Da Redação ANNA JAILMA
A família do comerciante Messias Lopes de Macedo e
senhora Joana Almeida Lopes, formada por 16 irmãos, deu origem ao Trio Mossoró,
que marcou época nos anos 60 cantando e encantando Mossoró e todo o País.
Entre os 16 filhos, destacaram-se Ozéas Lopes, Hermelinda
e João Batista, que, juntos, formaram o Trio Mossoró, e Francisco Almeida
Lopes, conhecido como Cocota, significativa presença nas noites mossoroenses
como seresteiro.
O primeiro a tornar-se conhecido entre os filhos do
comerciante Messias foi o Ozéas Lopes, que trabalhava na rádio Tapuyo,
destacando-se como sanfoneiro.
Em 1959 surgiu a oportunidade de Ozéas criar um trio
de forró. Apoiado financeiramente pelo próprio pai, partiu Ozéas para o Rio de
Janeiro.
Em 1960, já trabalhando nas rádios Mayrink Veiga e
Nacional, no Rio de Janeiro, Ozéas Lopes convidou os irmãos João Batista e
Hermelinda para ingressarem na carreira artística, efetivando o trio forrozeiro
que teria o nome de Trio Mossoró, numa referência à cidade e ao rio Mossoró.
A partir disso, os irmãos Hermelinda e João Batista
viajaram ao Rio de Janeiro, dando início à formação do Trio Mossoró, com Ozéas
na sanfona, Hermelinda no triângulo e João Batista no zabumba.
Em 1962, houve a gravação do primeiro disco,
intitulado “Rua do Namoro”, desencadeando o sucesso do grupo.
Com a gravação do segundo disco, “Quem foi vaqueiro”,
em 1965, o trio foi vencedor do troféu Elterpe, que, naquela época, era o
prêmio de maior importância da Música Popular Brasileira (MPB).
A premiação ocorreu no Palco do Teatro Municipal do
Rio de Janeiro, tendo como sucesso premiado a música “Carcará”. O grupo gravou
9 discos e conseguiu marcar época levando a música nordestina e o nome de
Mossoró por todo o Brasil.
Em visita à
terra de Santa Luzia, o Trio Mossoró foi recebido com manifestações calorosas.
Em 1963, o
Trio Mossoró voltou pela primeira vez à terra de Santa Luzia, tendo se
apresentado no adro da Catedral, no pátio do antigo Clube Ipiranga e no Colégio
dos Padres, onde funciona o Banco do Brasil.
O retorno à Mossoró ocorreu mais uma vez em 1972, quando o trio visitou a cidade na ocasião
do bi-centenário de sua fundação.
Os artistas
foram recepcionados com calorosas manifestações populares, incluindo faixas de
saudações, expostas nas principais ruas mossoroenses.
Era a gratidão
e admiração de Mossoró explícitas nas ruas.
Na ocasião,
houve missa festiva em Ação de Graças pelo sucesso alcançado, celebrada na
Catedral de Santa Luzia pelo bispo diocesano Dom Gentil Diniz Barreto e o Trio
Mossoró recebeu troféu de reconhecimento pelo nome de Mossoró ter sido
divulgado em todo o País no âmbito musical.
Mas justamente
em 1972 houve a separação do grupo, quando cada um dos irmãos buscou carreira
solo.
Recentemente,
as cantoras Marinez e Margarete Menezes regravaram músicas do Trio Mossoró,
comprovando o valor artístico-cultural desse grupo para a história da música no
País.
HOJE, 29 ANOS
DEPOIS - A partir da separação do trio, em 1972, Ozéas Lopes assumiu o
nome artístico de “Carlos André” e atingiu o ápice do sucesso nacional em 1974,
vendendo 1 milhão de discos.
Atualmente,
Carlos André reside em Recife. “Carlos André está residindo em Recife, no
Estado de Pernambuco. Não abandonou a carreira artística, continua lançando
CD’s e também atua como produtor musical”, informou Marcelo Lopes, sobrinho dos
artistas do Trio Mossoró.
Segundo
pesquisa recente da pesquisadora e promotora da Justiça, dra. Maria da
Conceição Medeiros, Hermelinda chegou a gravar 13 discos e chegou a adotar o
nome artístico de Ana Paula, cantando músicas românticas.
Em 1989, a
cantora Ana Paula voltou a gravar com seu nome original de Hermelinda e gravou
“Meu jeitinho de ser” (1989), “Buli com tu” (1990), “É mole ou quer mais?”
(1991) e, finalmente, em 1999, uma valiosa coletânea com todos os sucessos da
artista em carreira solo, intitulada “O melhor de Hermelinda”. Artistas
nacionalmente conhecidos como Elba Ramalho, Dominguinhos, Trio Nordestino, Três
do Nordeste e Eliane gravaram composições de Hermelinda, destacando-se “Toque
do Fole”, gravado por Elba; “Moça do Recife”, gravado pelo grupo Três do
Nordeste e as composições “Beijo Molhado” e “Meu Doce”, gravadas por Eliane.
Atualmente,
Hermelinda encerrou a carreira artística e reside em João Pessoa, casada com o
músico Bastinho Calixto.
João Batista,
que tocava no zabumba do Trio Mossoró, continuou no Rio de Janeiro, dedicado a
representações de equipamentos de som e à realização de shows fechados em
restaurantes e hotéis cinco estrelas, sendo conhecido como “João Mossoró”.
“João Batista permanece na carreira artística, inclusive, lançou 2 CD’s
ultimamente no Rio de Janeiro e, segundo ele, não tem o sucesso de antes, mas
dá para viver da arte”, disse Marcelo Lopes.
Cocota seresteiro - Foto gentilmente cedida a mim pelo poeta Kydelmir Dantas
Cocota:
seresteiro que dá saudade
Nas décadas de
50 e 60, as noites mossoroenses eram embaladas pela voz marcante do seresteiro
Cocota, que pelas ruas de Mossoró interpretava músicas românticas, satisfazendo
os boêmios da noite e pessoas que, mesmo em casa, ouviam com prazer seu canto.
Com talento
nato para a música, Cocota era frequentador do Bar Pinguim, e com voz e violão
abrilhantava as noites da Mossoró de outrora, por ser amante das músicas
românticas, sobretudo das canções de Lupicínio Rodrigues como “Nervos de Aço” e
“Esses Moços”, famosas na década de 40 e gravadas nos anos 50 por cantores como
Emilinha Borba, Ângela Maria e Cauby Peixoto.
Segundo
informações de José Messias Lopes, irmão de Cocota, fornecidas ao pesquisador
Raimundo Soares de Brito, em 1979, Cocota é definido como “pessoa bastante
relacionada nos meios boêmios como afamado seresteiro”. “Ele nunca gravou
discos, era funcionário da Petrobras e cantava pelo prazer de cantar”, definiu
o pesquisador Raimundo Soares de Brito, que tem preservada em acervo a história
do povo desta terra de Santa Luzia.
Um fato
marcante ocorrido na história de Cocota foi durante a visita do cantor Vicente
Celestino, famoso nos anos 50.
Na ocasião o
cantor refugiou-se no Grande Hotel, recusando o assédio dos fãs, mas não
resistiu ao canto de Cocota e curvou-se na janela, contemplando a expressão do
seresteiro mossoroense.
Em 12 de
fevereiro de 1961, Cocota foi assassinado a tesouradas, aos 26 anos de idade,
em Mossoró, por motivos até hoje mal definidos.
Como forma de
preservar na memória do povo mossoroense a personalidade marcante do
seresteiro, familiares de Cocota, unidos a amigos e populares, tiveram a
iniciativa de homenageá-lo com a criação da Praça dos Seresteiros, às margens
do Rio Mossoró.
O irmão Ozéas
Lopes, do Trio Mossoró, homenageou Cocota na composição Praça dos Seresteiros,
destacando “Mossoró ainda chora / Com saudade do seu cantador / Quantas noites
de seresta, quantas festas ele animou /Sua voz, que beleza! / Era como
bem-te-vi / cantava para todos nós / Dava gosto a gente ouvir...” Hoje, 40 anos
depois, Cocota está eternizado na memória do povo de Mossoró, como seresteiro
de timbre inesquecível, mas a Praça dos Seresteiros ainda deixa muito a
desejar.
Até hoje,
início do novo milênio, infelizmente não foi edificado estátua de Cocota, como
forma de eternizar essa personalidade marcante da década de 50 em Mossoró.
Fica nesta
reportagem a indignação pelo descaso à memória de Cocota e à Praça dos
Seresteiros.
Publicado pelo jornal O Mossoroense em 2001
http://www2.uol.com.br/omossoroense/2101/cultura.htm
http://blogdomendesemendes.blogspot.com