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domingo, 4 de agosto de 2013

“NOS CAMINHOS DESSA VIDA, NUMA PORTA A ACOLHIDA...” (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

“NOS CAMINHOS DESSA VIDA, NUMA PORTA A ACOLHIDA...

O velho viajante, num misto de mercador e ambulante, depois de muita lonjura e muito cansaço, entrou na curva da estrada e logo avistou um casebre. Que alívio, pensou. Talvez receba um gole d’água e uma xícara de café, e nas graças de Deus um punhado de farinha com naco de rapadura. Disse a si mesmo já de boca molhada.

Judiou um pouquinho mais nos quadris do velho burro de estrada e chão, e este entendeu o dolorido recado. Apressou o passo, olhou adiante, e também se viu de olhos mais brilhantes e esperançosos. Talvez fosse ali, nas sombras do juazeiro defronte à casinha, que iria descansar de tão longa viagem e de tanto peso no lombo.

Não demorou muito e o animal riscou debaixo do sombreado. Sentiu um alívio danado quando o seu dono pulou numa ligeireza de quase rolar por cima de espinho. E viu quando o amigo seguiu quase correndo na direção da casinha, que continuava de porta fechada. Mas certamente havia morador, pois se avistava uma galinha ciscando e um cachorro magro fuçando a terra.

Diante da porta, na esperança de todo viajante de receber acolhida, o homem bateu na troncha e carcomida madeira, preparou o cumprimento de chegada e dobrou a mão. Um toque, dois toques:

“Oi de casa, oi de dentro, venho na paz do Senhor, sou um pobre viajante que roga o seu favor...”.

Silêncio total. Mas pareceu ter ouvido um chinelar lá pelos fundos da moradia. E repetiu o mote sertanejo de respeito e veneração diante da porta alheia:


“Senhor meu dono da casa, não se assuste com esse irmão, sou também um conterrâneo, sou filho desse sertão, bato na sua porta com a divina permissão...”.

E aproximou o ouvido da madeira. Sentiu que alguém se aproximava e em seguida uma voz feminina ecoar, resposta de velha senhora que se precavia antes de saber se poderia atender. E disse a sertaneja:

“Se é do bem diga a que vem. Preciso saber quem é antes de dar meu amém. Se vem na graça divina, aqui mora a graça também...”.

Daí em diante o diálogo se aperfeiçoou. Ele falava, ela respondia. Ele numa aflição danada para matar a sede; ela querendo dar acolhida, porém temerosa demais por causa da solidão.

“Senhora dona da casa, sou vivente da estrada, vendo enfeite e pano pra criança e a meninada, trago notícias do mundo pra quem ainda não sabe nada...”.

“Só mesmo um pano de chita pra uma velha ficar bonita. Mas não tenho um só tostão, nada que lhe ponha à mão, em troca de novidade, coisa nova no sertão. A pobreza me impede de ter do buquê uma flor, mas vou lhe abrir a porta em nome do Nosso Senhor...”.

“Senhora dona da casa, mas que bondoso coração, ficarei agradecido se me tirar da aflição, oferecer um gole d’água a esse cansado irmão...”.

“Gole d’água não se nega nem que seja a inimigo, pois a sede é bicho brabo, talvez o maior castigo. Vá entrando e se ajeite, na pobreza o seu deleite, não olhe pro que não tem e pra velharia também, pois vivo sem ter quase nada e já no fim dessa jornada, a última curva da estrada...”.

“Gota d’água satisfaz, quem dera poder ter mais. Vou ficar agradecido por ser tão bem recebido. Não se preocupe em ser pobre se tem uma alma nobre, pois a fortuna está na paz e isso é o que satisfaz...”.

“Depois da água um café, também ofereço um pão. Tão pouco, é quase nada, mas tudo de coração, também a fome não espera a mesa farta de grão...”.

“Qualquer coisa me apetece e o espírito agradece. Com a vossa permissão, mostrarei a gratidão. Vai escolher o que quiser daquilo que eu dispuser. Escolha um corte de pano, uma chaleira ou um abano, um espelho ou um loção, darei com satisfação...”.

“Tudo isso eu queria, e tudo me dá alegria. Mas eis meu mais fervor: uma imagem de Jesus, o filho de Deus numa cruz, mas também ressurreição pra nossa vida ter luz...”.

E ganhou chita e perfume e também um retrato emoldurado do Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao colocar na parede de barro, os olhos da velha senhora brilhavam tanto que mais pareciam o sol do sertão tomando a casa inteira.

Depois de beber água de cuia, do descanso e do capim ressequido, o animal tomou o rumo da estrada. O homem havia comido pouco, quase nada, apenas uma xícara de café com pão, mas parecia saído do maior banquete do mundo. Estava com o espírito tomado do maior alimento que possa existir: a felicidade.

Por isso é que pelos sertões se diz que nos caminhos dessa vida, numa porta a acolhida.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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O Cariri Cangaço e o Velho Chico

Por: Manoel Severo
 Manoel Severo e Jairo Luiz

O domingo 28 de julho começou cedo para a Caravana Cariri Cangaço em Piranhas, nosso compromisso as 8 da matina era no porto da cidade ribeirinha, partiríamos no Majestoso Catamarã São Francisco; o mais novo empreendimento da família Rosa; rumo a Angico, na margem sergipana do Velho Chico.

Opará, essa é a denominação do Velho Chico, pelos indígenas. O majestoso rio da integração nacional nasce no município de São Roque de Minas, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, a aproximadamente 1200 metros de altitude, atravessa o estado da Bahia, fazendo sua divisa ao norte com Pernambuco, bem como constituindo a divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas, tendo por fim sua foz no Oceano Atlântico, drenando uma área de aproximadamente 641 mil km² e atingindo 2 830 km de extensão.


 Juliana Ischiara
 Jaqueline Rodrigues
 Edvaldo, confrade de Água Branca
 Família Cariri Cangaço rumo a Angico
 Elane Marques e Ingrid Rebouças
 O menino, o volante e o Velho Chico
 Dona Fátima Cruz e Professor Pereira

O Rio São Francisco tem seu "descobrimento" creditado ao navegador Américo Vespúcio, que navegou em sua foz em  1501, e seu nome em homenagem ao Grande Francisco de Assis  se dá pela data da expedição , 04 de outubro, dia em que o mundo cristão festeja São Francisco.

O trajeto do porto de Piranhas até a Grota do Angico foi feito pelo mais novo Catamarã da família Rosa, "São Francisco”, tendo a frente o companheiro Célio Rodrigues e seus irmãos. São cerca de 11 km rio abaixo, do lado alagoano o município de Piranhas, do lado sergipano o município de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, onde se localiza a famosa Grota do Angico.

 Antônio Vilela e a Caravana de Garanhuns no Cariri Cangaço Piranhas
 João de Sousa Lima, Manoel Severo e o casal Lamartine Lima
Do Velho Chico a imagem da Velha Capela: Piranhas Velha
Piranhas se afasta lentamente
 Jaqueline Rodrigues e Manoel Severo
Ingrid Rebouças e o Catamarã São Francisco
Aninha, Rosalia, Letícia, Wescley e Lili
Antônio Vilela e Archimedes Marques
Alan Pernambuco, Manoel Severo e Professor Pereira

Todo o trajeto fluvial é simplesmente fascinante, a beleza do rio, uma imensidão de azul nos cercando por todos os lados, ao longe, nas duas margens a vegetação rala, típica da caatinga, o verde das últimas chuvas e no céu, um ou outro pássaro parecendo nos observar... e saber para onde iríamos. Perto de vinte minutos depois, chegaríamos ao pier do Restaurante Angico e dalí seguiríamos pela trilha utilizada pela volante, até a grota mais famosa do planeta. Realmente uma visita imperdível.

Manoel Severo
Cariri Cangaço Piranhas

Semana do Cangaço

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O ÚLTIMO COMBATE DE LAMPIÃO

Por: Leandro Cardoso Fernandes*
O cangaceiro Moreno e Leandro Cardoso Fernandes - Publicado em 20/07/2012 por pacabral

Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, na margem sergipana do Rio São Francisco, em Angico, irrompeu o tiroteio em que morreram Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luiz Pedro, Mergulhão, outros 6 cangaceiros e o soldado Adrião Pedro de Souza.

O ataque foi fruto da ação conjunta entre as volantes do Tenente João Bezerra da Silva, do Aspirante Francisco Ferreira de Melo e do sargento Aniceto Rodrigues, todos da polícia alagoana. Apesar dos contratempos, Bezerra e Ferreira de Melo conseguiram superar a inteligência bélica de Lampião, impondo ao experiente cangaceiro o fator surpresa, com grande êxito.

Fonte: http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/

Neste pequeno artigo, tentaremos reconstituir, de maneira sucinta, o desenrolar da trama que culminou com a morte do Rei e da Rainha do Cangaço.

Desde meados de 1936, após a invasão de Piranhas (AL) por Gato, Moreno e Corisco, que a perseguição aos cangaceiros acirrou-se sobremaneira. Lampião vinha driblando as volantes na região limítrofe entre Alagoas, Sergipe e Bahia, sempre margeando o Rio São Francisco e as caatingas destes três estados, onde estabelecera grande e sólida rede de coiteiros.

Antes do combate do Angico, o último grande confronto de Lampião com forças volantes foi o combate da Lagoa do Domingos João, arredores de Canindé do São Francisco (SE), em meados de 1937, onde fora surpreendido pela volante de Zé Rufino. Desde então, Lampião estava retraído, escondendo-se ora na margem sergipana, ora na margem alagoana do Velho Chico.

Zé Rufino - Fonte: Acervo pessoal Leandro Cardoso

Neste período, Maria Bonita começou a “escarrar” sangue. Especula-se que tenha sido sequela do tiro que levara na Serrinha do Catimbau (Garanhuns, Pernambuco) dois anos antes ou, quem sabe, tuberculose. Lampião, com a ajuda e proteção do todo-poderoso Coronel sergipano Hercílio Brito, enviara Maria, incógnita, para Propriá, cidade próspera do interior sergipano, para ser tratada adequadamente por médico, o que foi feito a contento.

No período de ausência de Maria, Lampião ficou gravitando entre os municípios de Canindé do São Francisco, Poço Redondo (SE) e Piranhas. Numa das vezes que visitou a fazenda Pedra D’Água, município de Canindé do São Francisco, de propriedade de Dona Delfina Fernandes. Lampião prometeu, nesta ocasião, que em fins de julho, após o retorno de Maria, retornaria à fazenda para apadrinhar uma criança da fazenda, conforme havia lhe pedido a proprietária.

Quando da travessia do São Francisco, de Alagoas para Sergipe, dias antes do combate do Angico, teria dito ao grupo que estava cansado da perseguição que lhe moviam as volantes da Bahia, Pernambuco (os Nazarenos), Alagoas e Sergipe; que talvez fizesse uma grande viagem para Minas Gerais, e que quem quisesse acompanha-lo estava livre para fazê-lo (palavras do ex-cangaceiro Candeeiro). Disse também que chamara, para uma reunião, os subgrupos de Corisco, Ângelo Roque (o Labareda) e Zé Sereno.

Corisco recebera um bilhete de Lampião, cujo conteúdo (relatado por Dadá) convocava-o para dar uma lição em Zé Rufino, que “queria passar de pato a ganso”. No entanto, o real motivo da reunião, até hoje é motivo de especulação. Corisco ainda chegou até o Angico, dois dias antes do combate, mas disse a Lampião que não gostava daquele lugar que parecia “cova de defunto: com uma entrada e uma saída”. Após conversar com Lampião, atravessou novamente o São Francisco, ficando na margem alagoana, esperando o grupo de Ângelo Roque, que ainda não havia chegado, para novamente se encontrarem.

O coiteiro de Lampião no Angico era Pedro de Cândido, que morava em Entre-Montes, localidade próxima a Piranhas, na margem alagoana do rio. Um vizinho, Joca Bernardes, desconfiou de Pedro, pois este havia comprado muitos queijos, além de ter trazido coisas da feira de Piranhas. Joca, que tinha, talvez, inveja do vizinho (provavelmente pela proximidade deste com Lampião) foi até a delegacia de Piranhas e avisou ao Sargento Aniceto Rodrigues: - Aperte Pedro, que ele tem Lampião!

Aniceto, então, telegrafou para João Bezerra, que estava na cidade de Pedra de Delmiro (AL), com sua volante e com Ferreira de Melo, enviando a seguinte mensagem: “Venha imediatamente. Boi no pasto!”.

Bezerra, que entendeu a mensagem codificada, tomou duas metralhadoras emprestadas da volante do nazareno Odilon Flor, sem nada informa-lo, e apressou-se para retornar a Piranhas.

Na tarde do dia 27, as três volantes (Bezerra, Ferreira de Melo e Aniceto) partiram com a informação dada por Joca Bernardo de que Pedro de Cândido tinha o paradeiro de Lampião. Bezerra, então, manda dois soldados buscarem Pedro em casa.

Pedro é trazido e questionado por Bezerra e Ferreira de Melo. Nega saber do paradeiro de Lampião. O Tenente, então, subjuga-o e arranca uma das unhas de Pedro com a ponta do punhal e “força” sua costela “mindinha” com o cabo do mesmo punhal. Pedro, então, confessa tudo: Lampião está ali perto e ele os levará até ele. Pede, entretanto, para irem buscar seu irmão, Durval Rodrigues Rosa, pois ele sozinho teria dificuldade de guiar as três volantes. Durval, pego de surpresa, é, então, incorporado à tropa.

Procuram o canoeiro Pedro Bengo, que ajouja duas canoas, e, assim, consegue transportar todos os homens para a margem sergipana do rio.

Os soldados seguiram silentes, tomando cachaça com pólvora para vencer o frio e o medo de, naquela madrugada, enfrentarem o Rei do Cangaço.

Voltemos aos cangaceiros.

Após sua recuperação, Maria retorna ao seio do bando, dias antes do combate do Angico. Chega, porém, com uma novidade: cortara o cabelo ‘a la garçon’, então na moda, o que despertou a fúria de Lampião, que não aprovou a “modernidade”. Segundo testemunhas (depoimentos de Dulce e Cila), tiveram um briga feia na véspera do combate.

Na noite daquele 27 de julho de 1938, Maria, Cila e Dulce sentaram-se no alto de uma pedra para fumarem. Maria botou para fora a raiva que estava de Lampião e as três conversaram bastante, inclusive sobre o que aconteceria se fossem presas. Maria dizendo que se fosse presa por uma volante baiana não teria muitos problemas, pois tinha primos que sentaram praça. Cila, por sua vez, disse que preferia as volantes de Sergipe. Em determinado momento, Cila chama a atenção das amigas para uma luz que acendia e apagava ao longe. “- Não será luz de pilha (lanterna)”, perguntou?. Maria, que era a mais experiente, não deu bola e disse que era vagalume. Ledo engano. Era a tropa que avançava.

Enfim, jogaram conversa fora e depois voltaram para dormir. Segundo Balão, todos se recolheram por volta das 22h. Enquanto isso os soldados se aproximavam silenciosamente, tentando fechar o cerco.

Acordaram por volta das quatro e meia/cinco horas da manhã. Lampião convidou para rezarem o Ofício de Nossa Senhora. Os que quiseram, levantaram-se e rezaram. Outros continuaram sob as cobertas, por causa do frio (caso de Candeeiro). Já outros, rezaram e voltaram a deitar-se (caso de Cila). Lampião, Zé Sereno e Luís Pedro já estavam de pé e tomaram um cafezinho feito pelo cangaceiro Vila Nova (o único que estava devidamente equipado naquela hora). Zé Sereno ponderava com Lampião que já haviam se demorado muito ali e que deveriam sair, sob pena de serem emboscados. Lampião disse que sairiam após o café.

Então, Lampião ordenou que Amoroso fosse até um dos caldeirões de água (pequena poça d’água acumulada a uns 70-80 metros de onde estavam). Amoroso, ao chegar no referido caldeirão, se preparou para urinar, e iria fazê-lo em cima dos soldados, que estavam escondidos ali próximos. Estes haviam recebido ordens de João Bezerra para não atirar antes dele, até que o cerco estivesse fechado. Os soldados, porém, não tiveram escolha, pois o cangaceiro estava muito próximo, quase “topando” neles.

Atiraram, então. Mas, por medo ou embriaguez, erraram e Amoroso volta correndo. Nesse ínterim, Maria Bonita vinha na mesma direção, com uma bacia de queijo do reino, para pegar também água. Os soldados, então, não perdem tempo e atiram na cangaceira, que grita: “- Valhei-me, Nossa Senhora!”. Maria foi, então, alvejada na barriga e, quando virou-se para correr, recebeu um balaço nas costas, caindo, logo adiante.

O tiroteio, neste meio tempo, já irrompeu para os lados onde Lampião estava. Zé Sereno, quando ouviu os tiros sobre Amoroso, disse a Lampião: “Não falei que a gente brigava hoje?”.

Logo aos primeiros tiros, o fuzil de Lampião foi atingido no engenho, o que limitou a reação do Rei do Cangaço (palavras de Candeeiro), e o fez ser atingido no tórax e no baixo ventre, caindo ao solo.

Zé Sereno conseguiu escapar ao furar o cerco parcialmente fechado (Aniceto perdera-se e não havia conseguido chegar neste momento) fingindo-se passar por um volante: “- Não atire, que é companheiro!”. Conseguiu, portanto, fugir.

Candeeiro correu, mas topou com os soldados de Aniceto Rodrigues no meio da mata, e foi atingido no braço, perdendo a capacidade de revidar os tiros. Mesmo assim, conseguiu fugir, ajudado por Amoroso e outros cangaceiros.

Cila, que praticamente foi arrastada pelos companheiros, estava em estado de choque. Correu pela caatinga descalça, pois não teve tempo de calçar as alpercatas. Na hora da fuga, a cangaceira Enedina vinha atrás dela. Em determinado momento, Cila sentiu um impacto nas costas e virou-se pra ver o que era. Deparou-se com Enedina caída no chão: levara um tiro na nuca e os pedaços de massa encefálica, meninges e sangue foram às costas de Cila. Segundo relatou em entrevista ao autor destas linhas, demorou muito tempo para tirar as manchas de sangue e cérebro que ficaram no seu vestido.

O tiroteio foi intenso e durou uns 20 a 25 minutos. Um dos soldados, Honorato, deu um tiro na cabeça de Lampião, quando este estava caído no chão, o que suscitou grande reprimenda de João Bezerra, que disse: “-Não atirem na cabeça! Não é pra esbagaçar! É pra cortar e levar!”.

Segundo depoimentos de cangaceiros e volantes, Maria Bonita teria implorado para não morrer. No entanto, foi degolada pelo soldado Santo (na verdade, Sandes), ao que parece ainda com vida.

O tenente João Bezerra foi baleado na perna durante o combate, provavelmente por Zé Sereno. Um soldado, Adrião Pedro de Souza foi morto durante o combate, provavelmente por Balão.

Corisco ouviu o tiroteio, mas como estava no outro lado do rio, não teve como dar uma retaguarda a Lampião. Só depois ficou sabendo o resultado do confronto.

João Bezerra ordenou que os onze cangaceiros mortos fossem decapitados e as cabeças levadas para Piranhas, onde foram fotografadas na escadaria da prefeitura. Depois de condicionadas em latas de querosene, foram levadas para Maceió, não sem antes serem exibidas em várias cidades do interior de Alagoas aos circunstantes, o que muito prejudicou a conservação das mesmas.

Em Maceió, as de Lampião e Maria foram examinadas pelo médico legista da Polícia Militar de Alagoas, Dr. José Lages Filho, que emitiu laudo de necropsia das peças. Posteriormente, foram mandadas para o Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, onde ficaram expostas até 1969. Neste ano, foram sepultadas em urnas, após pedido da família.

Aí está, em algumas pinceladas, o combate do Angico, o tiro de misericórdia no Cangaço, que ainda estrebucharia até 1940, com a morte de Corisco. Os grandes vitoriosos deste episódio foram João Bezerra e Francisco Ferreira de Melo, que conseguiram seu intento, apesar dos muitos empecilhos que se apresentaram (a recusa inicial de Pedro em ajudar, o cerco que não estava fechado, a travessia do rio…). As luzes de Bezerra e Ferreira de Melo ofuscaram o brilho de Lampião, que não conseguiu cumprir a promessa que fizera a Dona Delfina. A dona da fazenda Pedra D’Água teve de arrumar outros padrinhos para festa em que aguardava Lampião e seu bando, com muito arroz doce e canjica.

* Leandro Cardoso Fernandes é médico, escritor e consultor da Sertão Games para o Cangaço Wargame. Apaixonado pelo tema desde os 12 anos de idade, coleciona peças e fotos originais. Também realizou várias entrevistas e conversas informais com cangaceiros.

Referências:

Araújo. A.A.C. “Assim Morreu Lampião”. Traco Editora. São Paulo. 1971.
Depoimentos de Zé Sereno e Balão a Antonio Amaury C. de Araújo. São Paulo. 1970.
Depoimento de Cila a Leandro Cardoso Fernandes. São Paulo. 2003.
Depoinento de Leônidas Fernandes (filho de Dona Delfina) a Leandro Cardoso Fernandes. São Paulo. 2003.
Candeeiro. Vídeo de Aderbal Nogueira. 2008.

http://cangaco.com/2012/07/20/o-ultimo-combate-de-lampiao

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Vídeos sobre Lampião


Estas imagens são reais de Lampião e seu grupo nas caatingas do nordeste brasileiro, filme feito pelo libanês Benjamim Abraão Botto, o único homem que teve a coragem de filmar estes perversos e sanguinários homens dentro da mata.


Em 1938, a Grota de Angico, no Estado de Sergipe, em terras de Poço Redondo, guardava o rei e a rainha do cangaço Lampião e a sua amada Maria Bonita, mais 11 elementos do seu afamado grupo. 

Na madrugada de 28 de Julho do mesmo ano, 48 policiais cercaram a Grota, e sem dó e sem piedade assassinaram os facínoras, os quais não tiveram tempo de se defenderem. 

Soldado Adrião

Além destes cangaceiros mortos, o soldado Adrião também perdeu a sua vida, e segundo o escritor e pesquisador do cangaço, lá da cidade de Garanhuns, no Estado de Pernambuco, Antonio Vilela de Sousa, diz em seu livro " O outro lado da história" que ele fora assassinado por um dos seus companheiros.

Wescley Rodrigues e Antonio Vilela de Sousa

Veja os vídeos acima para você conhecer um pouco sobre a vivência de Lampião e seu bando nas caatingas. O outro vídeo fala como aconteceu a chacina na Grota de Angico.

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Por: Geraldo Maia do Nascimento
Geraldo Maia do Nascimento e Kydelmir Dantas

Durante o período de 1869 a 1872 Mossoró foi administrada pelo tenente-coronel da Guarda Nacional Luiz Manuel Filgueira. Foi durante a sua gestão que Mossoró passou ao predicamento de cidade. Foi também durante essa fase que começou a circular, pela primeira vez, o jornal “O Mossoroense”.
               
Filgueira era comerciante em Mossoró e era casado com D. Herculana Gratulina Praxedes, irmã por parte de pai de Bento Praxedes. Era descendente dos Camboas, mas por outro lado estava ligada aos Carneiros de Freitas, família que nessa região teve a sua origem genealógica na figura do capitão Manuel Carneiro de Freitas, conforme nos informa Lauro da Escóssia.

               
Luiz Manuel Filgueira foi o 5º governante de Mossoró. Alguns fatos importantes acontecidos na sua gestão:
               
A lei nº 620, de 9 de novembro de 1870, eleva a vila de Mossoró ao predicamento de cidade. O projeto foi do vigário Antônio Joaquim Rodrigues, deputado provincial pela sexta vez, apresentado à Assembleia Legislativa na sessão de 25 de outubro de 1870. Câmara Cascudo registrou um comentário que o vigário teria feito: “Fiz disso aqui uma cidade! Dizia ele abraçando os amigos no regresso à Mossoró que vira povoação e ajudara a fazer vila”. Nesse período Mossoró já era tida como “Empório Comercial”, já que as mercadorias chegadas a Mossoró através do seu porto, vindo de várias partes do mundo, eram distribuídas não só pelo Oeste potiguar, mas também por parte da Paraíba e do Ceará.
               
Jeremias da Rocha Nogueira funda a 17 de outubro de 1872 o primeiro órgão da imprensa de Mossoró, que se chamaria exatamente “O Mossoroense”. Esse jornal, em sua primeira fase, circulou até 1876, ajudado por José Damião de Souza Melo e Ricardo Vieira do Couto. Era um órgão ligado ao Partido Liberal de Mossoró, e como estampava em seu frontispício, “dedicado aos interesses do município, da província e da humanidade em geral”.
               
O comércio cresceu bastante nesse período. Em dezembro de 1872 Wilhem Defren, um alemão distinto, educado e de ameníssimo trato, abria casa de negócio e anunciava pela imprensa “que havia chegado uma remessa de prata em patacões para a compra de gêneros pelo que prevenia aos sertanejos que querendo-lhe dar a preferência nas vendas de couro e lã, pagaria na dita espécie”. Também já se confeccionavam roupas “no rigor da moda”. E quem desejasse uma calça bem feita ou um fraque “de gosto moderno”, ou uma sobrecasaca, era só procurar a “Casa de João Rodrigues Pará”, que ficava à Praça da Liberdade.
               
Raimundo Soares de Brito registrou em seu livro “Legislativo e Executivo de Mossoró – numa viagem mais que centenária”, um fato curioso havido nesse período: o delegado de polícia José Joaquim Seve foi preso “em nome da Opinião Pública” pelo abolicionista João Cordeiro.Segundo notícias que circulavam, o delegado “teria mandado dizer ao Chefe de Polícia que João Cordeiro havia proclamado a República em Mossoró”.
               
Luiz Manuel Filgueira faleceu em 1876. Desconheço a existência de alguma homenagem prestada pela municipalidade.
               
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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

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