Por Pedro Uzêda
Em reportagem
publicada no jornal 𝕸𝖊𝖙𝖗ó𝖕𝖔𝖑𝖊𝖘
, o jornalista André Uzêda retrata a figura histórica de Virgulino Ferreira da
Silva, o 𝐋𝐚𝐦𝐩𝐢ã𝐨.
A reportagem saiu na edição de hoje, 28 de julho, quando a morte do famoso
guerrilheiro completa 83 anos.
Foram
entrevistados os escritores Oleone Coelho Fontes (autor de “Lampião na Bahia”),
José Bezerra Lima Irmão (autor de “Lampião – a Raposa das Caatingas”) e Robério
Santos (biógrafo de Volta Seca e dono do canal no YouTube “O Cangaço na
Literartura”). Veja matéria. - https://www.facebook.com/franciscopereira.lima.904
Robério Santos
MORTE
DE LAMPIÃO COMPLETA 83 ANOS COM MISSA VIRTUAL E DIVERGÊNCIA ENTRE HEROÍSMO OU
VILANIA DO CANGACEIRO.
Por Pedro uzêda
Apenas 10
minutos do dia 28 de julho foram suficientes para findar a trajetória de uma
das figuras históricas mais celebradas e controversas do país. Se o tempo
da ação foi extremamente curto, a data e o local da execução de Virgulino
Ferreira da Silva — "o Lampião" — tornaram-se perpétuos.
Na grota da
fazenda Angicos, pertencente ao município de Poço Redondo, no interior de
Sergipe, o cangaceiro foi abatido por tiros de metralhadoras portáteis,
disparados por uma expedição sob comando do incansável tenente ao seu encalço,
João Bezerra, oficial das Alagoas.
José Bezerra Lima Irmão
Maria Bonita,
primeira-dama do cangaço, também sucumbiu na tocaia armada. Ao todo, 11 foram
dizimados no primeiro alvorecer daquela manhã, em 1938. Passados 83 anos,
as circunstâncias e o local da derrocada continuam sendo estudados por
Lampiológos (pesquisadores do tema), enquanto Lampiófilos (adoradores de
Virgulino) cultuam o espaço quase como um santo sepulcro.
Por conta da
pandemia, pelo segundo ano consecutivo, a tradicional missa na data da morte acontecerá
apenas de forma virtual. O evento é organizado há 24 anos por Vera Ferreira,
jornalista, neta de Lampião e Maria Bonita, e pelo Museu da Gente Sergipana, de
financiamento público.
Oleone Coelho Fontes
Estudioso do
tema, o escritor baiano Oleone Coelho Fontes, autor do livro "Lampião na
Bahia" (na 11ª edição), mantém uma posição crítica em relação ao seu
objeto de pesquisa. "Lampião era um facínora. Durante todo tempo que
esteve no cangaço, Lampião não teve um ato de solidariedade, humanidade ou
benfeitoria. Essa história que era um Robin Hood, que roubava dos ricos para
dar aos pobres, é a mais pura mentira. Era exatamente o contrário. Ele roubava
dos pobres, agricultores, pequenos fazendeiros e trabalhadores, para dar
justamente coronéis", defende.
O escritor
sergipano José Bezerra, autor de "Lampião, Raposa da Caatinga", obra
de mais de 700 páginas, vincula a vida do cangaceiro ao período histórico ao
qual ele está inserido. "A violência era crônica nos sertões do
Nordeste. Vigorava ali uma espécie de culto à coragem. A justiça daquele tempo
era cara, lenta e rara. Os juízes e promotores eram figuras decorativas, nas
mãos dos coronéis do sertão. Os jurados eram escolhidos a dedo. O Estado era
omisso, só aparecia na hora de punir ou para cobrar impostos. Lampião é definido
simplesmente como um fora da lei. Mas, afinal, onde estava a lei? O povo do
sertão não conhecia a Justiça. A violência era crônica nos sertões do
Nordeste", pondera.
Destaque
internacional
Os
acontecimentos daquele 28 de julho, no sertão sergipano, repercutiram com
enorme destaque até em publicações estrangeiras. A revista americana Time,
em 15 de outubro de 1938, noticiou a morte do cangaceiro, chamando-o de
"Lamp Post". O mesmo aconteceu com o The New York Times, tratando-o
como "um dos mais temíveis bandidos do mundo
ocidental". Periódicos da França e Argentina também dedicaram páginas
ao assassinato de Lampião e seu bando.
"Lampião
viveu no mundo dos coronéis, jagunços, vaqueiros, tropeiros, curandeiros,
beatos milagreiros, fanáticos, cantadores, repentistas, secas e epidemias.
Virgulino Ferreira não foi nem herói nem bandido, foi simplesmente um sertanejo
à moda do seu tempo, um tempo brabo em que o sujeito para ser respeitado tinha
de mostrar que era cabra macho, e para isso era preciso honrar cada palavra que
dizia, fosse para o bem, fosse para o mal", diz José Bezerra.
Por 31 anos,
as cabeças de Lampião, Maria Bonita e dos nove cangaceiros mortos na emboscada
em Angicos, estiveram na Bahia. A maior parte do tempo no Instituto Nina
Rodrigues, então no Terreiro de Jesus, em Salvador. Mesmo diante de
tamanha prova material, no entanto, muita gente até hoje sustenta a tese que
Lampião não morreu naquele ataque coordenado por João Bezerra. A cabeça
decapitada como troféu pertenceria a um sósia, em um drible coordenado pelo
astuto cangaceiro. Em Buritis, interior de Minas Gerias, um ancião garantia ser
o próprio homem. "Eu sou o verdadeiro Lampião. Homem nenhum conseguiu
matar Lampião, e só Deus será capaz de me matar", dizia.
Morreu
em 1993, aos 96 anos, idade exata que Virgulino teria se vivo fosse. "É
impossível Lampião ter morrido em Minas Gerais, com tantas testemunhas do fato
do 28 de julho de 1938 e algo tão gigantesco passar despercebido? E a cabeça?
Ela ficou tanto tempo em exposição e todos concordam que era de Lampião. No
mais, o tal “Lampião de Buritis” não tinha leucoma no olho direito, só isso já
derruba a tese de muitos que desconhecem nosso Cangaço e adoram inventar
histórias. É uma polêmica que não vale a pena debater", diz Robério Santos,
pesquisador do tema e dono do canal no YouTube O Cangaço na Literatura.
https://www.metro1.com.br/noticias/cultura/109816,morte-de-lampiao-completa-83-anos-com-missa-virtual-e-divergencia-entre-heroismo-ou-vilania-do-cangaceiro?fbclid=IwAR3PO2BGCz-BLmU1VqTfuzr3XPLDWgBGM4zkA3sH_8LnOrYB0Eiex-NPMsc
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