Por Ruy Lima
JOÃO BEZERRA
DA SILVA, pernambucano de Afogados da Ingazeira, (distante apenas 87 Km de
Serra Talhada, antiga Vila Rica, onde nasceu Lampião), foi o oficial da Polícia
Miliar de Alagoas que comandou a volante que aniquilou, na Grota de Angico, no
Estado de Sergipe, em 24 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e os
cangaceiros Luiz Pedro, Quinta-Feira, "Colchete", Marselha, Elétrico,
Mergulhão, os irmãos Moeda e Alecrim e Enedina, esposa do cangaceiro Zé de
Julião (Cajazeira), o qual conseguiu escapar do intenso tiroteio e fugir. João
Bezerra aniversariou exatamente um mês antes do ataque (ele nasceu em 24 de
junho de 1898).
VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA (Lampião) nasceu no mesmo ano de 1898, no dia 04,
também do mês de junho.
Tinham os dois a mesma idade.
Em 1926, havia a ameaça iminente da presença da Coluna Prestes movimento
comunista armado, no Cariri. O deputado federal Floro Bartolomeu, responsável
por organizar o batalhão patriótico idealizado pelo presidente Artur Bernardes,
na região, para enfrentar Prestes, resolveu convidar Lampião e seu bando.
Lampião recebeu armas e fardamentos, além da patente de capitão do batalhão patriótico,
assinada pela única autoridade federal que se encontrava em Juazeiro do Norte,
um agrônomo do Ministério da Agricultura chamado Pedro Albuquerque Uchoa. Essa
patente não tinha nenhum valor jurídico, mas Lampião gabava-se ao ser chamado
de “capitão”.
Na ocasião do confronto em Angico, João Bezerra tinha a patente de
tenente.
Pouco tempo depois, em 1940, já promovido à patente de capitão da Polícia
Militar de Alagoas, pela sua ação em Angico, João Bezerra publicou o livro:
“Como dei Cabo de Lampeão”. (*)
O livro é bastante interessante e tem grande valor na historiografia do
cangaço. Nele o autor, que esteve presente em onze confrontos com os
cangaceiros, narra com bastante detalhe suas estratégias para chegar até o “Rei
do Cangaço”.
Mas, o que nos chama a atenção nessa obra, foram as palavras de admiração do
Capitão João Bezerra em relação ao “Capitão” Virgolino. (*)
No Capítulo VII, do citado livro, ele diz que se fosse escrita uma história
natural dos delinquentes célebres, se teria de reservar um lugar de destaque
para Lampião. “Nenhum salteador do começo do século passado (século XIX) até
este segundo quartel de século em que vivemos (século XX), suplantou em audácia
esse terrível bandoleiro, escreveu o autor, fazendo referências aos bandidos
José do Telhado, em Portugal, Bonot, na França, os chefes da Camorra e da
Máfia, na Itália, Al Capone e Dellinger, nos Estados Unidos, todos de sinistra
lembrança, os quais não tiveram a atuação guerreira desse famoso cangaceiro,
que enfrentou durante vinte anos forças militarizadas mais ou menos numerosas,
levando a sua audácia ao cúmulo de penetrar em cidades como Juazeiro/CE, com
quase 60.000 habitantes, de atacar centros comerciais da importância de
Mossoró/RN, também de grande população e vias de comunicação.”
Registrou ainda o capitão João Bezerra:
“Nenhum outro criminoso o ultrapassou em celebridade e astúcia.”
“Mostrando destemor das forças que o perseguiam, desprezo pela vida e pela
prosperidade das pessoas que viviam nas regiões que exerceu o seu “reinado”
sangrento, criou grupos e mais grupos de facínoras que dominava valentia e a
astúcia, chegando a se acompanhar de mulheres armadas de Fuzis “Mauser” e de
punhais, impondo-lhes igual ação combatentes à dos indivíduos componentes das hordas
assaltantes que chefiava.”
Entretanto, nos parágrafos seguintes, o capitão trata dos “assassinatos
covardes que esse bandido cometeu, os assaltos contra a propriedade privada,
roubando, incendiando e destroçando; as sevícias que inflingiu em criaturas
indefesas foram inúmeras, tornando-se difícil fazer um cômputo real de tantos
crimes hediondos”
Trata também dos militares que foram mortos, devendo ter ultrapassado a casa de
300, entre oficiais, sargentos, cabos e soldados, dos Estados do Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Segundo ainda, João Bezerra, houve ocasiões em que Lampião conduziu grupos com
150 a 200 parceiros todos armados com armas de guerra.
No mesmo capítulo VII do seu livro, ele traçou outro perfil de Lampião:
“Tipo boçal, de natureza rústica, analfabeto e vaidoso, sem ter sequer
conhecimentos mesmo rudimentar da arte militar, esse indivíduo demonstrou
cabalmente com o desenvolvimento da sua ação danosa, o quanto tem de perigosas
as guerrilhas, principalmente num terreno como o do “hinterland” (**)
nordestino de características típicas para esse gênero traiçoeiro de guerra sem
quartel.”
(*) (pelas normas ortográficas da época, Lampião se escrevia com “e” e
Virgulino com “o”)
(**) Interior/Sertão.
Fonte: “Como Dei Cabo de Lampeão” – Capitão João Bezerra – 2ª Edição – 1940. –
J. do Valle & Lauro LTD.
Nota: observei pelo menos dois fatos constantes do referido capítulo VII do
livro do então capitão João Bezerra, que divergem das informações e opiniões de
pesquisadores e historiadores do cangaço:
1º - “... atacar centros comerciais da importância de Mossoró/RN, também de
grande população e vias de comunicação.”
2º - “... chegando a se acompanhar de mulheres armadas de Fuzis “Mauser” e de
punhais, impondo-lhes igual ação combatentes à dos indivíduos componentes das
hordas assaltantes que chefiava.”
Ruy Lima –
fev/2019.
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