Por Valdir José Nogueira de Moura
O ocorrido,
cuja causa já bastante conhecida, se originou durante a antiga e secular rixa
entre Pereiras e Carvalhos, que seguiu acirrada por longos anos. Aqueles,
provando as agruras do ostracismo em decorrência de desprestígio político,
enquanto que seus desafetos eram prestigiados por sucessivas situações. Desde
quando foi levantada a candidatura do General Dantas Barreto ao governo de
Pernambuco, os Carvalhos abraçaram a causa com entusiasmo, gastando vultosas
quantias. Quando finalmente vitorioso, o general, terminou por fortalecer e
prestigiá-los, acedendo assim aos pedidos da Comissão Consultiva, que tinha
como um dos membros o padre José Batista Cabral, francamente favorável e
protetor junto ao governo estadual desta família. Em decorrência disto,
acentuou-se então, a perseguição.
Sebastião Pereira, conhecido como “Sinhô Pereira”, celebrizado nos anais do banditismo, era um jovem morigerado, que nem sequer usava armas. Certa vez, uma força policial, sob o comando de um oficial adverso, desacatou-o e o submeteu a certo vexame. Desse dia em diante, além da vingança familiar, o jovem rapaz lançou mão de um rifle e se atirou na voragem do crime.
Quando assumiu o governo de Pernambuco, o Dr. Manoel Borba, na velha política de ferro e fogo, intensificou mais ainda o prestigio dos Carvalhos.
O ódio entre as duas famílias atingiu grandes proporções, quando foi assassinado um irmão de Sebastião conhecido pelo apelido de Né Dadu. Na época, a acusação de mandante do crime recaiu sobre Antônio da Umburana (Antônio Alves de Carvalho Barros), posteriormente morto também, e os resultados foram a conflagração geral, a série inominável de assaltos, roubos e incêndios nas propriedades de ambas as famílias, inclusive todo o florescente povoado de São Francisco em Vila Bela também não foi poupado.
Tendo sido ameaçado mais de uma vez, às 4 horas da tarde do dia 2 de setembro de 1919 foi atacado o povoado de Bom Nome, no município de Belmonte, por um numeroso grupo de cangaceiros chefiados por Luiz Padre e Sebastião Pereira. Dias antes os ditos cangaceiros haviam incendiado diversas fazendas em Vila Bela onde foi travado forte tiroteio entre estes e a polícia, ocorrendo que na ocasião os cangaceiros fugiram em seguida, com destino a Belmonte, onde incendiaram a fazenda Boqueirão do coronel Francisco Ramos Nogueira, da família Carvalho. O coronel Chico Ramos, sendo assim conhecido, era casado com Maria Santina de Barros irmã do capitão Manoel Lucas de Barros (Né Lucas) político local. Chico Ramos era pai de Manoel Ramos, ex-prefeito de Araripina, e avô de José Muniz Ramos, ex-governador de Pernambuco. O prejuízo sofrido pelo coronel Chico Ramos Nogueira levou o mesmo a vender a sua propriedade e a se retirar definitivamente de Belmonte com a sua família para a cidade de Araripina, onde fixou residência.
Depois das depredações da fazenda Boqueirão, o grupo de cangaceiros atacou Bom Nome, onde houve forte e demorado tiroteio, na ocasião o capitão José Caetano entrou em ação e juntamente com a sua força ofereceu grande resistência aos bandoleiros, conseguindo estes romper o cerco em que foram envolvidos pela polícia e recuando em seguida no rumo do São Francisco.
No mesmo dia desse ataque, o Sr. Joaquim Lucas de Barros, Prefeito de Belmonte enviou para o Desembargador Antônio Guimarães, Chefe de Polícia do Estado de Pernambuco o seguinte telegrama:
“Bandidos
acabam de atacar o povoado de Bom Nome deste município, onde começou a
tirotear.
O capitão José Caetano está lá reagindo contra o tiroteio.
O capitão Theophanes Torres e o tenente Costa Gomes seguiram para o local.
Quase todas as forças marcharam também para Bom Nome.
A população está muito alarmada diante de tanta audácia dos cangaceiros.
Convém V. Excia. providenciar remessa reforço urgente do batalhão que está em Rio Branco.
Saudações – (a) Joaquim Lucas – Prefeito.”
Valdir José
Nogueira de Moura
Foto: A rua
principal da Vila de Bom Nome durante as primeiras décadas do século passado.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com