Por Raul Meneleu Mascarenhas
O incômodo
chamado calo, que a dermatologia, indica ser uma área dura de pele que se
tornou grossa e rígida, inicia como resposta a repetidos contatos e pressões.
Na botânica, o termo também é utilizado com uma condição de rigidez em
superfícies de plantas ou folhas. No ser humano. já que o contato repetido é
necessário para a existência do calo, o local mais comum para ocorrência são
nas mãos e pés. Os calos geralmente não são nocivos, mas podem ser a fonte de
outros problemas. como a infecção.
Alguns adágios conhecidos são:
"Quando o calo aperta, uns vão embora da festa, outros continuam a dançar
descalços."
"Os Santos não têm calos. Se os tiver, deixam de sê-lo na primeira
pisada."
"O calo só dói quando o sapato aperta."
Pois bem... voltando ao tema, na história do cangaço, também temos calos que
machucam e têm que ser extirpados, pois podem ser realmente nocivos e fontes de
infecção histórica. Para extirpa-los devemos usar um remédio chamado
"Pesquisa".
Na Saga Cangaço, existem pessoas que querem tirar proveito dela, mas não
exporem o que sabem, ou esconderem a verdade, fazendo de tudo, inclusive
entrando com processos na Justiça Civil, no intuito de barrar o surgimento de
verdades escondidas. Lógico que não conseguem fazer isso por conta dos pleitos
terem sidos considerados Inconstitucionais. Por exemplo; o caso da tentativa de
proibição do livro "Lampião - O mata sete", obra lançada em
2011 que também fala do suposto adultério de Maria Bonita, embora o foco fosse
a homossexualidade de Lampião.
Após anos
impedida de ir à venda, teve a autorização para a comercialização. O Tribunal
de Justiça de Sergipe entendeu que o cangaceiro é uma figura pública e que isso
significa abrir mão de uma parcela de sua privacidade, além de citar o direito
à liberdade de expressão do autor. A família de Lampião entrou com um processo
porque se sentiu ofendida com a insinuação de que Lampião era homossexual e que
Maria Bonita era adúltera.
Ora, não podemos tirar o direito da família em agir assim. Todo o direito teria
e tem, de insurgir-se contra qualquer investida de denegrir-se as figuras de
seus parentes. No entanto, não foi a família que deu uma contribuição maior
para rebater essas "ofensas" do autor, onde em seu livro, aborda
um tema que nenhum estudioso ou pesquisador do cangaço ouviu falar, mas foram,
os pesquisadores e escritores independentes que o fizeram, onde em nossos
grupos de discussão, fizemos artigos combatentes para desconstruir as
afirmativas de tal livro.
Inclusive tivemos um dos maiores estudiosos do cangaço em Sergipe, o Dr.
Archimedes Marques, Delegado da Polícia Civil de Sergipe, que lançou seu livro
contestação "Lampião Contra o Mata Sete" contrapor-se ao livro do
ex-Juiz Dr.
Pedro de Moraes que em reportagem no G1-Globo disse que não esperava essa repercussão sobre
seu livro. "O livro tem 300 páginas e foi escrito entre 1991 e 1997,
período em que o juiz morava em Canindé do São Francisco. Segundo Pedro de
Moraes, o objetivo foi desmistificar o Lampião herói, pois ele também seria um
criminoso. “O Lampião herói foi criado pela esquerda intelectualizada após o
Golpe Militar de 1964. Antes, ele era visto como um bandido e é sobre isso que
meu livro trata. Não é uma biografia gay de Lampião, é uma biografia qualquer,
além disso, eu nunca usei a expressão gay”, garante o autor."
ESSE FOI UM DOS CALOS DA SAGA CANGAÇO, mas existem outros. Entre eles OS FILHOS
DE LAMPIÃO E MARIA BONITA.
Os pesquisadores e historiadores debruçam-se por diversos anos nesse
"CALO" que a família mais próxima de Lampião e Maria Bonita insiste
em não colaborar para que essa verdade não seja exposta, fazendo que se crie
conjecturas sobre esse óbice.
Por que tentam esconder isso da história? Que valor moral ou até mesmo
financeiro existe para se barrar todos os testemunhos de pessoas que viveram à
época desses dois vultos históricos da saga nordestina?
Tomo emprestado de meu amigo João de Souza Lima, grande pesquisador e
historiador da Saga Cangaço, seu artigo "Os Filhos do Rei do Cangaço" que
faz parte de um de seus livros, onde debulha tin-tin por tin-tin o
grande achado seu, quando enveredou pelas caatingas do município de Paulo
Afonso na Bahia, em busca da "verdade-calo":
João
de Souza Lima entre os volantes Teófilo e Zé Alves
"Enigmático
é o mundo do cangaço, ainda mais pela forma e o tempo de seus participantes
resguardarem seus acontecimentos. Os últimos remanescentes, só agora, quando
beirando os cem anos de idade, estão revelando seus segredos. Por longos anos,
os fatos vivenciados foram trancados nos baús do esquecimento e lacrados com a
chave da fidelidade da palavra empenhada. O tempo cuidou de reparar as falhas
do passado e se fazer sentir a urgência de registrar seus marcantes episódios.
Grande prejuízo para a história recente do nosso país, seria a perda dos
relatos desses homens e dessas mulheres que viveram nas Caatingas, as
conseqüências de uma luta ainda tão marcante para nosso povo do Sertão
Nordestino. Misteriosa obediência ao segredo carrega o sertanejo, como se fosse
parte inseparável o segredo e a honra. Alicerço-me no depoimento de Firmina
Maria da Conceição, “Dona Cabocla”, cozinheira e lavadeira do bando de Lampião,
que prestes a completar 102 anos de idade, no próximo mês de maio, lamentou ter
me contado sua vivência com o Rei do Cangaço, se arrependendo de ter relatado
sua relação dos préstimos de serviços ao cangaceiro, achando que mesmo hoje, o
segredo deveria ter ficado guardado, só o confidenciando por insistência da
filha Maria.
Por tamanha devoção e fidelidade cresceu minha admiração e respeito a essa
mulher que é hoje parte da nossa história recente. É este um dos mais sinceros
e puros exemplos de lealdade. Por ser Lampião a figura central do cangaço,
sendo o maior expoente desse capítulo da história, o estudo referente ao tema
tem recaído sua maior parte sob seus rastros. Diante do mínimo vestígio de
fundamento, nós nos defrontamos com a questão inevitável de transmiti-lo. Os
caminhos trilhados buscam os fatos inéditos, seguindo uma infindável legião de
admiradores e estudiosos ávidos a alcançarem os novos achados. Em busca deles
tenho me dedicado a longos dez anos de uma extensa pesquisa. Nessa caminhada na
busca de informações sobre a história de Lampião, neste longo trajeto, um dos
fatos mais marcantes foi a descoberta de um filho de Lampião e Maria Bonita.
Das quatro gestações da cangaceira, sabíamos apenas sobre Expedita Ferreira da
Silva, ainda viva e residindo em Aracaju. Quando comecei a escrever o livro: “A
Trajetória Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço”, sempre que
perguntava aos meus entrevistados detalhes sobre os gêmeos Arlindo e Ananias,
irmãos de Maria Bonita, ou obtinha o silêncio por resposta ou escutava um curto
e desafiador resmungar: “Ananias não é irmão de Maria Bonita não!”. Tive que me
desdobrar para conseguir alguém que me explicasse mais abertamente essa
afirmativa. Durante dias busquei os informes dos familiares e amigos que
conviveram com Maria Bonita nos conturbados dias do cangaço. Um dos primos de
Maria, um senhor chamado Manuel Maria dos Santos, apelidado por “Seu Nequinho”,
um ex-barqueiro acostumado a atravessar, junto com o pai, os cangaceiros que
cruzavam o milenar Rio São Francisco, foi o primeiro a confidenciar: “Ananias é
filho de Lampião e Maria Bonita! Aqui todo mundo sempre soube desse segredo.
Agora, na época de Lampião, quem era doido de andar com uma conversa dessa?!”
Seu Nequinho ainda indicou mais algumas fontes que poderiam atestar o que ele
estava dizendo e fui buscar a comprovação. Dentre as pessoas que fizeram seus
relatos (e os tenho todos filmados para futuras comprovações) pode-se encontrar
Servina Oliveira de Sá (prima de Maria Bonita), Eribaldo Ferreira Oliveira
(sobrinho de Maria Bonita), os irmãos Osvaldo, Olindina e Maria Martins de Sá
(primos de Maria Bonita), Firmino Martins de Sá (foi casado com a prima e
melhor amiga de Maria Bonita: Maria Rodrigues de Sá). Estes são alguns dos que
confirmaram a história que se segue: Dona Maria Joaquina Conceição Oliveira,
“Dona Déa”, mãe da Rainha do Cangaço, estava grávida e por coincidência Maria
Bonita havia engravidado quase que na mesma época. Por questão de
aproximadamente dois dias, as duas mulheres viram nascer seus rebentos. Mãe e
filha gerando vidas e fazendo crescer sua descendência. Pelas dificuldades
impostas pela luta travada nas caatingas, onde cangaceiro vivia permanentemente
em fuga, lutando contra as perseguições da polícia, filho era um entrave,
levando perigo aos componentes do grupo e sofrendo as conseqüências da vida
atribulada. Os filhos nascidos no cangaço, sempre iam cair nos braços de alguma
autoridade política ou religiosa e às vezes enviados aos simples catingueiros,
quando dotados da extrema confiança do cangaceiro. Duro castigo para as mães
que tinham que ver seus filhos serem criados por outras pessoas. Maria Bonita
dera à luz. Lampião arquitetou deixar o filho com a sogra, para que ela criasse
as crianças como se fossem gêmeas e assim aconteceu. O filho de Dona Déa ganhou
o nome de Arlindo Gomes de Oliveira e o filho de Lampião e Maria Bonita foi
batizado como Ananias Gomes Oliveira. Ananias ainda está vivo, residindo em São
Paulo. Arlindo faleceu recentemente. Era fácil observar as diferenças entre os
irmãos: Arlindo era baixo e claro, Ananias é alto e moreno, ganhando por sua
cor escura, o apelido de “Pretão”.
Dos
depoimentos que se tem registro daquela época, o mais contundente é o deixado
por José Mutti, major reformado do exército, que foi casado com Antonia
Oliveira (irmã de Maria Bonita) e que escreveu o livro: Reminiscências de um
ex-Comandante de Volante, que retrata com detalhes sobre a descoberta desse
segredo, vejam a parte do capítulo que trata do mistério: “... ao chegar nos
Picos do Tará, encontrei meus sogros arranchados numa frondosa quixabeira.
Mandei construir dois quartos pra eles. encontrei duas crianças de dois anos
cada. Tendo perguntado de quem eram filhos, dona Déa disse-me que eram mabaços
(gêmeos) e eram seus filhos. As crianças eram completamente diferentes. O
Arlindo sim, era parecido com a família, mas o Ananias era trigueiro (moreno escuro),
não podia ser do mesmo casal José Filipe e Déa. Deu-me o estalo de ”Vieira”:
será o Ananias, filho de Lampião e Maria? Comecei a perseguir a sogra: ‘Dona
Déa, diga-me quem é o pai de Ananias, o Ananias não é filho da senhora e do
José Filipe. Se a senhora disser de quem é filho o pretão (apelido do Ananias)
eu guardo segredo até a morte’. Tanto persegui minha sogra para saber quem era
o pai de Pretão, que um dia ela me disse “O Pretão é filho do homem” (a família
de Maria Bonita tratava Lampião de “O HOMEM”), fiquei satisfeito e não falei
mais no assunto”. Ai está desvendado mais um dos mistérios do cangaço e para
registro histórico, vale salientar que Ananias concordou em fazer o exame de
DNA, sendo coletado sangue de dona Mocinha (irmã de lampião), de Arlindo (o
irmão que se diz gêmeo) e do irmão Ozéas Gomes. O desfecho está sendo aguardado
porque vem sendo movido por meios judiciais uma vez que Expedita e Vera
Ferreira (filha e neta de Lampião e Maria Bonita) se negaram a fazer os exames.
Outro caso que foi bastante difundido foi o de João Peitudo - residente em
Juazeiro do Norte (CE), onde veio a falecer - outro suposto filho dos Reis do
Cangaço, mais um que tentou em vão se aproximar da família e não obteve
resultados. Continuando no campo da pesquisa histórica, vasculhando as fontes
que trazem alguma ligação com o cangaço, acabo de descobrir outro filho de
Lampião, na cidade de Chorrochó, Bahia. Ele é da família dos famosos
“Engrácias”, as primeiras pessoas que mantiveram contato com Lampião quando ele
entrou no estado da Bahia, tendo vários membros dessa família seguido os
cangaceiros. Alguns se tornaram famosos, como: Cirilo de Engrácia, Antônio de
Engrácia, Zé Sereno, Zé Baiano, Arvoredo e Corisco. Da família dos “Engrácias”
um dos grandes coiteiros de Lampião nessa região foi João Ramos de Souza,
conhecido por todos como Joãozinho. Entre as filhas desse coiteiro Lampião se
engraçou da jovem Helena e com ela teve um caso, poucos dias depois a
menina-moça apareceu grávida e o Rei do Cangaço para resguardar a honra da
jovem e não desmoralizar a família que tanto lhe dava guarida, tomou uma rápida
e sábia decisão: pagou uma alta quantia a um rapaz, Simão Alves dos Santos,
para que ele casasse com Helena e assumisse a paternidade do filho do cangaceiro.
Simão topou o acordo e assim foi feito, nascendo a criança no dia 13 de agosto
de 1930, sendo batizada com o nome de José Alves dos Santos. O parto foi
realizado por dona Lídia, mãe do cangaceiro Zé Sereno. Durante muito tempo as
conversas sobre esse caso foram mantidas em segredo, temendo a população que
Lampião fosse sabedor que a conversa havia se espalhado. Quando Lampião morreu
e o cangaço se extinguiu, as brincadeiras começaram a surgir e os amigos de
José Alves sempre o perturbavam relacionando-o como filho de Lampião. Os
comentários tornaram-se freqüentes e as pessoas de mais idade sempre tocavam no
assunto. José Alves dos Santos ainda encontra-se vivo e residindo em Chorrochó,
nas mesmas terras onde seus pais o criaram. Estive recentemente com ele quando
realizei extensa entrevista e ele concordou em fazer um exame de DNA para
realmente comprovar o que os fatos indicam. Os testes estão em andamento e só o
tempo dirá se ele é realmente mais um filho gerado nas caatingas do Sertão
Nordestino, mais um rebento descendente de Lampião, mais um fruto evidenciado
de um farto capítulo da nossa história recente, a história do Cangaço, capítulo
ainda tão latente, tão presente nos carrascais do Sertão."
Como vemos, todos querem contribuir para o esclarecimento da verdade, menos a
família mais próxima de Lampião e Maria Bonita. Por que fazem isso? Que
interesses estão envolvidos? Será que tem relação com o financeiro?
Esses dois temas, a homossexualidade de Lampião, plenamente rebatida por todos
os pesquisadores, e os filhos dele espalhados por onde passou, podem ser
considerados "calos do cangaço".
http://meneleu.blogspot.com.br/2016/07/os-calos-do-cangaco.html
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