Clerisvaldo B. Chagas, 24 de abril de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.870
Não havia
pontes em Santana. Quando o rio Ipanema botava cheia, o grande número de
mascates que negociavam nas feiras de Olho d’Água das Flores, Carneiros e Pão
de Açúcar, principalmente, não sabia como driblar o rio. Mas quando surgiram os
canoeiros que atuavam na parte mais larga do Panema, o poço do Juá, os mascates
passaram a utilizar as canoas que transportavam gente e todas as mercadorias.
Quando construíram a primeira ponte sobre o rio Ipanema, no local Barragem a 2
km do Centro, os caminhões de feirantes contornavam trechos do rio pela “Ponte
da Barragem”, pelo lugar Volta (volta do rio) desciam e subiam a ladeira até a
fazenda do senhor Marinho Rodrigues e que depois ficou conhecida como “a
fazenda de Dr. Clodolfo”, herdeiro de Marinho (próxima ao hoje hospital dos
SUS).
Entre os
proprietários de caminhões, estavam o senhor Plínio e o senhor José Cirilo. Os
mascates trafegavam para as feiras dos citados municípios acima, sentados sobre
as mercadorias e com as pernas para fora nas partes laterais dos caminhões. Nas
proximidades do destino, o motorista encostava no acostamento improvisado da
rodagem, subia para a carroceria e iniciava a cobrança da passagem. Às vezes,
ao retornarem à tardinha, das feiras, o valente riacho João Gomes não dava
passagem. Sem ponte ainda, era duro o transporte de mercadorias de uma à outra
margem (tipo baldeação forçada) e que depois iria ainda para o rodeio pela
fazenda do Dr.Clodolfo até a passagem da ponte da barragem construída em 1951.
As viagens dos
mascates, longe da monotonia, conversas animadas e piadas naquelas cargas de
homens, mas que havia também raras mulheres que viajavam na boleia ou mesmo na
carroceria quando não tinha vaga. As vezes surgiam cenas inusitadas pela
rodagem e as piadas saíam de mascates gaiatos, assim como Geraldo, vulgo
Rinchel. O transporte saía logo cedo e podia encontrar de tudo pelo trecho.
Assim, um homem praticando zoofilia com uma jumenta foi visto num recanto de
cerca e logo apontado por um dos passageiros: “Estar aplicando injeção na
bichinha!”. E o caminhão muito veloz cobrindo o mundo de poeira.
A ponte sobre o rio Ipanema, em 1969, minorou vigorosamente aquelas epopeias.
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