Por: José Ozildo dos Santos
A Literatura
de Cordel está relacionada ao romanceiro popular. Originária do cancioneiro da
Península Ibérica, no Nordeste brasileiro ela encontrou um ambiente
sociocultural propício, rapidamente difundiu-se e tomou forma própria. E ao patuense Silvino Pirauá de Lima cabe a primazia de ter sido o autor do primeiro
folheto de cordel publicado no Brasil. Autor de ‘História do Capitão do
Navio’ e ‘Peleja da Alma’, nasceu na Vila de Patos, em idos de 1848.
Filho de agricultores, teve uma infância pobre e distante da escola. No
entanto, possuidor de uma grande vivacidade, cedo aprendeu a versejar.
Silvino Pirauá
de Lima
Tocador de
viola admirável e repentista exímio, considerado o mais notável de todos os
discípulos do famoso repentista Francisco Romano, da Serra do Teixeira, de quem
era grande amigo, Silvino Pirauá foi depois de seu mestre, o maior cantador do
Nordeste. Venceu inúmeros cantadores e jamais foi vencido. Glosador e poeta
popular, viveu a primeira fase de sua vida, cantando pelas feiras livres do
sertão paraibano, tendo ainda sido o introdutor da regra da ‘deixa’, que
obriga o adversário a compor rimando com o último verso deixado pelo contendor.
Poeta
andarilho, Silvino Pirauá vivia exclusivamente de sua arte e rimava para
arranjar o pão. Em companhia de seu discípulo Josué Romano, anualmente
percorria os Estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco, cantando nas
feiras do interior. Em 1898, fugindo dos efeitos maléficos de uma grande
estiagem, que assolava o sertão paraibano, deixou definitivamente a Vila de
Patos e transferiu-se para Recife, onde fixou residência num bairro pobre e
passou a exercer seu ofício, cantando nas feiras e praças da capital
pernambucana. Foi nessa época, que levado por dificuldades econômicas, iniciou
a publicação de seus versos, tornando-se o percussor do romanceiro popular.
Um dos mais
tristes fatos da vida desse notável poeta-cantador, foi narrado por Sebastião
Nunes Batista, em sua‘Antologia da Literatura de Cordel’. Homem pobre - a
exemplo da maioria dos cantadores nordestinos - falecendo sua esposa,“valeu-se
da ‘cantoria’ para custear-lhe o enterro”.
Foi na capital
pernambucana, que Silvino Pirauá consagrou-se como poeta e cantador de viola.
E, formando parceria com José Galdino da Silva Duda e posteriormente com o
cantador pernambucano Antônio Batista Guedes (seu discípulo), percorreu as mais
importantes feiras do interior nordestino, cantando e vendendo folhetos,
difundindo a Literatura de Cordel.
Possuidor de
uma memória prodigiosa, Silvino Pirauá tinha conhecimentos rudimentares de
Geografia, História Universal e Sagrada. Cognado por seus colegas como ‘o
poeta enciclopédico’, celebres são suas ‘descrições’ sobre a Paraíba
e o Amazonas. Em meados de 1913, encontrava-se cantando em Bezerros, no
interior de Pernambuco, quando contraiu varíola e prematuramente faleceu, aos
65 anos de idade. Escreveu e publicou inúmeros folhetos, entre os quais, os
mais conhecidos são: ‘Verdadeira Peleja de Francisco Romano e Inácio da
Catingueira’, ‘A Vingança do Sultão’, ‘As Três Moças que Quiseram Casar com um
só Moço’, ‘História do Capitão do Navio’, ‘História de Zezinho e Mariquinha’,
‘Desafio de Zé Duda com Silvino Pirauá’, ‘Descrição da Paraíba’, ‘E Tudo Vem a
Ser Nada’, ‘Descrição do Amazonas’, ‘História de Crispim e Raimundo’ e ‘Peleja
da Alma’.
Os romances de
Pirauá, que, ao longo dos tempos vinha sendo “reeditados e consumidos pelo
homem do campo”, hoje, juntamente com a obra de Leandro Gomes de Barros e
outros expoentes da Literatura de Cordel, a exemplo de Patativa do Assaré, são
objetos de estudos nos meios universitários. Embora não lhe caiba a maior
glória de nosso romanceiro popular, Silvino Pirauá é lembrado na história de
nossa Literatura de Cordel, por seu pioneirismo. Poeta original, em sua
produção, abordou os mais variados temas, dando uma grande contribuição à
Literatura Popular Nordestina. Lamentavelmente, é um nome ignorado na cidade,
que lhe serviu como berço.
Publicado na
revista Patos de Todos Nós, edição de outubro de 2005
Extraído do blog:
http://www.construindoahistoria.com