Por Thiago Pereira de Sousa Soares
"Nada é mais significante para um regime monárquico que a relação soberana
entre a figura regente e o seu palácio. Mais ainda quando o mesmo é sinônimo de
bravura e força imperial (ou política). No Território Livre de Princeza não foi
diferente. A coragem do seu povo e a ousadia de seu líder maior são,
atualmente, representados pela imponência de um palacete de extrema beleza
arquitetônica e inestimável valor histórico.
O “Palacete
dos Pereiras”, como é conhecido, acomoda não apenas mosaicos austríacos e imensos
janelões, entre paredes grossas e terraços exuberantes. Nele reside,
principalmente, a história de uma família que dedicou sua vida pelo
desenvolvimento da terra natal.
Tudo começou
quando o membro de uma das principais famílias nordestinas, o senhor Epitácio
Pessoa de Queiroz (Epitacinho), sobrinho do ex-Presidente da República, o
senhor Epitácio Pessoa, cometeu um crime passional, na capital do estado de
Pernambuco, assassinando o médico Bandeira de Melo, casado com uma prima
legítima do senhor João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que seria, depois,
Presidente da província paraibana. Epitacinho, após o ato delituoso,
refugiou-se em Princeza, sob a proteção do amigo próximo, o Coronal José
Pereira Lima. É necessário lembrar que este crime e a atitude solidária do
coronel tocaram, profundamente, a família do ex-Ministro e ex-Governador
paraibano, João Pessoa, que, já prevendo suas intenções proclamou o seguinte:
- Se um dia eu
vier a governar a Paraíba, acabarei com o prestígio de três famílias: os Dantas,
de Teixeira; os Santa Cruz, da cidade de Monteiro; e os Pereira, da cidade de
Princesa.
O Coronel, de forma cortês, como era seu costume, informou ao hóspede (assim
como ao seu irmão, compadre do Coronel, o industrial José Pessoa de Queiroz),
que receberia o foragido, da melhor maneira possível, até que o crime fosse
julgado. Naturalmente, como adiantou o coronel, a depender da sentença final,
transitada em julgado, o amigo permaneceria (ou não), em suas terras.
Epitacinho e a família, seguros dos seus direitos, aceitaram as condições.
Em sua estada
nas terras princesenses, o visitante, para seu melhor conforto e sob orientação
do seu irmão, resolveu construir uma casa, segundo o seu estilo e de acordo com
suas expensas, que não eram poucas. Contratou o artesão/construtor José
Ferreira Dias, conhecido como “Ferreirão”, famoso em toda a região, por ter
construído obras importantes, como a belíssima igreja de Triunfo - PE.
Ergueu-se,
assim, um palacete com 46 (quarenta e seis) portas e janelas, piso em mosaico
trazido da Áustria (em baixo relevo), 05 (cinco) quartos, salas de refeições,
terraços, salas de recepção, cozinha, área de serviço e garagem externa, duas
vezes maior à área construída.Após alguns anos, Epitacinho foi absolvido do
crime, e resolveu retornar a sua terra natal, Recife – PE, mas guardou consigo
o patrimônio nas terras revolucionárias paraibanas. Depois de algum tempo, o
seu irmão José Pessoa de Queiroz, julgando desnecessária a manutenção do imóvel
em nome da família e determinado a restituir o enorme favor prestado pelo seu
amigo, o Coronel José Pereira, resolveu presentear, com o palacete, a sua
afilhada, Luiza Pereira Lima, filha primogênita do coronel e irmã mais velha do
ex-Deputado Estadual e ex-Secretário de Estado da Saúde, o médico Aloysio
Pereira Lima.
Dona Luizinha,
como era conhecida, foi uma dedicada dona de casa e habitou com o seu esposo no
palacete até sua morte, em 27 (vinte e sete) de maio de 2002. O seu amado
companheiro, Gonzaga Bento, faleceu após três meses, em 05 (cinco) de setembro
do mesmo ano. Gonzaga foi vereador do município por dois mandatos, foi
vice-prefeito, Prefeito da cidade de Tavares (sua terra natal), e ainda três
vezes Prefeito de Princesa. Nunca perdeu uma eleição e (como bem pronunciou
Hermosa Pereira Sitônio) “apesar de não ter o sangue, foi Pereira tanto quanto
os que tinham, pois nunca deixou ser derrubada a bandeira política de seu
sogro, o Coronel Zé Pereira”.
Após a morte
dos proprietários, o Palacete e todo o espólio foram repassados aos herdeiros
Rosane e Humberto, filhos de Gonzaga e Luizinha. Posteriormente, em
conseqüência da conclusão da Ação de Inventário, a casa foi registrada em nome
de Rosane Pereira de Sousa Soares, atual proprietária, que vem a ser, portanto,
neta do Coronel José Pereira Lima e sua esposa Alexandrina Pereira Lima (Dona
Xandú).
Além de
residência do Coronel José Pereira, por um breve período após a anistia, o
Palacete, durante a famosa guerra ocorrida em de 1930, que alguns chamam de
“Revolta de Princeza”, serviu de Hospital de Sangue, onde se salvaram inúmeros
combatentes princesenses, além de membros da Polícia paraibana, que o coronel
ordenava tratar com enorme respeito e atenção. Esse procedimento fez com que
muitos aderissem à causa daquele povo sertanejo, que se insurgia contra o
governo paraibano.O “Palacete dos Pereiras”, apesar das intempéries e da
utilização ininterrupta, mantém-se erguido e majestoso, mas precisa,
naturalmente, de atenção e carinho.
Nessa
edificação grandiosa e charmosa, construída na década de 20 (vinte), do século
passado, residiram membros das famílias mais importantes do Nordeste.
Hospedaram-se ou foram recebidas figuras ilustres como coronéis, governadores,
prefeitos, artistas, empresários, políticos diversos e personalidades
valorosas, como Alcides Carneiro, Canhoto da Paraíba e Ariano Suassuna.Sua
história é maior e mais admirável que suas curvas e desenhos arquitetônicos.
Está ligada à memória do povo brasileiro e por isso desfez-se o seu caráter
pessoal, individual, particular. O objetivo primordial de sua existência é
público, coletivo, devendo ser amado, preservado e compartilhado, sob a égide
dos Poderes Públicos, especialmente, Estadual e Federal, pois possuem recursos
disponíveis.
O Palacete do Coronel José Pereira, em Princesa Isabel – PB, transpira história
e arrepia, quase sempre, os seus visitantes. História verdadeira. História
brasileira. História de um povo, constantemente, esquecido no alto sertão
nordestino, mas que permanece aguerrido, lutador, trabalhador e vivo, como a sua
memória."
Thiago Pereira
de Sousa Soares
Bisneto do Coronel José Pereira Lima
Cariri Cangaço Princesa 2015
Princesa Isabel, Paraíba
www.cariricangaco.com
Fonte: facebook
http://blogdomendesemendes.blogspot.com