Cenário Army Men: 05 de Junho de 1930 - Soldados do Estado da Paraíba com caminhões e frota Seguem em direção a cidade de Princesa. A frente presente frota vinha um feiticeiro que “benzia a estrada”, a cada parada, dizendo: ‘Vamos pegar Zé Pereira à unha!’. Mas em Água Branca-PB foram recebidos à bala, numa emboscada fulminante. O primeiro a ser atingido, com um tiro na testa, foi o dito feiticeiro.
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José Pereira Lima (1884-1949) era o mais poderoso coronel do sertão da Paraíba pelo qual falava como espécie de primeiro ministro. Vaidoso e simulado, assistira à erosão da autoridade sob o governo João Pessoa (1878-1930). Rico produtor de algodão, economicamente também vinha experimentando perdas. Seu algodão, destinado ao porto do Recife, onde os Pessoa de Queiroz o comercializava, era exportado sem pagar impostos pelo Estado de Pernambuco. Com a política tributária de João Pessoa, via-se obrigado a sair por Cabedelo-PB por meio de estradas insatisfatórias que só conectavam com a linha férrea em Campina Grande, a mais de trezentos quilômetros de Princesa. Os prejuízos do coronel tornavam-se elevados, o que o levava a secundar as reclamações dos Pessoa de Queiroz. Vários outros coronéis também pensavam assim, daí porque o movimento de Princesa espalhou-se por Misericórdia, Conceição, Vale do Piancó, Catolé do Rocha, Pombal e Monteiro. Senhor absoluto dos comandados, José Pereira Lima, com total apoio do Palácio do Catete, conseguiu que Princesa se tornasse território livre e independente, com constituição própria, hino e bandeira próprios, exército próprio, enfim, legalmente separada do Estado da Paraíba. A família Pessoa de Queiroz, com quem o chefe princesense mantinha laços econômicos e pessoais estreitos e marcantes, e a posição do Presidente da República Washington Luiz era ambígua: o governo federal simpatizava com a rebelião, mas o Presidente que se recusava a apoiar o governo constituído de João Pessoa, proclamava que se o depusessem recorreria ao Exército para repô-lo no poder. O presidente João Pessoa, com a finalidade de municiar a polícia do Estado, pede ao Ministro da Guerra, Nestor Passos, "autorização para importar da França, cem mil cartuchos, para fuzil Mauzer", em 8 de abril de 1930. A autorização foi negada.
O município, que já tinha visto passar diferentes grupos de cangaceiros, passou a ser reduto de valentia e independência. Foram travadas sangrentas batalhas e inúmeras vidas foram perdidas. Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao Presidente João Pessoa. Colunas pereiristas incursionaram sobre esses municípios defrontando-se com a polícia. A Secretaria de Segurança estabeleceu quartel-general em Piancó e dividiu suas forças em pequenos grupos para conter os revoltosos. Estes retraíram-se mas a luta chegou a um impasse - os pereiristas não conseguiram conflagrar o sertão para propiciar a intervenção do governo federal, mas os legalistas não conseguiram tomar Princesa.
Dispondo de prestígio na capital e centros urbanos, João Pessoa recorreu à obtenção de donativos em armas e balas. Mineiros e gaúchos enviaram alguma coisa, mas a vigilância das autoridades federais na Paraíba dificultava o recebimento do material. Quando Pessoa pediu licença ao governo de Pernambuco para penetrar em seu território, a fim de cercar Princesa pela retaguarda, o governador Estácio Coimbra recusou o pedido. Os governantes do Ceará e Rio Grande do Norte também hostilizavam João Pessoa. O cerco à Paraíba era quase total. Reunindo as últimas energias, João Pessoa tentou solução no campo de batalha.
O Governo do Estado prepara o golpe que supunha fatal e envia à Princesa 220 homens em doze caminhões e farta munição sob o comando do tenente Francisco Genésio, e, pasmem, para espanto dos leigos e estrategistas, um feiticeiro que “benzia a estrada”, a cada parada, dizendo: ‘Vamos pegar Zé Pereira à unha!’. Os soldados sentiam-se mais protegidos e aplaudiam com entusiasmo o novo protetor, pois com ele estariam imunes às balas. Não foi o que aconteceu. Ao chegarem ao povoado de Água Branca, no dia 5 de junho de 1930, foram recebidos à bala, numa emboscada fulminante. O primeiro a ser atingido, com um tiro na testa, foi o dito feiticeiro. Os caminhões foram queimados; quem não conseguiu fugir, morreu; inclusive o tenente Francisco Genésio. Mais de 100 mortos e 40 feridos.
Foram quase cinco meses de combates inenarráveis, quando se destacaram nomes como Marcolino Pereira Diniz, Manuel Lopes Diniz, Cícero Bezerra, Sinhô Salviano, João Paulino, Caixa de Fósforo, entre outros, do lado do “Coronel” José Pereira, enquanto combatentes fiéis a João Pessoa se destacaram Coronel Elísio Sobreira, Raimundo Nonato, Clementino Quelé, Jacob Franz, gaúcho que saiu do Rio Grande do Sul para servir à causa da Aliança Liberal, entre muitos outros, comandados pelo Secretário de Interior e Justiça José Américo de Almeida.
Impressiona o número de baixas dos militares paraibanos quando da guerra de Princesa em 1930, pois em todos os combates registraram-se perdas consideráveis para os “legalistas” a serviço do governo João Pessoa. Princesa está localizada em área montanhosa, a qual perfaz continuidade do planalto da Borborema, sendo caracterizada pelas formações rochosas que serviram de aliadas em diversas tocaias que levaram morte, terror e pânico aos valentes soldados do bravo Presidente. Do alto das serras que circundam Princesa tinha-se visão panorâmica que permitia vislumbrar qualquer aproximação de tropas, tornando-se fácil preparar nos mínimos detalhes tocaias fatal, como a que destroçou a Coluna da Vitória logo após Água Branca. O conhecimento das condições naturais, incluindo vegetação extremamente útil para adaptações em condições de guerrilha, caso do acontecido em Princesa, aliou-se à perspicácia dos sertanejos comandados por José Pereira.
Com data de 22 de maio de 1930, o jornal do governo "A União" publicava:
"As deserções entre os ladrões e assassinos do traidor José Pereira aumentam diariamente, principalmente agora que elles já sabem que o reducto central do seu chefe poderá ser transformado em um montão de ruínas, dentro de poucos minutos pela esquadrilha aérea da Força Pública" .
João Pessoa tenta nova investida. Incapaz de dominar a cidade rebelde, ele apela para a guerra psicológica: a ameaça de Princesa ser bombardeada. Com essa ameaça veio a reação do "coronel" José Pereira, que continuava dono da situação, e, com suas colunas de guerrilheiros fustigava várias cidades do Estado da Paraíba, na tentativa de atemorizar as tropas da polícia.
No dia 6 de junho de 1930 o Governo do Estado tentou nova investida contra a cidade rebelde. Enviou do Quartel General da Polícia Militar, em Piancó, um avião pilotado pelo italiano Peroni, com a missão de lançar panfletos, concitando o povo a abandonar a luta, senão a cidade seria bombardeada dentro de 24 horas. A reação da cidade foi diversa. Teve quem dividisse espaço com os penicos debaixo das camas, e teve quem saisse pelas ruas atirando no invasor. Só não derrubaram a aeronave porque o piloto, vendo o perigo, subiu acima de três mil pés para ficar fora do alcance das balas. O major Feliciano Florêncio atirava do quintal de sua casa situada na descida da Rua Nova com o “comblain” do século XIX no momento em que o avião soltou uma ruma de panfletos. Ele não se conteve: “Acertei nas penas!”. A fuzilaria encheu a rua principal de Princesa de fumaça. Até passarinho foi pego por bala doida. O coronel, que se encontrava em casa, saiu à rua mandando os cabras pararem o tiroteio, porque sabia que aquilo era um estrago de munição. A “guerra” durou menos de meia hora, ao fim da qual o aparelho embicou o focinho para as bandas do Piancó levando nas asas alguns furos de bala. O panfleto trazia a seguinte mensagem:
"O governo da Paraíba intima-vos a entregar as vossas armas. Vossas vidas serão garantidas, dando o governo liberdade aos que não respondem por outros crimes. Convém ouvir a palavra do governo. Deveis apresentar-vos aos nossos oficiais. Dentro de 24 horas Princesa será bombardeada pelos aeroplanos da polícia e tudo será arrasado. Evitai o vosso sacrifício inútil. Ainda é tempo de salvar-vos. Não vos enganeis; vossos chefes estão inteiramente perdidos".
O bombardeio não veio. A missão falhou.
Com a assinatura do deputado estadual e chefe dos revoltosos, "coronel" José Pereira, do Prefeito Municipal, José Frazão de Medeiros Lima, do presidente da câmara dos vereadores, Manoel Rodrigues Sinhô e do vereador Antônio Cordeiro Florentino, foi publicada na primeira página do "JORNAL DE PRINCEZA", do dia 21 de junho de 1930, o Decreto n.º 01, proclamando autonomia político-administrativa em relação ao governo Estadual, porém subordinado politicamente ao poder político federal
Sobre Princesa, Ruy Facó destacou em Cangaceiros e Fanáticos que o território transformou-se em umafortaleza inexpugnável que sobre seus muros vacilavam as tropas regulares. Com certeza, pois a cidadela insurgente e seus arredores foram fortificados e defendidos com unhas e dentes na maior demonstração de rebeldia do mandonismo local na República Velha.
REFERENCIAS HISTORIAGRÁFICAS:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com