Por: João de Sousa Lima
EXPEDIÇÃO RASO DA CATARINA
(NAS TRILHAS DE LAMPIÃO)
Desde muito tempo, que eu guardava o desejo de palmilhar as veredas quase intransponíveis do desértico Raso da Catarina, reserva ecológica de suma importância para o Brasil e o mundo. Com a realização do meu primeiro livro:
Lampião em Paulo Afonso, pude margear, em partes, esse árido pedaço de chão nordestino. Enquanto realizava as pesquisas nos povoados pauloafonsinos, que situa-se no que chamamos em torno do Raso, travei o primeiro contato com a vegetação seca e disforme que cobre essa intrigante reserva ecológica. No entanto, continuava a vontade e a necessidade de conhecer e adentrar nesse enigmático e rico ecossistema.
Quando no dia 06 de setembro de 2004, encontrei-me, por acaso, com o amigo de infância Petrúcio Luiz Rodrigues, funcionário da Petrobrás, que trabalha embarcado em uma plataforma, na cidade de Macaé, Rio de Janeiro, e que, descansava em Paulo Afonso seus dias de férias, falou-me da alegria do reencontro e gentilmente elogiou o meu trabalho literário, externando sua vontade de conhecer alguns dos lugares citados no livro, por onde os cangaceiros passaram. O Raso da Catarina foi o palco da nossa conversa final e acertamos que iríamos cruzar este extenso labirinto. O difícil foi acreditar que o seu carro, "um Toyota corolla", por ser um veículo de passeio, conseguiria realizar a proeza de atravessar esse saara nordestino. Confesso que embarquei nessa arriscada aventura um pouco temeroso.
É chegado o dia 08 de setembro de 2004, eu, Petrucio e Gatão, guia turístico da nossa cidade, com o clarear dos primeiros raios do sol, começamos a expedição. O Povoado Salgadinho, foi a nossa primeira parada, onde fotografamos a casa da ex-cangaceira Lídia, de Zé Baiano.
De lá seguimos até o Brejo do Burgo, aldeia dos índios Pankararés, onde adquirimos alguns artesanatos indígenas e colhemos dados dos que viveram a saga do cangaço. Do Brejo do Burgo nos dirigimos até a Baixa do Ribeiro, local onde nasceu a famosa cangaceira Dadá, de Corisco.
Aí, a Toyota já cruzava as estradas poeirentas e pedregosas do Raso da Catarina. O Salgado do Melão foi a próxima parada e aproveitamos para conversar com Joana, irmã da cangaceira Dadá.
A expedição continuou, sendo entrecortada por breves paradas necessárias para registrarmos a fauna e a flora, patrimônios naturais que a sociedade tem por dever, conservar. (Divulgando este trabalho, estou convicto que ofereço uma parcela de colaboração na árdua tarefa de conscientizar a população a cerca das questões ambientais).
As estradas que a Petrobrás abriu para a exploração do Raso da Catarina, servem hoje de entrada para caçadores e traficantes de animais silvestres. É uma grande dívida social dessa empresa e uma ferida que mostra sua eterna marca. O bom é que as fontes de gás natural, perfuradas em nome do progresso, estão fechadas como fonte de reserva e a clareira que abriram para servir de campo de pouso, está sendo tomada pelo mato, sendo revestida pela natureza que reage. Ironia do destino, a expedição seguia com o apoio de Petrúcio, um dos grandes incentivadores da cultura nordestina e apaixonado pelas histórias sertanejas. Ele que é funcionário da Petrobrás.
Seguimos com a expedição, com o sol abrasador queimando a flora diversificada, castigando as várias espécies, tais como: Catingueira, jatobá, umbuzeiro, quipemba, jurema, mandacaru, xique-xique, prém-prém, coroa de frade, faveleira, macambira, gravatá, quipá e araticum. Plantas que teimosamente sobrevivem, assim como sobrevive com mais dificuldade a escassa fauna, abalada pela caça predatória. Eis alguns animais que estão sendo extintos pelas mãos vorazes do homem: Onça suçuarana, caititu, cotia, preá, tamanduá, veado, tatu, tatu verdadeiro, peba, ribaçã, arara azul, papagaio, carcará, gavião, Seriema, entre outros.
O Povoado São Francisco pertencente a Macururé, foi a nossa próxima parada. Localidade onde encontramos familiares dos cangaceiros Azulão, Balão e Esperança.
Alguns escritores afirmam que o de óculos é Azulão.
Outros afirmam que é o cangaceiro Moreno
Em São Francisco encontramos várias peças que pertenceram aos cangaceiros e falamos para a população, da importância que é a preservação daquela localidade por se encontrar dentro do Raso da Catarina. De lá, já com o cair da noite, regressamos a cidade de Paulo Afonso , onde traçamos novos roteiros para prosseguirmos com o nosso trabalho.
No dia seguinte, ao raiar do dia, a Toyota novamente nos conduzia às areias disformes do Raso da Catarina, e assim foi durante vinte dias, onde percorremos 900 quilômetros, realizamos 8:00 horas de filmagens e tiramos aproximadamente 4.000 fotografias.
Paulo Afonso, 05 de Novembro de 2004.
João de Sousa Lima
Terminamos a expedição exaustos, porém realizados. O carro que no princípio parecia frágil, passou com méritos na missão. O amigo Petrúcio, incansável e de uma sensibilidade ímpar, está de parabéns tanto pela realização do trabalho, quanto pela consciência de preservação que o acompanha e que ele possa ser o elo entre a Petrobrás e o Raso da Catarina, no que se trate de uma nova visita, desta vez, por uma nova causa, onde possa resguardar e proteger este patrimônio brasileiro, que por centenas e centenas de anos, a vida tenta se defender da ação exterminadora do homem.
Paulo Afonso, 05 de Novembro de 2004.
João de Sousa Lima
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