Por Kydelmir Dantas (*)
COCO: Ritmo comum do litoral do
nordeste apareceu como dança no século XVIII. Em geral bastam um pandeiro ou um
ganzá para marcar o ritmo, que é mantido pelo som de palmas, e se forma em moda
de cantadores e dançadores (Nova História da MPB, 2a Edição - 1977 - Ed. Abril
Cultural).
Segundo Manezinho Araújo, o Coco originou-se no Quilombo dos
Palmares, onde os negros passavam horas quebrando coco e cantando na cadência
das batidas da casca, dessa fruta, nas pedras. A forma obedece ao compasso 2/4
e 4/4.
As variações baseiam-se em vários critérios, como:
- O lugar:
Coco-de-pedra, Coco-do Sertão, Coco-de-roda.
- Instrumentos Utilizados:
- Coco
de Ganzá = Tipo de chocalho.
- Coco de Zambê = Instrumento de Percussão.
-
Coco de Mungonguê = Espécie de tamborim.
- Versos Usados: Coco Agalopado, de
Sétima, de Embolada, etc.
Porém, o mestre Câmara Cascudo, no seu Dicionário do
Folclore Brasileiro ressalta que, mesmo com toda a influência Africana a
disposição coreográfica coincide com as preferências dos bailados indígenas,
especialmente os Tupis da costa brasileira.
Mesmo sintetizando em poucas linhas
o Coco, não poderíamos deixar de falar no seu maior representante, nos dizeres
de Pinto Carneiro, um dos mais ecléticos cantadores do Brasil, que a tudo
interpretava com habilidade de Mestre. Era o protótipo do homem do mato,
simples, alegre e inteligente, era JACKSON DO PANDEIRO.
Nascido em 31 de agosto
de 1919 e batizado de José Gomes Filho, recebeu influência total de sua mãe
Dona Flora Mourão, como era mais conhecida Flória Maria da Conceição, a mais
requisitada “Tiradora de Coco”, das festas de Alagoa Grande, na Paraíba, que
cantava e tocava ganzá, acompanhada por outra pessoa no zabumba. Aos 8 anos de
idade ele pegou num zabumba pela primeira vez e passou a acompanhar a mãe nas
suas apresentações.
Após a morte de seu pai a família foi morar em Campina
Grande e o menino foi trabalhar numa padaria. Aos 17 anos, ele substituiu o
baterista de um conjunto musical que se apresentava no Clube Ipiranga,
tornando-se instrumentista desse grupo. Na década de 40 foi morar em João
Pessoa e tocou em vários cabarés, até que em 1946 foi contratado pela Rádio
Tabajara, onde começou a se projetar como ritmista no pandeiro, era conhecido
por Zé Jack, devido a sua figura magra lembrar o ator americano de filmes
faroeste Jack Perry, e em 1948 foi trabalhar na rádio Jornal do Comércio, de
Recife (PE), adotando o nome artístico que ficaria famoso, Jackson do Pandeiro,
e fazendo dupla com Rosil Cavalcante, de Macaparana (PE).
O primeiro disco
gravado, pelo selo Copacabana, foi em 1953 onde ele canta um dos seus maiores
sucessos: “SEBASTIANA”, de Rosil Cavalcanti, juntamente com “FORRÓ EM
LIMOEIRO”, de Edgar Ferreira.
A partir daí, já conhecido em todo o país, vieram
outras gravações que se tornaram sucessos: “Cabo Tenório” e “Moxotó” (Rosil
Cavalcanti); “Forró em Limoeiro” e “1 a 1” (Edgar Ferreira); “O Canto da Ema”
(Aires Viana, Alventino Câmara e João do Vale); “Como Tem Zé na Paraíba”
(Manezinho Araújo e Catulo de Paula); “Chiclete Com Banana” (Gordurinha e
Almira Castilho) e mais um rosário de boas músicas, com letras irreverentes ou
não, que o fizeram conhecido como cantor. Porém Ele também compunha: é que uma
boa parte de suas composições Jackson colocava em nome de Almira Castilho, sua
parceira e esposa de 1959 a 67. Citando algumas composições suas mais
conhecidas, temos: “Na Base da Chinela” (JP & Rosil Cavalcanti); “Aquilo
Bom” (JP & José Batista); “Cantiga da Perua” (JP & Elias Soares); “Cabeça
Feita” (JP & Sebastião Batista) etc.
Muitos dos grandes nomes da MPB se
disseram influenciados por Jackson, ou gravaram músicas que foram sucesso com e
do mesmo: Alceu Valença, Caetano Veloso, Gil, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Elba
Ramalho, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Chiclete com Banana; temos na Paraíba
um cantor/poeta que é um dos seus mais fiéis seguidores, Biliu de Campina,
fazendo o mesmo que o Mestre fazia: a “divisão”, ou seja, dividir os versos
ritmicamente usando a voz como um instrumento de percussão. Hoje, após 76 anos
do seu nascimento, as palavras do Rei do Ritmo continuam proféticas, para os
que lutam e defendem a Música Popular Brasileira:
“- Mesmo com a perseguição da
música estrangeira, eu aguentei a barra durante 12 anos. Eu e o Luiz Gonzaga.
Nunca parei de fazer gravações.”
“Sua Figura rude não sofreu qualquer
transformação, de Alagoa Grande-PB - onde nasceu - ao Rio de Janeiro, onde
conheceu os lauréis da glória.” (Pinto Carneiro).
Amém, JACKSON DO PANDEIRO,
amém! (*) Escritor, poeta, sócio da SBEC.
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