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sexta-feira, 15 de junho de 2018

LIVROS SOBRE CANGAÇO É COM O PROFESSOR PEREIRA


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CARIRI CANGAÇO - GRUPO DE ISAIAS ARRUDA

Por Bosco André

Temos a satisfação de postar uma foto inédita de Grupo de Isaias Arruda, o grande coronel de Aurora e Missão Velha; o principal protagonista do plano de ataque a cidade de Mossoró, pelo Rei do Cangaço, Virgulino Ferreira Lampião em junho de 1927. Foi em sua fazenda Ipueiras que os líderes do ataque planejaram a empreitada e foi também em Aurora que houve o famoso episódio da traição do próprio Isaias Arruda a Lampião, quando enviou alimentação envenenada e manteve sob cerco, de seus homens e as forças cearenses do Major Moisés, o mesmo Virgulino; fugido do frustrado ataque à capital do oeste potiguar.

Foto de Grupo de Jagunços de Isaias Arruda

No Cariri Cangaço 2010, teremos visita técnica ao município de Aurora, contemplando os principais palcos dessa grande epopeia ligada a Isaias Arruda e Lampião.

NOTA CARIRI CANGAÇO: Nossos agradecimentos ao pesquisador e historiador, professor João Bosco André, pela gentileza da seção da fotografia e por confirmar seu nome entre os Conferencistas Cariri Cangaço 2010.

Fonte: Blog Cariri Cangaço

http://blogdocrato.blogspot.com/2010/04/cariri-cangaco-grupo-de-isaias-arruda.html

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A ABÓBORA DAS ARÁBIAS

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.923

        Há uma porção de tempo em Maceió, um sujeito levou uma piniqueira para à praia, durante a noite. Após a aventura noturna, pagou a cuja e deu a sentença: Tome, Fulana, “tu é mais ruim do que abóbora de lixo”.


Grande expectativa se fez com a abertura da copa, na Rússia. E o próprio estado sede que não ganhava jogos a uma série deles, gerava desconfiança entre seus próprios habitantes. Apesar da região do Oriente Médio ainda estar engatinhando em relação ao futebol de outras partes do mundo, esperava-se um bom jogo, pelo menos com bastante velocidade. No início da partida chegamos até a prever a vitória da Arábia. Foi uma decepção! Completo vexame, em se vê aqueles pernas de pau, completamente perdidos em campo.
Ah, cabra velho! Não teve jeito para ficarmos sem apontar os nossos times amadores de outrora: “Se o São Pedro, o Ipiranga ou mesmo o Asa de Arapiraca tivesse no lugar da Arábia Saudita, teria feito muito mais bonito”. Mas bonito até porque a Rússia não era de nada, nem de “fritar bolinhos”, como diria a música de forró. Ganhou porque praticamente não encontrou adversário em campo. E verdade seja dita, o resultado só agradou de verdade aos donos da casa que passaram de torcedores agonizantes para eufóricos galegos das arquibancadas. Mas também ficaria difícil para o todo poderoso de lá se a seleção vermelha perdesse no terreiro, não! Com o ânimo restabelecido, pode ser que os russos partam também para endurecer as partidas que virão.
Existe da nossa parte um respeito muito significativo pela Arábia Saudita, ponto de equilíbrio atual na Geopolítica do Oriente Médio. Inclusive, é um país que aos poucos vai abrindo espaço para as conquistas sociais das mulheres. Assim torcemos também para que o seu futebol e o de toda a região evoluam para nivelar para cima o esporte mundial. Portanto, sem desprezo algum, elogiando até o empenho para chegar à Copa, mas falando francamente sem nenhuma fantasia sobre o jogo de ontem com a Rússia, lembramos o cabra de Maceió:
 “Tome, ‘minha fia’, mas você é mais ruim do que abóbora de lixo”.


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O BRASIL VOLTA SEUS OLHOS PARA POÇO REDONDO

Por Manoel Severo

Há nove anos iniciamos ao lado de inúmeros apaixonados pela cultura e tradições nordestinas esta jornada chamada Cariri Cangaço, é verdade... já se vão nove anos,muitas veredas percorridas e muitas histórias para contar. O Cariri Cangaço promove não só Conferências, Debates, Visitas Técnicas,Lançamentos de Livros, enfim, o Cariri Cangaço promove acima de tudo o ENCONTRO DAS PESSOAS e isso não tem preço.Mais uma vez nos encontramos diante de um novo desafio, a partir do sensacional Cariri Cangaço Poço Redondo 2018 consolidamos nossa presença no estado de Sergipe e pela primeira vez chagaremos ao estado da Bahia a partir da Serra Negra, município de Pedro Alexandre, para nós um tento importante, agora são 6 estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.Dois dias nos separam de mais uma grande demonstração da integração de uma Nação chamada nordeste, reuniremos a partir desta quinta-feira em Poço Redondo, Sergipe e Pedro Alexandre na Bahia, personalidades do universo do estudo e pesquisa do cangaço de todos os cantos deste país, numa autentica festa da alma nordestina.

Nos cenários importantes e significativos dos dois municípios, onde ocorreram episódios marcantes da historiografia do cangaço; como o fatídico Angico e o espetacular fogo do Maranduba, sem falar na enigmática Estrada de Conselheiro e a grandiosa Serra Negra dos Carvalho, o Cariri Cangaço busca mais uma vez nesta sua 21ª edição, fragmentos da verdade histórica na direção da consolidação de nossa memoria.Tudo foi pensado para que pudêssemos proporcionar, tanto para as queridas famílias de Poço Redondo e de Pedro Alexandre, como para os convidados de todo o Brasil, uma programação rica, dinâmica e extremamente responsável, marcas de nossos empreendimentos. A Comissão Local em Poço Redondo, com Manoel Belarmino, Rangel Alves da Costa, Maria Oliveira, Fernandes Reis, Djalma Feitosa e tantos outros estimados amigos, o apoio incondicional do querido amigo prefeito Junior Chagas e uma zelosa equipe em todas as secretarias, como também o decisivo apoio em Pedro Alexandre da tradicional Família Carvalho, nos dão a certeza de um excepcional evento no "chão sagrado de Alcino", o nosso patrono, o Caipira de Poço Redondo.

Temáticas preciosas, próprias do lugar...presenças de personalidades talentosas e que dedicam boa parte de suas vidas à pesquisa do cangaço não dão a certeza de mais um grande empreendimento que se inicia nesta próxima quinta-feira. Assim, gostaríamos de convidar a cada um de vocês para virem conosco, sem dúvidas, estaremos juntos escrevendo mais uma página importante dessa fantástica saga de nossos sertões.

Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço, 12 de junho de 2018

http://cariricangaco.blogspot.com/2018/06/o-brasil-volta-seus-olhos-para-poco_12.html

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CARIRI CANGAÇO: MARCA INDELÉVEL

Por Wasterland Ferreira

O evento denominado Cariri Cangaço veio mesmo para deixar sua marca indelével! Sem dúvida que é a maior confraria já existente e que reúne os apaixonados do Nordeste inteiro e quiçá do Brasil em torno não somente da tão falada, estudada e propagada temática do cangaceirismo, mas também da história regional nordestina como um todo. Muito oportuno realizar esse evento que é de uma magnitude ímpar para todos nós pesquisadores/historiadores, ciosos e apaixonados pelo assunto aludido, na cidade de Alcino, que é Poço Redondo, porque dentre outras coisas foi ali que começou a contagem regressiva máxima para o fim daquele banditismo terrível, e isso com a destruição do cangaceiro Lampião e parte de sua sanguinária e temível e terrível quadrilha.



Infelizmente não poderei dessa vez participar (ainda não o pude), mas tenho uma viva e grande esperança de um dia vir a estar junto com todos os amigos que dedicam-se incansavelmente a divulgar, estudar, debater e valorizar o quê é inteiramente nosso! Nossas raízes! Nossa memória! Nossa riquíssima história e também Cultura deste grande e velho Nordeste! Meus parabéns a você, Manoel Severo e a todos que compõem essa maravilhosa confraria! Avante Cariri Cangaço, sempre e sempre.



Severo a quem tenho e considero e respeito já como um grande e querido amigo, eu já sinto como pertencente a esta família intitulada:Cariri Cangaço! Ainda não tive a honra de participar de nenhuma reunião ou evento, enfim, mas modéstia à parte; e sem nenhuma demonstração de soberba-- para que teria? --, e com bastante humildade e coração grato, nesses já 30 anos de estudos, pesquisas e dedicação mesmo ao tema tão nobre e aludido, sinto-me, repito, como já pertencente à esta confraria sendo talvez o menor dos integrantes mas exultante de felicidade em ter principalmente a tua amizade, e bem como à de tantos amigos que poderia citar aqui. 

Sinto-me envaidecido como pesquisador e enriquecido como ser humano! Um dia estarei com vocês, se Deus assim permitir-me, e creio que Ele o quer! Um Bravo a você, Severo!! Um Bravo ao Cariri Cangaço Poço Redondo 2018!!! Um Viva a memória do Grande Alcino!!!! Um Bravo e segue minha homenagem a Rangel Alves da Costa, nosso querido amigo!!!! Um grande abraço, Severo querido, e estamos sempre e inteiramente às ordens!

Wasterland Ferreira, pesquisador
Recife, Pernambuco

http://cariricangaco.blogspot.com/2018/06/cariri-cangaco-marca-indelevel.html

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FOGO DA LAGOA DO LINO O LAMENTO

Por Rubens Antônio

Depoimento de Elisia Sampaio Moreira, da Lagoa do Lino, a “Zi do Bó”, residente em Quixabeira:
 
O meu pai chamava-se Raimundo Moreira de Oliveira. Ele era chamado "Raimundo, de Cirila", porque era filho de Cyrilla Moreira de Jesus, minha avó... Apesar do tempo passado, eu nem sei se devia contar estas poucas coisas... Penso aqui que não devia falar muito, porque o meu pai sempre evitava falar dessas coisas para mim, desde quando eu era criança, e, depois, para as minhas filhas... Para você ter uma noção, ele sempre teve preocupação de que algo pudesse voltar a acontecer... Aquilo tudo, quando aconteceu, eu ainda não era viva, pois meu pai casou velho, mas eu cheguei a viver na casa do jeito que era como quando tudo aconteceu... Não era de taipa... 

Como sede da fazenda era de tijolos de adobe e um pouco de barro prensado sobre aquelas estruturas de madeira. O chão era chapado batido de barro mesmo... Como se fazia. Apenas se roçava e se batia. A fazenda, como eu nasci e cresci, sempre se chamou "Lagoa do Lino"... 

Não sei de Lino que morou lá, mas tinha uma lagoa lá na baixada e outra um pouco mais adiante... Passava umas seis tarefas... Acho que o nome é por causa da lagoa que ficava mais perto, mas não tenho certeza...
 
Esse Lino, o meu pai chegou a dizer pra mim que não sabia quem tinha sido. Mas, se a lagoa era dele, significa que terra era dele e a gente pensava ser um antigo dono, que meu pai não conheceu.
Isso de chamarem "Lagoa do Limo" é coisa do povo. Sei não de onde surgiu isso.

A casa da sede, em que eu nasci e vivi, não era onde está agora. Se vocês olharem aquela parte cimentada na frente da casa... Ali era onde ficava a antiga casa... Quando a situação melhorou um pouco, o chão da casa foi cimentado... É isso que a gente vê ali, como área cimentada na frente da porta atual. Então, aquela casa está onde era o fundo da nossa casa.

Raimundo Moreira de Oliveira

Então, veio toda aquela violência que traumatizou meu pai... Não digo que foram os cangaceiros... Isto porque aqueles que pinicaram ele queriam que entregassem o esconderijo dos cangaceiros... Se era para entregar o esconderijo, como eram outros cangaceiros? Mas não passa na cabeça como a polícia fez aquilo com um homem bom, trabalhador, simples, quieto no canto dele. Foram uns homens que ele disse que chegaram. Se o meu pai disse que não dava pra saber se eram mesmo da polícia. Só me disse que eram esquisitos e maus. E ele foi pego. Amarrado. Bateram nele. Deram tapas. Deram socos. E ele foi muito pinicado. Foi todo todo pinicado com uma arma parecida com uma faca, mas ele disse que era mais bonita... Assim, com rodelas de ouro e de prata, no cabo... Era a única coisa que ele conseguia ver e pensar pra tirar a mente daquilo. E ele sempre temeu mesmo falar disto, mesmo depois de velho... Fizeram uma roda em torno dele e feriram assim... Era meu pai... As costas dele ficaram horrorosas. Parece que foi a pior parte. Só vendo... Eram tudo marcado de pinicada... Aqueles homens não tiveram dó. Cravaram faca e canivete... Tudo que fosse coisa de ponta usaram no meu pai.

Eles diziam.

– Você sabe onde eles estão!

– Não sei não! Nem sei do que vocês tão falando!

– Tava fazendo o quê, então?

– Só quero ir embora daqui preparar minha farinha!

– Ou entrega ou vamos ficar aqui muito tempo! Vamos oito dias. E você vai ter que abrir pra gente. E vai ter que manter a gente. Vai ter de cozinhar e a gente vai acabar com tudo seu!

Eles, finalmente, parece que cansaram. Não tinha mesmo como saber nada do meu pai... Estavam mais pra ir embora. Aí, encontram a Maria Velha... Alguns chamam Nega Velha, mas que eu conhecia como Maria Velha.
 
Foi ela quem levou eles até lá. 

Sei que teve um tiroteio horrível... E, depois que tudo acabou, e aqueles que maltrataram meu pai foram embora, aconteceu mais uma coisa. Minha mãe disse que ainda passou um aqui. Quem viu e disse a ela foi a minha vó Cyrilla. Ela só não soube dizer se era cangaceiro que escapou ou se era da polícia também... Estava sozinho e armado. Roubou um cavalo que tinha aqui, do meu pai, e partiu em disparada... A minha vó Cyrilla, é claro, não podia fazer nada. 

Seu Raimundo, Zi e dona Antonia

Meu pai contou tudo mesmo foi para a minha mãe, Antonia Moreira de Oliveira... Eu fui sabendo aos pouquinhos as coisas... Mas ele mandava eu deixar pra lá que era um assunto ruim que ele queria esquecer.

Ele mesmo, dificilmente eu via sem uma camisa. Só muito rápido... quando estava trocando... Então eu podia ver as marcas... Como fizeram mal ao meu pai... 

Ele nasceu em Mairi, em 5 de março de 1909, e morreu em 7 de abril de 1997.

A minha vó, que também sofreu com a passagem dos cangaceiros, nunca quis falar sobre isso... Não sei se fizeram mal a ela mesma... Porque, se no meu pai eu via, nela era pior ainda de ver... E ela apenas dizia pra eu deixar pra lá, que era assunto ruim... Muito ruim mesmo... Minha mãe, que ela bem menina na época, nasceu em 1910  ainda não casada, não quis contar também o que sofreu com o pessoal dela... Ela morreu em 22 de junho de 2008...

Estão os dois sepultados no cemitério da povoação de Maracujá... É isto o que contei e não sei se devia ter contato... mas, um dia, todo mundo se vai... Minhas filhas acham que não tem problema e é até melhor eu contar... E, agora, já contei mesmo. Fica o que foi como foi.

Ecos no Vento Depoimento de Jardelina do Nascimento Araújo:
  

"Sou mais nova que tudo isso, mas os meus pais e meu tio contaram tudo o que aconteceu para mim... É que não só eu me interessei, como eles falavam muito daquilo tudo que foi excepcional... Agora, aqueles velhos já estão mortos e estes jovens, que vieram bem depois de mim, nem sabem de nada... Alguns, aqui, pensam até que cangaceiro é nome de passarinho... ou é só folclore... A coisa era tão séria que a gente daqui tinha até medo de falar de tudo aquilo até pouco tempo atrás... Mas, agora, tem já tanto tempo... A gente mais velha achava que tinha algum perigo... Mas isso já passou pra quase todo mundo... Tem gente que ainda nem sei se tem medo, mas fica meio ressabiada.

Meus pais disseram que tudo começou com a chegada umas pessoas que batiam e matavam... Ninguém sabia direito quem eram... Só sabiam isso... Que eram sete. Que eram pessoas esquisitas que batiam e até matavam outras pessoas... E isto deixava todo mundo assim muito confuso... É dinheiro? Não tem dinheiro? Apanha. Tem? Apanha também. Então não é dinheiro? Qualquer coisa apanha! Davam muita pancada de palmatória. Era tanto bolo nas mãos que nem conta. Ficavam pretas de pancada.

Ninguém sabia de certo o que estava acontecendo... só que tinha que evitar essas pessoas e fugir... fugir, quando elas chegassem...  se não desse, tinha que atender o que eles queriam... O que eles pediam... E isso espalhou como um horror... As pessoas fugiam pros matos...

E chegaram aqui perto... ali na sede da Fazenda Lagoa do Limo, que daqui dá pra ver... É aquela que tem gente agora chamando Santa Mônica... mas desse outro nome não sei... Só uso mesmo como o pessoal todo o nome Lagoa do Limo, desde sempre...

Aqui era tudo bem diferente... Estas estradas de chão não eram estradas... Eram caminhos entranhados assim, nas caatingas... Tudo vereda... E as casas eram todas de madeira cobertas de palha... A sede mesmo da Lagoa do Limo era uma casa de palha...

E os sete... Eram sete cangaceiros... Quem os viu disse que andavam sempre com muita pressa... Andavam muito rápido prá lá e prá cá...

Eram muito brabos, mas não soube eles não usaram as mulheres... Sei que chegaram e foram ali na sede da Lagoa do Limo... Depois foram para a baixada... Meu tio João viu eles descendo lá pra baixada... Quase passou por eles, Acho até que se viram, mas eles não fizeram nada...

Agora, quando passaram pela Nega Véia... Ela me contou as coisas que conto agora... Não sei o nome dela... Acho que era Maria, mas não sei mais... Ela era bem menina na época, e topou com eles... Eles perguntaram se ela podia trazer água... E a gente daqui sabia que tinha que obedecer a eles, senão era morte certa...

O que eu mais lembro o nome, o Azulão, perguntou pra ela que cabelo curto era aquele... Que o certo era andar de cabelos compridos... e que ela podia morrer por causa disso... Ele disse:

– Você com esse cabelo cortado... Olha que eu vou é lhe matar!

Mas eles deixaram ela ir, porque queriam ela viva pra buscar a água.

- Se você for buscar água pra gente a gente deixa você viva!

Então ela foi buscar a tal da água... Tava indo buscar com um pote.

Mais pra cima, ela topou com os homens que vinham atrás deles... Eles perguntaram ela se ela tinha visto uns homens diferentes por ali, e ela disse:

– Lampião tá lá em casa...

Ela estava com medo de morrer... E eles disseram pra ela que podia descer e levar a água pra eles... E ela foi...E ela viu quando o chefe dos homens foi seguindo ela com os outros. E como ele, quando estava chegando perto, ficou mais pra trás, e mais abaixado... E ele se ergueu atrás de um pé de pau... E como os outros foram se abaixando e aproximando... E se arrastando... Nega Véia me disse que viu quando o chefe bateu o pé, como sinal, e rompeu o fogo...

Então, começou aquele estouro... Ela se jogou no chão, senão tava mortinha...

Daqui lá é longe uns quinhentos metros, mas meus pais e meu tio ouviram tudo direitinho... E as balas zuniram aqui por cima, e minha mãe, Alexandrina Maria do Nascimento, desesperada... Todo mundo se jogou no chão... E meu pai, José Umbelino do Nascimento, disse:

– Agora pronto! O Mundo acabou–se!

E foi muito tiro, por muito tempo. Tiro mesmo. Tiro que passava aqui por cima. Zunia. Ziu! Pá! Pá! Pá! Pá! Ziu! Minha mãe até ainda colocou a mão no coração, quando contou pra mim, tanto tempo depois.

A luta foi só ali embaixo não. Rodou até outros cantos. Era muito medo.
Quando acabou toda aquela alaúza, ficou muito quieto... Não se ouvia nada... Nem pio de ave... Nada... Meu tio João Ribeirão da Silva, então, que era de coragem, levantou e foi caminhando para lá, para a baixa.

Cruzou com os homens voltando carregando as cabeças deles.

Ele foi até lá e viu o que viu o que sobrou... Tiraram quase todas as roupas do mortos... Estavam lá, sem as cabeças e pinicados...  Tinha tanto sangue ali...

Dos sete, três haviam conseguido fugir.

Outras pessoas chegaram e também viram os corpos sem cabeça... Estava tudo acabado. As plantas todas retalhadas de tiro... Um fuzuê...

Meus pais disseram que depois souberam, pelo homens, que os que morreram eram o que atendia por Azulão, um tal de Canjica, a Maria e um que não sei o nome... Hoje em dia, a polícia mata e coloca a arma na mão pra incriminar, mas esses não... Nem precisava. Eram brabos mesmo... Reagiram e mandaram bala... Disseram, os que eram dos homens da polícia que viram e contaram pros daqui da terra, que essa Maria morreu de arma na mão... Caiu morta e não largou o revólver... Lutou até o fim...

Os corpos não foram enterrados não... Ficaram lá apodrecendo... Comida de urubu...

Tinha um cachorro aqui que passou um bom tempo indo até lá e comendo deles... Disseram que ele estava mais gordo que antes por isso... Então, foi certo que os cachorros todos daqui das redondezas começaram a engordar. Nunca seu viu, nesta vida, eles tão gordos. Também... Comeram tudo que ficou...

Daqui mesmo, meus pais viam os urubus todos os dias... E os ossos foram se espalhando... perdendo... porque o mato também come o que fica. Sobrou nada... Não apareceu ninguém que desse sepultura não... Até que tudo acabou. Só ficou o medo de que os companheiros deles, que escaparam, voltassem pra se vingar da gente daqui..."

Pescado no Cangaço na Bahia pelo pesquisador do cangaço Kiko Monteiro

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O CONCHAVO PARA A INVASÃO DE MOSSORÓ E A MORTE DE UM TRAÍDOR

Por Sálvio Siqueira

Naquele tempo, sem a participação auxiliadora dos ‘coronéis’, o cangaço não tinha se enraizado nos sertões nordestinos com tanto ênfase. No mundo do ‘coronel’ estava contido o do cangaceiro e vice-versa. O cangaceiro veio, em sua grande maioria, do mundo dos coronéis, pois, eram ex-jagunços que prestavam seus ‘serviços’ sangrentos e secretos ao mesmo. Depois de roubar, extorquir, maltratar e matar a mando do ‘coronel’, alguns jagunços resolve mudar um pouco


Continuariam fazendo tudo aquilo, porém, a ‘arrecadação’ em dinheiro, prata e ouro no exercício de seus crimes seria dele próprio, quando muito, repartiam meio a meio com o coronel o que já os deixavam de igual para igual nesse sentido.


Com essa determinação dos cabras, os coronéis continuaram contratando outros jagunços, no entanto, aqui acolá, esses ex-jagunços, agora cangaceiros, emprestavam suas espingardas aos serviços dos seus ex- patrões em casos determinados como ‘especiais’: rixa política entre chefes regionais, uma propriedade que queriam comprar e não estava a venda e outros do mesmo porte. Havia, dentre outras, uma boa razão para ocorrer essa contratação, que seria o não aparecimento dos seus homens, com isso ele tirava um pouco dos ombros a suspeita que certamente teria a Força Pública. É claro que sendo um desafeto de determinado ‘chefão’ da região, não só as autoridades como todo o restante da população sabia quem seria o mandante, mas, todos faziam de conta não saberem e o poder estando em suas mãos à justiça não tinha como agir contra os próprios.

Alguns estudantes do tema cangaço acreditam que o ‘coronel’ do sertão nordestino, o latifundiário, era o maior inimigo dos cangaceiros. Ocorria exatamente o contrário. O cangaceiro que se atrevia a ficar inimigo dos ‘coronéis’ não sobrevivia muito tempo. Parte da pirâmide de colaboradores, a malha humana de colaboradores que Lampião, o “Rei do Cangaço”, conseguiu erguer, formar, era dos coronéis que foram à ‘prestação de serviços’ executados em prol do chefe cangaceiro em se tratando de abastecimento com mantimentos, armas e munição, coisas essenciais para sobrevivência de qualquer grupo armado.

Só que quando o jagunço ou cangaceiro chegavam até um coronel ou ao território por ele controlado, há muito que aquela força dominante existia na região, pois vinha, na maioria das vezes, herdada por gerações. Então, para continuarem com as rédeas do poder, logicamente o coronel e cia pendiam, na hora do aperto, para o lado mais forte, o governo, com isso os bandoleiros levavam sempre a pior. Assim, na sequência dos arrochos empregados pela Força Pública o cangaço chega ao seu epílogo em maio de 1940 com a morte do chefe cangaceiro Corisco.


A década dos anos 1920 é considerada como sendo a época em que mais surgiram grupos de bandoleiros armados aterrorizando os sertanejos. Tanto que, estatísticas mostram que após 1922 mais de 40 grupos de cangaceiros agiram no Sertão, microrregião semiárida do Nordeste brasileiro até meados de 1927. Dentre todos os grupos de bandoleiros, bandos de cangaceiros, que apareceram naquele momento, o comandado pelo pernambucano Virgolino Ferreira, o cangaceiro Lampião, natural de Passagem das Pedras, município de Vila Bela, hoje Serra Talhada, PE, foi o que mais se destacou. Igual seus antecessores, Lampião teve que se conciliar com coronéis, roceiros, militares e governantes para conseguir sobreviver às perseguições impostas pela Força Pública.

A historiografia nos mostra que vários dos coronéis que fizeram conchavos com cangaceiros, os traíram para, principalmente, se darem bem diante da ‘justiça’. Mesmo assim, na época do cangaço lampiônico grandes latifundiários, comerciantes e agricultores colaboradores foram presos e abatidos pelas volantes. Exterminando a colaboração dos colaboradores seria o único meio de chegar ao cangaceiro mor.


Naquele tempo, 1927, um dos grandes coiteiros do cariri cearense era o coronel Isaías Arruda. Isaías sempre manteve ao seu comando um bando de jagunços bem armados para não perder o domínio da região. Além disso, tinha constantes contatos com chefes de bandos de cangaceiros incluindo, dentre esses, Lampião. Em certa data, Arruda manda chamar vários chefes de bandoleiros para uma determinada ação. Entre eles estavam Sabino das Abóboras, Massilon Leite e Virgolino Ferreira. Massilon, dono de uma ambição maior do que a dos outros, tem a ideia de atacarem uma cidade de grande porte no Estado potiguar. Passando a ideia para o coronel Arruda, esse também cheio de ambições, concorda e se compromete em fornecer material bélico, alimento e dinheiro para as devidas despesas que teriam na grande empreitada que fariam.

Segundo José Cícero, professor e pesquisador do cangaço, além de Secretario de Cultura de Aurora – CE, o chefe cangaceiro Massilon Leite, quando em viagem ao encontro com o coronel Isaías, na fazenda Ipueiras, “Depois de comerem na casa do vaqueiro, Massilon com seu bando seguiu para o esconderijo da serra dos Cantins a cerca de apenas meia légua da Ipueiras(fazenda do coronel Isaías Arruda arrendada ao cunhado Zé Cardoso) onde aguardaria o coronel e Lampião com relativa segurança.”

Esse vaqueiro em qual casa os cangaceiros de Massilon fizeram uma ‘boquinha’, era o senhor Vicente, que trabalhava para Zé Cardoso, outro fazendeiro cunhado de Isaías, e para o próprio coronel Isaías. Seus serviços não era apenas arrebanhar reses desgarradas, alimentá-las e desleitar as vacas pela manhã, e sim levar e trazer informações dos amigos dos fazendeiros e, principalmente, notícias dos inimigos desses. Estava por dentro de muitos ‘acordos’ e missões destinadas aos jagunços e cangaceiros contratados pelo coronel.


Vejamos, segundo o pesquisador José Cícero, o diálogo que o vaqueiro Vicente teve com Massilon antes de irem à casa do mesmo:

“- Bom dia Massilon! Como você voltou cedo... o combinado num era pro mês que entra? - Disse o vaqueiro com certa intimidade.

- De fato Seu Vicente, nós havia acertado com Zé Cardoso e o coroné pro começo do mês de julho. Mas sê sabe como é, a gente num domina os acontecimentos. – Continuou:

- Por isso tô aqui. E também já sei que o capitão Virgulino já tá chegando aí por perto. Tá pras bandas das porteiras ou nas terras de Antoin da Piçarra dando uma descansada - Explicou Massilon sentado de lado sobre a lua da sela, como que descansando as nádegas da longa viagem.

- É bom prevenir o capitão. Vi dizer que os macacos de Arlindo Rocha e Mané Neto estão fechando o cerco por aquelas bandas. É bom num facilitar. Aqui na Aurora estamos mais protegidos sob os cuidados do coroné Arruda.


Depois emendou: - Mas seu Vicente, me diga, onde está seu Zé Cardoso? –Perguntou:

- Trago a encomenda do coroné Izaías Arruda e tenho um bilhete de Décio Holanda sobre aquele assunto de Mossoró. Neste instante o vaqueiro do Diamante pareceu que tinha fogos nos olhos.

- Ora Massilon, você devia ter mandado dizer antes pelo pessoal das Antas. Zé Cardoso foi pra Missão Véia inda hoje no trem da feira pra tratar de assunto particular com o coroné Izaías. Depois a gente precisa de pagamento né. Disse ele que tinha pressa e tinha urgência. O vaqueiro continuou na sua longa explicação:

- Mas pelo jeito a amanhã cedo já deverá está de volta pelas Ipueiras. – explicou.

- Mas me diga onde vosmicê quer se arranchar? Aqui no Diamante na minha morada ou lá na casa das Ipueiras? Quis saber o vaqueiro. 

Pensativo Massilon demorou um pouco com o olhar enigmático voltado para o norte. Depois respondeu de chofre:

- Seu Vicente agradeço a sua hospitalidade. Mas quero ficar com meus homens até Zé Cardoso me trazer o coroné, lá na gruta da serra dos Cantins se o amigo não fizer caso pela escolha. – disse ele.

- O amigo acaso podendo me dispor do necessário é lá que eu queria me acoitar pelo tempo devido que for. Tenho coisas importantes para o coroné e naquele esconderijo de Lampião me sinto mais seguro. Sê sabe como é né? Munição e arma nós tem pra qualquer precisão.

- Bom, se o amigo deseja assim. Assim será feito. O resto pode deixar por minha conta.”

Massilon estava retornando de uma ‘missão’ determinada pelo coronel Isaías Arruda onde conseguiu uma grande soma em dinheiro. Esse espólio, produto do crime, tinha que ser repartido com o mandante. Devido ter tido que emprenhar a força e fazer sangue, sem necessidade, diga-se de passagem, Massilon, achou melhor ficar protegido em um dos tantos esconderijos descobertos e usados por Lampião, isso por ter receio de alguma retaliação por parte de alguma volante vinda ao seu encalço.

“Era inegável. Ele (Massilon) temia alguma perseguição pela pilhagem que praticara dias antes. Com toda aquela dinheirama obtida nos últimos saques, Massilon repartiria com o coronel Izaías Arruda. Este era o trato – a partilha seria na base do meio a meio. E de quebra, por conta desse lucro, aparentemente fácil, tentaria convencer o arguto Lampião para a sonhada empreitada da invasão de Mossoró. Seria o xeque mate para subir de vez na vida.” (José Cícero)


Após alguns dias de espera e, por fim, os ‘convidados’ chegam e rumam para a sede da fazenda Ipueiras. Essa fazenda estava arrendada a Zé Cardoso, mas era propriedade do coronel Isaías Arruda, seu cunhado. Nela, em sua sede, foram arquitetados os planos e acordos para a invasão da cidade de Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte. Os quais, diga-se de passagem, não foram por total analisados minuciosamente. “Da qual participaram, além de Massilon, o cangaceiro aurorense Júlio Porto que servia a Décio Holanda do Pereiro, Zé Cardoso, Lampião, Sabino e o coronel Izaías Arruda, este último como o grande patrocinador da empreitada.” (José Cícero)

Nesses dados históricos passados pelo pesquisador José Cícero, “... o cangaceiro aurorense Júlio Porto que servia à Décio Holanda do Pereiro” , aparecem o nome de uma pessoa natural do município de Mossoró, RN. Então surge, evidentemente, uma nova suspeita de onde vieram às informações sobre a riqueza da cidade e de seu prefeito, na ocasião, o coronel Rodholfo Fernandes. Carecendo essa ligação ainda ser bem pesquisada e analisada pelos historiadores.

Segundo escritores, de princípio Lampião não aprova o plano e nega-se a participar. Porém, como a cobiça pelo cobre obscurece a mente humana, Massilon e o coronel Isaías terminam por convencê-lo. E sabemos no que deu.

O coronel Isaías Arruda, arquiteto e patrocinador do plano para o ataque e saque da cidade potiguar do sal, se ver apertado quando o plano não deu certo. Os resultados saíram diferentes do planejado e, além do prejuízo financeiro, seu nome estava em jogo. Sabedor do que ocorria ao bando de bandoleiros chefiado por Lampião em sua jornada de retorno ao Ceará, logicamente ao ponto de partida, as terras da fazenda Ipueiras, arquiteta outro plano para ver se se via livre daquela ameaça, ou daquelas ameaças: Lampião, seus cabras e a Força Pública de três Estados nordestinos empenhados em acabar com o bando, que seria matar seu cúmplice e seus comandados. Na vagem da fazenda, quando da parada do bando enfraquecido pelas constantes derrotas empregadas pelas volantes, o coronel Isaías e seu cunhado Zé Cardoso, mandam que o vaqueiro lhes sirva comida envenenada, coloquem fogo no canavial barrando a via de fuga e, por último, cedem seus jagunços para juntarem-se ao contingente de uma volante cearense a fim de cercarem e atacarem conjuntamente para acabarem de vez com o Capitão cangaceiro. As baixas foram enormes, porém, por incrível que pareça, Lampião consegue se safar dessa grande emboscada juntamente com parte de seus homens e segue para o Pajeú das Flores, seu torrão natal, lambendo suas feridas.


Logicamente a traição do coronel coiteiro não poderia ficar impune. Aí aparece outra forma, maneira, de agir do pernambucano chefe cangaceiro Virgolino Ferreira. Segundo o pesquisador/historiador Frederico Pernambucano de Melo, em seu livro “Guerreiros do Sol”, 5ª edição de 2011, Lampião usa dos serviços de pistolagem para resolver certos assuntos pendentes e um deles era exatamente a traição do coronel Isaías Arruda.

Havia uma família denominada ‘os Paulino’, que era composta por três irmãos: Antônio, Francisco e João, este último sendo o mais velho. Em determinada data o coronel Isaías Arruda envia seus jagunços para darem cabo dos ‘Paulino”, e esses assassinam o irmão mais velho, chamado de João. Sabedor dessa rixa, Virgolino, aproveitando a intriga de sangue, fornece dados e dinheiro para que os dois irmãos matem o coronel. Assim, de uma única jogada, Lampião queria fazer com que Isaías pagasse por sua traição, ocorrida um ano antes, e, ao mesmo tempo, os irmão ‘Paulino’ teriam sua tão sonhada vingança. Apesar do inquérito oficial referir que “os paulinos vingaram o assassinato do irmão mais velho João, morto numa emboscada no serrote d’Aurora pelos jagunços de Arruda no ano anterior. A verdade é que ocorreu um ótimo plano para o assassinato do traidor, “... o assassinato uma vingança de Lampião pela traição do coronel um ano antes, durante a célebre tentativa de envenenamento do bando lampiônico e o histórico cerco de fogo do sítio Ipueiras, propriedade de Arruda em Aurora em cujo local Virgulino se arranchara por diversas vezes. Ocasião em que o rei do cangaço fugia das volantes após o fracasso da invasão de Mossoró, arquitetada sob as estratégias de Massilon Leite e financiada pelo próprio Isaías.” (José Cícero)


Lampião, nessa época, segunda metade do ano de 1928, não tinha condições de retornar ao cariri cearense devido à força de quatro Estados nordestinos, Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, conjuntas, estarem no seu encalço dia e noite. No Estado da Paraíba, particularmente, ele há muito não fazia suas incursões devido o atrito criado com o coronel José Pereira, chefe político da cidade de Princesa Isabel, outro coiteiro que o traiu usando o ataque a cidade de Souza em 27 de julho de 1924 pelos cangaceiros de seu bando, o qual ordena aos seus jagunços, em número maior do que o contingente militar daquele Estado saírem em campo para acabarem com ele.

No ocaso do ano de 1928 ele é obrigado a migrar para o Estado baiano tendo consigo apenas cinco cangaceiros “Ponto Fino II” que era seu irmão caçula Ezequiel, “Moderno” seu cunhado Virgínio Fortunato, “Caititu” o Luiz Pedro de Siqueira, “Mergulhão” que era Antônio Juvenal e “Mariano”, Mariano Laurindo Granja. O restante do bando foi abatido, outros se entregarem as volantes para não morrerem e ainda tinha aqueles que desertaram e entraram no meio do mundo sem darem mais notícias... Nas quebradas do Sertão.


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SERTÃO NOVO


Por José Gonçalves

não ouço mais o estouro
da terrível “Matadeira”,
já não vejo mais os homens
se baterem na trincheira,
tampouco sinto o cheiro
da fumaça e da poeira.

sinto o cheiro tão somente
da flor do manjericão,
vejo homens a correr,
mas nas festas de mourão,
e estouro, só dos rojões
nas noitadas de São João.

ouço os sinos da igreja,
chamando pra Ave Maria,
ouço a cantiga do povo,
celebrando o novo dia,
ouço Antônio Peregrino,
pregando sua profecia:

“o sertão vai virar mar,
o mar vai virar sertão,
as águas vão virar leite,
as pedras vão virar pão,
a terra será de todos,
nela todos plantarão”.

"não haverá mais o medo,
não haverá mais temor,
e a palavra de ordem,
agora será amor;
os campos da maldição
viraram campos de flor".

vejo as roças de feijão
a florirem na invernada,
vejo cabritos felizes
a pularem na malhada,
vejo rios de água doce
deslizando na baixada.

a bandeira da vitória,
livre de todo estorvo,
tremula no horizonte,
acenando para o povo,
sinalizando o começo
do sonhado sertão novo.

José Gonçalves


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ABNEGADOS PRESERVAM A HISTÓRIA DO NORDESTE


Por Junior Almeida

Na manhã do dia 14 de junho de 2018 dezenas de pessoas estiveram em Angelim, no Agreste Meridional de Pernambuco, para prestar homenagens ao oficial das Forças Volantes, CAPITÃO JOSÉ CAETANO DE MELLO, nascido em Pesqueira, no mesmo Estado, em julho de 1872. A referida cerimônia teve como objetivo resgatar a história de um dos mais valentes oficiais de volantes que combateu o cangaço de Porcinos, Matildes, Augusto Santa Cruz, Antônio Silvino, Sinhô Pereira e por último Lampião.

Numa iniciativa do Instituto Cariri Cangaço do Brasil, através do seu conselheiro, pesquisador Junior Almeida, Polícia Militar de Pernambuco, na pessoa do comandante do 90 BPM, Tenente Coronel Paulo César Gonçalves e Prefeitura Municipal de Angelim, que tem à frente o gestor Douglas Duarte, a cerimônia cívico militar foi realizada no centro da cidade, em frente ao cemitério local. Coronel Iturbison Agostinho dos Santos, ex-comandante geral da corporação, foi quem presidiu a cerimônia.


Um resumo da carreira de Zé Caetano foi lido pelo cerimonial, e o Coronel Iturbison, ao usar da palavra, ressaltou a importância dos antigos volantes, a exemplo, do homenageado, na preservação da lei e da ordem. No interior do campo santo, uma placa com as logomarcas do Governo de Pernambuco, Secretaria de Defesa Social, PMPE, Batalhão Arruda Câmara (90 BPM), Prefeitura de Angelim e Instituto Cariri Cangaço, foi descerrada pelo neto de José Caetano, Humberto Marcos, e pelos representantes das instituições à frente da homenagem.

Ao lado do túmulo do antigo volante, o Grupo de Ações Tática Itinerante – GATI - homenageou José Caetano com salvas de tiros de fuzil. Do lado de fora do cemitério, a banda do 40 Batalhão de Polícia Militar, em Caruaru, executou o Hino Nacional, da PMPE, e dobrados militares, um em cada momento da solenidade.


Ao término da cerimônia, o prefeito Douglas Duarte, os oficiais PMs, Iturbison e Paulo césar, além do escritor Junior Almeida, concederam entrevistas onde ressaltaram a importância do resgate histórico do Capitão José Caetano.

Só ressaltando que essa não é a primeira vez que abnegados homens e mulheres não medem esforços para preservação da História do Nordeste, em especial da saga cangaceira. Cangaceiros e volantes já tiveram seus nomes reavivados por pessoas que têm a seriedade necessária e o compromisso para fazer o devido resgate. Vamos aos casos:

QUEIMADAS, BAHIA

Em 22 de dezembro de 1929, Lampião à frente de vários cangaceiros entrou na cidade de Queimadas, Bahia, onde cometeu um dos crimes mais covardes da sua vasta história de bandoleiro. Depois de cortadas as linhas de transmissão do telégrafo da cidade, o Cego de Vila Bela, acompanhado de seus cabras, foi até o destacamento da Força Pública, no centro da cidade, onde surpreendeu os militares que lá se encontravam, prendendo-os no lugar dos presos, que foram libertados.


Depois de saquear tudo que podiam no comércio, os cangaceiros voltaram para o destacamento e puseram os sete policiais que tinham prendido para fora do prédio, assassinando-os fria e covardemente a tiros e golpes de punhal, no meio da rua.

Por essas mortes, a Polícia Militar daquele Estado, em parceria com a Prefeitura de Queimadas realizou em 22 de setembro de 2014 uma solenidade para homenagear os sete policiais militares mortos covardemente por Lampião em 1929. O evento aconteceu na praça onde fica a cadeia pública, local da chacina, onde tombaram sem vida os sete militares.


No ato, o Comandante Geral da PM, Coronel Alfredo Castro, e o Prefeito Tarcísio de Oliveira reinauguraram o Destacamento da PM, batizado com o nome de um dos mártires, Aristides Gabriel de Souza. Após a solenidade, que contou com discursos, resumo histórico e desfile de tropa, o povo de queimadas acompanhou as autoridades em cortejo até o Cemitério Municipal, onde, no túmulo dos heróis, havia sido afixada uma placa em memória deles. Lá foram depositadas flores e foi ordenado toque de um minuto de silêncio, que as pessoas aproveitaram para fazer suas orações.

O coronel Souza Neto, cidadão queimadense e idealizador da homenagem, disse que “era dever que estava em sua consciência, resgatar a história de Queimadas, que sentia gratificado.

MORENO E DURVINHA

O casal Antônio Inácio da Silva, Moreno, e de Durvalina Gomes de Sá, Durvinha, foram cangaceiros bando de Lampião, e haviam abandonado o Nordeste depois da morte do Rei do Cangaço em julho de 1938, vivendo resto de suas vidas em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ao morrer em 2008, Durvinha foi enterrada em um cemitério da capital mineira, depois, em 2010, Moreno também faleceu,sendo sepultado em outro local, ambos em simples sepulturas.


Em 2014 o pesquisador e conselheiro do Cariri Cangaço, Ivanildo Silveira, que é promotor de justiça no Rio Grande do Norte, através de ofício, entrou em contato com a prefeitura de Belo Horizonte, explicando a importância histórica daqueles dois personagens da história do Brasil, estarem enterrados em terras mineiras, e solicitou que o poder executivo local destinasse uma sepultura melhor para o casal de cangaceiros, bem como o depósito dos restos mortais de Moreno e Durvinha em um único local.

O pedido de Doutor Ivanildo foi atendido, e a Prefeitura mandou construir um mausoléu para o casal no Cemitério da Saudade, na Zona Leste de belo Horizonte. A filha mais velha do casal de cangaceiros, que também faz parte do conselho do Instituto Cariri Cangaço, Neli Conceição, a Lili, na época, bastante emocionada, declarou à imprensa que: 


É muito gratificante para a minha família ter esse reconhecimento. Tenho muito orgulho de saber que os dois fizeram parte da história do Brasil e que agora vão estar juntos.

ANTÔNIO SILVINO

Manoel Baptista de Morais nasceu na Serra da Colônia em Afogados da Ingazeira, Pernambuco, em 2 de novembro de 1875. Entrou no cangaço em 1896 após a morte do seu pai, Pedro Baptista de Morais, o Batistão do Pajeú, adotando o nome de Antônio Silvino, em homenagem ao seu tio Silvino Aires. O Rifle de Ouro, como era chamado, é considerado o primeiro rei do cangaço, e morreu em Campina Grande, Paraíba em 30 de julho de 1944.


Depois de mais de meio século da morte do célebre cangaceiro, seu túmulo estava lá, no Cemitério de Monte Santo, em Campina Grande, sem que ninguém se desse conta que ali estavam os restos mortais de um grande personagem da história do Brasil. Inconformada com esse desprezo perante à história, em 2014 a pesquisadora e radialista Sulamita Buriti resolveu “arregaçar as mangas” e bancou por conta própria e com a ajuda de um irmão a reforma do túmulo do “Rifle de Ouro”.

Sulamita revelou que a princípio pretendia fazer a reforma e ficar no anonimato, mas depois que apareceram algumas pessoas querendo ser “o pai da criança”, inclusive postando fotos em redes sociais, como se fossem os responsáveis pela obra, ela resolveu contar a novidade aos colegas de imprensa, que fizeram várias reportagens sobre a vida de Antônio Silvino, seus últimos dias em Capina Grande e a reforma de sua sepultura, ato de grande valia para preservação da história do cangaço e do Brasil.

ADRIÃO PEDRO

Morto por cangaceiros, provavelmente por Balão, o militar foi a única baixa das forças volantes que mataram Lampião, Maria Bonita e parte do seu bando em 28 de julho de 1938. Merecidamente o soldado Adrião Pedro também foi homenageado. Por duas vezes a mesma homenagem. A primeira em 2015, o pesquisador e conselheiro do Cariri Cangaço, Antônio Vilela, de Garanhuns, Pernambuco, decidiu em parceria com outros pesquisadores do Instituto Cariri Cangaço, colocar uma cruz e uma placa na Grota do Angico, Poço Redondo, Sergipe, local onde ele foi morto. Pouco tempo depois a cruz e a placa sumiram misteriosamente, o que obrigou o pesquisador a refazer sua homenagem. Ele voltou o ano seguinte acompanhado de outros pesquisadores e fez tudo de novo. Atualmente cruz e placa homenageando Adrião, estão no mesmo lugar.

ANTÔNIO FERREIRA

Em 28 de maio de 2015 durante o Cariri Cangaço de Floresta, Pernambuco, vários pesquisadores estiveram na Fazenda Poço do Ferro, município de Ibimirim, para conhecer o famoso coito de propriedade de Anjo da Gia, onde Lampião e seus cabras passavam dias e dias descansando das correrias, e também para colocar uma nova cruz na sepultura de pedras do cangaceiro Antônio Ferreira, irmão de Lampião, morto em 1926. A iniciativa foi do Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço – GPEC- que tem à frente os pesquisadores e conselheiros do Cariri Cangaço Jorge Remígio, Jair Tavares e Narciso Dias. A velha cruz, carcomida pelo tempo, não fazia jus a tão importante personagem da saga cangaceira, o cangaceiro Esperança, irmão do rei do cangaço. Preocupados com a História, abnegados pesquisadores deixaram a sua marca de responsabilidade em meio à caatinga, sinalizando para futuros visitantes que naquele local está sepultado um importante personagem da história do Brasil.

*Fotos: 1- Pesquisador Junior Almeida, prefeito de Angelim, Douglas Duarte, Humberto Marcos, neto do Capitão José Caetano, Coronel Iturbison Agostinho e TC Paulo César; 2- Queimadas BA; 3- Túmulos dos cangaceiros Moreno e Durvinha em MG; 4- Cangaceiro Antônio Silvino; 5- Pesquisadora Sulamita Buriti; 6- Placa que homenageia o soldado Adrião na Grota do Angico SE; - 7- Cruz de Antônio Ferreira, Fazenda Poço do Ferro, Ibimirim PE.

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