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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Limões X Jesuino Achados do Cangaço da Família Limão


Por Epitácio de Andrade

“José Rodrigues de Barros ficou considerado como o patriarca dos Limões, porque se casou com Maria Rosalina da Conceição, irmã de Preto Limão”, assim afirmou José Alves Rodrigues, conhecido como “Zé Limão”, neto do “patriarca”, em entrevista a Epitácio de Andrade Filho, autor de “A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, no último dia 15 de dezembro, em sua residência no Bairro Paulo VI, na cidade de Caicó, na região do Seridó do Rio Grande do Norte.

  
No final do Século XIX, o Cearense José Rodrigues de Barros assumiu a liderança do Grupo étnico representado pela família Limão, principal algoz dos “Brilhantes”, ao se casar com uma irmã de Preto Limão, único sobrevivente masculino da família remanescente do conflito cangaceiro e comandante da emboscada fatal contra Jesuíno Brilhante, na Comunidade Santo Antônio, na zona rural de São José de Brejo do Cruz, na fronteira paraibana, em dezembro de 1879.

O Patriarca aos 100 anos 
Reprodução: Epitácio Andrade
 
A primeira imagem do “Patriarca dos Limões” foi resgatada pelos pesquisadores Emanoel Amaral e Alcides Bezerra de Sales, em 1981, quando levantavam dados para a elaboração da Revista “Jesuíno Brilhante em História de Quadrinhos”, na Comunidade Saco dos Limões, na zona rural do município de Patu/RN, terra natal do Cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844). A fotografia é datada do início do século passado e foi apresentada pelo neto José Alves Rodrigues, 60 anos, o mesmo membro da família Limão, que trinta anos depois, apresentou a fotografia do avô aos 100 anos (1963), para ser reproduzida pelo Escritor Epitácio de Andrade Filho.

Festa dos 100 anos do “Patriarca dos Limões” 
Reprodução: Epitácio de Andrade
 
No ano de 1963, a família Limão comemorou festivamente o centenário do Patriarca José Rodrigues de Barros, que nunca participou de atividades cangaceiras, mas teve a tarefa de proteger a família das possíveis recidivas do conflito, depois da morte de Jesuíno Brilhante, organizando inclusive, um esconderijo inexpugnável e recôndito, o “Saco dos Limões”. Na festa do centenário, o grande líder já não contava com sua companheira Maria Rosalina da Conceição, a Limão genuína, que faleceu com cerca de 50 anos, provavelmente no final da década de 20 para início dos anos 30 do século passado, e se encontra sepultada no cemitério de Catolé do Rocha, no vizinho estado da Paraíba.


Do casamento de Seu José Rodrigues Barros com Rosalina Limão, que moravam no Sítio Coroatá, na zona rural entre Patu e Almino Afonso, saíram vários filhos, entre homens e mulheres. O mais velho Antônio Limão migrou para o norte do país e lá permaneceu até a morte. Em 1888, nasceu Zé Limão, que foi fotografado por Emanoel Amaral aos 93 anos, no ano de 1981.

 
Zé Limão aos 93 anos 
Foto: Emanoel Amaral - 1981
 
Em 1898, nasceu Luiz Limão ou Luiz Catonho que se casou com Anelita Alves Rodrigues, afilhada de Valdivino Lobo, o mais abastado dos fazendeiros inimigos de Jesuíno Brilhante e coiteiro dos Limões na região do Catolé do Rocha e Brejo do Cruz, na fronteira paraibana. Em 1981, o pesquisador Emanoel Cândido do Amaral também fotografou Luiz Limão.

 
Luiz Limão aos 83 anos 
Foto: Amanoel Amaral - 1981
 
José Alves Rodrigues, Zé Limão, é filho de Luiz Catonho com Anelita Alves Rodrigues, e em 1981, acolheu Emanoel Amaral e Alcides Sales para prestar informações sobre a família Limão e posar para uma fotografia nas adjacências do “Saco dos Limões”, com seus filhos Ângelo Márcio e Marcélio Alves, que na época tinham sete e três anos, respectivamente.


Zé Limão com filhos Marcélio e Ângelo 
Foto: Emanoel Amaral - 1981
Coincidentemente, no dia 15 de dezembro de 2011, data da visita a residência de José Alves Rodrigues, em Caicó, estava completando 28 anos da morte de Seu Luiz Limão, que faleceu em 1983, e se encontra sepultado, juntamente com seu pai, o “Patriarca dos Limões”, no cemitério velho do antigo povoado da Caiera, hoje Almino Afonso, no Rio Grande do Norte.

Luiz Limão aos 75 anos 
Reprodução: Epitácio de Andrade
 
Seu Zé Limão, aos 60 anos, está na terceira geração posterior ao cangaço da segunda metade do século XIX. O seu pai, Luiz Limão com os irmãos, compõem a segunda geração pós-cangaçojesuínico, e o casamento do “Patriarca” com Rosalina Limão é o representante da primeira geração, imediatamente posterior ao cangaço dos Brilhantes com os Limões. Esta seqüência geracional pode ser observada no álbum familiar, exposto na sala principal da casa de Seu José Limão, em Caicó/RN.

A família Limão tem uma consciência pela preservação da memória muito acurada. Mantem sob sua guarda um acervo de fotografias, apetrechos, moedas, cédulas e armas, que segundo José Limão “pertencia aos antigos”. Em 1981, quando foi fotografado por Emanoel Amaral mostrava uma espingarda de caça, que preserva até hoje. Mesmo informando que é um objeto de 40 a 50 anos, a preservação é, por ele, justificada como lembrança do momento da pesquisa e como símbolo de que “os Limões faziam suas próprias armas”.

Espingarda fotografada em 1981 no Saco dos Limões – Patu/RN 
Foto: Epitácio Andrade
 
Contemporânea do período do Cangaço dos Brilhantes com os Limões (1870-1880), Seu Zé Limão apresentou uma faca, cujo cabo de madeira se desgastou ao longo de mais de uma centena de anos, sendo substituído por uma haste de aço, porém a grande lâmina de ferro fundido foi preservada.

Lâmina de uma faca do cangaço dos Limões 
Foto: Epitácio Andrade
 
Seu Zé Limão preserva uma cédula antiga, “do tempo do cruzeiro”, com a imagem de Duque de Caxias, para preservar a memória de que “os Limões resistiram ao recrutamento forçado para a Guerra do Paraguai”.

 Cédula de Cruzeiro com imagem de Duque de Caxias 
Foto: Epitácio Andrade
 
O acervo de moedas cunhadas em 1870 preserva a memória da proteção dos comboios do comércio primitivo do sertão, que era promovida pelos membros da família Limão, depois da aliança com os Lobos e os Lobatos, controladores da economia loco - regional. Não seria desnecessário afirmar que os Limões foram agentes pró-ativos de importantes lutas sociais, e como afirma Alicio Barreto em “Solos de Avena”, “é possível que voltaram ricos do quebra-quilos”.

Moedas do período do Cangaço jesuínico 
Foto: Epitácio Andrade
 
Com muita cordialidade e presteza o Aposentado José Alves Rodrigues (Zé Limão) e sua esposa Maria Emília Cordeiro Alves, que é da descendência de Jesuíno Brilhante, prestaram as informações solicitadas pelo pesquisador Epitácio Andrade e serviram café num bule datado do início do século passado.

Bule do início do séc. XX 
Foto: Epitácio Andrade
 
Igualmente gentil foi o filho de Seu Zé Limão, Ângelo Márcio, que tem total lembrança da visita feita por Emanoel Amaral e Alcides Sales no início dos anos 80 do século passado, ao “Saco dos Limões”.

Ângelo Márcio, Zé Limão e o Autor de “A Saga dos Limões” 
Foto: Josivaldo Araújo
 
Os próximos passos serão uma visita ao “Saco dos Limões”, na zona rural do Patu, ao Sítio São Francisco, no Catolé do Rocha, e uma entrevista com Manoel Catonho, para consolidar informações para a segunda edição ampliada de “A Saga dos Limões”.

*Epitácio de Andrade Filho é autor do livro "A Saga dos Limões – Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante”, Médico Psiquiatra e Pesquisador Social.

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LIVROS DO ESCRITOR GILMAR TEIXEIRA


Dia 27 de julho de 2015, na cidade de Piranhas, no Estado de Alagoas, no "CARIRI CANGAÇO PIRANHAS 2015", aconteceu o lançamento do mais novo livro do escritor e pesquisador do cangaço Gilmar Teixeira, com o título: "PIRANHAS NO TEMPO DO CANGAÇO". 

Para adquiri-lo entre em contato com o autor através deste e-mail: 

gilmar.ts@hotmail.com


SERVIÇO – Livro: Quem Matou Delmiro Gouveia?
Autor: Gilmar Teixeira
Edição do autor
152 págs.
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Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 (Frete simples)
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A EXPULSÃO DE LAMPIÃO - A "RESISTÊNCIA" - PARTE II

Por Juliana Holanda

A batalha em Mossoró entrou para a histórias a "resistência". O prefeito Rodolfo Fernandes e o delegado, tenente Laurentino de Morais, organizaram a defesa com cerca de cinquenta voluntários. A estratégia dos mossoroenses foi esvaziar a cidade e posicionar os homens armados em pontos altos e estratégicos, como as torres das igrejas.

Na tarde do dia 13 de junho, os cangaceiros entraram no município. Os bandidos foram surpreendidos pela "resistência". Conta-se que até São Pedro Mostrou que estava do lado dos mossoroenses e resolveu ajudar mandando chuva para atrapalhar a visão dos bandidos, que estavam lutando e céu aberto, enquanto os resistentes encontravam-se posicionados dentro de prédios.

Colchete foi o primeiro cangaceiro atingido e morreu no combate. Outra vítima importante foi Jararaca, bandido famoso pelas atrocidades cometidas junto a Lampião. O tiro acertou os pulmões de Jararaca, deixando-o gravemente ferido. Encurralado, o bando resouveu fugir. Mossoró estava a salvo.

CONTINUA...

Fonte: Revista BZZZ

Reportagem Histórias - Resistência a Lampião

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS


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Manchetes históricas A morte do matador de "Lampião"

Lampião e mais 10 cangaceiros foram assassinados no dia 28 de julho de 1938, na grota do Angico/SE. Participaram do evento as volantes comandadas pelo ten. João Bezerra, pelo aspirante Ferreira de Melo e pelo sgtº Aniceto.


Com relação ao soldado, que deu o primeiro tiro mortal no rei do cangaço, a maioria dos pesquisadores do tema, é uníssona no sentido de que foi o soldado Antonio Honorato (Foto), o autor do disparo, mas há quem pense de modo contrário.



O famoso jornalista “Melchiades da Rocha”, em sua brilhante obra " bandoleiros das caatingas " , narra em detalhes, todos os aspectos da morte de Lampião, inclusive salienta as entrevistas que fez com o soldado Honorato e demais membros das volantes, na época do famoso evento.

A revista Edição Extra, ano I, nº 13 de 09/09/1962, traz o seguinte título:

“Assassinado o matador de Lampeão”, e, como subtítulo " Quem com ferro fere, com ferro será ferido " , valeu para o terceiro sargento aposentado da volante".

 Aos 56 anos de idade residindo na capital Alagoana o veternao da PM foi assassinado pelo sobrinho de sua esposa, um jovem de 18 anos. 

Vejamos, logo abaixo, as fotos e o texto dessa importante matéria. Clique para ampliar

 Lampião e o sgtº Honorato.



 Honorato e jornalista Melchiades da Rocha,
examinando o fuzil que abateu Lampião.



 Clique para ampliar

Obs.:
A maioria dos pesquisadores/escritores do cangaço discorda que o soldado Honorato tenha ferido "Maria Bonita". Tal fato é "mais" atribuído ao soldado “Panta de Godoy”.


Créditos: Ivanildo Alves Silveira

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html

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NA TRILHA DO CANGAÇO UM ENSAIO FOTOGRÁFICO PELO SERTÃO QUE LAMPIÃO PISOU


Virgulino Ferreira da Silva, ou Lampião, Rei do Cangaço, nasceu em 1898 em Vila Bela, atual Serra Talhada, Pernambuco, e morreu na madrugada do dia 28 de julho de 1938, na fazenda conhecida como Angico, no município de Porto da Folha, em Sergipe. Passou metade de seus 40 anos no comando de seu bando de cangaceiros, com os quais percorreu os sertões de sete Estados: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, sendo os quatro primeiros banhados pelo Rio São Francisco. Justiceiro e herói para alguns e bandido sanguinário para outros, ele e sua companheira Maria Bonita constituem um mito que beira o religioso e se confunde com a lenda em todo o nordeste brasileiro.

A saga desse personagem polêmico da história brasileira é um dos episódios sociais mais instigantes da América do Sul. Nas últimas décadas surgiram, no Brasil, várias publicações de estudiosos do cangaço, que ora lhe dão uma aparência poética de justiceiro, de vindicatório do povo, ora o destacam como facínora.

Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Melo, “Lampião era pai e marido amoroso, e se deve a ele a introdução no cangaço do ofício religioso coletivo, das mulheres em caráter permanente, da logística dos equipamentos e suprimentos bélicos, da guerra psicológica”, e de muitas outras artimanhas necessárias para a sobrevivência na caatinga. Grande dançarino, o cangaceiro organizava com os seus coiteiros ao menos dois bailes semanais. O traje do cangaceiro tinha apuro ornamental. Cheio de cores vivas e harmoniosas nos lenços bordados, nos bornais e frisos das cartucheiras e nas perneiras. Também usavam muito perfume e muitos anéis. O chapéu, em estilo napoleônico, era coroado de moedas de ouro e prata.

Perseguidos sem tréguas durante cerca de vinte anos pelas forças de ordem de sete Estados do nordeste brasileiro, Lampião e seus comandados desbravaram e pilharam uma das regiões mais pobres do Brasil: o Sertão. Desafiaram não apenas as autoridades policiais e políticas do nordeste, mas, também, o poder central do Brasil. Aqueles que poderiam ser personagens de pouca envergadura, cuja zona de influência e cujo poder de novidade pareciam restritos a uma região miserável, foram, em seu tempo, os reveladores das falhas de um sistema político, econômico e social, da incapacidade do Brasil de forjar sua unidade, numa época em que a sociedade se acreditava moderna, unificada e coerente.

Sob o comando de Lampião – o "Senhor do Sertão" –, os cangaceiros assolaram a região de 1922 a 1938. Traído por um de seus companheiros, apanhado numa emboscada, Lampião, juntamente com sua mulher e nove de seus cangaceiros, encontraram a morte no dia 28 de julho de 1938. Todos foram decapitados, e suas cabeças transportadas de cidade em cidade e expostas em praças públicas, numa cuidadosa encenação.

Mas a morte desses homens, especialmente a de Lampião, foi contestada por boa parte da população do sertão, que acreditava – ainda hoje acredita – na invulnerabilidade de seus heróis. A poesia popular e as canções de gesta dos trovadores do nordeste apossaram-se desses personagens, exaltando sua bravura, seu destino trágico e seu senso de honra.

A Fotografia no Cangaço

Fato surpreendente para essa época, e em sua região onde a oralidade sempre predominou sobre o visual, os cangaceiros, assim como seus perseguidores, deixaram uma grande quantidade de documentos fotográficos, testemunhos indiscutíveis de um dos episódios mais violentos da história brasileira. Enquanto os predecessores ilustres de Lampião quase não deixaram registros, Lampião, durante todo o período em que dirigiu o cangaço e reinou sobre o sertão, fez questão de registrar, por meio de imagens fotográficas, alguns momentos fortes de sua vida.

Sob as roupas de Lampião, quando ele morreu, foi encontrada uma grande quantidade de fotografias. Algumas representavam pessoas mais próximas, outras representavam cangaceiros de seu grupo, mortos em combates precedentes; e, fato surpreendente, uma delas representava João Bezerra, seu assassino, como se Lampião tivesse carregado consigo o resumo de sua vida, desde sua juventude antes de entrar no cangaço, até sua morte anunciada, como se tivesse feito de seu corpo o suporte e o território de sua memória.

Em 1926, o Ceará vivia um clima de violência e de agitação política, causado pela Coluna Prestes. O Governo Federal apelou para os chefes políticos locais para defender cada região ameaçada, e criou milícias denominadas Batalhões Patrióticos. Aproveitando-se da notoriedade de Lampião, de seu conhecimento do terreno e da organização quase militar de seu grupo, chamou-o e incorporou-o a um de seus batalhões. As autoridades de Juazeiro prometeram-lhe a possibilidade de inserção na sociedade, e ele chegou a receber o título de Capitão – o que, evidentemente, não passava de uma mistificação. Nessa ocasião, ocorreu o encontro decisivo entre Lampião e Padre Cícero.

No dia 4 de Março de 1926, Lampião entrava em Juazeiro, impune, ovacionado como herói pela população local, recebido pelos notáveis da cidade como personalidade importante. Consta que mais de quatro mil pessoas teriam se deslocado para aclamar Lampião e seus 49 cangaceiros que, ao passar, distribuíram moedas, cartuchos e autógrafos à multidão, entoando “mulher rendeira”, seu hino de guerra.
Lauro Cabral, instalado em Barbalha, nas proximidades de Juazeiro, exercia a função de agrimensor e, paralelamente, a atividade de fotógrafo. Quando foi informado da chegada de Lampião e de seus homens à Barbalha, decidiu tirar fotografias “sensacionais”. Lauro Cabral propôs a Lampião fotografá-lo com seu grupo, o que muito surpreendeu o bandido. Ele insistiu, explicando-lhe que faria dele um homem célebre, distribuindo suas fotografias à imprensa de todo o Brasil.

As fotografias tiradas em Juazeiro são extremamente variadas. Algumas representam Lampião ao lado de seus irmãos e irmãs, alguns dos quais viviam em Juazeiro. Outras fotografias representam Lampião e seus cangaceiros em posição de combate apontando a arma para um adversário imaginário. As fotografias mais notáveis mostram Lampião trajando o uniforme dos Batalhões Patrióticos, porém usando o famoso lenço preso por um anel, o punhal e a bolsa bandoleira, que lembram que ele pertencia ao cangaço.

A estada de Lampião em Juazeiro, Ceará, em 1926, foi organizada pelo libanês Benjamin Abrahão.

A partir nos anos 1920, Benjamin se instalou, como comerciante, em Juazeiro, Ceará, e logo em seguida, tornou-se secretário particular de Padre Cícero. Foi coordenador de diversas audiências que o Rei do Cangaço concedeu a notáveis e personalidades da cidade, permitiu ao jornalista Otacílio Macedo entrevistar Lampião e organizou as sessões de pose com os fotógrafos Pedro Maia e Lauro Cabral. Nasceu nessa ocasião o projeto de fazer um filme documentário sobre Lampião.

A partir de 1934, Benjamin Abrahão exerce a função de coiteiro – fornecedor de armas e víveres. Faz muitas vezes o trajeto até Recife, com altas somas destinadas à compra de bebidas caras e munição e, em seguida, desaparece por um tempo no sertão. Essas atividades permitiram-lhe entrar, rapidamente, em contato com o grupo de Lampião e aprovisioná-lo. Tendo tecido laços de amizade com Lampião em Juazeiro, em 1926, não foi difícil ganhar a confiança do cangaceiro.
Após a morte de Padre Cícero, em 1934, Benjamin, desejando filmar e fotografar Lampião, aproxima-se de Ademar Albuquerque, negociante e proprietário da Abafilm – sociedade de difusão de filmes e de venda de material fotográfico e cinematográfico, instalada em Fortaleza. A sociedade Abafilm deveria ser encarregada da difusão do filme consagrado a Lampião em todo o Brasil e no exterior com o apoio da Zeiss – firma alemã de material fotográfico e óptico, instalada no Brasil desde 1920.

Mas, foi somente em 1936 que Benjamin Abrahão pôde concretizar seu desejo de filmar Lampião, após conseguir entrar em contato com ele por intermédio de José Cassis e outros coiteiros do grupo do cangaceiro. Esse filme em preto e branco e em 35 mm foi rodado na caatinga, de junho a outubro de 1936. Os cangaceiros foram filmados no ambiente em que viviam, em suma, em seu território. Por diversas temporadas no sertão, o cineasta viveu com o grupo de Lampião e filmou cenas da vida cotidiana destes.

O Diário de Pernambuco de 27 de setembro de 1926 publicou, em primeira mão, o testemunho de Benjamin Abrahão. Ele conta em que condições conseguiu encontrar Lampião, após uma espera de dezoito meses percorrendo os sertões da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e da Bahia, vivendo na caatinga e enfrentando diversos perigos. Em seu primeiro encontro, Lampião mostrou-se “homem de boas maneiras”, oferecendo-lhe uma refeição e conhaque. No entanto, o célebre cangaceiro continuava desconfiado, temendo uma armadilha ou uma traição.

Enquanto a imprensa do sertão evitava publicar comentários sobre esse personagem, na imprensa do litoral do nordeste e do sul do Brasil as reportagens sobre Benjamin Abrahão sucederam-se por vários meses, incluindo inúmeras fotografias, inicialmente acompanhadas de legendas curtas. Os primeiros artigos homenageavam o cineasta, sua bravura, seu senso de risco, e as fotografias pareciam estar lá para sustentar tais afirmações. Aos poucos, as legendas foram-se enriquecendo e tornaram-se verdadeiros comentários.

Vale a pena observar que Benjamin Abrahão fez questão de aparecer nessas fotografias em companhia dos heróis de sua reportagem. Sua presença lá está como uma assinatura, um certificado de autenticidade. A palavra pode ser posta em dúvida, mas a imagem é incontestável.

No entanto, como se a prova fotográfica não fosse suficiente, Benjamin Abrahão, por ocasião do primeiro artigo do Diário de Pernambuco consagrado à sua reportagem, datando de 27 de dezembro de 1936, declara possuir um certificado assinado por Lampião, atestando a sua presença ao seu lado:

“Ilmo Sr, Benjamin Abrahão

Saudações

Venho Ilhi afirmar que foi a primeira peçoa que conciguiu
filmar eu com todos os meus peçoal cangaceiro, filmando
asim todos us muvimento da noça vida nas catingas dus
sertões nordistinos.

Outra peçoa não conciguiu nem conciguirá nem mesmo eu
consintirei mais.

Sem mais do amigo
Virgulino Ferreira da Silva
Vulgo Capm Lampeão”

O certo é que o filme e as fotografias provocaram a irritação no Governo Federal e, em particular, ao Departamento de Imprensa e Propaganda. Finalmente, após a dura campanha do governo de Vargas contra seu filme, em pleno Estado Novo, e não podendo mais receber a proteção dos coronéis, também fragilizados, Benjamin Abrahão foi assassinado, em maio de 1938, em Águas Belas, atual Serra Talhada, em Pernambuco.

Uma das muitas explicações para o assassinato é que o cineasta, por intermédio de suas fotografias e de seu filme, havia feito de Lampião um personagem importante demais. No momento em que Getúlio Vargas exercia grande pressão sobre os chefes políticos locais, e esforçava-se para reduzir-lhes os privilégios, esse filme, que muitas vezes o comprometia, devia ser destruído. Era preciso, a qualquer preço, suprimir as provas de ligação entre a vida opulenta levada pelo grupo de cangaceiros e a corrupção dos poderes locais. Após a morte de Benjamin Abrahão, os rolos do filme foram apreendidos. Enquanto isso, os órgãos de imprensa apoderavam-se das fotografias, que passavam a representar provas incontestáveis da invulnerabilidade de Lampião.

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