Há cento e
oitenta e nove anos nascia ANTÔNIO CONSELHEIRO. Antônio Vicente Mendes Maciel
nasceu em Vila Nova de Campo Maior (Quixeramobim), a 13 de março de 1830 — e
faleceu em Canudos-BA, a 22 de setembro de 1897. Ficou conhecido na História do
Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino",
foi um líder religioso brasileiro.
Figura
carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos,
um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos,
entre camponeses, índios e escravos recém libertos, e que foi destruído pelo
Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896. A imprensa dos
primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o
genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e
contrarrevolucionário monarquista perigoso.
O primeiro
folheto de cordel publicado sobre a Guerra de Canudos foi escrito pelo poeta paraibano João
Melchíades Ferreira da Silva, que participou da luta como militar e, naturalmente,
defende a versão divulgada pelo Exército Brasileiro. Posteriormente outros
poetas retornaram ao tema, fazendo a defesa de Conselheiro e sua gente. Caso do
poeta Geraldo Amâncio, que fez um livro magistral. O trabalho mais recente foi
escrito por ARIEVALDO VIANNA e BRUNO PAULINO e retrata duas facetas pouco
exploradas do beato ANTÔNIO DOS MARES, O PEREGRINO: a visão sebastianista e a
sua fama de milagreiro.
Vejam alguns
trechos:
Nós vamos
contar um fato
Que dizem ser
verdadeiro
Ocorreu em
Monte Santo
Com um Santo
Brasileiro,
(Tudo em
versos, se me entendes):
Antônio
Vicente Mendes
Maciel, O
Conselheiro.
O poeta
popular
Sempre amplia
seus estudos
Buscando novas
matérias
E melhores
conteúdos;
Depois de
leituras tantas
Encontramos
Paulo Dantas,
E um livro
sobre CANUDOS.
Num dos
capítulos do livro
Que é “O
CAPITÃO JAGUNÇO”
Deparamos com
uns fatos
Cujo relato
esmiunço
Da fama de
milagreiro
Que Antônio
Conselheiro
Tinha antes do
“furdunço”.
Nessa
peregrinação
Passou por
muitos lugares
Fazendo
igrejas, capelas,
Levando
conforto aos lares
Quando o beato
pregava
Muita gente o
chamava
De Santo
Antônio dos Mares.
Antônio
Vicente tinha
Uma visão
humanista
Pregou contra
a escravidão
Com sólido
ponto de vista
Devido a esses
sermões
Fundou
naqueles sertões
Um reino
Sebastianista.
Sebastião, o
Desejado
Foi um rei de
Portugal
Que promoveu
uma cruzada
No meio de um
areal;
Na batalha se
perdeu
Nunca mais
apareceu
Foi um drama
sem igual.
Grande
Lançamento na Noite de Abertura do Cariri Cangaço Quixeramobim 2019
Não foram poucos os aviadores estrangeiros que pereceram em voos durante a Segunda Guerra Mundial tendo Natal como destino ou ponto de partida. O caso de Kenneth Wayne Neese foi um desses.
Rostand Medeiros – Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
E a lista é grande…
Houve o caso de um bombardeiro bimotor Martin B-26 Marauder que aterrissou em pane em uma praia potiguar e o que sobrou da carcaça foi dinamitada. Na metade desse mesmo ano foi a vez de um bimotor Lockheed A-29 Hudson que decolou de Parnamirim e caiu no mar, com alguns objetos sendo recolhidos por um pescador de uma praia do nosso litoral norte. Houve outro bimotor, dessa vez um modelo Martin A-30 Baltimore, que caiu em janeiro de 1943 perto da praia de Pirangí. Ficou famoso o caso de um bombardeiro quadrimotor B-17 que caiu logo após decolar e se espatifou no que hoje é a região periférica do município de Parnamirim. Nesse último caso, devido a enorme quantidade de combustível, o clarão de suas chamas foi percebido pelos natalenses e ficou gravado na memória de muitos.
Voar naqueles tempos cruzando o vasto Oceano Atlântico era algo que verdadeiramente deixava atentos e preocupados os aviadores que vinha e passavam por Natal. Quando entrevistei o segundo tenente Emil Anthony Petr, da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF – United States Army Air Forces), para a realização do meu quarto livro “Eu não sou herói – A história de Emil Petr”, hoje esgotado, ouvi em detalhes sobre a preocupação de uma tripulação de um bombardeiro quadrimotor B-24 sobre essa travessia. Emil era o navegador e sua aeronave seguiu com destino ao sul da Itália. Para ele e seus amigos o voo foi tranquilo.
Ao menos quando uma aeronave caia no mar próximo a Natal e seus pedaços chegavam as nossas praias, ainda era possível saber (ou deduzir) o que aconteceu. Mas várias aeronaves e seus aviadores simplesmente sumiram, principalmente quando partiram de Natal em direção à África.
Assim foi o caso de um bimotor Douglas A-20B Havoc do 4th Ferrying Group que partiu de Natal em março de 1943 e antes de pousarem na ilha de Ascensão, ponto de parada e reabastecimento pertencente aos britânicos antes de chegarem ao continente africano, sumiu com seus três tripulantes para nunca mais serem vistos. Documentos mostram que após o desaparecimento de aeronaves em alto mar eram organizadas operações de buscas, as quais muitas tinham resultados totalmente negativos.
Essas travessias Atlânticas não era tarefa fácil, até mesmo para aviadores calejados e experientes, como foi o caso de Kenneth Wayne Neese.
Uma Vida Nos Céus
Esse piloto nasceu em 6 de dezembro de 1902 no Condado de Hamilton, estado de Iowa, no meio oeste dos Estados Unidos. Em 1922 sua família mudou-se para Fresno, Califórnia, onde Neese conheceu e se apaixonou pela aviação e seu primeiro emprego nessa área foi como mecânico de aviões à noite. Embora esse não fosse um trabalho particularmente interessante, proporcionou a Neese guardar dinheiro para comprar em 1924 a sua primeira aeronave, um biplano Curttis OX-5 Jenny. Isso lhe permitiu entrar no circuito de espetáculos dos circos voadores em todo o norte da Califórnia, onde aconteciam incríveis acrobacias aéreas e manobras espetaculares.
Logo para esse piloto voar não era a única preocupação, pois ele conheceu a jovem Mary Morford, que se tornou sua esposa em novembro de 1926. Um acréscimo à família veio no ano seguinte com a pequena Betty. Casado e com outras responsabilidades, em 1928 Neese tornou-se piloto chefe da empresa Consolidated Aircraft Corporation, em San Leandro, Califórnia, onde deu aulas de voo para estudantes em um avião biplano modelo Alexander EagleRock. Depois se tornou piloto de correio aéreo da empresa Varney Air Lines, antecessora da famosa United Airlines, percorrendo milhares de quilômetros em seus voos.
Voar naquele trabalho implicava seguir à noite sobre áreas montanhosas, sem instrumentos e tudo era muito perigoso. Em 7 de novembro de 1929, enquanto percorria por uma dessas rotas, Neese se envolveu em um terrível acidente com seu avião que lhe queimou suas pernas, pescoço e rosto, deixando cicatrizes duradouras. Ele foi puxado da aeronave em chamas por um fazendeiro. Depois disso ele decidiu que o correio aéreo era muito perigoso e que ele tinha uma família para dar apoio. Mas estranhamente decidiu ser piloto de corridas aéreas!
Esse tipo de atividade se tornou popular nos Estados Unidos, com corridas atravessando o país da costa leste para costa oeste. A ciência da aviação, a velocidade e a confiabilidade das aeronaves e motores cresceram rapidamente durante este período. Essas corridas aéreas eram tanto um campo de provas quanto uma vitrine para pilotos e aeronaves. Mas logo esse luxo de corridas ficou para trás devido ao triste e complicado período da grande depressão econômica ocorrida nos Estados Unidos, que se iniciou com a quebra da Bolsa de valores de Nova York em 1929. Diante da crise, com a Depressão em plena atividade, o frio estado do Alasca precisava de pilotos.
Kenneth Neese chegou nessa gelada região em janeiro de 1933 e trazia apenas um terno, sapatos sociais e nenhuma roupa de inverno! Quando ele saiu do trem em Anchorage seguiu foi até o campo de pouso em Merrill onde conheceu parte de um grupo de pilotos que igualmente foram para o Alasca durante a crise econômica. Logo se tornou um dos mais respeitados aviadores atuando no Alasca ao voar para a empresa Star Airlines, onde registrou 9.302 horas em seu diário de bordo, mais do que qualquer outro piloto no território.
Profissionais de Diferentes Origens
No segundo semestre de 1941, antes mesmo dos Estados Unidos participarem oficialmente da Segunda Guerra Mundial, Kenneth Neese foi convidado a ser um dos pilotos da empresa Pan American Air Ferries Ltd., em um serviço destinado a transportar aviões bombardeiros de Miami para a África e o Oriente Médio. Ele topou a parada e sua família deixou o Alasca e se mudou para a ensolarada Flórida, onde Neese treinou para poder pilotar aviões North American B-25 Mitchell, um bombardeiro médio bimotor, considerado um clássico da Segunda Guerra Mundial.
Em 1941 as coisas pareciam sombrias para os Aliados. Embora os Estados Unidos ainda não tivessem entrado na Guerra, seus líderes estavam ajudando principalmente os britânicos com a venda de aeronaves, no âmbito dos contratos chamados “Lend-Lease”. Os súditos do Rei Jorge VI haviam comprado todos os aviões em que puderam colocar as mãos. O grande problema era entregar essas aeronaves.
À Pan American foi ordenado levar aviões desde Miami até a Costa Oeste da África, via o norte e nordeste do Brasil e depois atravessando o Atlântico Sul. E esses pilotos tinham de agir sempre de maneira discreta, para evitar melindrar alemães e italianos e não gerar incidentes diplomáticos para os Estados Unidos, pois este país ainda era neutro.
Além do transporte de aeronaves, coube a Pan American a construção ou melhoria dos aeroportos ainda bem primitivos existentes na rota da África, principalmente na Nigéria e no Sudão, bem como os campos ao longo da rota para Cairo e Teerã. Também realizaram, através de subsidiárias e o apoio do governo brasileiro, o Programa de Desenvolvimento Aeroportuário (com a sigla ADP em inglês) nos aeroportos de Belém, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió, Salvador e outros.
Os tripulantes que participaram dos longos voos da Pan American durante os anos de 1941 e 1942 vivenciaram experiências incríveis. Havia alta aventura, altos salários e altos voos, além de uma chance de ajudar o esforço de guerra com o que eles poderiam fazer melhor – voar seus aviões.
Aparentemente nunca na história da aviação haviam reunido um monte de pilotos profissionais de tão diferentes origens. Entre eles estavam profissionais experientes de linhas comerciais, membros da reserva do exército, da reserva naval, aviadores que atuavam pulverizando áreas agrícolas, outros provenientes dos circos voadores e alguns tinham voando em várias partes da Terra, desde a China até Honduras. Além de gente que pilotava aviões em regiões bem inóspitas, como Kenneth Neese.
Morrer em Natal
Sabemos que Neese esteve pela primeira vez em Natal, no Campo de Parnamirim, em 28 de outubro de 1941, como parte de um pequeno grupo de três aeronaves. As outras duas eram pilotadas por A. Inman e Alva R. DeGarmo, conhecido como Al DeGarmo, um veterano de 42 anos e que pilotava desde 1920. Tiveram como destino Acra, atualmente a capital e maior cidade de Gana, mas que na época era uma colônia britânica conhecida como Costa do Ouro. Existe outro registro da passagem de Neese por Natal em 17 de janeiro de 1942, quando os Estados Unidos já participavam oficialmente do conflito. Ele veio acompanhado novamente do piloto Al DeGarmo e o destino foi igualmente para Acra.
Quase três meses depois, em meio a um crescente movimento aéreo sobre céus potiguares, Neese repete a parceria com Al DeGarmo e eles chegam a Natal em 12, ou 13, de março de 1942. O veterano piloto do Alasca está pilotando um North American B-25C-NA Mitchell, com a numeração de registro 41-12467. Junto com ele estão os tripulantes L. A. DeRosia, H. S. Jones e J. F. Anderson.
Não sei a razão, mas existe a informação que aquele deveria ser o ultimo voo de Neese, pois ele deveria assumir um trabalho no solo onde estaria encarregado de verificar a atuação de outros pilotos.
Em 14 de março o B-25, antes da decolagem, Neese jantou em Parnamirim com o coronel Jules Prevost e depois com seus homens decolou com sua B-25 de Natal em uma noite muito escura deixando. Esta decolagem noturna foi necessária devido às condições meteorológicas e de pouso no outro lado do Atlântico, mais especificamente na Libéria. No entanto não havia muitas luzes ao redor de Natal à noite para dar um horizonte visual e, imediatamente depois de passar a última luz da pista, Neese teve de voar por instrumentos. Existem registros que apontam, talvez por ainda não terem sido concluídas todas as obras no Campo de Parnamirim, sobre a periculosidade das decolagens noturnas em Natal, o que exigia um piloto bem treinado em voo por instrumentos.
O B-25C que Kenneth Neese pilotava se destinava a ser utilizado pela força aérea da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, também no âmbito dos contratos “Lend-Lease”. Mas Neese não deveria chegar a atual Rússia, seu ponto final era Teerã, capital do Irã, onde tripulações soviéticas assumiriam o avião e o levariam para combater as forças nazistas que haviam invadido aquele país.
As entregas de empréstimos americanos à União Soviética incluíram aeronaves, caminhões, tanques, motocicletas, locomotivas e vagões ferroviários, canhões antiaéreos e metralhadoras, submetralhadoras, explosivos, rádios, sistemas de radar, bem como gêneros alimentícios, aço, produtos químicos, óleo e gasolina. A partir de março de 1942, 128 aviões bimotores B-25C partiram da Flórida para serem entregues por via aérea através do Caribe, Brasil, atravessando o Atlântico Sul, a África e chegando ao Irã. Apenas quatro foram perdidos no caminho, entre eles o de Neese.
Sabemos por relatos da época que depois desse acidente, o coronel Prevost, que jantara apenas algumas horas antes com Neese, teve a desagradável tarefa de recolher seus restos mortais e de sua tripulação, sendo depois enterrados no Cemitério do Alecrim.
Sobre esse acidente existem informações contraditórias sobre a sua localização. Aparentemente foi próximo ao litoral e a aeronave teria batido em uma “colina” (Qual?), ou em uma posição a “cinco milhas a nordeste de Natal”, mas sem detalhamentos. Algumas fontes apontam que o avião caiu no mar, mas isso parece improvável, pois outras fontes informam que a tripulação foi enterrada no Alecrim e existe a notícia que o corpo de Neese foi transladado para os Estados Unidos depois da guerra e enterrado no Belmont Memorial Park, na cidade de Fresno, Califórnia.
“Um decreto brasileiro datado de 9 da abril de 1980 instituiu no país a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, bem como o Dia do Bibliotecário. Por este motivo, o dia 9/4 é conhecido como o Dia da Biblioteca”. Em Santana do Ipanema, Alagoas, chama atenção do historiador sobre a fundação da biblioteca municipal. É que o então, prefeito Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão – como ele próprio dizia – era homem de poucas letras. Mesmo assim fundou a Biblioteca Pública Municipal no primeiro ano da sua gestão, em 4 de outubro de 1948. Portanto a nossa Biblioteca estará completando 71 anos de existência no próximo mês de outubro. Interessante é que a Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas já se prepara para homenagear a data histórica.
Uma vez fundada, a biblioteca de Santana do Ipanema passou a funcionar em uma das salas da prefeitura. Em seguida foi para o primeiro andar de um prédio alugado no centro comercial. No térreo funcionava a loja de tecidos Casa Esperança, de Benedito V. Nepomuceno. Após muitos anos, a biblioteca subiu novamente a avenida principal e foi parar à frente da prefeitura, precisamente no primeiro andar da Cooperativa Agrícola de Santana do Ipanema – CARSIL. Continuando sua trajetória, a biblioteca retornou ao Comércio, indo para o primeiro andar do conhecido Prédio da Esquina, lugar onde funcionara por muitos anos o Hotel Central de Maria Sabão. Tempos depois, a caminhante biblioteca mudou-se para o prédio defronte, onde funcionaram os bancos PRODUBAN e Brasil. Depois, passou a funcionar nos fundos da CARSIL. Parece que finalmente encontrou a paz: hoje atende sua clientela na Casa da Cultura, edifício próprio do município.
Seus frequentadores tinham o direito de levar um livro para leitura em casa por um prazo de 15 dias. Era preenchida uma ficha com nome do livro e autor, data de empréstimo, devolução e mais assinatura. Podia-se renovar o empréstimo do próprio livro ou de todos os das estantes. O silêncio na sala de leitura era cumprido rigorosamente e, o atendimento dependia da paciência, amor à causa e educação da bibliotecária.
Confins são lonjuras, são fins de mundo, são distâncias, são escondidos de além. Confins são lugares extremos, são fronteiras de existência, são localidades distantes e desconhecidas ou pouco conhecidas. Confins são terras, lugares ou povoações, pouco visitadas e, por isso mesmo, permanecendo com feições eternizadas no antigo e no antigamente. Os confins dos sertões seriam exatamente aqueles pouco conhecidos sertões.
Nos confins dos sertões, o tempo parece vagarosamente passar, ou simplesmente nunca passa. O novo é tão antigo que nada parece mudar. Os costumes passados de geração a geração continuam como se naquela primeira gestação. O mundo lá fora pouco importa aos confins, eis que tudo vive e se basta no seu próprio interior. As notícias que chegam dizem apenas do próprio povo, dali de perto ou de mais adiante. O artista é o homem da terra, a novela é a página da vida, o novo é o que está feito naquele momento, apenas.
A mesma poeira parece despontar todos os dias da mesma curva da estrada. As folhas secas que esvoaçam certamente que são as mesmas folhas secas de outros outonos. Nada muda, nada parece mudar. A ventania possui um sopro conhecido demais. O vento, e sempre o mesmo vento, só falta mesmo dar bom dia e boa tarde aos moradores. Conhece as janelas e portas, conhece ruas e estradas, sempre se nega a soprar demais durante a batida de feijão ou do peneiramento do café batido em pilão.
Antes da chegada, nenhum ronco de veículo. Nunca um carro apontou na última curva da estrada e antes de chegar perante a igrejinha de barro batido. Motocicleta por ali seria vista como uma estranheza do mundo. Quanto o poeirão levanta na estrada, logo já sabem da chegada ou da partida de animais. Para ir de canto a outro somente no lombo do cavalo, do jegue ou do burro. Também há carro-de-boi e pé afoito para seguir caminho. Um povo que nunca cansa. Desde o madrugar ainda escurecido que os ofícios simples começam a ser exercidos, sempre envolvendo a lida com a terra.
Pelo ar, os cheiros próprios dos confins tomam conta de tudo e se espalham pelos arredores e mais adiante. Cheiro de cuscuz ralado no fogão de lenha, cheiro de carne assada por cima das brasas, cheiro de ovos passados na banha de porco, cheiro de café torrado e batido em pilão borbulhando na chaleira. Que cheiro estranho e tão corriqueiro do rapé passando de nariz a nariz, do fumo no cigarro de palha, da casca de pau derramada no copo e virada num gole só. Cheiro de barrufo de terra na chegada da chuva. Cheiro de estrume de curral e do couro da sela e do gibão.
Vida mansa, leve, andante sem pressa. Um tamborete na calçada, um tronco de pau na malhada, uma rede espalhada na sala pro menino deitar. Amigos proseiam debaixo dum pé de pau enquanto uma mocinha vai passando com feixe de lenha na cabeça. Senhoras levam sacos de pano para lavar no riachinho e amigas conversam enquanto varrem as calçadas de areia. Não há praça, não há banco de praça, não há calçamento algum. Tudo um descampado só, entremeado de moradias rústicas, rotas, na singeleza do mundo. Casebres de barro e cipó, telhados de palhas, quintais que se confundem com a mataria.
Seu Totonho diz a Bastião: “Pois é cumpade, ansim mermo a vida. Mió mermo é que o mundo de lá fora num venha aqui pa dento. Num sei nem o que acuntece lá fora e nem quero saber. Como do meu feijão, do meu mio, da minha batata, da minha melancia. Munta caça ainda tem pur aqui, preá do bom e mocó tomem. Deixe os bicho de cria se criar, a num ser que seja um bodinho, uma cabra, um porco. Entonce tem de ser a mistura do feijão com farinha. Adespois nóis num tem essa peorcupação das cidade grande. Nóis frome inté de porta aberta, na fresca boa e sem ninguém atrapaiá o cochilo. Riqueza é essa, a da paz e do sossego. Nunca vi ninguém que arribou daqui pa despois vortá e dizer que lá fora é mió. Se aqui é mió, entonce que a gente viva aqui. Num é mermo cumpade?”.
Doença pouca, remédio muito. E tudo do quintal mesmo, do mato, da sabedoria matuta. Fartura de boldo, hortelã, mastruz e muito mais. Também as velhas rezadeiras e benzedeiras que vão afastando os malefícios do corpo e limpando os espíritos para as lidas do dia a dia. Bastam três raminhos de mato e muita coisa ruim é afastada do corpo. As mãos velhas e hábeis vão passando os ramos pela cabeça e corpo, sussurrando velhas orações e rezas fortes, e depois basta jogar fora o mato já totalmente seco. Os ramos secam e esturricam por que chamaram para si as mazelas existentes na pessoa, daí o definhamento repassado.
Assim a vivência nos confins dos sertões. E nada de ficção. Ainda existem muitas comunidades e povoações vivendo assim, como se traçando seus destinos e sinas.
Coletânea
(fragmentos) de depoimentos de ex-cangaceiros(as) colhidos dos seguintes
documentários: A mulher no cangaço, A musa do cangaço, O último dia de Lampião,
Fatos, Candeeiro-Manuel Dantas Loiola, e Sila - Ilda Ribeiro de Sousa.
As sete letras
que formam a palavra “amizade”, cujo termo é de origem latina, vem de “amicitia”,
significando dedicação, benevolência e sentimento de que é “amigo”. Apresentando
como características fundamentais: escolha e/ou eleição e fidelidade. Assim sendo,
amizade representa justamente um sentimento de escolha, pelo fato de distinguir
direta e indiretamente uma pessoa e/ou individuo dentre os demais, o que significa
dedicação em termos de atenção, bem como despertando interesses especiais. De modo que
esse interesse no que se refere à outra pessoa para se puder construir uma verdadeira
amizade, jamais poderá ser algo “instável” e/ou passageiro. Portanto, para que exista
realmente uma amizade entre pessoas e/ou indivíduos, se faz necessária a característica
fundamental da permanência, algo “estável” para que se possa a partir de então se
constituir e/ou construir a fidelidade. Sem isso nada feito, não passa de
ilação ocasional
diante de fracassos e/ou derrotas do ciclo vivencial e/ou existencial pelo qual passam todas
as pessoas e/ou indivíduos em suas construções mentais dentro das realidades em
que estão expostas em qualquer parte do mundo. A felicidade é algo construído de
dentro para fora de cada pessoa e nunca de fora para dentro dos indivíduos. A
amizade não pode ser confundida com mera válvula de escape de pessoas ou indivíduos
aflitos diante de seus problemas pessoas emocionais, sociais, educacionais,
profissionais e familiares. Não é uma porta de refúgio.
E até porque
aquilo que chamamos costumeiramente de amizade deve ser compreendido como sendo o
fruto mais puro e/ou limpo e/ou espiritual de nossa liberdade, pois, jamais estará como
aquilo que chamamos de “amor”, sempre sujeito a fatores sexuais. Vale apenas
dizer que a amizade entre amigos não existe condicionamento de quaisquer espécies, uma
vez que isso implica em igualdade de condições, haja vista que tem como fundamento
basilar afinidades múltiplas e profundas, caminhos parecidos e nunca iguais. Diante
disso, jamais sobreviverá uma amizade envolvendo situações de disparidade de
gostos e/ou meio social das pessoas e/ou indivíduos envolvidos. Amizade não é
um brinquedo que se compra na loja mais próxima.
Não é por
acaso que a amizade deve estar ligada direta e/ou indiretamente a algo lúcido, portanto,
lucidez desinteressada, evitando assim a lisonja que de uma forma direta e/ou indireta,
repetimos, isso só destruirá rapidamente aquilo que chamamos de igualdade entre as
pessoas e que inevitavelmente vai cair na zona e/ou fosso de interesse e/ou conforto e/ou
desconforto, de vitória e/ou de derrota e da utilização e/ou uso da outra pessoa e/ou
individuo, como por exemplo, a linha e/ou tese dos moralistas céticos de La Rochefoucauld
(1613-1680) ao filósofo, esquerdista, escritor e crítico Jean-Paul Charles Aymard Sartre
(Paris, 21 de junho de 1905 — Paris, 15 de abril de 1980), representante do
existencialismo, que acreditava que os intelectuais (homens de letras) têm que desempenhar
papel ativo dentro da sociedade.
Em síntese,
podemos dizer que aquilo que chamamos de amizade, precisa existir uma harmonia entre
os amigos, porém, uma vez perdida tal harmonia, na base do disse me disse, jamais
poderá ser encontrada e/ou substituída. Tudo aqui é baseado justamente na eleição e/ou
escolha mútua, jamais poderá ser explicada pelos amigos envolvidos, de modo que
geralmente, não sabem as razões da ligação afetiva existente entre ambas as partes
existenciais. Isso quer dizer que a escolha de amigos é algo muito espontânea,
e ainda continua
sendo assim. Não se compra amigos e/ou amigas na padaria da esquina. Apenas a
titulo saudosista, podemos, relembrar, por exemplo, do que acontecia até pouco tempo
(da década de 80 do século XX para cá vem desaparecendo totalmente), onde os pais
motivavam os filhos a freqüentarem os mesmos colégios, faculdades, clubes ( por
exemplo na Paraíba – João Pessoa: Cabo Branco e/ou Astreia; em Santa Rita: Tênis
Clube e/ou Santa Cruz, etc., pelo mundo e pelo Brasil afora) que eles freqüentavam
e/ou freqüentaram, para lá encontrar gente de famílias tradicionais do mesmo nível e
valor moral, social e intelectual, para daí nascerem as amicitias.