Como hoje é o
Dia da Consciência Negra deixo este mravilhoso texto sobre Palmares do site
Impressões Rebeldes ( História UFF ).
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"Pouco
se sabe sobre o dia-a-dia e os primeiros anos no quilombo de Palmares. Há
notícias de expedições a partir de 1602, comandadas pelo oficial português
Bartolomeu Bezerra que resultaram na destruição de mocambos e na apreensão de
alguns fugitivos. As fontes históricas mais consistentes começam a surgir
apenas a partir de 1670, quando teve início a mobilização de tropas organizadas
pelas autoridades coloniais para a destruição do mesmo.
Tais
manuscritos são de natureza pública - pareceres, alvarás e relatos de
comandantes sobre estratégias de guerra – revelando poucos detalhes do
cotidiano em Palmares. Já está claro que os chamados “negros alevantados”
começaram a se expandir depois de 1630 durante a ocupação do Nordeste pelos
holandeses devido à desordem ocasionada pela invasão: negros fugiam das
senzalas refugiando-se nos mocambos da região da Serra da Barriga, no atual
território de Alagoas.
Nesse período,
segundo José Antônio Gonsalves de Mello, grupos de negros promoviam ataques nos
caminhos; eram os chamados “boschnegers”, ou negros da mata. O autor Flavio
José Gomes Cabral afirma que “há divergências quanto ao número da população de
Palmares nessa época. Estima-se que existiam entre 6 mil e 20 mil habitantes.”
Os quilombolas
conseguiram vencer as matas e paulatinamente foram tomando conhecimento da
topografia da região. A princípio viviam da caça, da coleta e da pesca, mas,
com o crescimento da população, passaram a praticar a agricultura (milho,
feijão e cana-de-açúcar), comercializando esses produtos e trocando-os por
armas e munições.
A comunidade
palmarina era hierarquizada, havendo indícios de se tratar de uma “monarquia
eletiva”, cujo rei ou “chefe de macacos” comandava os chefes dos outros
mocambos. Em uma carta escrita pelo governador D. Pedro de Almeida em 4 de
fevereiro de 1678 ao regente D. Pedro, consta que, por ocasião dos ataques
contra Palmares que resultaram na morte de Ganga-Zumba, suas mulheres, filhos e
cativos, abriu-se a possibilidade de se pensar na inexistência de um “igualitarismo”
em Palmares, dada a vigência da escravidão nos quilombos.
Com a
capitulação dos holandeses em 1654, os negros palmarinos continuaram a desafiar
o poder colonial. Nos anos de 1670, duas expedições contra Palmares não
cantaram vitória: a de 1675, chefiada pelo capitão Manoel Lopes Galvão, e a de
1677, comandada pelo capitão Fernão Carrilho, que pensou ter derrotado os
negros, quando na verdade apenas pôs as mãos em alguns palmarinos, entre eles
os parentes do chefe Ganga-Zumba.
“A década de
1670 é importante porque marca o reconhecimento por parte das autoridades
portuguesas e coloniais desse sobado (estado africano) em Palmares. Os termos
do acordo negociado em 1678 constituem a maior evidência disso”, disse a
historiadora Silvia Hunold Lara. “Todo mundo diz quilombo dos palmares, mas a
palavra ‘quilombo’ é empregada deslocadamente nesse contexto e é anacrônica
para designar Palmares. A palavra empregada naquele período para designar
‘assentamentos de fugitivos’ é mocambo”, afirmou Lara.
No tempo de D.
Pedro de Almeida (1674-1678), governador de Pernambuco, a prioridade era
destruir Palmares. Em 1674, organizaram-se algumas forças contra os mocambos.
Para isso, munições bélicas e víveres foram estocados em Sirinhaém, Porto
Calvo, Una e São Francisco, pontos equidistantes do Centro de Palmares. As
lutas foram equilibradas acirradas, gerando baixas em ambos os lados.
A pesquisadora
Silvia Lara conta que a ideia de as autoridades coloniais fazerem acordos com
escravos fugidos sempre existiu (ver Tratado reproduzido no site). O Tratado de
1678, porém, foi o que mais progrediu. Boa parte dos habitantes dos mocambos de
Palmares mudou-se para uma aldeia criada especialmente para recebê-los, Cucaú,
e eles foram considerados livres.
A paz, no
entanto, não durou mais do que dois anos. Uma parte dos mocambos, liderada por
Zumbi, rejeitou o acordo e ficou em Palmares. Seguidores de Ganazumba, como seu
irmão Ganazona, participaram de buscas para trazer os que haviam permanecido no
mato. Ganazumba termina assassinado e Cucaú, destruída, provavelmente por
tropas coloniais. As pessoas que moravam lá voltaram à condição de escravos.
Apesar de
estar sendo protegido, Zumbi foi morto em combate no dia 20 de novembro de
1695. Sua cabeça foi cortada e enviada ao Recife. A carta do governador Melo de
Castro ao monarca datada de 24 de junho de 1696 contava tal fato, relatando a
guerra e a morte de Zumbi, cuja cabeça foi exposta como troféu de guerra em um
mastro “no lugar mais público” do Recife, na tentativa de satisfazer os patrocinadores
da guerra, como também para “atemorizar os negros que supersticiosamente” se
recusavam a acreditar na morte do líder negro. "
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Fonte:
Impressões Rebeldes (História UFF)
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