. Revoltado com os volantes (caçadores de cangaceiros) que entravam na caatinga e metiam o cacete no povo para descobrir os cangaceiros, matava muitos policiais. Além disso, os policiais também entravam nas fazendas e saíam matando os bois para alimentação e pagavam apenas 70 mi réis, que não valia nem a cabeça do boi. Lampião era contra todo o tipo de repressão.

Como Lampião foi morto?

Ele morreu aos 41 anos, em 1938, encurralado por uma volante, comandada pelo tenente João Bezerra, no interior de Sergipe, depois de ser traído por Joca Bernardes, um coiteiro (protetor) que denunciou o seu esconderijo. Ele morreu com Maria Bonita e mais nove cangaceiros, sem cumprir o seu objetivo que era matar os assassinos de seu pai, a quem perseguiu por mais de 20 anos.

Na força policial baiana, o senhor cumpriu oito anos e três meses sob o comando de Zé Rufino, onde participou de diversas batalhas. A principal delas foi a captura e morte de Corisco (o último dos cangaceiros e mão direita de Lampião), em 1940. Como foi?

Corisco cortou o cabelo e trocou de roupa para não ser reconhecido, fugindo com Dadá e outro casal de cangaceiros. Foram perseguidos e, quando Corisco foi pular uma cerca, levou uma rajada na barriga. Ele morreu quando era transportado no caminhão. Não deu um único grito. Nunca vi um homem como aquele. Zé Rufino ainda disse a Corisco que ele deveria ter se entregado e a resposta veio rápida: estou muito satisfeito desse jeito.

Apesar de ter participado da repressão dos bandoleiros, dá a entender que é admirador de Lampião. Reconhece que seus colegas de farda batiam muito na população civil que, freqüentemente, ficava no meio do fogo cruzado entre cangaceiros e policiais? Qual a sua análise sobre o assunto?

Fui militar, era pago para executar, mas nunca bati nem torturei ninguém. Sou admirador de Lampião, um homem de coragem que saiu guerreando por todo o Nordeste. Seus feitos acabaram se transformando em lendas. Suas vitórias eram contadas e comemoradas com rezas por ele e por seus companheiros de cangaço.

Como o senhor chegou a Cubatão?

Eu tinha 26 anos, foi em janeiro de 1944, praticamente 'desviado' da guerra da Alemanha. A mulher do coronel, que gostava muito de mim e não queria que eu morresse na guerra, me mandou para cá. Demorei 42 dias para chegar aqui. Fiquei oito dias em Juazeiro, fui até Aracaju de jardineira (barcos de madeira com motor na frente), depois peguei o vapor (navio), depois fui para Pirapora (Minas Gerais) e peguei o trem direto para cá. Vim trabalhar na construção da Via Anchieta, pelo Departamento de Estrada de Rodagem (DER).

Como foi construir a Via Anchieta?

Essa serra era tão fria que a gente secava roupa na lenha. Só Deus sabe o que sofremos para construir a rodovia, que foi inaugurada em 1947. Eu morava em uma casa da DER e tinha uma pedreira na Cota 500. Eu fazia ferragens, meio fio, cortava pedras na pedreira. Depois fui trabalhar na Refinaria, como vigia. Aí, o Jânio Quadros me mandou novamente para trabalhar no DER, onde me aposentei em 1980. Lembro com carinho do seu Sebastião Ribeiro, que trabalhava comigo, um grande homem e amigo que ajudou muito.

O senhor acompanhou o desenvolvimento de Cubatão? Quais os pontos positivos e negativos?

Antigamente não tinha nada aqui. Só a Light e o DER, depois vieram a Santista de Papel e o Curtume (fábrica de couro). O melhor prefeito que Cubatão já teve foi o Armando Cunha, que trouxe a Petrobras ao município. Ele ajudou no desenvolvimento da cidade com os impostos das empresas e também construiu o 1º Ginásio (escola). Além disso, a sua esposa, dona Helena, era uma mulher maravilhosa. Ajudava muito o povo. Ela nunca me negou nada. Já Abel Tenório derrubou todas as casas do Centro para a construção das ruas e dos lotes. O 2º melhor prefeito foi Frederico Campos. Depois, todo mundo quis ser prefeito de Cubatão, por ser uma cidade de grande arrecadação.

Como está Cubatão hoje?

Em vista de antigamente, está muito boa, mas poderia estar muito melhor com tanto dinheiro que tem.

Como o senhor vive atualmente?

Hoje, sou funcionário aposentado do DER e recebo R$ 563,85 mensais. O meu tempo de militar não foi contado na aposentadoria. Tenho quatro filhos, mas só duas vivem comigo aqui, nesta casa, aqui na Cota 400, o que me restou do DER. Vou fazer 89 anos e vivo muito feliz com as minhas lembranças. 

Entrevista Publicada em: 10/02/2006 na edição 96 do Jornal Metrópole
Créditos para Ronnyeri, pesquisador e membro das comunidades.

Voltamos apresentar

Por: Aderbal Nogueira

Amigos, eis aqui o último capítulo do polêmico "Padre Cícero e Lampião", com o Professor Renato Casimiro.
 

Espero tirarmos algumas conclusões que venham a nos ajudar no entendimento da nossa história.

No próximo CONHECEDORES DA NOSSA HISTÓRIA, Auschwitz, Treblinka, Dachau, Buchenwald, Sobibor, Dublin...?

Nada disso. É Crato, Cariús, Ipu, Quixeramobim, Senador Pompeu e Fortaleza. Pois sim. Nós também tivemos disso para nos envergonhar. "CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DO CEARÁ".
 

Aguardem
Aderbal Nogueira

Lampião em plena caatinga fazendo sermão para os seus comandados

Por: José Mendes Pereira

Interessante!

Mesmo fazendo tantas maldades contra  pessoas, Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Capitão Lampião, jamais se esqueceu que Deus seria um dos seus protetores. Se Ele  o protegia, aí é outra história. Pelo que se ver na foto, feita por Benjamim Abraão, o rei Lampião, no momento estava com uma bíblia nas mãos, lendo alguns salmos ou até mesmo fazendo um excelente sermão.

Não só os bons têem fé em Deus, mas todos que são seres humanos confiam em um ser poderoso.

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BABETE (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

BABETE


Depois daquela festa a Babete sumiu. Contudo, ouvi dizer que anda por aí brincando de ser mulher.

Que menina levada, menina bonita, de laço de fita, correndo na rua, brincando de roda, rodando faceira, estrela do dia, maior alegria. Menina sorriso, menina espanto, inventando estórias de castelos encantados, de fadas boazinhas e bruxas malvadas.

Babete tem uma manhã e um sol, tem um dia e um entardecer, tem uma noite e um céu estrelado; ela também tem família, parentes, um quarto, uma casa para viver, tem até um jardim e uma roseira. Ela tem tudo o quer na vida e só não terá muito mais se quiser atravessar a estrada sem olhar pra trás.

Mas Babete cruzou a estrada sem o devido cuidado. Seu nome não é esse não, mas se tornou na Babete que na manhã tenta esquecer as marcas da noite passada. E nessa noite, com faz depois de todo anoitecer, não é mais a aquela mocinha, aquela estudante, aquela que todos acreditam e ajudam ser, mas apenas a Babete daqueles que podem pagar.

Quando era pequenina sonhava que um dia seria princesa, namoraria um rapaz de olhos de mar e de corpo de horizonte, teria uma vida tão bonita que somente no paraíso tem igual. Exalaria o perfume da manhã, seria acompanhada por borboletas e colibris, de sua boca sairiam palavras tão doces e encantadoras que o mundo inteiro gostaria de ouvir.

A menina cresceu e deixou de sonhar. Agora bastava ser mulher para fazer o que quisesse da vida. E nada que parecesse com a vida de uma princesa. Quando muito frequentadora da beira do mar, da orla da praia, dos encontros suspeitos, das passarelas onde se comercializa a honra. Também festas grã-finas, como convidada para ser convidada.

Teria esquecido o tempo de ontem, quando ganhou vestido bonito, ganhou brincos e anéis, ganhou perfumes e a esperança de ganhar muito mais. Era tão linda e recatada, tão atraente que se esperaria um namorado ideal mais à frente, quando já estivesse com mais idade. Estava estudando ainda e sempre repetia aos pais que nunca havia perdido qualquer disciplina. E mentia sobre sonhos futuros, afirmando sonhar um dia ser profissional importante e competente.

Profissional já havia se tornado, competente também naquilo que acostumou a fazer. Para ser lucrativa e duradoura, a vida fácil, a prostituição, o comércio do corpo, também exige competência de quem se entrega à sua prática. Os dotes corporais próprios são acrescidos de sutilezas que torna cada uma experiente e requisitada nesse mundo de luxúria e devassidão.

Os parentes perguntavam como estava indo, quando prestaria vestibular, qual carreira pretendia seguir. E ela sempre respondia que nunca havia estado tão feliz como naquele momento, que já estava prestes a prestar vestibular para o que quisesse. Só que ainda estava em dúvida sobre a melhor profissão a abraçar.

Mas já não tinha dúvidas sobre o que fazia no mundo lá fora, sobre o que já estava sendo sem os familiares saber. De início, amedrontada e agindo muito mais por influência de conhecidas, dizia a si mesma que faria programa apenas para ter algum dinheiro extra, mas que logo se afastaria daquele comércio de corpo bem antes que alguém próximo desconfiasse.

Sua mãe perguntou por que não mudava seu horário de ir até o cursinho, vez que a noite estava cada vez mais perigosa para mocinhas na idade dela. A violência estava demais, os perigos rondavam por todo lugar, além do que nunca é bom mocinha solteira andar por aí sozinha e desprotegida. Que inocência da mãe sobre sua filha, que parte da noite era simplesmente Babete.

Saia dizendo que ia estudar e mudava o destino, atravessava a rua sem olhar pra trás, para o seu berço, para a história familiar. E da esquina em diante tomava outra direção, se tornava noutra mulher prestes a se entregar aos impulsos de qualquer um que a contratasse para as prestezas do sexo descompromissado, rápido, vulgar. Não procurava saber o nome de nenhum parceiro, não perguntava a idade nem a profissão, pois conhecia quem a procurava pelo relógio e o sapato. Era através dessas características que dava o seu preço.

Mas um dia um parente a encontrou num lugar onde costumava esperar executivos endinheirados. E gritou por Elisabete, seu nome verdadeiro. Não sei dizer se quem respondeu foi Elisabete ou Babete.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 

Resposta à solidão (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa*

Resposta à solidão 


Mansamente vem
sutilmente se instala
ardilosamente se esconde
e diz que vai ficar
e diz que vai fazer sofrer
e tudo isso dentro de mim

de tão triste não percebia
também tanto fazia tudo
apenas mirando a janela
suportando o sofrimento
por algo que não sabia
até que você pôde encontrar
a semeadura de lágrimas
e o seu ninho de desalento
até que você sorrio bonito
fez brilhar o meu olhar
e num instante espantar
sua sombra cheia de dor
para me envolver inteiro
pela felicidade do amor
e dizer de vez à solidão
do encontro marcado
com o seu amoroso coração.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com