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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

COM 62 BARCOS E MAIS DE 10 MIL A BORDO, A FAMÍLIA REAL FUGIU DE PORTUGAL PARA O BRASIL

Por André Luis Mansur
Chegada de D. João VI a Salvador, de Cândido Portinari Foto:Reprodução

O trajeto foi cheio de percalços, incluindo uma epidemia de piolhos que obrigou a princesa Carlota Joaquina a raspar a cabeça.

Se atravessar o oceano num barco à vela até hoje exige uma senhora coragem, imagine 200 anos atrás. No início do século 19, cruzar o Atlântico era um desafio repleto de perigos. Principalmente, levando-se em conta que os navios usados na mudança da corte para o Brasil, em 1807, eram verdadeiras “latas-velhas” – desconfortáveis, vulneráveis no caso de combate e carentes de reparos.


Ainda naquele 29 de novembro, dia da partida de Lisboa, a esquadra portuguesa – composta por 19 navios – encontrou-se com a frota britânica que a escoltaria até o Brasil – outras 13 embarcações. Essa deve ter sido uma cena monumental, de ficar gravada para o resto da vida na memória de quem a testemunhou: 32 barcos de guerra, mais uns 30 navios mercantes, preparando-se para a travessia oceânica. Às três horas da tarde, o comandante da Armada britânica, Sidney Smith, ordenou uma salva de 21 tiros de canhão. Estava marcado o início da penosa jornada da família real em direção à colônia.

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quarta 7 março, 2018
sábado 1 março, 2008

Rico sofre

Algo entre 10 mil e 15 mil portugueses – cerca de 5% da população do país – estavam embarcados naqueles navios. Na maioria, era gente importante, muito afeiçoada aos luxos da nobreza. No Afonso de Albuquerque, navio em que viajava Carlota Joaquina, uma infestação de piolhos obrigaria todas as mulheres – incluindo a princesa – a raspar o cabelo. Ratos eram abundantes nas embarcações, o que só aumentava o risco de uma epidemia. Por causa da alimentação precária, distúrbios intestinais tornaram-se comuns. Para os nobres portugueses em fuga, a situação não poderia ser mais constrangedora.

Dom João e sua mãe, a rainha Maria I, estavam no navio Príncipe Real – acompanhados de Pedro e Miguel, os dois filhos do príncipe regente com Carlota. Quatro das seis filhas do casal viajavam com a mãe, no Alfonso de Albuquerque. E as outras duas filhas seguiam no Rainha de Portugal. Ainda havia uma tia e uma cunhada de dom João, embarcadas no navio Príncipe do Brasil.

Navegação arriscada

No dia 8 de dezembro, perto da ilha da Madeira, uma violenta tempestade fez estragos consideráveis. Na esquadra portuguesa, mastros foram quebrados e velas, rasgadas. A péssima condição de visibilidade obrigou as embarcações a parar, sobretudo porque aquela era uma área de navegação arriscada, cheia de rochedos submersos. A frota dispersou-se e uma parte dela seguiu direto para o Rio de Janeiro. Alguns navios britânicos já tinham voltado para a Europa, a fim de reforçar o cerco à Lisboa, invadida por tropas de Napoleão.

Representação da saída da frota em direção ao Brasil Wikimedia Commons.

Quando as esquadras alcançaram a linha do equador, novo imprevisto: uma calmaria tornou a frear o avanço, submetendo passageiros a dias de sol escaldante. Casos de insolação e desidratação multiplicaram-se. Até que a calmaria se foi, a viagem seguiu e 1807 chegou ao fim – uma triste passagem de ano para a corte portuguesa.

Cajus e Pitangas

Depois de tanta carne seca e biscoito, imagine qual não foi a alegria de dom João e sua comitiva ao avistar, já bem perto da costa brasileira, um pequeno barco não identificado. Era o Três Corações, um bergantim enviado por Caetano Pinto de Miranda, então governador de Pernambuco, para dar as boas-vindas à Coroa portuguesa. Dentro dele, um carregamento de frutas tropicais, como cajus e pitangas, e muitos recipientes com refresco. Aquele certamente foi um momento de glória – dom João e seus asseclas tirariam a barriga da miséria.

Àquela altura, o príncipe regente já havia determinado que o destino da frota seria Salvador, e não o Rio de Janeiro. Em 23 de janeiro de 1808, 55 longos dias depois de zarpar de Lisboa, a comitiva finalmente desembarcou na Bahia, para uma escala que duraria pouco mais de um mês. Estavam todos cansados e debilitados. Mas o primeiro desafio tinha sido superado: o oceano Atlântico, agora, protegeria a corte da fúria de Napoleão.

Purgatório em alto-mar

Eram terríveis as condições a bordo do Príncipe Real, navio que trouxe dom João ao Brasil. Os banheiros particulares eram exclusivos de oficiais e pessoas mais importantes, o resto da tripulação contava com sanitários públicos e livres de qualquer higiene. A presença de animais - porcos, galinhas, vacas e cabras que garantiam a alimentação dos passageiros mais ilustres - também não ajudavam em nada na higiene.

Enquanto poucos se alimentavam de carne fresca, ovos e leite, a ração servida à maioria dos passageiros era formada por carne salgada, biscoitos, lentilhas e ervilhas desidratadas. A água era salobra e o vinho, péssimo. Resultado: desarranjos intestinais freqüentes.

Os suprimentos eram mantidos em barris, com todo o asseio possível, - o peso dos barris ajudava a manter a estabilidade do navio -, mas acabavam atacados por ratos, que roíam a madeira. Além disso, os barris de biscoito acomodados no porão acabavam contaminados por vermes. Para eliminá-los, usava-se peixe morto: eles eram atraídos pela carcaça, até que os biscoitos ficassem “próprios para o consumo”. 

Os navios portugueses eram antigos e careciam de uma série de reparos. Eles deram trabalho de sobra para carpinteiros e ajudantes durante toda a travessia. Rachaduras, quando surgiam, eram preenchidas com estopa e piche. 

Embarque da família real portuguesa no cais de Belém, em 29 de novembro de 1807 Wikimedia Commons.

Os chamados “navios de linha” (capazes de entrar na linha de combate) podiam ter até 100 canhões, alinhados nas laterais de cada deque e geralmente de três calibres diferentes. Cada canhão era operado por uma equipe de até seis homens. A pólvora era armazenada em compartimentos no fundo, para evitar ser atingida durante um combate. Manuseá-la era tarefa de alto risco, reservada a especialistas.

Dom João viajou na cabine do comandante, na popa. Era o lugar mais confortável do navio, com gabinete de trabalho, sala de refeições e quarto. Até banho quente dom João tomava – em uma bacia, com água da chuva aquecida num fogão. A corte teve de se acomodar em redes estreitas e muita gente deve ter dormido no chão. Os deques reservados aos nobres passageiros eram mal ventilados e não garantiam a menor privacidade aos ocupantes.

Qualquer descuido da tripulação podia resultar numa tragédia (como a disseminação de uma epidemia). Por isso, a disciplina era mantida com rigor. Castigos corporais, como chibatadas, eram punições rotineiras. O risco de infecções também era altíssimo. As cirurgias mais comuns eram as de amputação.

Sofrimento no Atlântico

Os perrengues enfrentados pela família real em 55 dias de viagem.

29 de novembro de 1807 - O embarque.

A esquadra portuguesa zarpa do cais de Belém, em Lisboa, e encontra-se ainda bem perto da costa, com as 13 embarcações britânicas que farão sua escolta até o Brasil.

8 de dezembro de 1807 - A tempestade

Perto da ilha da Madeira, o mau tempo obriga os navios a parar. Uma tempestade destroi velas e derruba mastros, enquanto a falta de visibilidade torna a navegação perigosa – a área é repleta de rochedos submersos. Algumas embarcações, no entanto, retomam a viagem e seguem direto para o Rio de Janeiro. A frota acaba se dividindo.

8 de dezembro de 1807 - A calmaria

Ao cruzar a linha do equador, uma calmaria submete os passageiros a dias inteiros de sofrimento sob um sol escaldante. Mas dois navios portugueses e três britânicos encontram ventos mais a oeste e seguem viagem até o Rio de Janeiro. Elas transportam duas filhas de Carlota Joaquina e duas irmãs de Maria I.

23 de janeiro de 1808 - A chegada

Cinquenta e cinco dias depois de zarparem de Lisboa, dom João e Carlota Joaquina finalmente desembarcam no Brasil. Em Salvador, permanecerão por pouco mais de um mês, antes de se fixarem em definitivo na cidade do Rio de Janeiro.

Extraído da página facebook da pesquisadora Verluce Ferraz 

https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=1718124674750994237#editor/target=post;postID=7076794790647291464

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LAMPIÃO EM RIBEIRÓPOLIS (SE): Visita ao Armazém e Padaria do Seu Mamede Paes Mendonça.



Em certa madrugada, fomos visitados pelo Coronel Virgulino Ferreira, o “Lampião”! Seus homens estavam famintos e pararam para comer na nossa padaria, pois viram que estávamos funcionando lá dentro, com as luzes acesas. Comeram quase todo o estoque, mas na hora de pagar, a prudência mandava não aceitarmos!

Lampião ainda insistiu, mas resolvemos não receber. Muito agradecido, foi nosso amigo até à morte, mas nunca soube que havia nos causado o maior problema de capital de giro de toda a história da firma. Ainda assim a padaria cresceu e compramos um armazém. A firma se chamava “Armazém e Padaria Sergipana”. (Mamede Paes Mendonça)

O EPISÓDIO

Numa daquelas madrugadas, Ribeirópolis adormecida, os rapazes percebem um tropel inusitado. Muitos cavaleiros vêm entrando na cidade e acabam parando na porta da padaria. Mamede estranhou aquela multidão de fregueses chegando antes da hora normal.

Bateram forte na porta. Era um jagunço enorme! Cara feia, faltando dentes e sobrando cicatrizes. Pente de balas por todo lado, poeira por todo o corpo. E falou grosso:

- Vosmicê é o dono da padaria?

Mamede balançou a cabeça, dizendo que sim.

- O Capitão Virgulino Ferreira taí fora querendo falar com vosmicê.

Mamede saiu sentindo frio e um pouco assustado. Aliás, devia estar, provavelmente, apavorado. O que será que Lampião ia querer com ele? 

Alguma informação sobre a cidade, ou sobre a polícia?

- Qual é a sua graça? perguntou Lampião, com certa gentileza.

- Mamede Paes Mendonça, sim senhor.

- Muito prazer. Sou o Capitão Virgulino Ferreira. Meus homens tão sem comer desde ontem e tou vendo que o moço tem aí uma padaria. O que se tem prá comer aí?

Mamede logo respondeu:

- Capitão, o pão já está saindo, mas tem umas bolachinhas aí para se comer enquanto espera.

- Isso demora muito?

- Não senhor. O senhor vai ver que é num instante!

Mal a jagunçada acabou de devorar o estoque de bolachas e Mamede já estava distribuindo o pão quente com manteiga. O clima já descontraído, Mamede fazendo piadinhas e brincadeiras, sob o olhar e sorriso condescendente do Capitão e com a alegre aprovação de todos os cangaceiros.

Barriga forrada, pessoal já montado, o Capitão perguntou:

- Quanto devo a vosmicê?

- A mim o Capitão não deve nada - disse Mamede – eu não vou cobrar de quem defende os fracos.

O Capitão sorriu lisonjeado e respondeu:

- Muito obrigado então, homem. Deus lhe proteja. Até mais ver!

Mamede, de pé, continuou acenando até o bando sumir na estrada. Depois caiu sentado e lá ficou, por muito tempo, pensando em como iria repor seu capital de giro. Mas é certo que Lampião não se esqueceu dele, e consta que sempre lhe teve em muito boa conta.

Mas a história não acaba aí. Dizem que por volta de um mês depois, em outra madrugada, Ribeirópolis ouviu outro tropel. De novo os cavaleiros se detiveram à porta da padaria iluminada.

Mamede pensou: é ele de volta; virou freguês.

Não era Lampião. Agora assomava à porta o Tenente Arlindo Leite, comandante de uma volante faminta, na pista do Capitão Virgulino. Repetiu-se todo o ritual, Tim-Tim por Tim-Tim. Na hora da conta, Mamede outra vez:

- A mim o Tenente não deve nada, que eu não vou cobrar de quem está arriscando a vida pela Pátria.

No dia seguinte, Mamede se virava para comprar matéria prima no fiado. Seu irmão e sócio Euclides então lhe diz:

- Mamede se essa briga de jagunços demorar de acabar, nós vamos é quebrar.

Ao que ele responde, entre conformado e otimista:

- Mas não se esqueça de que estamos fazendo amizades importantes!

DANTAS, Raymundo Paiva. A história em depoimentos: Mamede Paes Mendonça. Salvador: Press Color, 2015. p. 129-131.

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EXPEDITA FERREIRA FILHA DE LAMPIÃO E MARIA BONITA E ADERBAL NOGUEIRA PESQUISADOR E CINEASTA DO CANGAÇO.


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VERA FERREIRA E EXPEDITA. NETA E FILHA DE VIRGOLINO E MARIA.


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PESQUISADORES COM VERA FERREIRA NETA DE LAMPIÃO

Paulo Brito filho do João Bezerra o matador de Lampião, Vera Ferreira neta de Lampião, Aderbal Nogueira e sua esposa Maristela Mafuz.

Essa foto tem valor especial para mim; Paulo Britto e Vera Ferreira em um encontro pra lá de animado. Poucas pessoas sabem o significado histórico dessa foto, agradeço aos dois por presentear eu e Maristela Mafuz um momento tão bom em nossas vidas.

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UM BOM BATE PAPO COM ESPEDITA E VERA FERREIRA.


Dona Expedita Ferreira Nunes filha de Lampião e Maria Bonita, ..., sua filha Vera Ferreira e o cineasta e pesquisador do cangaço Aderbal Nogueira.

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A GUERRA DE PALMARES, ÓLEO DE MANUEL VICTOR, 1955



Como hoje é o Dia da Consciência Negra deixo este mravilhoso texto sobre Palmares do site Impressões Rebeldes ( História UFF ).

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"Pouco se sabe sobre o dia-a-dia e os primeiros anos no quilombo de Palmares. Há notícias de expedições a partir de 1602, comandadas pelo oficial português Bartolomeu Bezerra que resultaram na destruição de mocambos e na apreensão de alguns fugitivos. As fontes históricas mais consistentes começam a surgir apenas a partir de 1670, quando teve início a mobilização de tropas organizadas pelas autoridades coloniais para a destruição do mesmo.

Tais manuscritos são de natureza pública - pareceres, alvarás e relatos de comandantes sobre estratégias de guerra – revelando poucos detalhes do cotidiano em Palmares. Já está claro que os chamados “negros alevantados” começaram a se expandir depois de 1630 durante a ocupação do Nordeste pelos holandeses devido à desordem ocasionada pela invasão: negros fugiam das senzalas refugiando-se nos mocambos da região da Serra da Barriga, no atual território de Alagoas.
Nesse período, segundo José Antônio Gonsalves de Mello, grupos de negros promoviam ataques nos caminhos; eram os chamados “boschnegers”, ou negros da mata. O autor Flavio José Gomes Cabral afirma que “há divergências quanto ao número da população de Palmares nessa época. Estima-se que existiam entre 6 mil e 20 mil habitantes.”

Os quilombolas conseguiram vencer as matas e paulatinamente foram tomando conhecimento da topografia da região. A princípio viviam da caça, da coleta e da pesca, mas, com o crescimento da população, passaram a praticar a agricultura (milho, feijão e cana-de-açúcar), comercializando esses produtos e trocando-os por armas e munições.

A comunidade palmarina era hierarquizada, havendo indícios de se tratar de uma “monarquia eletiva”, cujo rei ou “chefe de macacos” comandava os chefes dos outros mocambos. Em uma carta escrita pelo governador D. Pedro de Almeida em 4 de fevereiro de 1678 ao regente D. Pedro, consta que, por ocasião dos ataques contra Palmares que resultaram na morte de Ganga-Zumba, suas mulheres, filhos e cativos, abriu-se a possibilidade de se pensar na inexistência de um “igualitarismo” em Palmares, dada a vigência da escravidão nos quilombos.

Com a capitulação dos holandeses em 1654, os negros palmarinos continuaram a desafiar o poder colonial. Nos anos de 1670, duas expedições contra Palmares não cantaram vitória: a de 1675, chefiada pelo capitão Manoel Lopes Galvão, e a de 1677, comandada pelo capitão Fernão Carrilho, que pensou ter derrotado os negros, quando na verdade apenas pôs as mãos em alguns palmarinos, entre eles os parentes do chefe Ganga-Zumba.

“A década de 1670 é importante porque marca o reconhecimento por parte das autoridades portuguesas e coloniais desse sobado (estado africano) em Palmares. Os termos do acordo negociado em 1678 constituem a maior evidência disso”, disse a historiadora Silvia Hunold Lara. “Todo mundo diz quilombo dos palmares, mas a palavra ‘quilombo’ é empregada deslocadamente nesse contexto e é anacrônica para designar Palmares. A palavra empregada naquele período para designar ‘assentamentos de fugitivos’ é mocambo”, afirmou Lara.

No tempo de D. Pedro de Almeida (1674-1678), governador de Pernambuco, a prioridade era destruir Palmares. Em 1674, organizaram-se algumas forças contra os mocambos. Para isso, munições bélicas e víveres foram estocados em Sirinhaém, Porto Calvo, Una e São Francisco, pontos equidistantes do Centro de Palmares. As lutas foram equilibradas acirradas, gerando baixas em ambos os lados.

A pesquisadora Silvia Lara conta que a ideia de as autoridades coloniais fazerem acordos com escravos fugidos sempre existiu (ver Tratado reproduzido no site). O Tratado de 1678, porém, foi o que mais progrediu. Boa parte dos habitantes dos mocambos de Palmares mudou-se para uma aldeia criada especialmente para recebê-los, Cucaú, e eles foram considerados livres.

A paz, no entanto, não durou mais do que dois anos. Uma parte dos mocambos, liderada por Zumbi, rejeitou o acordo e ficou em Palmares. Seguidores de Ganazumba, como seu irmão Ganazona, participaram de buscas para trazer os que haviam permanecido no mato. Ganazumba termina assassinado e Cucaú, destruída, provavelmente por tropas coloniais. As pessoas que moravam lá voltaram à condição de escravos.

Apesar de estar sendo protegido, Zumbi foi morto em combate no dia 20 de novembro de 1695. Sua cabeça foi cortada e enviada ao Recife. A carta do governador Melo de Castro ao monarca datada de 24 de junho de 1696 contava tal fato, relatando a guerra e a morte de Zumbi, cuja cabeça foi exposta como troféu de guerra em um mastro “no lugar mais público” do Recife, na tentativa de satisfazer os patrocinadores da guerra, como também para “atemorizar os negros que supersticiosamente” se recusavam a acreditar na morte do líder negro. "
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Fonte: Impressões Rebeldes (História UFF)

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VELÓRIO DE JOSÉ MARROCOS, EM 1910.


Por Voltaseca

Marrocos foi um dos mais aguerridos defensores do Padre Cícero e da Beata Maria de Araújo, no caso do Milagre da Hóstia.

Foi fundador do jornal "O Rebate", e militou incansavelmente pela independência de Juazeiro do Norte, sendo hoje bastante homenageado na dita cidade.

Acervo de Renato Casimiro e Daniel Walker.


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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A MORTE DO SARGENTO DELUZ – PARTE FINAL

Por José Mendes Pereira

Como pai, filhos e genro combinaram assassinar o sargento Deluz por último, era só esperar a grande oportunidade. Quem iria vigia o militar quando chegasse da empreitada para matar o assassino da sua mãe e irmão? Seria o Jonas Marinho que ficaria de olho nele, acompanhando todos os seus passos assim que chegasse da missão prometida.  O executor seria o João Maria Valadão homem destemido ao estremo. 

Como nós sabemos que o Deluz iria viajar para Pernambuco na finalidade de executar o assassino da sua mãe e irmão e segundo ele, quando retornasse para Sergipe viria consigo um irmão tido como um grande e sanguinário pistoleiro, para chacinar aquela gente do Brejo,  que eram os familiares da sua esposa Dalva, isto é João Marinho, Maria Gomes esposa deste, Jonas e o João Maria Valadão. 

O mano do Deluz que segundo o sargento Deluz era pistoleiro de boa marca  chamava-se Otávio, e este talvez não viria só, com ele, chegaria em Sergipe mais uns pistoleiros. Estes eram os comentários que desfilavam em bares, bodegas naquela região do rio São Francisco. Finalmente a data chegou. O sargento Deluz sairia da sua fazenda Araticum pela manhã cedo, e de lá, até o rio São Francisco rumo Pernambuco, em busca do local da sua missão, que teria que cumprir, vingar a morte dos seus entes queridos. 

Diz Alcino Alves Costa que esta taperinha e esta cruz estão esquecidas, mas são elas quem marcam onde foi assassinado o corajoso e vingativo Amâncio Ferreira da Silva o Deluz no dia 30 de setembro de 1952.

O Jonas Marinho estava vigiando o jovem militar sem perdê-lo das suas vistas um só instante. João Maria Valadão já estava sabendo que ele tinha saído da sua propriedade. Por volta da noite anterior Valadão acompanhado de um senhor chamado Vicente da Mata Grande, outro, Mané Vigia e outro de nome Cícero Cupira saíram da fazenda que moravam e foram para fazenda do Deluz Araticum, vão tocaiar o valentão sargento de Canindé Deluz.

O dia vem chegando devagar e os primeiros raios solares foram estendidos sobre o solo terrestre. Nesse dia era uma terça-feira do dia 30 de setembro de 1952. O sargento estava se preparando para a viagem. Seu animal terminou de comer a ração, mas já estava selado. Ao seu lado, estava o seu cunhado Rosalvo Marinho, o único que ainda se relacionava com ele, e que ficaria para cuidar da sua fazenda enquanto ele retornasse de Pernambuco.
Minhas inquietações:

"Este Rosalvo Marinho foi aquele que havia amparado em sua casa o Manoel Pereira de Azevedo o famoso e perverso cangaceiro Juriti, e ele findou sendo preso e assado em uma coivara na localidade chamada Roça da Velhinha, nas proximidades da fazenda Cuiabá ordenado pelo famoso Deluz.

Fico metido nas minhas inquietações.

Por que o Rosalvo Marinho que era filho do João Marinho irmão da Dalva que vinha sofrendo nas mãos do sargento Deluz mantinha amizade? Somente o Jonas, João Marinho e o Valadão sentiam tamanhas dores pela Dalva?"

Continuando a nossa história:

O sargento montou em seu cavalo. O seu cachorro quis segui-lo, mas ele não deixou. Em seguida, cruzou o seu fuzil sobre a sela e deu partida. Ali bem perto, menos de um quilômetro  estavam os homens que tocaiavam o miserável delegado comandado pelo seu concunhado João Maria Valadão, e assim que o bruto sargento Deluz colocar a cara na estrada ele vai sentir o peso de uma, duas ou mais balas no seu corpo.

Os vingativos estão fortemente armados. O Valadão vai dominar a ação com um 44 (papo amarelo como o chamavam). Os outros estão abraçados com bacamartes e bem preparados para matar. Todos eles estavam escondidos em moitas bem enramadas. O infeliz tinha que aparecer por uma curva da estradinha e mais à frente, um limpo. Os verdugos estão bastante atentos e não podem falhar. Se não der certo o plano poderão pagar caro mais tarde. Eles estão bem divididos e com certeza, não falhará. Deluz iria receber o castigo que merecia, mas diziam que ele tinha o corpo fechado. Ou corpo fechado ou não o Deluz estava marcado para morrer pelos familiares da sua esposa Dalva.  

O infeliz apareceu na estrada. O cavalo trota vagarosamente como se estive adivinhando algo. Deluz alcançou o limpo e foi neste momento que dois estampidos estrondam soando forte na imensidão do sertão. O homem que antes era um valente agora despenca do seu animal. Seu corpo desaba como se fosse um pesado fardo e se misturou no meio de um rio de sangue escarlate. Quando os seus matadores viram o corpo percebem que ele já estava muito longe do nosso planeta. Mais uma vida por vingança se foi.

Assim chegou ao fim a vida de uma autoridade militar Amâncio Ferreira da Silva o temido, odiado e perverso sargento Deluz, o covarde matador do cangaceiro Juriti. 

Informação:

Diz à história que João Marinho foi o mandante, chegando até ser preso; e seu genro João Maria Valadão, casado com Mariinha, irmã de Dalva, portanto concunhado de Deluz. Afirmaram os estudiosos que O João Maria Valadão que em 2011 ele ainda estava vivo, com seus 96 anos de idade, completados no mês de dezembro, foi quem tocaiou e matou o célebre militar e delegado que aterrorizou Canindé e o Sertão do São Francisco. A partir desta data não se tem mais informação, pelo menos nós aqui de Mossoró.

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VÍDEO SOBRE CANGAÇO

https://www.youtube.com/watch?v=-cqGSki32EU

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TEXTO SOBRE O CANGACEIRO ANTONIO SILVINO


Do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

TEXTO que extraio do jornal "A República" (RN), de 28.01.1907, sobre o cangaceiro ANTÔNIO SILVINO, quando ele ainda em atividade criminosa.

O “Jornal Pequeno”, do Recife, publicou os seguintes interessantes episódios e anedotas, que circulam no interior deste e dos vizinhos Estados do Sul, acerca da personalidade do célebre bandido Antônio Silvino, cujas façanhas constituem verdadeiras lendas.

Eis alguns dos mais notáveis:

José Paulo, vaqueiro do fazendeiro Luna, foi encontrado na estrada por Antônio Silvino e seu grupo. – Levas aí dinheiro? – Pergunta Antônio Silvino.

O vaqueiro mostrou-lhe uma bolsa contendo vários contos de réis, que levava para o seu patrão.

Antônio Silvino pediu-lhe 200$ ao que não acedeu o vaqueiro, dizendo que era melhor levar todo o dinheiro, pois ninguém acreditava que ele, Antônio Silvino, tivesse levado apenas tão diminuta importância.

Não aceitando a proposta, o vaqueiro quis dar-lhe 20$000, dinheiro seu que levava a parte.

Antônio Silvino aceitou apenas 10$000, ficando José Paulo com a metade.

Outro: - Quando Antônio Silvino esteve em Pilar, Paraíba, em casa do coronel Napoleão Duarte, este deu-lhe 250$000 em cédulas, sendo uma de 200$000 falsas.

O comendador fez propalar pela imprensa e por toda parte que Antônio Silvino lhe extorquira importante quantia, de muito superior à que realmente lhe dera.

Chegando o fato aos ouvidos do célebre cangaceiro, este mandou o seguinte recado:

“Diga ao comendador Napoleão que eu um dia voltarei ao Pilar para trocar a cédula falsa e buscar o resto da quantia que ele diz ter-me dado. ”

Escusa dizer que o comendador Napoleão, devido a este recado, esteve bastante tempo intranquilo.

Ainda outro: Há poucos dias chegando a uma venda, Antônio Silvino gritou para o dono desta:

“Se aqui chegasse Antônio Silvino o que lhe fazia?

- Dava-lhe um copo de cerveja, exclamou o vendelhão, que o não conhecia.

- Então bote, concluiu Silvino, pois está falando com ele.

Mais outro: Quando, há poucas semanas, esteve Silvino em Alagoa Nova, em companhia das principais autoridades do lugar, como sejam o juiz municipal, o delegado de polícia e o promotor público, angariou entre os moradores a importância de 500$000.

Dias depois, um deputado estadual paraibano, com quem andara Antônio Silvino angariando espórtulas naquele lugar, informou que jornais da capital que o célebre bandido lhe levara 5:000$000 e cometera desatinos.

Consequência: Silvino mandou-lhe um recado dizendo que fizesse a retificação, ou então iria buscar o resto do dinheiro.

No outro dia, no “Comércio”, da Paraíba, apareceu a retificação pedida, dizendo-se que o dinheiro adquirido por Antônio Silvino foram apenas 500$000 e que o famoso quadrilheiro se portara corretamente, não ofendendo a pessoa alguma.

Não sabemos ao certo se foi este deputado ou um outro influente chefe político do mesmo lugar que deixou a família em sua fazenda, convicto de que nada lhe sucederia visto estar garantida por Silvino.

Imagem que trago do Blog de Carlos Costa.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/

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ONDE ESTARÁ EXPEDITA?

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.017
                    
              O mês dos ventos vai chegando ao fim rompendo forte. Vem o sol, vem à chuva, embaça a neblina, sobe o nevoeiro.  E no cair da tarde sopra na brisa leve o nome de Expedita, minha querida babá por certo tempo. Revejo o passado ouvindo sem ouvir o som do Guerreiro que norteava o bailado das folclóricas dançarinas, cadenciado pelo mestre invisível:
(FOTO: AGÊNCIA ALAGOAS/DIVULGAÇÃO).
“O avião
Subiu
Se alevantou
No ar se peneirou
Pegou fogo e levou fim...”

A rede vermelha rangia para lá e para cá, embalando meus sonhos de criança. Expedita, mulher alta, bonita, bem feita e educadíssima, não cansava a voz, entre um pigarro e outro. Era figura de Guerreiro e sabia com sua voz agradável também guerrear a minha alma. Plantava os pés no chão e no espaço pequeno fazia-me calado a escutar:

“Ia passando
Com um cacho de uva
Uma viúva pediu pra comprar
Olhei pra ela
Com olhar penarioso
Espiei só tinha ouro
Dentro da boquinha dela...”

E a minha babá, tão bela e tão doce, cativava a minha inocência dentro do humano e das tradições que se aninhavam na Rua Antônio Tavares. Papai no trabalho, mamãe na feira dos sábados somente meus e de Expedita:

“Sou devoto
De Nossa Senhora
Sou alagoano
Onde o Guerreiro mora...”

Ah, Expedita! Você floriu minha existência.
Onde andará Expedita?

NAQUELES TEMPOS (A VIDA E OS OFÍCIOS DE MINHA GENTE)

*Rangel Alves da Costa

Dona Alice Feitosa fazia sabão em pedra num fogão de lenha do quintal. Misturava sebo, cinzas e outras essências da terra, mexia e remexia o tacho grande com um pano amarrado na cabeça e o suor também virando sabão. E nas beiradas das fontes as seriemas, as nambus e as codornas, saciavam suas sedes ao entardecer. Um tempo de sertão ainda sertão...
Zé de Bela era alfaiate sem igual, com cortes, costuras e recortes, aprimorados no sul e trazidos para o seu ateliê num canto de casa humilde. Como um Clodovil sertanejo, a sua moda era refinada e exigente, bem costurada e alinhavada, pronta para ir aos salões, missas e procissões, da Festa de Agosto. E mais ao longe, pelas paisagens mistas de verdor e acinzentado, a bela flor do mandacaru deitava ao chão sertanejo o último respirar de sua beleza durada apenas uma noite, pois dura apenas uma noite a linda e sublime flor do mandacaru. Um tempo de sertão ainda sertão...
Maninho, ora pois pois, era o chef mais famoso e requisitado do lugar. Vindo das beiradas dor rio e depois alcançando larga experiência na gastronomia carioca, trouxe na bagagem os melhores cozidos, as melhores massas, as comidas de nome esquisito, mas de uma gostosura que só. Depois de preparados os pratos, e cheio de trejeitos e euforias, assenhorava-se de um pé de balcão e mandava botar mais uma. E de repente já estava dançando, dobrando os quartos, cantarolando um velho e apaixonado bolero: “Quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora...”. E pelos arredores, quando o tempo dava para ser assim, as mulheres na debulha do feijão de corda, os homens botando feijão pra secar, o milho seco sendo ensacado. Um tempo de sertão ainda sertão...


Chegava o tempo de festa e com a festa também o sapato novo pelas mãos do engraxate Manezinho Tem-tem, o tripé de retrato de Seu João Retratista, o parque ecoando no alto-falante O Milionário, de Os Incríveis. Tempo de festa também tempo de pintar a casa, de comprar corte de pano e flores de plástico novas. Panelas e louças lavadas nas águas do Tanque Velho, e depois os panos estendidos em cadeiras para tomar sol por cima das calçadas. Mas as más línguas diziam que era apenas para se amostrar. Eita povinho! Um tempo de sertão ainda sertão...
Delino tinha banana, Zé de Iaiá tinha farinha, Mané Azedinho e Joãozinho de Neusa o feijão. A cozinha sertaneja quase num lugar só, pois os vendeirim entrelaçados na vizinhança. Um jogo de sinuca na mercearia de Ermerindo, e de vez em quando também um encontro de repentistas. Um jogo de bilhar no salão de Angelino. Uma cachaça da terra no Bar de Zé de Lola. E de repente o sertão inteiro se enchia de graça com a forrozança que não faltava: Zé Aleixo, Dudu Ribeiro, Zé Goití, Dida, Agenor da Barra. E o forró comia no centro e só parava quando João Valentim virado em rato entrava pelos salões em fuzuê. E bem acima de todos aquele sol maior do mundo sol e a lua mais bela da vida, os horizontes de seca e de chuva, retratos tão sertanejos. Um tempo de sertão ainda sertão...
Maria do Piau Duro aparecia na esquina com rodilha na cabeça e um cesto de peixe miúdo salgado. Não dava pra quem queria. A bala de mel de Tonho Bioto era boa, mas era perigoso de um vendedor estar sem juízo na hora da venda e jogar na cabeça do comprador toda pirulitada. Mariá descambava pra beira do riacho com uma trouxa de roupas na cabeça. Quem vai querer arroz-doce de Baíta? Eu quero. Eu quero. Eu quero e não consigo afastar a saudade! Tudo num tempo diferenciado de sertão. Um tempo de sertão ainda sertão...
Hoje as memórias estão encharcadas nos lenços das saudades. Alguns ainda lacrimejam as ausências e as distâncias, mas outros desejam apenas estender os lenços nos varais e a tudo fazer esquecimento. E restará apenas um retrato na parede de uma vida e de um tempo, de um povo e de seu fazer, nalgum sertão do passado.

Escritor
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