Por José Mendes Pereira
Caro amigo e irmão Antonio Galdino da Costa, há meses que eu nada escrevo sobre a antiga “Casa de Menores Mário Negócio”, mas hoje, resolvi voltar ao tempo, aliás, ao ano de 1965, quando esta instituição deixou de ser “Casa de Menores Mário Negócio”, para ser registrada com o nome de “Instituto Mário Negócio”, ligado ao “SAM – Serviço de Assistência ao Menor”, que posteriormente, passou para “FEBEM”.
Quero apenas lembrar do amigo José Lira (Zé Lira), (segundo Jorge Braz e Railton Melo o Zé Lira já faleceu), com menos de 12 anos chegou na instituição, neste mesmo ano de 1965, vindo de Natal para Mossoró, na grande passeata política que fez o então governador Aluízio Alves, tentando angariar votos para eleger o seu candidato ao governo do Estado do Rio Grande do Norte, o Monsenhor Walfredo Gurgel, tendo sido eleito e iniciando o seu mandato no dia 1º. de janeiro de 1966 a 15 de março de 1971.
O Zé Lira que ninguém soube o “porquê” de sua saída de Natal para Mossoró, aqui, tinha como residência, embaixo da escada de concreto do prédio do "Cine Cid", onde funcionava a Rádio Tapuio de Mossoró, e que foi encontrado por populares, e assim que o juizado de menores tomou conhecimento daquela criança sem pais e sem familiares, levou-a para ser protegida pela instituição, que lá, nós também éramos internos.
Lembro-me muito bem o dia em que o Zé Lira chegou àquela instituição, estava mais parecido com um animal, do que com uma criança, de tão sujo, com o rosto caracterizando ferrugens, sem chinelo, camisa toda cheia de buracos e imunda, calção velho e rasgado, o cabelo enorme e bastante arrepiado.
Fui eu encarregado de cortar o seu cabelo, apesar que eu não era funcionário de
lá, e sim, interno, mas como o profissional deste trabalho, o Pascoal havia
viajado para Natal, fui incumbido pela diretora Ana Salem de Miranda (dona
Caboclinha), para cortar aquele enorme cabelo, com uma tesoura cega e uma máquina antiga, e depois, passei a navalha, que apenas, passeava sobre o couro
grosso da cabeça daquela criança.
Acho que ele nunca mais havia tomado banho, pelo tamanho da sujeira, e cheio de piolhos em toda a sua madeixa, calculava-se sem errar, os meses sem banhar o seu corpo.
Apesar de não ter família o Zé Lira foi protegido pela instituição, e o encaminhou para a indústria, passando a aprender a atividade gráfica, deixando-o capacitado para esta atividade. Antes dos boatos que surgiram da sua morte, tínhamos notícias que ele andava meio adoentado, e residia lá para as bandas do Alto do Xerém, e que não mais andava, porque estava dependente de uma cadeira de rodas.
Muito antes do falecimento de Raimundo Feliciano, ele e eu combinamos para fazer-lhe uma visita, mas infelizmente o Raimundo faleceu. Antes da morte do Raimundo visitamos seu Néo, Terezinha Gurgel, Wilame e outros mais, mas não foi possível ver o Zé Lira ainda vivo.
Eu soube do seu falecimento através do Jorge Braz e do Railton Melo.
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