Por Zozimo Lima
Por aqui
andou, em dias da semana última do ano findo, como sempre o faz todos os anos,
o nosso Dr. Calazans, estudioso da história e folclorista de bom preço. Das
andanças por casas de parentes e amigos, sobrou-lhe tempo para se informar do
comportamento do general Siqueira de Menezes quando governador do Estado, bem
assim sobre a sua situação, como oficial superior, da armada de engenharia, na
chamada Guerra de Canudos.
Parece-me, não
afirmo com certeza, que o precípuo intuito do saboroso e exuberante advogado
post-mortem do valoroso e desventurado pau-mandado do Barão de Maruim - Inácio
Barbosa, o Catinga - é apurar a verdade sobre a afirmativa de Gilberto Amado,
num dos seus livros de Memórias, de referência a notas escritas por Siqueira,
com futuros propósitos publicitários, e delas ter se aproveitado o escritor
Euclides da Cunha.
Afirmou-me o
Calazans, na palestra que tivemos no Instituto Histórico, que tem trabalho
publicado, esclarecedor à saciedade, sobre o assunto. Desconheço esse trabalho.
Que o general Siqueira não via com bons olhos o desgraçado e glorioso autor dos
SERTÕES, não padece dúvida. É o que se depreende do que escreveram Afrânio
Coutinho e Gilberto Amado.
O famigerado
“jagunço aloirado” teria guardado, com usura, documentário escrito, em
cadernos, sobre a guerra de Antônio Conselheiro, e Euclides, que as lera,
abafou-as para enriquecer sua monumental obra literária, histórica e
científica.
A saga de
Canudos está preocupando hoje, passados tantos anos, depois de Euclides,
ficcionistas, historiadores e folcloristas. Pesquisadores percorrem área
dominada pelos fanáticos de Antônio Conselheiro.
Paulo Dantas
faz, no momento, história romanceada, evocando, com profundidade, episódios, e
figuras autênticas do passado, separando a lenda da história, num processo
honesto de decantação, sem o preciosismo de João Felício dos Santos no seu JOÃO
ABADE.
Os aficionados
de Antônio Conselheiro e sua gente vão ser surpreendidos, em breve, com a
estória em versos do místico sertanejo, até hoje inédita, escrita pelo antigo
rábula Manuel Pedro das Dores Bombinho, espectador dos acontecimentos da época.
As 256 páginas
daquela história, em versos, estão em poder do jovem escritor Paulo Dantas.
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Vamos tratar,
ainda, do falecido general Siqueira de Menezes. Onde nasceu ele? Dizem os seus
biógrafos, inclusive Armindo Guaraná no seu DICIONÁRIO BIOBLIOGRÁFICO
SERGIPANO, que foi em São Cristóvão.
Converso com o
historiador Sebrão, sobrinho, sobre o assunto. E ele, numa sarcástica
gargalhada, me declara peremptoriamente: — “Está tudo errado. O general
Siqueira nasceu no povoado Gameleira, ao tempo pertencente ao município de
Itabaiana, passando, depois, com a divisão territorial para a formação de município,
ao de Campo do Brito. Seus pais lá nasceram, descendentes dos Siqueira de Pedra
Mole”. E continua, pitando um mata-rato de Boquim: — “O velho sapateiro Rozendo
Vieira, de Itabaiana, mais conhecido por Rozendo Lombo Puro, era primo próximo
do Siqueira, e dele fora condiscípulo na escola primária de Gameleira”.
E, indignado
com a adulteração dos fatos e da história, prossegue: — “Só por gabolice
Siqueira afirmaria ser natural de São Cristóvão, em cuja freguesia debalde se
procurou, até hoje, a sua certidão de batismo, a qual deverá estar, se ainda
existe o livro, na freguesia de N. Sra. da Boa Hora, do Campo do Brito, criada
em 1845”.
Conteste-o
quem quiser e puder a revelação acima.
Correio de
Aracaju (SE) – 13/01/59
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