COMANDANTE E DELEGADO:
A perseguição a Lampião não
cessou. Manuel Neto continuou enfrentando os cangaceiros, destacando-se nos
tiroteios da Baixa da Moça, Serra da Canabrava, Serra do Bobodó e do Ninho, e
em Caldeirão (22.04.1932), aqui ao lado do tenente Abdon Menezes. Isso no eixo
Bahia-Sergipe.
Chandler (obra citada, p.
191) diz que, em 1932, os sertanejos baianos viviam aflitos com a presença dos
bandidos e, muito mais, com a da polícia. E, de todas as volantes, os
nazarenos, “sob o comando de Manuel Neto, eram os mais temidos. Perseguindo
Lampião com um zelo fanático, empregavam qualquer método para obter
informações”. E, à página 57: “Durante toda a sua carreira, Lampião encontrou
poucas pessoas que se empenharam tanto a persegui-lo como esse grupo. Muitas
vezes, outros o perseguiram de longe, temendo por suas vidas, enquanto outros
podiam ser subornados. Mas os nazarenos, não. Caçaram-no em Pernambuco,
Alagoas, Paraíba e Ceará, e quando, anos mais tarde, ele mudou seu centro de operações
para Bahia e Sergipe, foram atrás dele lá”.
Em 1933, Manuel Neto
distribuiu armas e munições com alguns fazendeiros e colocou pequenos
destacamentos nos locais mais sujeitos aos ataques dos cangaceiros que, vindos
da Bahia, “realizavam sanguinárias incursões em Pernambuco”.
Ainda como tenente, foi
Comandante das Forças em Operação no Interior do Estado (PE), sendo então
obrigado, devido à alta posição de comandante, a afastar-se do confronto direto
com os bandidos. Entretanto, ainda haveria de enfrentá-los, como o fez em
Porteiras, no município de Floresta, em 1935.
Com o levante comunista
daquele ano, o tenente instruiu seus comandados, fazendo-os voltar à sede das
volantes para dali, sob seu comando, seguirem para o Recife a fim de dar
combate aos comunistas e sufocar o movimento armado que eclodira.
A sua ação, sempre
incisiva, ensejara-lhe a promoção a capitão, o que se verificou aos 3 de
janeiro de 1936. E, aos 27 de fevereiro, recolheu-se das Forças em Operação no
Interior do Estado, passando a prestar serviços na capital. Virgulino e seu
bando fixara-se no eixo Bahia-Sergipe e diminuíra suas incursões em Pernambuco.
Mesmo assim, Manuel Neto ainda continuou a realizar missões no interior,
trabalhando de uma forma intensa e desgastante.
Enfim, em dezembro de 1936,
entrou em gozo de férias, benefício que não obtivera nos anos de 1929, 1930,
1932, 1934 e 1935, o que, por si só, demonstra o empenho do nazareno no combate
ao banditismo.
Na capital pernambucana,
comandou a 3ª, 2ª e 1ª Companhia do 1º Batalhão, assumindo interinamente por
diversas vezes as funções de subcomandante daquele Batalhão. Ficou à frente do
Esquadrão de Cavalaria de dezembro de 1938 a junho de 1940. Nesse período, foi
louvado “pelo esforço e dedicação demonstrados durante a extinção do grande
incêndio verificado num dos tanques da Standard Oil Company of Brazil”, ocasião
em que se postou sempre ao lado do comandante Geral, “auxiliando em tudo que
era possível, transmitindo ordens e colaborando para a manutenção da ordem
pública”.
Mais tarde, ao deixar o
Comando da Força, o C.el Rogaciano agradeceu ao capitão Manuel Neto,
louvando-lhe o “contingente de esforço dado a sua interinidade no Comando da
Força.”
O último grupo de
cangaceiros, o de Corisco, foi desbaratado naquele ano de 1940. Chegava ao fim
uma luta em que os nazarenos se engajaram desde o princípio, e que levara à
morte mais de quinze filhos do povoado e daquela região. Olhando para o primo
Manuel Neto, Manoel Flor “achava espantoso que esse homem, ainda com balas no
corpo e com tantas cicatrizes, tivesse sobrevivido”.
Manuel Neto, “espigado, de
falar macio e andar cauteloso de gato do mato, cujo nome varava o Sertão como
uma legenda de bravura” (Luís Cristóvão dos Santos, J. do Commércio -
02.12.82), participara de 35 combates e foi, sem dúvida, o maior perseguidor de
Lampião. A sua atuação contra os bandidos deu-lhe oportunidade de mostrar
qualidades nas missões mais difíceis, sempre a ele confiadas. “Sua peregrinação
pelos sertões foi longa e vitoriosa”. Lampião temia a sua volante:
disciplinada, corajosa e guerreira.
E explicava: Euclides, além
de valente, era cauteloso e hábil estrategista, procurava sempre deixar a salvo
os seus companheiros e comandados. Manuel Neto “era doido”, costumava dizer
Lampião. Partia para cima dos cangaceiros “feito cachorro azedo”, o que de
certa forma facilitava a reação dos bandidos.
O bravo nazareno parecia
desconhecer o significado da palavra medo. Parecia, apenas, pois poucos tinham,
como ele, tanto medo... de alma! Tinha verdadeiro pavor pelas coisas do outro
mundo.
Deixando, em 1940, o
Comando do Esquadrão de Cavalaria, o capitão Manuel Neto voltou a comandar a 1ª
Companhia, assumindo depois o cargo de Subcomandante Interino do 2º Batalhão,
onde foi elogiado pelo comandante que realçou a “dedicação ao trabalho, o
empenho em serviço, o amor à disciplina, traduzidos nas diversas modalidades e
ainda mais no acatamento ao chefe; o dom da iniciativa e o espírito de
corporação”.
A 19 de fevereiro de 1943,
foi nomeado Delegado Regional da 11ª Zona Policial, com sede em Ouricuri. Ali
permaneceu até o mês de setembro do mesmo ano. Voltou à capital e assumiu o
Comando da 2ª Companhia e, no ano seguinte, novamente o Esquadrão de Cavalaria.
Aos 14 de dezembro de 1944,
foi nomeado Delegado Regional da 8ª Região Policial, com sede em Sertânia, onde
permaneceria até fevereiro de 1946. Nesse cargo, em março de 1945, recebeu
elogio do C.el José Arnaldo: “Oficial de muito boa vontade. Rigoroso no
cumprimento do dever”.
Em Sertânia, levaria um
grande susto: no dia 5 ou 6 de junho de 1945, ao se dirigir a um preso, foi por
ele alvejado no abdômen, tendo sido levado em estado grave para a cidade de
Pesqueira, onde foi operado e passou a receber todos os cuidados médicos,
restabelecendo-se, finalmente.
Sete meses depois, foi
promovido a major, por merecimento. Mas, em ato posterior, o Interventor
Federal considerou sua promoção “por antigüidade.”
Em agosto de 1946, assumiu
a Chefia da Assistência do Material e, mais uma vez, recebeu referências
elogiosas: “Também é de justiça elogiar o major Manuel de Souza Neto, que vem
de ser designado para a Chefia da Assistência do Material, pela dedicação em
que se houve no exercício do comando do 3º B.C.. É o que faço com satisfação.”
E logo em setembro do mesmo
ano, foi “louvado pelo esforço, dedicação e amor à Corporação, manifestado por
ocasião dos treinamentos para a parada de 7 de setembro, concorrendo para o
brilhantismo alcançado pela Força Policial de Pernambuco, pelo garbo,
marcialidade e disciplina com que se apresentaram seus elementos em público.”
Ao final de 1947, entrou
numa fase difícil de sua vida, afastando-se do trabalho por um ano, para
tratamento de saúde. Em novembro de 1948, foi operado e desligado do serviço
por mais um ano. Finalmente, aos 27 de outubro de 1949, foi transferido, a
pedido, para o Quadro Suplementar.
PREFEITO:
Na década de 1950, com o
apoio de João Inocêncio, o coronel Manuel Neto foi eleito prefeito de Ibimirim,
passando a fazer uma boa administração .Deixando a prefeitura, passou a viver exclusivamente
de sua aposentadoria. Nasceu pobre e morreu pobre, nada deixando para a
família.
Calado, introspectivo, não
deixava transparecer o homem valente que era. Dificilmente falava sobre suas
lutas contra o banditismo. Achava que isso poderia influenciar ou estimular os
jovens.
Aos 78 anos, faleceu às 7
horas e 45 minutos do dia 3 de novembro de 1979, no Hospital da Polícia
Militar, no Derby (Recife). Seu corpo foi levado para sua terra natal, sendo
sepultado em Nazaré.
Morreu solteiro. “Quando se
perguntava por que não casava, respondia que era um homem de intrigas e que
vivia sujeito” a ser morto “a qualquer momento”. E assim fugia ao casamento.
Mas deixou pelo menos dois filhos com Otacília Gomes de Sá.
O TEXTO SOBRE O CORONEL
MANOEL NETO FOI EXTRAÍDO DO EXCELENTE LIVRO:
FLORESTA
– UMA TERRA UM POVO ( I I Volume )
Autor: Leonardo Ferraz Gominho, 1996, pgs 166/187 .
FINAL
Fonte: facebook
http://blogdomendesemendes.blogspot.com