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sexta-feira, 5 de abril de 2019

O CAMPO DE AVIAÇÃO E O SAPO DA BARRIGUDA

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.085
 
(FOTO: B. CHAGAS/REPENSANDO A GEOGRAFIA DE ALAGOAS).
No momento em que se fala em aeroporto em Maragogi, cidade turística do litoral norte de Alagoas, Santana do Ipanema, no Médio Sertão, continua sem crescer nesse sentido. Possui o seu campo de pouso desde o tempo do teco-teco a seis quilômetros do centro da cidade, com pista de barro vermelho. Passando ao lado da pista abandonada, tomam-se rumo aos sítios da zona sul, prosseguindo até a cidade de Senador Rui Palmeira. Pista sem asfalto que não chega nem um aviãozinho para divertir a meninada como na década de 60. Entra prefeito e sai prefeito e nada de aproveitar o campo de aviação, para viagens mais rápidas à capital. Antigo lugar de encontro de casais e fumadores de maconha, o campo parece predestinado ao desprezo.
Cercado pelos sítios Bigula, icó e Várzea da Ema, dizem que faz parte do sítio Barriguda.
Foi ali perto, na margem direita da AL-130, que o saudoso funcionário Luiz Dantas, comprou uma chácara. Artista do olhar aguçado enxergou a forma de um sapo numa pedra na parte baixa da sua propriedade. Pouco tempo depois, a rocha se transformava num sapo de pedra e passava a ser a atração máxima de quem trafegava pela AL-130. Milhares e milhares de fotografias foram tirados dos mais diferentes ângulos, por turistas e outros viajantes que se encostam à cerca de arame farpado e mandam fogo naquela direção. Muitos não se conformam e pedem aos moradores da chácara para entrar na propriedade, fotografar de perto e até escalar as costas do animal.
Tudo é no sítio Barriguda que ainda oferece pequenos bares e restaurantes para quem quer fugir de cidades adjacentes em fins de semana.
Muitas outras formas de animais encontramos nas estradas em rochas e vegetais secos, árvores mortas, como hienas, socós, jacarés, cobras... Mas o problema é que não encontramos mais talentos e disposição de artistas para ornar os nossos caminhos. A pedra do sapo do saudoso Luiz Dantas está em nosso livro “Repensando a Geografia de Alagoas” e que continua inédito.
Um dia chegará a vez do campo de pouso e os sapos de pedras povoarão nossos sertões.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/04/o-campo-de-aviacao-e-o-sapo-da-barriguda.html

UM SOPRO, APENAS

*Rangel Alves da Costa

Pelos quadrantes o vento vem soprando. Vento norte, vento sul, tanto faz. Se não se apresenta como ventania ou outro sopro mais voraz e devastador, quase sempre chega e passa quase sem despertar atenção. Contudo, no seu íntimo, oculto na sua fome, o vendaval, o redemoinho, a destruição.
Há no vento um perigoso silêncio. Há na sua face uma imperceptível e voraz ameaça. Que ninguém se sinta protegido quando de sua fúria ou de sua sanha de arrebatamento. As folhas que apenas balançam, os coqueirais que apenas murmurejam, os outonos que viajam em seus braços, nada reflete com exatidão sua silenciosa ira.
Protege-se do vento somente pela certeza de que não se está no seu caminho ou confrontando sua força. Somente evitando sua fúria é que será possível permanecer sem qualquer esvoaçamento. A proteção, contudo, não diz respeito a meios materiais que evitem os seus avanços.
Como a brisa leve pode levar pelos ares o ser em sua fragilidade espiritual, igualmente o vento em qualquer outra situação onde a pessoa não esteja devidamente protegida de corpo e alma. Não precisa colocar um muro adiante de si aquele que dentro de si mesmo já está protegido contra qualquer sanha do vento ou da ventania.
Ilusão imaginar que a vida na terra se dá na proteção de muralhas, fortalezas, muros impenetráveis. Utopia imaginar que se habita em moradias tão absolutamente seguras que nada poderá abalar ou destruir suas estruturas. Ora, tudo não passa de casa de vento.
Por mais sólidas que sejam as estruturas, por mais que sejam impenetráveis os portões e as portas, por mais que seja impossível alcançar os interiores e dependências, nada disso impede que os redemoinhos da existência a tudo destruam. Ora, tudo não passa de casa de vidro.
O ser humano, a pessoa humana, não passa de uma casa de vento. Sim, é cálice frágil, é asa de borboleta, é folha de outono, é uma poeira ao espaço, mas principalmente é vento. E vento este cuja força sempre está na dependência e predisposição da força humana. Quanto maior a fragilidade na pessoa maior será o poder de transformação do vento em ventania, em vendaval, em redemoinho.
Enquanto casa de vento, o ser humano pode abrir suas portas sem que sinta ameaçado por redemoinhos. Não há fúria de vento que não passe além e deixe intacto aquele que se reforçou intimamente de tal modo que jamais estará de corpo aberto para os acasos. Mesmo casa de vento, a pessoa estará imune aos vendavais toda vez que se encontrar mais preparado que a fúria mais repentina.
Na casa de vento tudo pode ser levado, destruído, estraçalhado, menos a própria pessoa. Livros, estantes, louças, roupas, toalhas, quadros, móveis, tudo pode ser levado pelos ares como uma folha qualquer, mas não a pessoa que já estava suficientemente protegida de sua tempestuosa fúria.
Por que o sábio foi o único a permanecer no alto da montanha depois que a ventania passou estraçalhando tudo? Por que o homem sensato continua se embalando na sua cadeira enquanto o redemoinho fazia sua festa de destruição? Por que o vendaval arranca plantas e árvores de suas raízes e é como se não tocasse naquele que calmamente repousa debaixo de um sombreado de um pé de pau que foi levado?
Simplesmente por que a casa de vento estava mais forte que a ventania, que o vendaval, que o redemoinho. Simplesmente por que a casa de vento estava mais protegida ante qualquer fúria da vida ou da natureza. Uma casa impenetrável e indestrutível pela própria tenacidade humana. E não uma casa aonde a brisa chegue e de porta a outra não deixe mais nada em pé.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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O ATAQUE DE SINHÔ PEREIRA AS FAZENDAS PIRANHAS E UMBURANAS, DOS CARVALHOS FOTOS ABAIXO SINHÔ PEREIRA E LUÍS PADRE.

Por Luiz Ferraz Filho


Clássica foto de Sinhô Pereira e Luis Padre

Geograficamente falando, no inicio do século XX não havia possibilidade nenhuma de frequentar a léndaria Vila de São Francisco (antigo distrito de Villa Bella - Serra Talhada-PE), sem passar nas terras das familias Pereira ou Carvalho. E foi exatamente nesse epicentro das antigas questões que estive visitando. A vila era na época um arruado de comercio pujante. Muitas habitantes frequentavam o povoado que crescia rapidamente as margens do Rio Pajeú. 

Qualquer sertanejo da Vila de São Francisco que desejasse visitar a cidade de Serra Talhada pela estrada velha, teria que passar nas fazendas Barra do Exu, Caldeirão, Escadinha, Varzea do Ú, Piranhas, Três Irmãos, Surubim e Umburanas, todas redutos de familiares dos "Alves de Carvalho". Esse grande número de habitantes fez prosperar essas localidades e conseguentemente da famosa vila , fundada na metade do século XIX por Francisco Pereira da Silva, patriarca dos "Pereiras".

Região rica, tal como todo o solo encontrado nas fazendas do oeste serratalhadense, a Fazenda Umburanas surgiu atraves de um dote recebido pelo fazendeiro Manoel Alves de Carvalho (filho de Jacinta Maria de Carvalho e João Barbosa de Barros - o Janjão da Quixabeira) pelo casamento com a prima Joana Alves de Carvalho, herdeira desta parte de terra que pertencia ao seu pai, o coronel José Alves da Fonseca Barros, que morava do outro lado do Rio Pajeú na Fazenda Barra do Exu. 

Marca de bala na Umburanas...

Deste quartel-general dos "Carvalhos das Umburanas", nasceram os celebres irmãos Jacinto Alves de Carvalho (Sindário), Enoque Alves de Carvalho, José Alves de Carvalho (Zé da Umburana) e Antônio Alves de Carvalho (Antônio da Umburana), e posteriomente os outros irmãos Isabel (Yaya), João de Cecilia (falecido jovem), Aderson Carvalho, Enedina e Adalgisa (Dadá). Foi lá, nesta fazenda, que esses celebres irmãos enfrentaram a questão com os primos Sinhô Pereira e Luis Padre.

Aparentados do major João Alves Nogueira, da Fazenda Serra Vermelha, e de Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé), que na época já enfretavam questão com Manoel Pereira da Silva Filho (Né Pereira), era somente questão de tempo e de proposito para que os irmãos Carvalhos (vizinhos da vila São Francisco, onde morava os Pereiras) aderissem a essa questão familiar. E o estopim foi justamente o assassinato de Né Pereira, em outubro de 1916, na Fazenda Serrinha, cerca de 6km da Fazenda Umburanas, dos Carvalhos.

Né Pereira, assassinado em outubro de 1916 pelo jagunço Zé Grande, que levou e entregou o chapéu e o punhal para os familiares dos Carvalhos.

O crime foi cometido pelo ex-presidiario Zé Grande (natural de Palmeira dos Indios-AL), que segundo os Pereiras, era ex-jagunço dos Carvalhos e havia fugido da cadeia para em sigilo incorpora-se ao bando de Né Pereira com a intenção de assassina-lo traiçoeiramente. Após matar Né Pereira quando ele tirava um conchilo, Zé Grande levou o chápeu e o punhal do morto para entregar aos Carvalhos, na Fazenda Umburanas, como prova do crime cometido. Revoltado, Sebastião Pereira e Silva (Sinhô Pereira - irmão de Né Pereira) entra na vida do cangaço ao lado do primo Luis Padre, que teve o pai assassinado em 1907, na Fazenda Poço da Cerca, cerca de 6km para as Umburanas.

Casa velha da Fazenda Umburanas, antiga propriedade de 
Manoel Alves de Carvalho e filhos. 
Francisco Batista da Silva (Chico Julio), 67 anos, morador antigo das fazendas Umburanas e Piranhas relembrando alguns episodio e mostrando as casas 
que foram incendiadas.

Localizada no epicentro da questão "Carvalho" e "Pereira", o comercio da Vila de São Francisco regredia devido a infestação de bandos armados. Em julho de 1917, Sinhô Pereira e Luis Padre, juntamente com mais 23 jagunços, resolveram fazer sua maior vingança com os "Carvalhos", cercando e atacando as Fazendas Piranhas e Umburanas. 

Os proprietarios Lucas Alves de Barros (da Fazenda Piranhas), Antônio Alves de Carvalho (da Fazenda Umburanas) e Jacinto Alves de Carvalho (da Fazenda Varzea do Ú) resistiram ao ataque, juntamente com os Pedros - jagunços e moradores da familia - em um combate épico que durou duas horas. O cabra Manuel Paixão, do bando de Sinhô Pereira, morreu ferido na calçada quando tentava entrar na casa velha da fazenda. "Tomamos a casa do Lucas, que fugiu para a casa de Agnelo (Alves de Barros - irmão de Lucas das Piranhas), bem perto. Depois chegaram mais jagunços, amigos dele. O combate durou quase duas horas. Manuel Paixão e outros três ficaram feridos. Um foi preciso a gente carregar. Era Antônio Grande. Por isso, tivemos que nos retirar. Dizem que morreu um deles e dois ou três ficaram feridos", revelou Sinhô Pereira, em entrevista nos anos 70.


Sindário Carvalho, que juntamente com os irmãos Zé e Antônio das Umburanas, resistiu ao ataque de Sinhô Pereira e Luis Padre as fazendas Piranhas e Umburanas
Casa velha da Fazenda Piranhas, propriedade de Lucas Alves de Barros e filhos.
Escombros da casa de Antonio Alves de Carvalho (Antonio da Umburanas), morto em um duelo com Sinho Pereira. 

Furioso, Sinhô Pereira pôs fogo nos roçados e nas cercas das fazendas, como também, queimou 13 ou 14 casas de moradores e agricultores que trabalham na terras dos Carvalhos, situadas bem próximas uma das outras. Depois, Sinhô Pereira, ainda matou algumas criações, cortando o couro para não ser aproveitado, e "arrombou" os pequenos açudes para os peixes morreram sem água. "A casa grande das Umburanas foi incendiada, como (também) as (casas) das Piranhas, e a minha casa nesta fazenda. Atualmente ali não reside ninguém", falou o fazendeiro João Lucas de Barros (filho de Lucas das Piranhas), em entrevista nos anos 70. 

Após esse ataque de Sinhô Pereira, os Carvalhos abandonaram suas moradas e vieram residir em Serra Talhada (PE), onde devido a influência com a politica da época, se aliaram aos militares e iniciaram uma tenaz perseguição ao bando de Sinhô Pereira e Luis Padre. Iniciava assim a fase mais obscura de uma guerra de vindictas familiares que culminaram na morte de Antônio das Umburanas e a ida de Sinhô e Luis Padre para o sudeste brasileiro. "A impunidade em Vila Bela (Serra Talhada) teve o auge em minha juventude", lamentou Sinhô Pereira, em entrevista meio século depois dos acontecimentos. 

Luiz Ferraz Filho, pesquisador - Serra Talhada,PE

(FONTE): (FERRAZ, Luis Wilson de Sá - Vila Bela, os Pereiras e outras historias) - (LORENA, Luiz - Serra Talhada: 250 anos de historia) - (MACEDO, Nertan - Sinhô Pereira, o comandante de Lampião) -  (AMORIM, Oswaldo - Entrevista de Sinhô Pereira ao Jornal do Brasil em fev.1969) - (FEITOSA, Helvécio Neves - Pajeú em Chamas: O Cangaço e os Pereiras)

VINTE E CINCO - A ENTRADA NO CANGAÇO_PARTE 1


Por Aderbal Nogueira

Um dia Candeeiro pegou o telefone e ligou para Vinte e Cinco "tem um amigo meu que eu quero que você conheça" Se é seu amigo mande ele aqui, e assim começou nossa amizade.


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“SABONETE": O SECRETÁRIO PARTICULAR DA RAINHA DO CANGAÇO MARIA BONITA.



"Maria Bonita vivia com algumas regalias no cangaço. Para tanto, possuía o que chamamos de "secretário", o qual tinha a função de prestar-lhe auxílio em algumas tarefas. Na foto, acima, o cangaceiro "SABONETE", segura as 07 correntes de ouro, para que Maria enfeite o pescoço. Fonte: facebook - Página: Voltaseca Volta".

José Mendes Pereira Mendes disse: - Nesta foto a gente percebe que Maria Bonita ainda era muito jovem. Talvez não era, mas aparenta uma mocinha ainda muito de pouca idade. Mas como a maioria das fotos foi feita por Benjamim Abraão, é possível que apenas pareça ser jovem.

Ela merecia mesmo um secretário ao seu redor, já que era a rainha do homem mais forte e poderoso do nordeste brasileiro. Ninguém foi tão valente quando o rei do cangaço, que frente a frente, nenhum homem conseguiu levá-lo à cova. Se não tivessem feito tocaias, Lampião teria vivido os 50, 60 ... anos nas caatingas nordestinas.

Segundo o escritor Alcino Alves Costa em seu livro: "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistério s de Angico", o cangaceiro Sabonete era irmão do cangaceiro Borboleta. Este último entregou-se às autoridades de Jeremoabo, juntamente com o cangaceiro Jurity e sua companheira Maria.



SANTO ANTONIO DA GLÓRIA DO CURRAL DOS BOIS NO TEMPO DO CANGAÇO

Uma dura perseguição a família Juremeirano Olho D’água dos Coelhos

Por João de Sousa Lima

Curral dos Bois foi uma das primeiras povoações a acolher Lampião depois que ele atravessou de Pernambuco pra Bahia.


O Chefe Político de Glória, BA, o coronel Petronilio de Alcântara Reis, (foto) acabou tendo seu nome ligado com o cangaço e Lampião em várias histórias. Foi coiteiro famoso e também inimigo depois que traiu Lampião, traição que Lampião pagou incendiando várias fazendas do coronel dentro do Raso da Catarina.

Uma das mais importantes famílias de Glória, família de sobrenome Juremeira, que vivia no povoado Olho D’água dos Coelhos, sofreu grande perseguição de Lampião e Corisco.

Para entender um pouco da história dessa família e a ligação com o cangaço devemos tomar conhecimento que Pedro Juremeira foi delegado na fazenda Caibos (Caibros) e por isso ficou marcado pelo cangaço. Era também quem fazia a segurança do coronel Petro e era proprietário de um barco que fazia a travessia do Rio São Francisco entre Bahia e Pernambuco, entre Rodelas e Petrolândia. A fazenda Caibos hoje esta inundada e as pessoas estão residindo nas Agrovilas II e III.

Lampião mandou um recado para Pedro, para que em um dia marcado ele fizesse a travessia dos cangaceiros do lado pernambucano para o lado baiano e Pedro não atendendo a solicitação, convocou alguns policiais e quando da aproximação dos cangaceiros acabaram trocando tiros com o grupo de Lampião, começando ai uma grande “Rixa” entre os dois.

Em uma das perseguições dos cangaceiros a Pedro Juremeira, Corisco, a mando de Lampião, pegou um primo de Pedro, chamado Leonídio (Lió), no povoado Olho D’água dos Coelhos, pra ele informar onde poderia encontrar Manuel Juremeira, pois não conseguiam encontrar Pedro e quem iria pagar a vingança dos cangaceiros era Mané Juremeira. Lió levou os cangaceiros até a roça “Pé da Serra” e chegando lá prenderam Manuel na roça e o trouxeram para sua residência, onde estava a esposa Hermenegilda “Miné” com os quatro filhos: Otacílio, Ananias, Lídia e Joana.

 
 Hermenegilda de Araújo e Manuel Juremeira


Otacílio Juremeira

Na casa de Leonídio ficaram três cangaceiros vasculhando baús e armários em busca de joias e dinheiro enquanto Corisco seguia com mais dois cangaceiros e o refém para a roça. Chegando próximo de Mané Juremeira Corisco sentenciou o aflito rapaz de morte dizendo:

– Sabe com quem ta falando?

– Não!

– Corisco! Você vai morrer no lugar de seu irmão!

– Eu sou contra meu irmão! Morrerei inocente e sem culpa, mais maior que Deus, ninguém!

– Nada de Deus! Deus hoje aqui é a gente!

Os cangaceiros manobraram os fuzis e apontaram para os peitos e costelas de Manuel. Nesse momento dona Miné saiu de dentro da casa e correu e se abraçou com o marido:

– Aqui você não mata não! Meu marido é inocente!

– Saia da frente que vim matar foi homem e não mulher!

Nesse momento foi chegando Filigeno Furtuoso, amigo de Manuel que era tropeiro e residia na Tapera da Boa Esperança, em Penedo, Alagoas. O amigo sempre que passava na região dormia na casa de Manuel pra no outro dia viajar até Jeremoabo, onde comprava uma carga de fumo para sair revendendo, em sua junta de cinco burros.

Diante dos olhares dos cangaceiros e da situação em que encontrou o amigo Manuel, o tropeiro falou:

– Taí esses cinco burros arreados e eu lhe dou em troca da vida desse homem!

– Negativo! O senhor tem dinheiro?

– Não tenho! O que eu tinha era 800 contos de réis mais os outros cangaceiros que estão na casa de Leonídio já pegaram.

– E daqui a 30 dias?

Nesse momento o próprio Manuel respondeu:

– Ai eu tenho!

– Então vou liberar você e se não pagar eu volto e mato todo mundo.

Manuel escapou nessa hora.

O sargento Zé Izídio ficou sabendo do acontecido e intimou Manuel a ir a delegacia. Quando Manuel chegou o sargento o acusou:

– É você que é Mané Juremeira protetor de bandido?

– Sou Mané Juremeira, mais protetor de bandido não! Eu prometi pagar uma quantia para não morrer!

– Então agora você vai ter que vir morar em Glória!

Manuel foi obrigado a vir residir em Glória e nunca pagou a quantia estipulada por Corisco. Tempos depois os cangaceiros acabaram encontrando o tão procurado Pedro Juremeira em uma fazenda chamada Papagaio, em Pernambuco. Pedro estava dentro de uma casa e os cangaceiros o cercaram, prenderam o rapaz, amarraram em um mourão, perfuraram o corpo do rapaz todo com pontas de punhais e foram almoçar na residência. Depois do almoço os cangaceiros retornaram onde estava o corpo e descarregaram as pistolas na cabeça do já falecido jovem.

 Corisco, colorizado por Rubens Antonio

Depois de três dias da morte de Pedro, o pai de do rapaz, Teodório Juremeira, mandou um recado para uns amigos descerem o corpo de Pedro em uma canoa até Santo Antônio da Glória onde foi enterrado. Quando a família encontrou o corpo já estava apodrecido e tiveram que derramar uma lata de creolina.

Trinta dias depois do sepultamento os cangaceiros mandaram o portador Martim Gabriel, primo de Manuel Juremeira, que residia nas Caraíbas, Brejo do Burgo, com uma carta, cobrando o dinheiro que Manuel prometeu.

– Diga a eles que não mando não! Eu já moro na cidade e se eles quiserem vim aqui incendiar minha casa pode vir!

Depois de três anos o governo armou toda a população de Santo Antônio da Glória. Mané. Otacílio e Ananias pegaram em armas para fazer essa defesa do local.

Quando mataram Lampião a família Juremeira retornou para suas roças no Olho D’água dos Coelhos, porém, na época de Lampião e Corisco, quando eles eram os senhores das caatingas do Raso da Catarina, “Os Juremeiras” sofreram perseguições e mortes.


João de Sousa Lima é Historiador e Escritor; Membro e Vice-presidente da Academia de Letras de Paulo Afonso e Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

Fonte blog do Autor  


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CINCO INSCRIÇÕES DA MORTALIDADE

Por Manoel Severo
A vida é a arte do encontro. É sempre um privilégio encontrar, viver e encantar-se com as "cinco inscrições da mortalidade", o espetacular encontro entre a mais jovem e talentosa manifestação da poesia cearense. Alan Mendonça, Bruno Paulino, Dércio Braúna, Maílson Furtado e Renato Pessoa, são dessas almas nobres que nos permitem viajar para dentro de nossos corações, sempre.

Cinco Inscrições da Mortalidade em noite na UECE...
Bruno Paulino, Alan Mendonça, Renato Pessoa e Dércio Braúna
Na noite da última sexta-feira, 29 de março, o GPLEER – UECE realizou no Auditório do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará mais um encontro com a criação literária contemporânea como também o lançamento do livro "Cinco inscrições da mortalidade" seguido de bate-papo com os autores Alan Mendonça, Bruno Paulino, Dércio Braúna e Renato Pessoa, infelizmente Maílson Furtado não pôde comparecer. Por cerca de tres horas foi possível mergulhar na obra que já configura-se como uma das mais festejadas do ano; conhecer o estilo inconfundível de cada um dos poetas, suas influências, seus conflitos, dores e amores, enfim uma noite espetacular.

Renato Pessoa e Manoel Severo
Alan Mendonça, Dércio Braúna, Ingrid Rebouças, Renato Pessoa, 
Bruno Paulino e Lilian Martins
Manoel Severo e Alan Mendonça
A celebração... 
"Certa vez disseram que "um poema é como um rio ,que sempre que atravessa nosso caminho, nunca é lido e sentido da mesma maneira". Agora imagine um livro que reúne poemas de cinco autores diferentes! O resultado é "Cinco Inscrições da Mortalidade", uma obra plural que reúne não só poemas que me atravessam como também amigos que me acompanham por essa vida besta! Que felicidade a minha de aprender com os aperreios em verso e resistência do poeta-filósofo Renato Pessoa , de voar alto com o apaixonado poeta-passarinho Bruno Paulino , de debulhar silêncios e melodias com o poeta-músico Alan Mendonça , de ser verbo encarnado com a poesia carne-palavra-viva de Dércio Braúna e viver n'algum entre-lugar de poeira e poesia de Maílson Furtado Viana ! Eu me divirto e aprendo muito com todos vocês! Espia aí quantos escritores queridos numa só foto! Poesia pra vida ser mais bonita e a gente suportar a solidão dessas capitais!" emociona Lilian Martins.
o
Debruçado sobre o livro, dedilhando suas páginas e palavras, transportando nossa emoção para encontrar a emoção contida na poesia dos Mestres é na verdade um grande presente. A cada encontro, a cada diálogo, a cada momento de "cinco inscrições da mortalidade" chegamos a conclusão do tamanho do presente que é o dom da vida. Descendo dos palcos e das bancadas vamos encontrar cinco maravilhosos meninos, meninos poetas, meninos iguais a cada um de nós, isso é o mais incrível... Alan, Bruno, Dércio, Mailson e Renato, a  vocês o nosso beijo de eterna gratidão.
Manoel Severo, UECE 29 de março de 2019
Fotos de Ingrid Rebouças
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MANOEL SEVERO TOMA POSSE COMO UM DOS MAIS NOVOS IMORTAIS DA ACLA

Marciano Girão e Manoel Severo

Foi uma tarde noite pra lá de especial. O dia 30 de março de 2019, nos salões lotados da primeira academia de letras do Brasil; fundada antes mesmos da Academia Brasileira de Letras; no Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras tomava posse a nova diretoria da ACLA - Academia de Ciência, Letras e Artes de Columinjuba, que tem como patrono o "Príncipe dos Historiadores do Brasil" o mais que ilustre e festejado Capistrano de Abreu.

Paulo Roberto Neves, novo presidente da ACLA preside a solenidade de Posse
Manoel Severo é empossado e recebe seu Título das mãos do empresário Marciano Girão

Na oportunidade da posse da nova diretoria que tem como Presidente o empresário e intelectual Paulo Roberto Neves, tomou posse como membro efetivo do sodalício da terra de Capistrano de Abreu o Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo Gurgel Barbosa na Cadeira Número 7 - Letras, que tem como patrono "Luiz de Abreu". A solenidade que lotou o Palácio da Luz, levou aos Salões da Academia Cearense de Letras representantes dos mais significativos segmentos das letras, cultura e artes, como também do meio político e empresarial cearense. 

"Nosso sentimento navega entre a vaidade; à qual me entrego de forma desvairada; pois compreendo humildemente o imerecimento de tão grande honra e a grande e entusiasmada responsabilidade  de integrar os quadros de sodalício tão importante e de tanto relevo para o desenvolvimento das ciências,letras e artes do Ceará. Da augusta terra de Capistrano de Abreu estaremos nos dedicando com o que temos de melhor no cumprimento de nossas novas missões" revela o mais novo imortal da ACLA, Manoel Severo. "Foi um dia especial e inesquecível, fazer parte de mais uma conquista do meu amor, sendo empossado como membro da ACLA - Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba. Acompanhei toda sua emoção e felicidade em se tornar "Imortal" a partir da cidade que ama." complementa Ingrid Rebouças.

 Manoel Severo, Ingrid Rebouças, Luana Lira e Pedro Barbosa
 Brener Cavalcante, Manoel Severo, Ministro Ubiratan Aguiar
Ingrid Rebouças, Marciano Girão e Eveline Correia

A ACLA - Academia de Ciências, Letras e Artes de Columinjuba foi criada em 21 de junho de 1992, no Sítio Columinjuba, na cidade de Maranguape, na região metropolitana de Fortaleza. A data de sua inauguração homenageia o nascimento de Antonio de Abreu, primeiro dentre os Patronos a ter um livro publicado. Seu primeiro presidente foi o intelectual Américo de Abreu, escolhido por suas virtudes, raras qualidades e reconhecido saber cultural. Por ocasião de criação deu-se a solenidade de posse da primeira Diretoria Executiva e do seu Conselho Fiscal, além da posse dos primeiros Membros Titulares da ACLA, assim, plantada a semente de um sodalício em um aprazível local, berço de figuras exponenciais cujas principais virtudes sempre foram a honra, a disposição para o trabalho e, principalmente, o sentimento de fraternidade.

Governador Gonzaga Mota ao lado do jornalista Paulo Tadeu 
Luana Lira, Ministro Ubiratan Aguiar e Pedro Barbosa
Manoel Severo e Brener Cavalcante

A ACLA tem como seu Presidente de Honra , João Capistrano Honório de Abreu; o Príncipe dos Historiadores Brasileiros;  que nasceu neste mesmo sítio Colominjuba, sede da ACLA, na  cidade de Maranguape no Ceará em 23 de outubro de 1853. Capistrano de Abreu realizou seus primeiros estudos em rápidas passagens por várias escolas para em 1869, viajar para Recife, onde cursou humanidades e retornando ao Ceará dois anos depois fundou a Academia Francesa, órgão de cultura e debates, progressista e anticlerical, que durou de 1872 a 1875. Mudando para o Rio de Janeiro foi aprovado em concurso público para a Biblioteca Nacional. Em 1879, foi nomeado oficial desta mesma Biblioteca, lecionou Corografia e História do Brasil no Colégio Pedro II e foi nomeado por concurso em que apresentou tese sobre O descobrimento do Brasil e o seu desenvolvimento no século XVI.

Capistrano de Abreu, Príncipe dos Historiadores do Brasil, Presidente de Honra da ACLA
Dedicou-se ao estudo da história colonial brasileira, elaborando uma teoria da literatura nacional, tendo por base os conceitos de clima, terra e raça, que reproduzia os clichês típicos do colonialismo europeu acerca dos trópicos, invertendo, todavia, o mito pré-romântico do «bom selvagem». Morreu no Rio de Janeiro, aos 73 anos, em 13 de agosto . 


Ezequias Meneses, Afrânio Gomes e Manoel Severo
Manoel Severo, Paulo Victor e Pedro Barbosa 
Malvinier Macedo, Manoel Severo e Rosa Firmo 
Manoel Severo e Alberto George
Ingrid Rebouças e Arlindo Barreto

Capistrano de Abreu mudou o cenário da historiografia brasileira, no final do século XIX e começo do século XX. Ele é considerado um dos primeiros grandes historiadores do Brasil e o responsável pela entrada do nosso país no mundo da historiografia moderna. Uma de suas grandes obras foi o livro Capítulos da História Colonial (1500 – 1800), que foi publicado em 1907 atuou também nas áreas de Etnografia (método antropológico de coleta de dados) e Linguística (estudo científico da linguagem) , hoje, as obras do historiador são vistas como grandes fontes de fatos e informações, que fizeram parte da História brasileira.

Posse da ACLA - Palácio de Luz,
Academia Cearense de Letras
Fortaleza, Ceará
30 de Março de 2019


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