*Rangel Alves
da Costa
De repente me
vejo imaginando sobre situações aonde os breves encontros já chegam
acompanhados de adeuses. Pessoas são avistadas, olhadas, diferenciadas pelo
olhar, causando boas e estranhas sensações, trazendo consigo algum tipo de
relembrança, mas num instante já desaparecem em meio aos outros ou nas
distâncias da estrada.
Com as folhas
mortas também acontece assim. E igualmente com borboletas, colibris e flores da
estação. Tudo surge num instante para não mais serem avistados. As folhas
passam em voo pela janela dizendo adeus. Em época primaveril, os visitantes
chegam a voar pelo quarto, a pousar no umbral da janela, a fazer rasantes sobre
o umbro e a cabeça, como se fizessem um carinho de despedida.
Pessoas
existem que surgem diante do olhar de modo espantosamente diferenciado. Ao
encontrá-las é como as estivessem apenas reencontrando, pois de feições
aparentemente conhecidas de algum lugar, de algum passado, de alguma outra
situação de vida. Olhar no olhar, e tudo parecendo em comunhão espiritual.
Contudo, de repente passam, seguem, vão embora sem uma palavra sequer.
Em meio à
multidão, numa rua qualquer de capital, de repente o olhar divisa outro olhar
na distância. Há muitos olhos ao lado, nas proximidades, mas o olho encontra
exatamente um de alguém que está meio à floresta de gente. Aproxima-se um pouco
mais, mas ao chegar mais próxima tem a certeza que não conhece aquela pessoa.
Contudo, tem máxima certeza que a conhece de algum lugar, de um algum instante
de vida. Mas de onde?
Também é muito
comum que o olho se espante ante o avistado. Surgem cenas tão
impressionantemente marcantes que a pessoa sequer deseja se desapartar daquele
instante. Um pedinte numa porta de igreja, uma criança que passa ao lado da mãe
e lança um olhar e um sorriso tão profundos que mais parece um presente
abençoado. No entanto, ao olhar novamente o menino, já não o encontra mais com
a face voltada em olhar e sorriso.
Outro dia,
estando na praça da catedral da capital sergipana, caminhando ao redor de
velhas amendoeiras, de repente eu sentia folhas grandes caindo aos meus pés.
Então eu me afastava um pouco e ficava meditando acerca daquele instante.
Folhas agora velhas, enferrujadas, envernizadas de tempo, que pouco tempo atrás
vicejavam no alto, simplesmente caindo mortas sobre o leito encharcada de
restos de outras folhas. E eu dizia que se amanhã aqui retornar já não
encontrarei nada do que presencio agora. E no dia seguinte retornei para a
confirmação.
Um velho que dava
milho aos pombos na praça do antigo palácio, certa feita me confidenciou uma
coisa. Disse o homem em sua sabedoria: Conheço todos os pombos daqui. Sei os
que chegam e sei os que partem e não voltam mais. Acostumaram tanto com minha
presença que quando aqui chego já os encontro ao redor desse banco. Se o banco
está ocupado, sequer se aproximam. E quando vou embora, não demora muito e eles
também levantam voo. De repente vou seguindo e um pombo pousa bem no meu ombro.
Outro dia,
viajando pelas estradas sertanejas, e sempre com o olhar atento nos casebres
que se estendem pelas beiras da estrada, eis que o meu olho passou a observar
mais atentamente um menininho que brincava debaixo de um umbuzeiro. Pedi para o
carro passar mais lentamente e fui observando aquele menino em seu mundo. Num
instante ele deixou seu afazer e se voltou para mim de modo tão convicto que
até estranhei. E vi um sorriso nos seus lábios e um brilho maior no seu olhar.
Mas segui adiante. Mais à frente olhei pra trás e avistei uma mão acenando em
adeus.
Jamais
esquecerei essa cena. Toda vez que retorno à região, meu olhar avidamente
procura aquele menino. Mas nunca o encontro. Mas nunca saiu do meu pensamento.
Escritor
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