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domingo, 13 de novembro de 2011

"ALGUMAS DICAS DE PROCEDIMENTOS DO COMBATE DA EVASÃO ESCOLAR"

Obs: Imagem extaída do site: http://evasãonaeja.blogspot.com/

Para divulgar estes procedimentos, num primeiro momento, foram realizadas palestras nas escolas municipais, reunindo equipes diretivas, professores, alunos, pais e responsáveis, com objetivo específico de divulgar o projeto e enfatizar a importância de combater a evasão escolar.
Em termos de procedimento, quando algum professor observa a ausência continuada de algum aluno, comunica a direção da escola ou a própria supervisora. Realiza-se então um contato direto com o aluno na própria escola.
No caso do contato direção-aluno não surtir efeito, os pais ou responsáveis do aluno em processo de evasão escolar são convocados pela supervisão de combate à evasão escolar para, em reunião, tratar do caso específico do referido aluno.
O passo seguinte é a visita da supervisora aos pais ou responsáveis que não comparecerem à reunião. Neste caso, quando os pais ou responsáveis não se assumirem como tais, dizendo, por exemplo, que moram ali há pouco tempo e que não têm filhos, a supervisora de combate à evasão escolar faz uma nova visita acompanhada de um colega para reconhecimento de ambos. Neste caso, o colega reconhece a casa do outro e confirma que ele realmente mora ali.
Quando, ainda assim, os pais ou responsáveis se recusam a conversar sobre o assunto, ou seja, quando se esgotam os recursos via conversação e negociação entre pais, alunos e supervisão, esta recorre aos Conselhos Tutelares informando a situação.
O Conselho Tutelar é responsável por encaminhar diversos casos em que o menor está em situação de risco, como apoio psicológico a menores usuários de drogas ou alcoólatras bem como pertencentes a famílias desestruturadas.
Ressalta-se neste sentido que quando a família é estruturada, os pais recebem a notificação ou a visita do supervisor com bons olhos e geralmente resolvem o problema. No caso de famílias desestruturadas, muitas vezes a evasão é um problema mais sério.
Em última instância, através da Vara da Infância e da Juventude, acionam-se os pais ou responsáveis judicialmente pelo aluno.
Referência Bibliográfica:
CALDAS. Eduardo de Lima. Combatendo a Evasão Escolar. Publicado no site da Fundação Perseu Abramo, em: 18/05/2006. URL: http://fpa.org.com

Obs: Nesta postagem estão apenas alguns trechos do artigo do autor Eduardo de Lima Caldas, para ter acesso ao artigo completo aconselho visitar o site: http://fpa.org.com

Turista paraibano sentiu-se mal e morreu na praia de Tibau no Rio Grande do Norte

Foto da Região onde aconteceu o óbito

O pelotão de policia militar da cidade praia de "Tibau", registrou uma morte de forma natural em plena orla marítima, na manhã deste domingo, 13 de novembro de 2011.

Pedro Lopes do Nascimento, 73 anos de idade, aposentado, residente na rua Princesa Isabel, 65 na cidade de Souza, no Estado da Paraíba, sentiu-se mal e morreu na praia de "Tibau", região litorãnea do Estado do Rio Grande do Norte.


http://www.ocamera.com.br/site/

Que linda imagem!

TEXTO DEDICADO A ARMANDO RAFAEL

Por Edilma Rocha


CHILENO NATURALIZADO BRASILEIRO HENRIQUE BERNADELLI
Uma família de artistas chilenos instala-se no Rio de Janeiro, precisamente no bairro Copacabana.
Nasceu Henrique Bernadelli em Valparaiso, no Chile, no dia 15 de Julho do ano de 1857. Chegou muito pequeno junto aos irmãos, Rodolfho e Felix.
Os pais artistas famosos no Chile, dos quais o trio herdou os valores artísticos da família. Cresceram dentro do mais famoso atelier de Copacabana. Ali se encontravam, paisagens, naturezas mortas, retratos, esculturas, produzidas pela família inteira.
Em 1870, Henrique Bernadelli, ingressa na Academia Imperial de Belas Artes, sendo aluno do mestre Pedro Américo e João Zeferino da Costa. Foi condecorado com todas as medalhas honrosas, ouro, prata e bronze, que um artista poderia almejar.
Em 1878, viaja para a Europa para se encontrar com o irmão Rodolfho que já se especializava na Itália. Nesse período executou as mais belas paisagens de Capri e Roma, tipos populares e composições. No seu regresso realizou uma exposição de grande impacto pelas obras apresentadas, e entre elas a famosa, "Tarantela" pertencente hoje ao Museu Nacional de Belas Artes do MEC. Realizou uma coletânea de aquarelas com incrível técnica e colorido maravilhoso, transformando-se um inovador na sua época. Era a fama impondo o artista ao mundo carioca.
Em 1881, naturaliza-se brasileiro para gozar do prémio de viagem ao estrangeiro, passando a estudar em Paris por 4 anos com bolsa de estudos concedida pelo governo do Brasil. Radicalizando-se na França, conquista a medalha de bronze na Exposição Universal de Paris. No ano seguinte recebe a primeira medalha de ouro da Exposição Geral de Belas Artes no Rio de Janeiro, ano em que foi nomeado professor de pintura na Escola Nacional de Belas Artes.
Foi decorador do Teatro Municipal do Rio, da Biblioteca Nacional de Belas Artes e do Museu Paulista, com seus notáveis arabescos.
Produziu obras espetaculares em todos os estilos e muito realizou em seu atelier junto aos irmãos, Rodolfho e Felix. Retratou o irmão Rodolfho Bernadelli com uma tela fiel e quase real, que hoje se encontra no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
No Museu de Arte Vicente Leite do Crato, encontra-se no seu acervo um retrato da escultora Celita Vacani, pintado por Henrique Bernadelli.
Falece em 6 de Abril do ano de 1936. Era possuidor de um talento privilegiado e deixou obras de grande valor artístico no Brasil e na Europa, fazendo valer a cidadania brasileira.

Edilma Rocha

Linhas Tortas

Por: Dulce Cavalcante
[PB250001.JPG]

nacos de luz




Quando encontrares
pedaços de lua
nacos de luz
incandescência
derramada
à beira de um rio
trate tomar para si
apodere-se deles
poucas vezes
encontramos assim
derramados
 pedaços de lua
nacos de luz


http://dulcecore.blogspot.com/2011/10/nacos-de-luz.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

A importância da Perícia técnica na investigação criminal

Por: Archimedes Marques

A Polícia judiciária responsável constitucionalmente pela investigação criminal, investigação policial ou inquérito policial como queiram assim definir e que em verdade é tal instrumento a base, o alicerce, pelo qual o Ministério Público se fundamenta no sentido de oferecer a possível denúncia para levar os criminosos às barras da Justiça, sempre, desde os primórdios tempos, necessitou da ajuda da Perícia técnica que posteriormente ganhou a denominação de Polícia técnica.
A Justiça criminal que busca a verdade real, a verdade absoluta dos fatos delituosos para não cometer o injusto, vez que, entende-se como bem maior a liberdade da pessoa, por isso comungar-se que é melhor deixar um culpado solto do que um inocente preso, procura no alicerce do processo, no inquérito policial o maior número de provas possíveis, dentre as quais as provas técnicas que de quando em vez são até decisivas no seu julgamento.
O inquérito policial que tem o comando do Delegado de Polícia conta com a participação dos seus auxiliares, Escrivães e Policiais civis ou Investigadores que trabalham sob sua orientação em busca de tantas provas quanto forem possíveis e, do auxilio inequívoco e essencial da Perícia técnica aguardando sempre da mesma, laudos perfeitos que podem por fim às dúvidas e até mesmo restar concluída a investigação criminal inerente para o seu relatório final, entendendo-se assim, como sempre foi, que a Polícia técnica faz parte da família Policia civil, ambas são auxiliares da Justiça, ambas formam a força da Polícia judiciária. Uma está atrelada a outra. Uma é parte da outra. Uma é filha legítima da outra e não há como negar tal filiação.
Neste patamar de vida a Perícia técnica cresceu e se desenvolveu dentro da sua necessária atuação por conta da investigação policial e, os policiais civis sempre foram parceiros dos peritos criminais, por vezes até pari passu em alguns Estados do país relacionados aos seus proventos. A evolução da investigação policial também fez com que a técnica pericial apurasse novos métodos de auxilio a esse instrumento.
A Polícia técnica além de ser vital como instrumento de elucidação de crimes, é também um tema muito interessante, enriquecedor e fascinante. Até quem não gosta de Polícia, se interessa pelo tema, basta ver o sucesso dos filmes ou seriados pertinentes em que através daqueles peritos super equipados, principalmente em novas tecnologias científicas dos Estados Unidos resolvem os crimes mais difíceis possíveis.
Uma investigação policial sem provas materiais consistentes, corroboradas por laudos periciais ineficientes, é como um fraco alicerce sob um edifício e, a posterior denúncia oferecida pelo Promotor de Justiça é uma frágil e ineficaz denúncia, facílima de ruir e colocar tudo abaixo.
Assim, a Polícia técnica que abrange o Instituto de Criminalística, o Instituto de Identificação e o Instituto Médico Legal, amadureceu e se tornou sólida ao lado da Polícia civil, uma sempre lutando por melhoras ao lado da outra. Entretanto o que se vê em alguns Estados do país é uma luta inglória desta classe técnica cientifica pela sua desvinculação da Polícia civil, em alguns lugares já conquistado o intento, ao mesmo tempo em que insurgem outras Polícias técnicas a se mostrar arrependidas dessa suposta vitória.
Nesta perspectiva, algumas Polícias Técnicas que se desvincularam da Polícia civil progrediram profissionalmente, outras estagnaram ou regrediram, ao mesmo tempo em que não há um consenso geral se esta dissociação é ou não salutar para o inquérito policial, objeto essencial para a sobrevida dessas duas organizações que formam a Polícia Judiciária.
Dentro deste patamar da suposta independência da Polícia técnica que se deu também há alguns anos atrás no nosso Estado de Sergipe, pude perceber o quanto nós ficamos estacionados no tempo ou até mesmo regredimos. Digo isso em cátedra, pois compulsei, presidi e vivenciei incontáveis inquéritos policiais da época de mais de duas décadas atrás até agora, constatando que os laudos periciais antigos, por vezes eram melhores e mais bem elaborados ou conclusivos que os atuais apesar dos recursos serem inferiores.
Paramos no tempo e no espaço. Não houve, ao longo dos anos, boas políticas de investimento nas novas técnicas e no avanço da tecnologia científica, continuamos praticamente funcionando com os mesmos equipamentos de outrora e o material humano também foi esquecido em governos sucessivos, não houve concurso algum, o corpo de Peritos e Médicos legista foi até reduzido com a evidente saída, aposentadoria ou falecimento de alguns dos seus membros. Não fosse o nosso setor de inteligência policial que é bem equipado e funciona a contento produzindo provas tecnológicas para os Inquéritos policiais atuais estaríamos construindo muitos alicerçares frágeis para dispor à Justiça a verdade real dos crimes e dos seus autores e participes.
Diante das interrogativas dúvidas de melhoras das Polícias técnicas estaduais, vez que os seus respectivos Governos, tanto podem bem contemplar uma ou outra força partilhada ou bipartida, precisamos continuar juntos para fortalecer a nossa força, assim como, necessitamos do aperfeiçoamento técnico, tecnológico científico, de investimentos maciços e reais nesta importantíssima Instituição que em boa parte dos Estados brasileiros também estagnou e permanecem com equipamentos velhos, obsoletos e ultrapassados, em suma, verdadeiras sucatas que já deveriam fazer parte dos seus respectivos museus.
Precisamos também melhor contemplar esses valorosos profissionais, com salários dignos, contratar especialistas em todas as áreas técnico-científicos possíveis para que se fortaleçam ainda mais os procedimentos investigativos e, enfim, venham a satisfazer verdadeiramente os anseios do Mistério Público, do Judiciário e da própria sociedade que passaria a ver menos impunidade para os criminosos.
Não se faz Polícia com pechincha, muito pelo contrário, uma boa e verdadeira Polícia custa muito caro e é isso justamente que o povo exige do poder público, uma Polícia forte, principalmente com o que de melhor houver em técnica e tecnologia internacional para que lhe forneça uma segurança pública adequada e que também torne a impunidade dos criminosos como instrumento negativo do passado.

Autor: Archimedes Marques (delegado de Polícia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela Universidade Federal de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br

Artigo enviado para ser publicado neste blog pelo autor: 
Dr. Archimedes Marques

João de Sousa Lima e sua primeira pesquisa no raso da Catarina

 Por: João de Sousa Lima
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EXPEDIÇÃO RASO DA CATARINA
(NAS TRILHAS DE LAMPIÃO)

Desde muito tempo, que eu guardava o desejo de palmilhar as veredas quase intransponíveis do desértico Raso da Catarina, reserva ecológica de suma importância para o Brasil e o mundo. Com a realização do meu primeiro livro:


Lampião em Paulo Afonso, pude margear, em partes, esse árido pedaço de chão nordestino. Enquanto realizava as pesquisas nos povoados pauloafonsinos, que situa-se no que chamamos em torno do Raso, travei o primeiro contato com a vegetação seca e disforme que cobre essa intrigante reserva ecológica. No entanto, continuava a vontade e a necessidade de conhecer e adentrar nesse enigmático e rico ecossistema.

Quando no dia 06 de setembro de 2004, encontrei-me, por acaso, com o amigo de infância Petrúcio Luiz Rodrigues, funcionário da Petrobrás, que trabalha embarcado em uma plataforma, na cidade de Macaé, Rio de Janeiro, e que, descansava em Paulo Afonso seus dias de férias, falou-me da alegria do reencontro e gentilmente elogiou o meu trabalho literário, externando sua vontade de conhecer alguns dos lugares citados no livro, por onde os cangaceiros passaram. O Raso da Catarina foi o palco da nossa conversa final e acertamos que iríamos cruzar este extenso labirinto. O difícil foi acreditar que o seu carro, "um Toyota corolla", por ser um veículo de passeio, conseguiria realizar a proeza de atravessar esse saara nordestino. Confesso que embarquei nessa arriscada aventura um pouco temeroso.

É chegado o dia 08 de setembro de 2004, eu, Petrucio e Gatão, guia turístico da nossa cidade, com o clarear dos primeiros raios do sol, começamos a expedição. O Povoado Salgadinho, foi a nossa primeira parada, onde fotografamos a casa da ex-cangaceira Lídia, de Zé Baiano.


De lá seguimos até o Brejo do Burgo, aldeia dos índios Pankararés, onde adquirimos alguns artesanatos indígenas e colhemos dados dos que viveram a saga do cangaço. Do Brejo do Burgo nos dirigimos até a Baixa do Ribeiro, local onde nasceu a famosa cangaceira Dadá, de Corisco.



Aí, a Toyota já cruzava as estradas poeirentas e pedregosas do Raso da Catarina. O Salgado do Melão foi a próxima parada e aproveitamos para conversar com Joana, irmã da cangaceira Dadá.

A expedição continuou, sendo entrecortada por breves paradas necessárias para registrarmos a fauna e a flora, patrimônios naturais que a sociedade tem por dever, conservar. (Divulgando este trabalho, estou convicto que ofereço uma parcela de colaboração na árdua tarefa de conscientizar a população a cerca das questões ambientais).


As estradas que a Petrobrás abriu para a exploração do Raso da Catarina, servem hoje de entrada para caçadores e traficantes de animais silvestres. É uma grande dívida social dessa empresa e uma ferida que mostra sua eterna marca. O bom é que as fontes de gás natural, perfuradas em nome do progresso, estão fechadas como fonte de reserva e a clareira que abriram para servir de campo de pouso, está sendo tomada pelo mato, sendo revestida pela natureza que reage. Ironia do destino, a expedição seguia com o apoio de Petrúcio, um dos grandes incentivadores da cultura nordestina e apaixonado pelas histórias sertanejas. Ele que é funcionário da Petrobrás.

Seguimos com a expedição, com o sol abrasador queimando a flora diversificada, castigando as várias espécies, tais como: Catingueira, jatobá, umbuzeiro, quipemba, jurema, mandacaru, xique-xique, prém-prém, coroa de frade, faveleira, macambira, gravatá, quipá e araticum. Plantas que teimosamente sobrevivem, assim como sobrevive com mais dificuldade a escassa fauna, abalada pela caça predatória. Eis alguns animais que estão sendo extintos pelas mãos vorazes do homem: Onça suçuarana, caititu, cotia, preá, tamanduá, veado, tatu, tatu verdadeiro, peba, ribaçã, arara azul, papagaio, carcará, gavião, Seriema, entre outros.

O Povoado São Francisco pertencente a Macururé, foi a nossa próxima parada. Localidade onde encontramos familiares dos cangaceiros Azulão, Balão e Esperança.


Alguns escritores afirmam que o de óculos é Azulão.
Outros afirmam que é o cangaceiro Moreno

Em São Francisco encontramos várias peças que pertenceram aos cangaceiros e falamos para a população, da importância que é a preservação daquela localidade por se encontrar dentro do Raso da Catarina. De lá, já com o cair da noite, regressamos a cidade de Paulo Afonso , onde traçamos novos roteiros para prosseguirmos com o nosso trabalho.
No dia seguinte, ao raiar do dia, a Toyota novamente nos conduzia às areias disformes do Raso da Catarina, e assim foi durante vinte dias, onde percorremos 900 quilômetros, realizamos 8:00 horas de filmagens e tiramos aproximadamente 4.000 fotografias.
Terminamos a expedição exaustos, porém realizados. O carro que no princípio parecia frágil, passou com méritos na missão. O amigo Petrúcio, incansável e de uma sensibilidade ímpar, está de parabéns tanto pela realização do trabalho, quanto pela consciência de preservação que o acompanha e que ele possa ser o elo entre a Petrobrás e o Raso da Catarina, no que se trate de uma nova visita, desta vez, por uma nova causa, onde possa resguardar e proteger este patrimônio brasileiro, que por centenas e centenas de anos, a vida tenta se defender da ação exterminadora do homem.

Paulo Afonso, 05 de Novembro de 2004.

João de Sousa Lima

CINE CAIÇARA E CINE PAX



Neste prédio funcionava: O Cine Caiçara, A Rádio Difusora de Mossoró e a Editora Comercial. Nesta última, eu fui funcionário (gráfico), por mais de 12 anos, na função de chapista, e posteriormente passei a ser linotipista. Era uma empresa de José Renato Costa, seu irmão Paulo Gutemberg, José Genildo de Miranda (ex-vice prefeito de Mossoró), e Milton Nogueira do Monte.  

A empresa era formada por  três cinemas, sendo este acima  na Rua Alfredo Fernandes, outro na Avenida Alberto Maranhão e outro na cidade de Areia Branca, com o nome de Cine Miramar, mais uma estação de rádio.

Ver-se ao alto, "ZYI 20", funcionava a Emissora. As duas primeiras portas, eram as entradas para o cinema. E mais a frente, onde tem uma porta e duas janelas de cada lado, funcionava a Editora Comercial, que antes, em anos  passados, fora um jornal publicado pela empresa. Não me recordo o nome deste jornal, pois quando eu comecei a trabalhar na empresa, o jornal já era extinto por alguns anos. Mas que até poucos anos, o maquinário era conservado no prédio.

 

O Cine Pax era da família Pinto, Jorge Pinto, que fora prefeito de Mossoró.
Este prédio era a casa  de cinema mais bonito de Mossoró. Mas devido algumas exigências cinematográficas, os herdeiros desistiram de continuar passando películas, alugando a empresas para pontos comerciais. Por mais de cinco anos esteve alugado à família Silveira, onde estabeleceram a "Loja do Papai". 


Atualmente o prédio é alugado às "Lojas Marisa", e funciona na Rua Coronel Gurgel com a Rua Alfredo Fernandes, rua que dar acesso ao grande Alto de São Manoel e Natal. 

Foram-se os bons tempos de cinemas.

DA ARTE DE ROMPER UM GRANDE AMOR

Honório de Medeiros
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Muito tempo depois de sua separação eu a encontrei em um café, contemplando o mundo lá fora com aqueles olhos azuis maravilhosos através das volutas da fumaça do cigarro. Após os cumprimentos de praxe, não resisti e lhe perguntei como sobrevivera ao fim do seu casamento, tão minuciosamente condenado ao fracasso, segundo sua própria avaliação, quando nos vimos pela última vez. Ela sorriu, se espreguiçou como uma gata, tomou lentamente um gole de café, e me perguntou se eu queria saber a história toda ou somente o desfecho, com algumas pinceladas óbvias como arremate.


Antes de lhe dizer que não dispensava os detalhes me lembrei que parte do seu fascínio era a administração do silêncio, e este nos induzia a supor regiões misteriosas do seu pensamento onde a fantasia bordava, junto com a realidade, situações fascinantes para quem soubesse ousar e tivesse coragem de receber. Já naquele tempo ela reinava impune, a tripudiar das vãs tentativas dos conquistadores ávidos e tímidos admiradores, sem que as recusas constantes diminuíssem a admiração que granjeava. Nela, nada se eximia de seduzir, mas mesmo assim um dia sucumbira a uma paixão inesperada e violenta, que a retirara do circuito das festas e badalações.

Desde o começo nós, seus amigos, percebêramos que não daria certo aquela paixão. Sutilmente sua liberdade fora sendo restringida – logo a dela, tão essencial a si. Aos poucos, milímetro por milímetro, cedera sem notar, encantada por uma proposta enleadora de construção do futuro a dois, mão a mão, através da imagem de uma ponte afetiva que se sabia onde começava, mas que terminaria no infinito. Embora apaixonada foi através da persuasiva magia da visualização de um amor único, daqueles que nutrem uma alma só em dois corpos distintos, que ocorrera a derrubada das suas últimas resistências.

Mas finalmente ela despertou e a ânsia de viver livre, solta, cobrou sua fatura. Passou a se sentir sufocada e a perceber as invisíveis amarras que lhe prendiam o vôo. Queria ir embora, queria sumir, queria desaparecer, mas havia um obstáculo, um sério senão a impedir sua liberdade: o orgulho desmedido, o egocentrismo concentrado, a incontida auto-imagem que seu companheiro fazia de si mesmo; não era possível que o relacionamento fosse desfeito sem que a explicação a ser dada para isso preservasse sua posição social e o alto conceito que fazia de si mesmo.

 “Eu não podia lhe dizer que ia embora por que o amor acabara; seu orgulho não aceitaria ser trocado por nada, por coisa alguma. Ele não admitiria nunca que não fora capaz de me segurar apaixonada, não admitiria que eu nada mais sentisse exceto um afeto meio dependente do alívio do afastamento definitivo. Tive, então, que criar uma paixão inexistente por outro e, pior, por alguém abaixo da escala de valores que ele prezava. Fui deixando que ele imaginasse que a verdade, acerca dessa paixão, estava sendo arrancada a pedaços, tamanha era minha vergonha. Assim, fui repudiada, me libertei, e ele pode dizer por aí, quando questionado, que eu havia sido uma aposta perdida por que mal avaliada, que eu fui incapaz de perceber a qualidade do sentimento que despertara, que eu fui alçada a um nível incompatível com minha ausência de sofisticação e, assim, depois, tinha sido levada de volta, como seria natural, através de um "qualquer", ao mundo ao qual realmente pertencia”.

E se foi, não sem antes me endereçar um sorriso meio irônico, como se a trama que ela encetara não tivesse envolvido somente um homem, mas todos os outros tão previamente condenados a não escapar, no final da contas, da malícia de toda mulher. 


          

UMA OBRA A MAIS, UMA POLÍTICA PÚBLICA A MENOS

Por: Honório de Medeiros
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Até quando?
Há uma lógica perversa, induzindo a opção por privilegiar obras físicas em detrimento de políticas públicas, nos governos brasileiros, sejam estes quais sejam: municipais, estaduais, ou mesmo federal. Tal lógica é ainda mais perversa por praticamente excluir a opção pelas políticas públicas, entendidas estas “como as várias funções sociais possíveis de serem exercidas pelo Estado, tais como saúde, educação, previdência, moradia, saneamento básico, entre outras”, no dizer de Antônio Sérgio Araújo Fernandes, Doutor em Ciência Política pela USP e professor de Políticas Públicas da UNESP/Campus Araraquara, em “Políticas Públicas: Definição, Evolução e o Caso Brasileiro”.
Em primeiro lugar, a opção por obras físicas, QUANDO RESULTADO DESSA INDUÇÃO, é conseqüência de uma demanda específica: a das grandes empresas de construção civil e de serviços – e suas agregadas – que precisam recuperar o montante investido nos candidatos por elas apoiados e, também, convenhamos, como conseqüência do fato de seus proprietários, o mais das vezes, serem integrantes, através de laços familiares ou de compadrio, da elite política, quando não são o que comumente chamamos, no Brasil, de “laranjas”, ou seja, títeres dos próprios políticos.
Em segundo lugar, a opção por obras físicas é, também, conseqüência de outra demanda específica: a necessidade de encher os cofres vazios da elite política vencedora dos pleitos eleitorais aos quais se candidataram, e construir reserva para as futuras demandas político-partidárias.
Em terceiro lugar, a opção por obras físicas é, ainda, conseqüência de outra demanda específica: a de gerar condições de manutenção ou aquinhoamento financeiro dos quadros responsáveis pela gestão pública, sob a alegação (interna) de que não suportariam sobreviver com a remuneração miserável que lhes paga o serviço público (o chamado “por fora”).
Esse círculo vicioso – a elite política ser financiada pelas obras e serviços e, como conseqüência, por intermédio do Tesouro, financiá-las – consome o que sobra, no orçamento, quando pagos o custeio da máquina e a folha de pessoal, na maioria das vezes com manipulação orçamentária, sem praticamente nada deixar para a efetivação de políticas públicas.
A manipulação, persistente, o gerenciamento estrutural e dolosamente equivocado das finanças públicas, se mantém com a conivência dos Órgãos fiscalizadores, seja por desídia, seja por incompetência. Ano após ano a Constituição Federal é desrespeitada e seus princípios norteadores, no que diz respeito à Educação e Saúde, entre outros, adquirem o perfil de “letras mortas”.
O círculo vicioso engendra uma custosa publicidade com o objetivo de persuadir a sociedade acerca dos bons propósitos de toda obra e qualquer serviço que estejam sendo feitos. Assim, toda e qualquer obra surge, na publicidade, como decorrência de uma “demanda social” e se destina ao “desenvolvimento sustentado”. Obras e serviços por intermédio dos quais circula o capital financeiro da elite política, para perpetuar a expropriação da força de trabalho da classe média, que é quem paga, na verdade, os tributos nossos de cada dia.
E as políticas públicas, tais como a luta pela erradicação do analfabetismo, a luta contra a mortalidade infantil, a luta pela qualidade do ensino em todos os graus, a luta pela queda dos índices de homicídios, latrocínios, furto, que não dão retorno financeiro – embora dêem retorno eleitoral (e como dão) – são deixadas de lado e nosso Brasil, este imenso Brasil que sobrevive às vezes milagrosamente, apesar do Estado, continua um dos líderes mundiais da exclusão social.
Vejamos o que nos dizem, por exemplo, Admir Antonio Betarelli Junior, Edson Paulo Domingues e Aline Souza Magalhães em seu estudo “QUANTO VALE O SHOW? IMPACTOS ECONÔMICOS REGIONAIS DA COPA DO MUNDO 2014 NO BRASIL”, encontrável no Google, sob o título acima. Leiam com atenção:
“Os resultados analisados neste trabalho dizem respeito aos impactos dos investimentos em infra-instrutora urbana e estádios programados para a Copa-2014 anunciados pelo Ministério do Esporte no início de 2010. A literatura de economia dos esportes costuma elencar outros impactos advindos dos eventos esportivos, como por exemplo: ampliação dos setores de serviços e hotelaria; fluxo adicional de turistas no evento e pós-evento; e exposição internacional do país, com atração de investimento externo. Entretanto, tais impactos, se existem, são de difícil mensuração e projeção. Por exemplo, diversos especialistas em economia do turismo (e.g. Matheson, 2002) consideram que um mega-evento como a Copa do Mundo apenas substitui turistas usuais no país-sede por “turistas-copa”, e mesmo estes podem efetuar um dispêndio no país significativamente menor, tendo em vista os gastos com ingressos e deslocamentos para o evento.
O principal resultado da Copa-2014 parece ser a melhoria da infra-instrutora urbana nas cidades-sede, o que representa efetivamente impacto de longo prazo na eficiência econômica de diversas cidades. Além disso, este trabalho destacou as opções de financiamento dos investimentos da Copa-2014, e sinalizou que o impacto econômico tende a diminuir com o financiamento público para as obras de estádios de futebol, uma vez que implicam ou no crescimento da dívida pública ou na redução do gasto das diferentes esferas de governo envolvidas. Embora no Brasil o futebol seja a “paixão nacional”, não se vislumbra uma forma de avaliar o ganho de bem-estar das famílias com a reforma e construção de estádios de futebol, de uso essencialmente dos clubes de futebol ou eventos comerciais. Provavelmente, um ganho mais importante de bem-estar ocorrerá com a vitória brasileira na Copa-2014.”
Ou seja, os impactos econômicos favoráveis são como miragens no deserto. E estão os autores abordando única e exclusivamente o viés econômico do evento. Não está sendo abordado o dano incalculável em termos de políticas públicas não gestadas e implementadas pela falta de financiamento governamental.
Obviamente que há toda uma plêiade de estatísticas justificando os investimentos do Governo. Não é nada difícil manipular estatísticas. Difícil é admitir que fazer calçamento possa ser melhor que educar as crianças, melhorar o atendimento médico-hospitalar ou diminuir as estatísticas da violência urbana e rural.     
    

IMPORTANTE FRASE

 
"O poder que emanamos por estarmos em sintonia com o bem, é mais forte que os ventos de mil tempestades"
 
Tonni Lima
 

Sila - A cangaceira que alguns se esqueceram que ela era cangaceira

Por: José Mendes Pereira

Infelizmente, eu não conheço e nem conheci cangaceiros das regiões do Nordeste, apenas vi muitas vezes, mas de vista e chapéu, nos anos setenta,  o cangaceiro Asa Branca,


que morava na Rua Melo Franco, no bairro Bom Jardim, Mossoró, e eu residia na Rua Juvenal Lamartine, sendo uma paralela a outra, mas no mesmo quarteirão. Como eu nem sonhava ser um estudante do cangaço, nunca dirigir palavras ao velho cangaceiro.


Quanto à cangaceira Sila,  é provável que ela tenha fantasiado algumas de suas  respostas aos pesquisadores, mas o seu pouco tempo que passou no cangaço, na vida de horrores, que não era praticado por ela, e sim, pelos seus companheiros, não foi suficiente para entender o que era cangaço, muito menos para informar aos que lhe procuravam para dar o seu testemunho.

Já havia saído de casa, não sei,  quase obrigada, arrastada pelo seu futuro companheiro, o Zé Sereno, e com certeza, privada de estar no meio de muitos cangaceiros, obedecendo ordem do seu arrogante esposo, vivia em sua barraca como se fosse uma prisioneira.


Para entender o que seria cangaço,  naquela correria, tentando se livrar dos estilhaços de balas, e arrependida da boa vida que havia deixado para trás, pais, irmãos e familiares, levaria alguns anos.

Esquecer nomes de pessoas que conviveram com a gente, não é tão difícil; eu trabalhei vinte e cinco anos em sala de aula, e, alguns alunos e alunas que estiveram comigo durante quatro cinco anos no 1º. e 2º. graus, às vezes tenho vergonha de os encontrar, pois não sei mais os seus nomes. Imagine bem uma senhora que conviveu apenas dois anos no cangaço, ainda jovem, e talvez entrevistada após os seus setenta anos ou mais, não é de se admirar que ela não sabia mais  os nomes de alguns cangaceiros do seu grupo.

Se a Sila mentiu outros e outros também mentiram. Mas os pesquisadores, jornalistas..., todos têm que acreditarem nas respostas dos  seus entrevistados. Do contrário não adiantam ocupar ninguém para fazer perguntas. Seria como se dissesse: "Eu só acredito vendo".

Lembrem-se que a Sila foi uma cangaceira. Quem tem cultura, às vezes fantasia histórias, imagine uma cangaceira. Deixem a Sila participar do estudo  "cangaço", como as outras cangaceiras participam.

Dia da Consciência Negra

 Por: José Mendes Pereira

Este artigo é dedicado ao amigo Sobrinho Oliveira (Sobrinho), da cidade de Canindé, no Estado do Ceará, que muito participa deste blog.

Consciência Negra - São Bernardo do Campo - by Lucas.JPG

Dia da Consciência Negra

História do Dia Nacional da Consciência NegraEsta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
A homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.
IMPORTÂNCIA DA DATA
A criação desta data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. É um dia que devemos comemorar nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura afro-brasileira.
A abolição da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros sempre resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão. 
Vale dizer também que sempre ocorreu uma valorização dos personagens históricos de cor branca. Como se a história do Brasil tivesse sido construída somente pelos europeus e seus descendentes. Imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes militares entre outros foram sempre considerados hérois nacionais.
Agora temos a valorização de um líder negro em nossa história e, esperamos, que em breve outros personagens históricos de origem africana sejam valorizados por nosso povo e por nossa história. Passos importantes estão sendo tomados neste sentido, pois nas escolas brasileiras já é obrigatória a inclusão de disciplinas e conteúdos que visam estudar a história da África e a cultura afro-brasileira.

O DESCANSO DE UM GUERREIRO NORDESTINO NO RIACHO DA PRATA


A HISTÓRIA DE UM HOMEM QUE LUTOU MAIS DE VINTE VEZES
CONTRA LAMPIÃO E A SUA BUSCA PELA PAZ

Nas ocasiões em que viajei pelo sertão do Nordeste em busca de conhecer mais sobre o cangaço, sempre esbarrava em muitas histórias de violentas lutas, valentia, covardia, honra, ódio, dor, sangue e algumas figuras que pareciam saídas de contos medievais, de verdadeiras gestas épicas.

Clementino José Furtado, o Clementino Quelé
Um destes personagens é o pernambucano Clementino José Furtado, mais conhecido como Clementino Quelé.
Este sertanejo foi cangaceiro, andou ao lado de Lampião, se desentendeu com ele, foi perseguido, perdeu quase toda a família na luta contra este grande chefe cangaceiro e se tornou policial, onde ficou conhecido como um dos mais esforçados perseguidores do “Rei do Cangaço”.

Lampião

Afirmava ter travado mais de vinte confrontos contra Lampião e seu bando. Depois participou de uma guerra no meio do sertão e finalmente procurou a paz no Cariri Paraibano, em uma cidade chamada Prata, próximo a cidade de Monteiro e da fronteira com Pernambuco.
Um Lugar Tranquilo
A origem do nome se deve a uma fonte de água descoberta por uma moradora, cujas águas eram extremamente límpidas e saborosas. Logo o local ficou conhecido na região como “Poço da Água de Prata” e ficava próximo a um riacho com a mesma denominação.

Prata, Paraíba
Neste local fui extremamente bem recebido e tive uma daquelas maravilhosas oportunidades de encontrar pessoas com tantos anos de vida e muita lucidez, que puderam narrar muitos episódios interessantes sobre Clementino Quelé.
Zoroastro Bezerra da Silva nasceu na Prata, no dia 14 de junho de 1916 e Pedro Elias da Silva, este último mais conhecido como “Seu Pedrosa” veio ao mundo no dia 16 de julho de 1917, em uma localidade pernambucana conhecida como “Beira” e nos conta que sua família se mudou para a Prata ainda na década de 1920.

Pedro Elias da Silva

Seu Pedrosa, que gosta muito de história, narra que o arruado do Riacho da Prata, ou simplesmente Prata, era um lugarejo que crescia como ponto de passagem e parada de tropeiros que seguiam da Paraíba em direção a Recife, e de comerciantes pernambucanos, principalmente das cidades de Flores, Afogados da Ingazeira e São José do Egito, que seguiam em direção ao comércio da cidade paraibana de Campina Grande.
Entre os anos de 1905 e 1906, teve início uma feira semanal e o número de habitantes começou a crescer.

Entrada a partir da BR 412

Lendo o pesquisador Pedro Nunes Filho, autor do livro “Guerreiro Togado – Fatos Históricos de Monteiro” (Ed. Universitária, UFPE, 1997, pág. 62), a Prata fazia parte do território de Alagoa do Monteiro, atualmente apenas Monteiro, que no início do século XX era o município com maior extensão territorial da Paraíba. A Prata era então, junto com as localidades de São Sebastião do Umbuzeiro, São Thomé, Camalaú, São João do Tigre e Boi Velho, um dos distritos daquela importante cidade fronteiriça com Pernambuco.
O local era tranquilo, mas a região onde se localiza esta comunidade sentiu o peso das espingardas na primeira década do século XX.
“A Guerra do Dotô Santa Cruz”
Nas proximidades da Prata existe uma propriedade denominada Areal. Em 1911 estas terras pertenciam ao advogado Augusto de Santa Cruz Oliveira, cuja família tinha forte influência política na região.

Augusto de Santa Cruz Oliveira Fonte-Livro "Guerreiro Togado"
Pessoa importante, rica e conhecida por todos, ocasionalmente o “Dotô” Santa Cruz se fazia presente na pequena feira da Prata, que ocorria sempre as quarta feira.
Pedro Nunes Filho em seu trabalho (op. cit.) informa que durante o mandato do governador João Lopes Machado (1908 – 1912) este buscou diminuir a força política da família Santa Cruz em Alagoa do Monteiro através de vários ardis.

Casa grande da Fazenda Areal Fonte-http://asleyravel.blogspot.com
Valente e voluntarioso, um verdadeiro líder, Augusto Santa Cruz reagiu a esta perda de espaço político através do uso da força. Ele protagonizou uma série de episódios violentos entre os anos de 1910 a 1912, onde não faltaram perseguições, espancamentos, invasões de vilas, tiroteios e mortes. Pronunciado, decidiu cercar Alagoa do Monteiro em maio de 1911, tendo sob o seu comando 130 homens armados, que destruiram a cadeia pública, libertaram os presos e ele deixou seus “cabras” saquearem lojas e bens dos desafetos.
Ao final da invasão, que teve forte repercussão em todo o Nordeste, o advogado Santa Cruz, para muitos apenas um “Cangaceiro Togado”, tomou várias pessoas em Monteiro como reféns e preparou-se para a reação do governo. Poucos depois, tropas da polícia paraibana e pernambucana atacaram a propriedade Areal e obrigaram Santa Cruz e seus homens a fugirem.

Alagoa do Monteiro, início do século XX. Fonte- Livro "Guerreiro Togado"
O resumo da ópera foi que Santa Cruz uniu forças a outro líder do interior paraibano, Franklin Dantas, da cidade de Teixeira, que igualmente se sentia perseguido pelo governador Machado.
Com esta união os dois chefes juntam mais de 300 homens em armas e partem para a invasão de várias localidades, entre elas a cidade de Patos, causando enormes transtornos e estragos. Depois seguiram em direção ao Ceará. Mas conforme avançam para o estado vizinho, os líderes desta coluna perceberam que não possuíam muito apoio de outras lideranças e viram que a sua “guerra” não teria nenhuma possibilidade de alterar a situação política. Tempos depois Santa Cruz fugiu para Pernambuco. Processado em Alagoa do Monteiro, foi julgado a revelia e absolvido.

Homens de Augusto Santa Cruz Fonte-Livro "Guerreiro Togado"
Ocorre que entre os homens de Augusto Santa Cruz estavam muitos dos seus empregados, fugitivos da justiça, antigos cangaceiros, amigos, parentes e várias destas pessoas viviam na pequena localidade da Prata.
Passado este momento difícil, que Seu Pedrosa chama “-Da época de 12”, a Prata vai crescendo devagar, mas tranquila.
Ele comentou que naquela época, na história do lugar não existiam maiores registros de envolvimento e confrontos entre seus habitantes e cangaceiros. Mas logo uma pessoa que havia sido muito ligada a Lampião chegaria ao lugar.
O “Tamanduá Vermelho”
Clementino Quelé é descrito como um homem forte, tido como baixo, com certa obesidade, de tez branca, que quando ficava agitado, a sua pele assumia um tom avermelhado. Daí o apelido “Tamanduá Vermelho”, dado pelo próprio Lampião.
Para o pesquisador Frederico Pernambucano de Mello (in “Guerreiros do Sol”, 2004, págs. 220 a 225), Quelé era natural da Ribeira do Navio, onde seguiu jovem para Alagoas, afastando-se de Pernambuco por questões de disputa familiar. No retorno a sua família segue para a região da bela cidade de Triunfo, no sítio Conceição.

Esta seria a possível casa onde Quelé e seus familiares travaram dois grandes tiroteios contra Lampião e seu bando. Santa Cruz da Baixa Verde, Pernambuco
Clementino Quelé era o chefe de sua família, tinha como irmãos Pedro, Quintino, Antônio, José e Manuel (Nezinho), todos considerados homens dispostos e valentes.
Envolvido em problemas políticos, que ocasionam perseguições a si e a membros do seu clã, Quelé e parte de seus familiares se juntam ao bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e passam a praticar a rapinagem pelos sertões.
Logo desavenças vão surgir e estas vão gerar uma forte inimizade com o famoso chefe cangaceiro. Como consequência, no início de 1924, Quelé e seus familiares sofrem dois grandes ataques do bando de Lampião no sítio Conceição, onde muitos são mortos.

Edição do jornal recifense “A Notícia”, de 14 de janeiro de 1924, existente na hemeroteca do Arquivo Público do Estado de Pernambuco, informando erroneamente sobre a ação da polícia, durante o segundo ataque de Lampião contra Quelé
Em busca de vingança, Clementino Quelé entra na polícia paraibana, onde recebe as divisas de sargento, apesar do analfabetismo. Contra Lampião valia mais a pena uma pessoa “alfabetizada” no cano da espingarda.
O sargento Quelé era a valentia em pessoa e extremamente calejado nas lutas do sertão. Logo monta uma volante que se tornou conhecida como “Coluna Pente Fino” e que também ficou famosa na história do cangaço pela selvageria como combatia os inimigos e infligia o terror aos que apoiavam os bandos de cangaceiros. Muitos dos seus parentes fizeram parte do grupo.
Se não faltam relatos de valentia do seu pessoal, infelizmente não faltam informações que inúmeros inocentes sofreram nas mãos dos homens de Quelé, além de vários atos de pura rapinagem.

Caminhos do Sertão

De toda maneira o “investimento” do governo da Paraíba em Quelé não foi em vão. Três anos e meio depois dos combates no sítio Conceição, no dia 14 de junho de 1927, ele e seus homens eram a primeira força policial a adentrar em Mossoró, após a fracassada tentativa de Lampião para conquistar a maior cidade do interior potiguar.
Durante a chamada Revolta ou Sedição de Princesa, na Paraíba, Clementino Quelé esteve lutando ao lado das tropas do governador João Pessoa, contra os homens do chefe político de Princesa, o coronel José Pereira. Foram sérios combates, com muitas mortes e atos de verdadeira selvageria.
Para conhecer maiores detalhes destes episódios ver -http://www.triunfob.com/2010/09/um-fato-da-historia-do-cangaco-na.html e http://tokdehistoria.wordpress.com/2011/06/07/a-batalha-do-casarao-dos-patos/
A Chegada na Prata
Para seu Zoroastro, cujo pai era o barbeiro da cidade, consta que em Alagoa do Monteiro, onde o famoso guerreiro nordestino estava destacado, ele conheceu uma mulher com quem passou a ter um relacionamento e Quelé passou a permanecer mais tempo no Cariri Paraibano.
Seu Pedrosa informa que o ano da chegada do sargento Clementino Quelé a Prata foi em 1933 e ela teria acontecido devido um crime que ocorreu na região no ano anterior. Este problema foi uma invasão de propriedade, seguido do roubo de ração para o gado. O proprietário deu parte e foi aberto um inquérito. Tempos depois o sargento Quelé chegou ao pequeno distrito com outros militares e trazendo ordens do juiz de Monteiro para conduzir os invasores para a prisão.

Matriz de Nossa Senhora do Rosário, Prata, Paraíba
Apesar de chegar ao lugarejo para cumprir a lei, Seu Pedrosa informa que o sargento Quelé foi muito bem recebido pelo fazendeiro Ananiano Ramos Galvão, líder político do lugar. O sargento soube que a Prata estava crescendo e que havia uma pequena delegacia, mas não havia alguém com a sua patente para comandar o diminuto destacamento de dois soldados, um deles conhecido como “Mané Soldado”.
Logo a cidade soube que um novo sargento fora para lá designado e quando eles receberam a notícia de quem era o indicado, a comunidade se alvoroçou, pois o nome do sargento Clementino Quelé imprimia medo e terror em todo o sertão.
O sargento era sempre lembrado entre os habitantes locais pela forma violenta como sua volante agia, as inúmeras mortes cometidas por ele e seus homens, os vários combates contra Lampião e outras histórias que acompanhavam o “Tamanduá Vermelho” para onde ele seguia.
Evidentemente que a comunidade tinha medo do que aquele homem, que a nada temia, poderia passar a fazer contra eles devido a sua posição.
E afinal, porque este militar iria deixar um posto em Alagoa do Monteiro, uma cidade maior, para trabalhar em um lugarejo diminuto e pobre?
Além do mais na Prata os problemas que o valente Quelé iria enfrentar estavam bem longe da guerrilha que era o cangaço e das batalhas que ocorreram na Guerra de Princesa. No lugarejo o que mais perturbava a ordem eram as brigas de família, bebedeiras, pequenos roubos e coisas consideradas leves.
Seu Pedrosa informa que em pouco tempo o sargento Clementino Quelé chegou com seus “teréns” na carroceria de um caminhão, acompanhado de sua mulher chamada Alice e seus filhos. Em meio ao espanto geral ele alugou uma casinha e assumiu a função de delegado.
Um Bravo Que Desejava Ficar em Paz
Logo todo o sertão do Cariri Paraibano comentava que na Prata estava morando o sargento Quelé. O mesmo que era cantado em verso e prosa como “O valente que mais vezes brigou com Lampião”.
Não obstante a desconfiança inicial, além do fato de Quelé ser caladão e taciturno, a vida continuou. Mas o povo da Prata mantinha “Um olho no peixe e outro no gato” em relação ao novo delegado.
Até porque, na visão de Seu Pedrosa, sua figura como policial era um tanto aparatosa e ostensiva, para uma cidade onde os cachaceiros eram o maior problema. Nas horas em que estava de serviço, segundo as palavras do nosso entrevistado;
“-Quelé estava sempre com sua farda Kaki, quepe policial, um punhal atravessado no cós da calça, um vistoso e grande “Parabellum” pendurado na cartucheira e um rifle na mão.
Logo todos perceberam que apesar de sua sisudez, seu jeito fechado e caladão, seu comportamento junto aos moradores da Prata era extremamente tranquilo e suas atitudes controladas.
Para os entrevistados Quelé era muito “sabido”, pois buscava sempre “ajeitar” as situações com a conversa. Quando havia algum problema, alguma questão, ele utilizava de sua autoridade como policial e resolvia as querelas entre as pessoas da comunidade de forma equilibrada. Além da autoridade do uniforme, evidentemente havia o respeito pelo seu passado de lutas contra Lampião.
Gradativamente ele foi sendo bem aceito.
Não praticava o extermínio frio de bandidos, mas era conhecido pela moral e honestidade, além de ser considerado muito justo na sua atitude como policial, em uma forma de agir bem diferente dos tempos do cangaço. Os entrevistado afirmaram que durante o tempo em que lá esteve, não existe informações que Quelé recebia propina, tanto que morreu pobre.
Mas também não aceitava o furto e o roubo de animais de forma alguma. Se algum ladrão sem vergonha caísse na sua mão com estes crimes, segundo Seu Pedrosa;
“-Se fosse pro lado do furto de coisas e bichos, ele não dava cobertura e a peia (surra) era grande”.

Casa de Clementino Quelé na Prata
Sem ter muito problemas policiais para resolver, Clementino Quelé foi comprou uma pequena gleba de terra. Trabalhava nas horas vagas como agricultor e vendia sua pequena produção de milho e feijão na feira semanal. Era considerado um homem muito esforçado. Esta propriedade era perto do antigo sítio de Manoel Lindoso, a quem Seu Pedrosa considera o fundador da localidade.
Consta que para dar um “corretivo” nos presos, normalmente pinguços que enchiam a cara de cachaça nos bares, Quelé os levava para a sua terrinha, entregava uma enxada e mandava os detidos brocarem o terreno. Mas ficava ali do lado com o “Parabellum” no cinto.
O sargento não era visto com uma garrafa de pinga na sua frente e não andava bêbado pelas ruas.
Logo todos na Prata perceberam que o velho combatente queria ficar em paz no seu lugar. Paz para estar ao lado de sua Alice e de seus filhos.
Consta que Quelé havia sido casado com uma Senhora conhecida como “Toinha” e desta união nasceu uma filha e um filho chamado Zacarias. Depois, em Alagoa do Monteiro, ele se uniu a Alice e vieram mais três filhas.
Novo Encontro com Cangaceiros e Quem Era Lampião para Quelé
Naquele tempo Quelé, em algumas ocasiões e por ordem do Poder Judiciário, saiu da cidade para atuar em funções policiais. Mas em 1936 o sargento foi convocado para perseguir um grupo de cangaceiros que atacou a região próxima a Monteiro.

Jornal natalense "A Republica", 23 de maio de 1936
Os nossos entrevistados não esquecem o desassombro e o impacto que causou no lugarejo a passagem deste bando que era comandado pelo chefe alcunhado “Moderno”, cujo nome real era Virgínio Fortunato da Silva. Este havia sido cunhado de Lampião, andava com ele a anos e era pessoa de sua extrema confiança.
Apesar de todo este medo e apreensão, os cangaceiros não passaram pela Prata e não consta que Quelé tenha novamente mantido algum combate contra Virgínio.
Fui informado que o assalto do bando de Virgínio foi extremamente rentável, mas que após a região do atual município de Camalaú, ponto máximo alcançado pelo grupo de cangaceiros em 1936, havia interessantes e ricas propriedades, principalmente nas proximidades da atual cidade paraibana de Barra de São Miguel. As testemunhas acreditam que este cangaceiro não seguiu adiante na sua rapinagem, justamente porque Virgínio sabia que ali perto se encontrava “um velho conhecido”.
Se isso é verdade eu não pude apurar e somente uma pesquisa específica para checar a veracidade desta informação.
Seu Pedrosa comenta que não tinha maior aproximação com Quelé, mas nunca deixou de ficar por perto quando o velho combatente conversava com os amigos da cidade sobre seu passado de lutas.

Fim de Lampião
Uma situação interessante foi no dia 28 de julho de 1938, quando Lampião e seu bando foram massacrados na Grota do Angico, várias pessoas da pequena urbe vieram até o sargento Quelé para narrar o acontecido. O espanto foi a sua quase total ausência de emoção. Apenas balançou a cabeça e nada falou.
Mas Seu Pedrosa comentou que nas palestras que ouviu de Quelé, escutou uma ocasião em que ele descreveu Lampião como sendo “-Um valente”. Para quem conheceu o sargento, este demonstrava um enorme ódio do “Rei do Cangaço”, mas também muito respeito.
Uma coisa que chamou atenção dos entrevistados foi que Clementino Quelé nunca negou que esteve lado a lado com Lampião no seu bando e que, devido às desavenças com este chefe cangaceiro, pagou um preço muito alto com a morte de vários familiares.
Sobre os familiares sobreviventes, soube que para a Prata vieram viver dois irmãos de Quelé, mas em circunstâncias bem diferenciadas do sargento que protegia a localidade.
Havia um deles, de nome José, mas conhecido como Zé Quelé, que era soldado da polícia paraibana e servia para os lados da região de Mãe D’Água, onde praticou um crime de morte. Ele busca então apoio no irmão Clementino, que não nega ajuda. Zé Quelé ficou homiziado nas proximidades, mas não vinha a feira, algumas vezes dormia nos matos e logo toda a cidade da Prata sabia daquela situação. Mas ninguém o denunciou.
Evidentemente que havia medo nesta conta, mas também houve um acordo tácito entre a comunidade e o delegado Clementino. Além disso ele era Clementino Quelé e não valia a pena uma inimizade com este homem.
Já o outro irmão era conhecido como Nezinho, também policial, mas tido como pistoleiro. Entretanto não criou nenhum problema na Prata.
Respeito
Um fato interessante ocorreu quando Quelé já estava aposentado. Então veio para ser o delegado na pequena localidade um sargento jovem e cheio de disposição. Este vendo Clementino Quelé andar ostensivamente armado, começou a comentar entre as pessoas que;
“-Aquele sargento véio não é mais da Força. Vou desarmar ele”.
Quando Quelé soube não fez nada. Apenas disse;
“-Tô esperando”.
Aparentemente o novo sargento foi mais bem informado quem era o idoso e já um tanto gordo ex-policial. Foi aconselhado que o melhor que tinha a fazer era deixar aquele homem em paz. Quelé nunca foi desarmado por ninguém.
Uma das facetas do valente sargento era sempre receber os chefes municipais e os políticos da região, tanto os de prestígio estadual e até mesmo pessoas de forte presença no cenário político nacional da época.
Nestas ocasiões, mesmo com pouca instrução, o velho perseguidor de Lampião sempre se apresentava bem uniformizado, sendo reconhecido por muitos destes homens do poder, que igualmente o tratavam com deferência.
Inácio Mariano e Walfrido Siqueira, homens fortes de São José do Egito e Jacinto Dantas, do lugar Ouro Velho, eram todos seus amigos e o visitavam quando estavam de passagem pela Prata.
João Agripino de Vasconcelos Maia Filho, de Catolé do Rocha, que foi deputado federal, senador e governador paraibano, quando ainda um jovem politico, fez questão de parar na Prata para conversar com o velho combatente.

José Américo de Almeida Fonte-http://www.onordeste.com
Em 1951, depois de haver realizado um comício em Sumé, o então candidato ao governo paraibano, José Américo de Almeida, veio a Prata em campanha eleitoral. Não era nenhuma surpresa a presença de políticos em campanha pela pequena cidade para pedir votos. Mas surpresa mesmo para muita gente foi quando o grande político e formidável homem de letras paraibano, autor de “A Bagaceira”, pediu para se encontrar com o sargento Clementino Quelé.
Os mais jovens não sabiam, mas José Américo havia sido um dos comandantes das forças legalistas do governador João Pessoa contra as tropas do coronel José Pereira, da cidade de Princesa, e o sargento Quelé foi um dos seus comandados. Houve um encontro de velhos conhecidos, cercado de alegria e abraços.
Paz no Fim da Vida
Uma coisa animava Clementino Quelé, visitar o coronel Manuel Benício, antigo caçador de cangaceiros e oficial da Polícia Militar da Paraíba. Segundo Seu Pedrosa, o coronel Benício morava em Pombal e ocasionalmente estes sertanejos afeitos as armas se encontravam nesta cidade para rememorar e conversar.
Outro local onde Quelé ocasionalmente visitava, era a região de Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco. Ali ele viveu momentos de muita tensão, mas não deixava de visitar amigos e parentes.
Conforme os anos foram passando o velho combatente ficou mais a vontade na cidade, frequentava bastante a igreja de Nossa Senhora do Rosário, passou a ser mais falante, mais tranquilo, mais alegre. Não tinha nenhum problema de narrar, como assim fez com várias pessoas, sobre suas andanças no cangaço, a entrada na polícia, a perseguição a cangaceiros e tinha um extremo orgulho em dizer que combateu Lampião em mais de 20 ocasiões distintas. Seu Zoroastro comentou que perdeu as contas em que o velho sargento vinha à casa de seu pai e narrava os episódios do passado. Quelé só não gostava de comentar sobre a “Guerra de Princesa”.
O problema é que suas histórias, para os ouvidos incautos, eram tão mirabolantes, tão incríveis, tão fantásticas, que muitos comentavam, principalmente os mais jovens, que o sargento Clementino Quelé era “mentiroso”. Já os mais velhos, que tinham escutado muito cantador de feira declamar em verso e prosa as peripécias daquele homem e diziam a moçada que tomassem cuidado, pois aquelas histórias eram totalmente reais. Tanto assim que ninguém nunca chegou na frente de Quelé para perguntar se o que ele falava era verdade ou não.
Uma situação que ele gostava de comentar e que tinha muito orgulho, foi o fato do seu filho Zacarias ter se tornado um alfaiate renomado na cidade e suas filhas não lhe darem problemas. Falava que sua família  “-Podia ser pobre, mas eram pessoas de bem e não se meteram em questões”.

Possível Túmulo de Quelé

Clementino Furtado, segundo Seu Pedrosa, faleceu em 1955, ainda lúcido. Até o fim nunca deixou de andar com uma arma na cintura e tem certeza que ele morreu em paz.
Para as pessoas com quem conversei, ele era um homem normal, não deixava transparecer as perturbadoras experiências que viveu. Na opinião dos velhos moradores da Prata, que na época eram jovens, admiravam o antigo caçador de cangaceiros e ficavam extasiados com a memória das velhas lutas daquele valente, o grande fator de sua mudança foi a mulher Alice, verdadeiro porto de paz e tranquilidade em sua vida.
No dia do seu falecimento a cidade parou. Veio gente de toda a região e várias autoridades foram ao velório. Para nossos entrevistados todos sentiram a sua morte.
Seu filho Zacarias, suas filhas e o irmão Nezinho foram com o tempo para Campina Grande. Já Zé Quelé, apesar do seu problema com a justiça, nunca foi preso e ficou mesmo pela Prata.

Aqui o amigo Ary Prata, professor e escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano. Um agradecimento especial pelo apoio na sua simpática cidade
Tentei encontrar seu atestado de óbito, ou alguma informação da data de seu falecimento no cemitério local, mas nada consegui.
As pessoas da região me apontaram um túmulo recentemente pintado, mas sem nenhuma indicação que ali seria o local de seu repouso eterno. Fotografei o local, mas sem uma comprovação eficiente, afora a palavra das pessoas desta simpática cidade.
Mas ocorre uma situação interessante.
Fiquei intrigado, pois sabia não haver mais familiares de Quelé na Prata, então quem conservava seu tumulo?
Comentaram-me que pelo respeito a sua pessoa, a sua história tão marcada pelas inúmeras lutas e pelos bons serviços que o velho combatente realizou na cidade, seu antigo túmulo é conservado pela comunidade.
MAIS UMA VEZ AGRADEÇO AO AMIGO ARY PRATA E AO ADVOGADO ANTÔNIO ELIAS DA SILVA, MAIS CONHECIDO COMO “TÔTA”, ASSIM COMO ARY, É MEMBRO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO CARIRI PARAIBANO . MUITO OBRIGADO PELO APOIO E ATENÇÃO.

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