*Rangel Alves da Costa
Recordo-me muito bem os dias tristes ao
reencontrar a Igrejinha do Poço de Cima em verdadeiro estado de abandono.
Completamente deteriorada, de portas em frangalhos, abertas pelo homem e pela
ventania, visitada por animais, quase sem telhado, com cupins tomando todos os
espaços, uma tristeza danada somente em avistar.
Não menos diferente era a realidade ao redor,
com sepulturas igualmente abandonadas, o capim e o mato envolvendo tudo, a
investida dos bichos por cima e entre os jazigos, apenas a desolação e o
esquecimento. Ora, os que chegavam ali para acender velas sobre os túmulos de
seus falecidos parentes sentiam que, sozinhos, não conseguiriam mudar aquela
lastimosa situação.
Mesmo com a importância histórica, religiosa
e familiar, aquela igrejinha e seu cemitério passaram longos anos à margem do
esquecimento, senão do completo abandono. Todo mundo falava na Igrejinha do
Poço de Cima, mas poucos sabiam ou conheciam o seu verdadeiro estado. Missas,
novenas e outros ofícios e manifestações religiosas, sequer pensar no local. A
serventia era apenas da lembrança, da triste recordação.
Um dia, contudo, a partir do
descontentamento, da tristeza e da revolta de Padre Mário com aquela situação,
vez que o bom pastor das almas sertanejas sentia que sem a participação do
poder público aquele quadro estarrecedor não seria modificado, principalmente
pela falta de condições da paróquia em fazer os devidos reparos, lançou suas
esperanças em qualquer ajuda que chegasse. Contudo, quem chegou para abraçar a
causa foi um grupo de jovens da comunidade.
Este grupo, nascido da perseverança e
tenacidade de jovens sertanejos como Enoque, João Vitor e tantos outros, então
iniciou aquilo que por muito tempo foi visto como impensável, que foi fazer
renascer aquela igrejinha abandonada e novamente colocá-la no seu altar maior
de reconhecimento e valorização: Capela de Santo Antônio do Poço de Cima. E,
desde então, com árduo e constante trabalho, a Igreja do Poço de Cima foi
novamente retomando sua verdadeira feição de templo primeiro e de importância
fundamental na vida religiosa de Poço Redondo.
Foi a partir da missão abraçada por estes
jovens que a capela foi praticamente refeita, pintada, recebendo um novo telhado
e tudo o mais necessário aos ofícios religiosos. Foi a partir do denodo e da
perseverança destes jovens que as sepulturas ao lado da igreja foram cuidadas,
que os matos deixaram a constância da paisagem, que as pessoas passaram a
visitar com menos sofrimentos os seus entes ali sepultados. Hoje há até um
pórtico dando as boas-vindas aos visitantes.
Foi assim, a partir desses jovens, que a
Capela de Santo Antônio do Poço de Cima, ou apenas a comumente chamada
Igrejinha do Poço de Cima, renasceu das cinzas e dos escombros do abandono. Atualmente,
missas são celebradas, procissões saem da matriz em sua direção, novenas são
realizadas, há, enfim, o renascimento tão merecido daquele histórico e tão
nosso templo cristão, todo perpassado pela história e pela religiosidade de um
povo.
Ontem mesmo recebi a cordial visita de João
Vitor no Memorial Alcino Alves Costa, em Poço Redondo. Relatou-me sobre os
preparativos para o Trezenário de Santo Antônio em junho próximo, culminando
com um grande evento religioso na Igreja do Poço de Cima, com procissão, missa,
queima de fogos, os Pífanos da Família Vito e acompanhamento de cavaleiros,
dentre outras manifestações. Tal fato demonstra que estes jovens continuam
irmanados e constantemente se esforçando para que nosso primeiro templo
continue orgulhando a todos.
Mas não é diferente com os jovens de
Bonsucesso, povoação ribeirinha de Poço Redondo. Os jovens ribeirinhos parecem
chamar para si as responsabilidades maiores sobre a manutenção, preservação e
disseminação, de seus bens históricos, culturais e artísticos. São eles que se
reúnem para limpar cemitérios, para limpar as beiradas do rio, para cuidar de
tudo que diga respeito à sua povoação. E ainda por cima se expressam magistralmente
em Reisados, na Dança de São Gonçalo, nos Cordões das Pastorinhas, nas
Cavalhadas Mirins, dentre tantas outras manifestações.
Não se pode esquecer também da juventude que
ajuda no dia a dia da paróquia de Poço Redondo. Quem dera mais jovens assim,
mais grupos de jovens assim, unidos e irmanados no objetivo maior da
preservação de sua religiosidade e de suas raízes.
Escritor
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