Por Honório de
Medeiros
O quê Jararaca
queria conversar em particular com o Coronel? Por que ele foi assassinado na
noite seguinte ao pedido? Há alguma relação entre um fato e outro?
Façamos um
intervalo e nos dediquemos a analisar o episódio da morte de Jararaca, que é
bastante revelador. Sérgio Dantas nos conta, acerca do episódio, o seguinte:
(…) “no mesmo
dia em que fora preso, Jararaca concedera bombástica entrevista ao jornalista
Lauro da Escóssia, do noticiário “O Mossoroense”. Não mediu palavras.”
Mais a frente,
continua o historiador:
“Jararaca
pisou em terreno minado. Logo percebeu que tornara pública parte de uma teia
intocável. Suas incisivas declarações puseram em dúvida a probidade moral de
destacados chefes políticos de estados vizinhos. A repercussão das declarações,
claro, fora inevitável. Decerto, o bandido temeu pela própria vida. Pressentira
algum perigo. Chamou um militar, ainda cedo da tarde. Expressou-lhe o desejo de
falar em particular com o Intendente Rodolpho Fernandes. O pedido, no entanto,
lhe foi negado sem maiores explicações. A caserna tinha outros planos para o
cangaceiro. À surdina, ensaiou conspiração. Tramaram abjeto extermínio e
apostaram no sigilo. Sem mais demora executou-se o plano.”
Em tudo e por
tudo está certo Sérgio Dantas.
Somente errou
ao afirmar que as declarações de Jararaca puseram em dúvida apenas a probidade
moral de chefes políticos de estados vizinhos e por essa razão temeu pela
própria vida.
Não colocou
Jararaca em dúvida somente a probidade moral de alguém fora dos limites de
Mossoró ou circunvizinhança. Por certo sabia que esses chefes políticos tinham
amigos poderosos em Mossoró e vizinhança. Colocou sim, provavelmente, em dúvida,
a probidade moral de alguns próceres que estavam próximos, bem próximos ao
Coronel Rodolpho Fernandes e aos fatos.
Jararaca teve
“pena de morte” decretada e terminou sendo executado (Foto: reprodução)
Como seria
possível as declarações de Jararaca chegarem ao Ceará, se a alusão for ao
Coronel Izaías Arruda, com a rapidez necessária para que ele, ao perceber que
falara demais, ficasse com medo de morrer? Naquele tempo não havia telefone.
Havia telégrafo, que não estava funcionando no sentido do Sertão, danificado
pelo bando de Lampião.
Quem, no
entanto, enviaria informações comprometedoras pelo telégrafo e, através dele,
discutiria um plano para a eliminação do cangaceiro que envolvesse a Polícia,
comandada pelo Tenente Laurentino de Morais e o Governo do Estado do Rio Grande
do Norte? Não parece óbvio que se houve o plano, necessariamente também houve a
participação de quem pudesse mobilizar, no Rio Grande do Norte, em Mossoró,
essas instituições?
Também não
seria possível enviar, a cavalo ou de automóvel, notícias alusivas à entrevista
de Jararaca para os estados vizinhos, em tempo suficiente – cinco dias – para
que houvesse uma decisão acerca de sua eliminação pela Polícia do Rio Grande do
Norte.
Não.
O que Jararaca
disse e o que queria dizer ainda mais ao Coronel Rodolpho Fernandes
provavelmente incomodou alguém ou alguns que estavam por perto, perto o
suficiente para querer, planejar, decidir, e mandar mata-lo.
Atribuir tudo
isso ao Coronel Izaías Arruda é dar a ele um interesse e poderes que vão além
do razoável.
Finaliza o
pesquisador Sérgio Dantas:
“Jararaca
sucumbira. Morreu porque sabia demasiado.”
A seguir:
“Findou o
terrível salteador nas primeiras horas da manhã. Sua morte, entretanto, já
havia sido decretada há dias. O laudo do exame cadavérico, por exemplo, fora
assinado ainda na tarde do dia dezoito. E assim foi. Horas antes da execução e
sob escuso pretexto de rotina, examinavam-se ferimentos de um corpo, sofridos
durante uma batalha. Logo depois se chancelava, com base em conclusões
médico-legais, documento de óbito de homem ainda vivo.”
FONTES:
“LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”; DANTAS, Sérgio Augusto de Souza; Cartgraf –
Gráfica Editora; 2005; 1ª edição; Natal; RN.
Honório de
Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do
Estado do RN.
http://www.caldeiraodochico.com.br/a-sombra-de-jararaca-por-que-jararaca-pediu-na-tarde-que-antecedeu-a-sua-morte-para-falar-com-rodolpho-fernandes/
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