Por: Antonio Amaury
Nosso confrade Luiz Ruben F. de A. Bonfim, mais uma vez coloca ao alcance dos pesquisadores e pessoas interessadas em tomar conhecimento dos episódios ocorridos nos sertões da Bahia e nos estados limítrofes, nos tempos em que essa região era percorrida por Lampião e outros grupos cangaceiro, um rico e raro material que sua perseverança, paciência e grande força de vontade conseguiu colher e preservar.
Provavelmente essas fontes de informação não chegariam às mãos da maioria dos interessados, por serem de acesso restrito e também de difícil manuseio por se encontrarem muito castigadas pelo tempo e pelo fato de serem de material bastante frágil, visto serem destinadas a descarte diário: JORNAIS.
Pelos textos obtidos nós podemos analisar, friamente a posição da imprensa daqueles tempos quando as notícias giravam em torno de Lampião, cangaceiros, coiteiros, volantes, contratados e policiais.
Era totalmente parcial. Não era investigativa. Não procurava ouvir as partes envolvidas nos fatos e nem confrontar os informes obtidos dos elementos participantes dos acontecimentos.
O que é notado claramente, nos editoriais dos jornais publicados nesses tempos, é a luta entre o governo e a oposição, sendo que cada cangaceiro preso ou morto era transformado em bandeira da competência governista.
Por outro lado todo assalto, toda “invasão” de vilarejo, todo crime praticado pelo bando sinistro era mostrado como sendo fruto de ineficiência do poder público estadual.
A existência dos grupos fora da lei, por mais de uma década, nos sertões do nordeste da Bahia e com atuação na região lindeira com os estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, foram o combustível que alimentou essa fogueira de descontentamento da imprensa oposicionista para com o chefe de polícia, com o próprio corpo policial e com o governo que não conseguia vencer Lampião e seus comparsas.
Os colegas que pesquisam o tema Lampião terão à mão um material de grande interesse e que deve, em minha opinião, ser examinado com carinho, cuidado e analisado com imparcialidade por não ser visto como verdade definitiva.
Bom proveito a todos,
Cidade de São Paulo - 2011
Antonio Amaury Corrêa de Araujo
Introdução
Sou pesquisador do tema Cangaço desde 2002 e tenho me dedicado principalmente a pesquisa de documentos. Em 2006, resolvi verificar o que a imprensa baiana registrou na época em que Lampião agia na Bahia e me vi com um calhamaço de material. Folheei aproximadamente 150 mil páginas dos jornais: A Tarde, Diário da Bahia, Diário de Notícias, Era Nova, O Imparcial, do período de 1928 a 1940, complementando a pesquisa de campo que já fazia pelas caatingas afora.
Este livro tem no seu início, o Jornal O Povo, de Fortaleza no Ceará, apresentando uma reportagem datada de 4 de junho de 1928, setenta e oito dias antes da decisão de Lampião entrar na Bahia. Esta matéria dá uma visão da situação de Lampião e de seu exíguo grupo ao fugir para o nordeste baiano, por isso achei importante iniciar com a transcrição da entrevista com o rei dos cangaceiros.
Transcrevo os textos dos jornais, mas com a ortografia atualizada. As palavras escritas em inglês foram aportuguesadas ou traduzidas, para melhor compreensão. No final das matérias do ano 1928 e no final do livro mostro foto das páginas dos jornais e de algumas matérias.
As notícias que a imprensa publicava sobre Lampião tinham seu nome sempre grafado Lampeão, como mostram as fotos que apresento, também os jornais grafavam Virgulino, embora o registro de batismo e nascimento estejam grafados com (o) Virgolino. Preferi colocar a ortografia dos documentos.
As localidades que tiveram seu nome mudado ao longo dos anos nominei com seu nome atual. Sugiro ao leitor que tome como referências as cidades de Juazeiro e Jeremoabo e a Estrada de Ferro Este Brasileiro, para melhor localizar as andanças de Lampião e os seus subgrupos em território baiano.
Chamo a atenção do leitor que o termo nordeste, usado nos artigos dos jornais refere-se a região nordeste da Bahia (por exemplo as cidades de Jeremoabo, Paripiranga e Santo Antônio da Glória) e não a região nordestina formada pelos nove estados, que também era denominada de norte. Lembro ainda que o título de coronel era comumente usado para identificar um fazendeiro ou um chefe político, diferentemente da função que tinha a patente de coronel do comandante da força pública.
As matérias publicadas sobre Lampião pelos diferentes jornais, com o mesmo assunto é uma prova do interesse que o público baiano começou a despertar quando da chegada de Lampião na Bahia.
Em 21 de agosto de 1928, proveniente de Pernambuco, Lampião atravessa o rio São Francisco na altura do que é hoje a cidade de Rodelas em direção à Bahia, pela fazenda Zurubabé (assim pronunciada pelos habitantes), acompanhado por mais cinco cangaceiros, seu irmão Ezequiel, seu cunhado Virgínio, Luiz Pedro, Mariano e Mergulhão.
As notícias sobre a chegada de Lampião na Bahia abrangem o período de 23 de agosto de 1928 até 28 de dezembro de 1929. A primeira notícia de Lampião na Bahia foi divulgada pelo Jornal A Tarde em 23 de agosto de 1928 com a seguinte manchete “Quem é Vivo... O grupo de Lampião ruma para a Bahia”.
Em fins de setembro de 1928 a imprensa baiana já divulgava o número de sete cangaceiros, provavelmente foi com a entrada de Corisco, mas, Arvoredo já estava no grupo.
Em 21 de dezembro de 1928 um jornal publica a chegada de Lampião em Pombal, hoje Ribeira do Pombal e é fotografado junto com seu bando composto pelos seguintes cangaceiros: Lampião, Ezequiel, Virgínio, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e Arvoredo, (ordem da foto publicada na capa deste livro).
Lampião, com apenas uma baixa, a morte de Mergulhão, conquistou o nordeste da Bahia no final do ano de 1929 com os seguintes cangaceiros: Ezequiel (Ponto Fino), Virgínio (Moderno), Luiz Pedro (Salamanta), Mariano, Corisco, Arvoredo, Zé Baiano, Revoltoso, Antonio de Ingrácia, Gato, Gavião, Antônio de Naro, Zabelê, Azulão, Fortaleza, Ângelo Roque (Labareda) e Mourão.
Vemos que o secretário de segurança pública, senhor Madureira de Pinho, acusa o jornal Diário de Notícias de ser seu inimigo, dando assim uma cobertura das tropelias de Lampião, desfavorável ao seu governo, mas os fatos noticiados mostravam a ação de Lampião.
Não existia na época um jornalismo investigativo sobre a presença de Lampião na Bahia, as matérias publicadas nem sempre eram assinadas pelos jornalistas, os periódicos da capital não focavam apenas notícias, mas também opiniões, comentários e editoriais. As informações sobre a presença de Lampião e seu bando na Bahia, eram obtidas através das agências de notícias, da abordagem de viajantes na estação ferroviária da Calçada em Salvador, no trecho ferroviário Salvador a Juazeiro, na Secretaria de Segurança Pública no bairro da Piedade, moradores do sertão se dirigiam às redações em Salvador, também eram enviadas do interior, telegramas e cartas assinadas, a respeito das façanhas de Lampião e seus famigerados comparsas, correspondências estas que representavam, sem dúvida, um grande serviço prestado à imprensa pelos seus remetentes, por que não fossem elas a capital baiana ficaria a ignorar os horrores, sofrimentos e as misérias da ação nefasta dos cangaceiros ou submetida a informações puramente oficiais.
Assim, na pressa de divulgar e não havendo verificação para se distinguir o que era fato do que era rumor ou temor, algumas notícias publicadas podem ter sido apresentadas pelos jornais com distorções ou enganos, como é o caso da primeira matéria apresentada onde Lampião entrevistado, convenientemente não diz a verdade sobre a morte de seu irmão Antonio Ferreira e do cangaceiro Sabino, ao afirmar que estavam vivos.
Considero, entretanto, de suma importância para os pesquisadores que estudam hoje o cangaço, ter o conhecimento de como foram apresentados os fatos, na época em que aconteceu, o que dá subsídios para que, cruzando, combinando ou confrontando com outras fontes de pesquisa, possam confirmar, descobrir ou mesmo desmentir alguns acontecimentos.
Tive a honra mais uma vez de ter como apresentador deste trabalho o ilustre pesquisador Antonio Amaury, mestre e orientador de grande parte dos pesquisadores, escritores, cineastas e estudantes deste país.
Cidade de Paulo Afonso – 2011
Luiz Ruben F. de A. Bonfim
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Luiz Ruben F. de A. Bonfim
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