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sábado, 1 de setembro de 2018

LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS


Por Guilherme Machado

Para mim dentre grandes livros do Cangaço este está entre os primeiros em seu formato de pesquisa e informação! do mestre Bezerra Irmão, a quem devo todas as minhas pesquisas para o lançamento do meu Livro " Lampião e seus principais aliados!

Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas. Estas Linhas são dedicadas aos mestres Geraldo Antônio De Souza Júnior e José Bezerra Lima Irmão

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GUERRA DE PAU DE COLHER

Ocorrida entre os municípios de Casa Nova (BA) e São Raimundo Nonato (PI) 1937-1938

Mar de sangue no sertão 

Documentos do Arquivo Histórico de Pernambuco revelam que a ditadura Vargas mobilizou o Exército e policiais de quatro Estados para massacrar mil sertanejos comandados por Quinzeiro, líder messiânico do arraial de Pau de Colher (BA). A ofensiva rendeu a mais sangrenta chacina do Estado Novo e uma das maiores violações de direitos humanos por forças legais do Brasil no século 20. As crianças sobreviventes foram entregues a famílias abastadas de Salvador.


Testemunhas da ofensiva lançada em dezembro de 1937 contam que as mulheres do arraial corriam em direção aos canos dos fuzis dos soldados na tentativa de impedir com lençóis e anáguas a visão dos atiradores, que disparavam com as armas um pouco inclinadas. Era para não acertar as crianças, mas, em meio ao fogo cruzado, ninguém foi poupado.

Horas depois do tiroteio, sob a fumaceira dos tiros que cobria a caatinga, o pistoleiro Norberto Pereira, guia da polícia, retirou dos braços de uma mulher ensanguentada a menina Ana Rita Pereira Neta da Silva, de 3 anos. A mãe da criança morreu. O pai, José Rodrigues de Souza, o Zé Caboclo, foi preso e torturado.


A menina não entrou em uma das “carroças salvadoras” que levaram os órfãos da guerra para o porto de Casa Nova, na divisa com o Piauí. Dali, embarcariam de vapor para Juazeiro e depois um trem até Salvador – onde seriam entregues a famílias abastadas como empregados domésticos e, em muitos casos, escravos. A sobrevivente de Pau de Colher foi escondida por Norberto para não ser levada.

Hoje com 76 anos, Ana Rita vive num sítio em Riacho do Meio, no sopé da Serra Vermelha, no semiárido piauiense. Para se chegar até lá, a pouco mais de 100 quilômetros do município de São Raimundo Nonato, é preciso enfrentar uma estrada de terra quase intransitável. É o caminho que liga a civilização ao remoto lugar, isolado pela serra tomada de angicos e canafístulas. Ali percebe-se uma diferença de fuso histórico. O sertão de hoje está distante da realidade nos grandes centros e parece acordar e dormir num tempo não muito distante do da época do massacre de Pau de Colher. Faltam energia elétrica, escolas, saneamento básico, água encanada, serviço de carteiros.

O Estado contou com a ajuda do pesquisador Marcos Damasceno, 28 anos, que escreve livros sobre o sertão piauiense. Na companhia dele, a reportagem esteve em programas de rádio de São Raimundo Nonato. Radialistas informaram aos ouvintes sobre a presença da equipe e pediram informações para localizar testemunhas da revolta que vivem na vasta região que abrange partes do Piauí, da Bahia e de Pernambuco. Foi assim que se chegou a Ana Rita.

Rodeada de filhos, netos e bisnetos, a sertaneja de olhos castanhos e cabelos compridos lembra de Norberto, o pistoleiro que a salvou, um “matador” que andava com bornal de bala pendurado no peito. Da mãe, Maria Inácia Pereira, ouviu dizer que era “bonita”, “fortona”, “branca e de olhos azuis”.
“Pelejei nestes anos todos para me lembrar da minha mãe. Não consegui. Dizem que quebraram as pernas dela. O Norberto entrou no arraial para ver quem estava vivo. Ele me encontrou no fogo”, conta. “Mamãe ainda estava viva; pediu um pouco d”água e que me tirassem dali”, completa. “A polícia terminou de matar quem ficou vivo lá.”

Os pais de Ana Rita trabalhavam numa fazenda de gado quando souberam da formação de um arraial por Joaquim Bezerra, o Quinzeiro, um líder religioso que vinha de Casa Nova. “A mãe mais meu pai foram para lá, se fanatizaram. Eles me levaram”, diz. “Quem foi, morreu; mas meu pai escapou e passou seis meses preso em Salvador. Morreu em 1979. Depois da guerra, fui para São José, morar com a madrinha Nenzinha.


  
Numa das trincheiras de Pau de Colher estavam fazendeiros piauienses e baianos, a Igreja Católica, o governo de Getúlio Vargas, os interventores da Bahia, do Piauí e de Pernambuco. Na outra, meia dúzia de religiosos primitivos e pequenos agricultores armados com cacetes de marmeleiro – árvore típica da caatinga, como o arbusto pau-de-colher, que deu nome ao povoado. Os caceteiros, como os pequenos agricultores foram descritos nos relatórios oficiais, estavam agrupados em um vilarejo, uma espécie de Canudos do Estado Novo, acusados de assaltar propriedades e impedir o transporte de gado e cabras pelas estradas da região.

Um dos relatórios analisados foi escrito por Optato Gueiros, capitão da Polícia Militar de Pernambuco que chefiou, entre 19 e 21 de janeiro de 1938, um total de 97 homens da brigada pernambucana, integrante da terceira e última campanha contra os caceteiros. Ele entrou no povoado antes da hora combinada com o comando central da operação, chefiado pelo tenente-coronel Augusto Maynard Gomes, homem de confiança de Vargas que tinha sido interventor de Sergipe, de 1930 a 1935. A operação contava ainda com efetivos de batalhões do Exército em Salvador e Aracaju e das polícias da Bahia e do Piauí.

*Optato Gueiros
  
*Augusto Maynard

Resistência.

O documento comprova que a brutalidade da ditadura Vargas não se limitou à repressão de focos da classe média, organizados por partidos políticos nas grandes cidades. Por meio de sua rede de polícias estaduais, Vargas recorreu à violência para controlar focos de resistência também na área rural.

No relatório, Gueiros aponta 157 mortos no centro de Pau de Colher e 40 rebeldes atacados por uma patrulha do Piauí. Há ainda a lista de 20 mortos na fazenda do Janjão, em São Raimundo Nonato, num suposto ataque à propriedade. Um livro esgotado escrito pelo ex-prefeito de Casa Nova Raimundo Estrela, Pau de Colher, uma pequena Canudos, ajuda a compor a história. Médico dos militares durante o conflito, Estrela escreveu que 12 pessoas da fazenda de Janjão, incluindo 2 crianças, foram mortas pelos caceteiros. A origem desse ataque, ocorrido a 5 de janeiro de 1938, é uma incógnita da história do conflito.

Uma testemunha do ataque à fazenda de Janjão vive no sopé da Serra Vermelha. Floriana Gomes Ferreira, a Santa, de 84 anos, prima do fazendeiro Janjão, diz se lembrar da chegada dos caceteiros à propriedade. “Gente da fazenda chegou gritando:  
“Lá vem o pessoal dos caceteiros…” Nesse dia, Janjão tinha matado uma vaca. Os caceteiros mataram dez capangas. Tocaram fogo em tudo. Quem podia, correu. Rodei oito dias no mato, chupando água de caroá, comendo umbu”, conta. “Depois, veio a polícia atrás deles. Quando foi à noite, no alto da serra, vi o fogão. Morreu muita gente.”

Isolamento. 

Santa mora numa casa de tijolo e telha sem energia elétrica com o irmão Rubem, de 87 anos (outra testemunha do conflito), o sobrinho Leonardo, 37 anos, a mulher dele, Ana Maria, 38, e duas crianças. A família vive do plantio de milho e feijão e da aplicação de agrotóxico nas lavouras dos vizinhos. Ana Maria reclama que a escola municipal em que os dois filhos menores, Gilmara e Amilton, estudavam, a 6 quilômetros, fechou. A prefeitura de Dom Damasceno não deu explicação. Estão isolados e esquecidos pelo Estado brasileiro, como na época dos caceteiros.


Ao longo do tempo, representantes dos dois lados da guerra disseram em depoimentos que o conflito resultou na morte de mais de 400 pessoas. Até o momento, não há documentos oficiais que confirmem esse número, bastante citado em depoimentos orais colhidos pelo Estado. O palco da guerra se estendeu por um raio de 400 quilômetros quadrados, envolvendo os povoados vizinhos de São José, Proeza, Minadouro, Cachoeirinha e Olho D”Água – que pertenciam a São Raimundo Nonato, no Piauí -, e Lagoa do Alegre, São Bento e Ouricuri, distritos de Casa Nova, na Bahia.

Memória preservada. 

Depois de dois dias percorrendo estradas de chão, a equipe do Estado chega ao campo onde se localizava o arraial de Pau de Colher. O agricultor Gregório Manoel Rodrigues, 65 anos, aparece. É o guardião do território dos caceteiros. Ele e a família capinaram toda a área e colocaram plaquinhas para identificar as trincheiras, uma cova coletiva, as casas dos líderes dos caceteiros e os pontos onde chefes rebeldes mataram e foram mortos.

Quando é informado que os visitantes são de um jornal de São Paulo, Gregório se emociona. Corre para debaixo de um umbuzeiro e chora. É surpreendente encontrar no meio do nada alguém preocupado com a memória do País. “Eu sabia que alguém viria para cá contar a história do Pau de Colher. Isso foi tudo escondido, gente! Ninguém sabe disso”, diz, gritando. “Tenho fé em Deus que essa história vai ficar conhecida.”

Gregório guarda fragmentos de ossos, que diz terem sido encontrados durante a capinação, balas de fuzis, cachimbos, pedaços de cerâmica, garfos e antigas garrafas. Ele leva a equipe por uma trilha até um pé de faveira, arbusto muito comum em Canudos. Embaixo da árvore há uma cruz de aroeira. “Aqui morreu Ângelo Cabaço, um dos líderes dos caceteiros”, informa o agricultor.

Próximo à cruz, ficava a casa de José Senhorinho, outro líder e fundador do arraial. Restam apenas pedaços de telhas. Depois, Gregório leva ao local onde Senhorinho e Ângelo Cabaço foram enterrados.  
“Depois da guerra de 38, o pessoal veio aqui arrancar os ossos, que foram queimados para os dois não virarem bicho”, diz. “A coisa que eu mais queria era fazer uma estátua do Senhorinho. Ninguém sabe o que ele pensava, porque reuniu tanta gente e enfrentou a polícia. É um filho daqui. Eu queria olhar para a estátua e entender o que ele pensava”, diz. “Ninguém sabe o que Senhorinho queria.”

O juazeiro onde os caceteiros subiam para ficar mais perto do céu não existe mais. Um outro, frondoso, onde havia a feira do arraial, mais abaixo do acampamento, serve de proteção para carneiros e bodes contra o sol abrasador do meio-dia. A caatinga está verde neste mês de fevereiro. Asas brancas e juritis dão voos rasantes por cima dos xique-xiques, favelas, muçambês e umbuzeiros.

Gregório reclama que as autoridades do município de Casa Nova tentam esconder a história de Pau de Colher. O agricultor demarcou a área do antigo acampamento para evitar que algum vizinho ocupe o lugar. Ele fez questão de colocar limites no próprio sítio, onde cultiva milho e mandioca. No povoado vivem ao todo 28 famílias de sitiantes.

O filho de Gregório, Dirceu Nunes Rodrigues, 31 anos, ajuda na preservação da memória das ruínas do antigo arraial. Dirceu era vocal da banda de forró Souzinha dos Teclados, de Casa Nova. Há pouco tempo, montou o Mercadinho Pau de Colher, que atende famílias da região.

Como o pai, ele trata os líderes de Pau de Colher como heróis. “Boto fé que o Quinzeiro não era um homem à toa. Era um homem inteligente”, diz, referindo-se ao principal líder religioso de Pau de Colher. Quando o pai se afasta, Dirceu aproveita para contar que ouviu pessoas mais velhas dizerem que Quinzeiro era sedutor. “Se aparecesse uma mulher, não tinha para ninguém.”

O sertão dos caceteiros apresenta algumas mudanças sociais. O fuso histórico daqui, agora, dá mostras de que se aproxima do das cidades. As famílias deixaram de ser numerosas. Atualmente, na região, um casal tem no máximo três filhos. Desde o começo dos anos 1990, a motocicleta substituiu o jumento. O benefício do programa Bolsa-Família complementa a renda de parte das famílias, o ensino continua uma tragédia e a palavra “São Paulo” – nome da grande metrópole – não fascina tanto quanto antes. Não há mais o sonho enlouquecido de partir para o Sul. Em quase toda velha casa, agora com cisterna, há alguém que já trabalhou ou morou em São Paulo, um mundo distante, porém, já conhecido.

Por falta de hotéis e pousadas na região, a equipe do Estado pernoitou na casa de Maria Aparecida, 42 anos, filha de Ana Rita – a sobrevivente de Pau de Colher salva pelo pistoleiro Norberto de ser colocada num trem para Salvador.

A casa tem três quartos, uma sala onde os visitantes amarram as redes, uma cozinha e um banheiro. A família conseguiu entrar num programa de uma ONG e instalou uma placa de energia solar. Maria Aparecida, o marido Waldemar, 48, e três filhos menores podem assistir à televisão até as 20 horas. Depois, a energia é desligada. Waldemar é neto de João Damasceno, um dos fazendeiros que ajudaram a combater os caceteiros.

Hospitaleiros, os Rodrigues oferecem bode, cuscuz e tapioca de jantar. Na mesa, Waldemar conta que trabalhou em uma metalúrgica e em um supermercado em São Paulo nos anos 1980. Foi lá que, em 1982, votou pela primeira vez em Lula, para governador. “Depois achei que o PT não era uma boa opção. Votei no Collor de Mello e duas vezes no Fernando Henrique para presidente. Um dia resolvi dar outra chance para o Lula”, diz.

No ano passado, Waldemar pegou um financiamento de R$ 5 mil do Pronaf para comprar 20 ovelhas e fazer uma cerca. Começará a pagar em 2012, cerca de R$ 900 por ano até 2016. A família vive de criação de animais e plantio de feijão e milho. Maria Aparecida recebe R$ 145 do Bolsa-Família, que ajuda a complementar a renda.

Maria Aparecida reclama da falta de médicos. Todos os dez mil moradores de Dom Inocêncio contam com apenas um profissional, que trabalha três dias na semana. Também reclama que a escola mais próxima está na sede do município, a 26 quilômetros.

É numa moto que Waldemar leva os três filhos para a escola. As crianças passam a semana numa pequena casa da família para frequentar a escola. Emanoel Charles, 17 anos, o filho mais velho do casal, gosta de roupas coloridas, bonés e músicas estrangeiras. Tem uma conta no site de relacionamento Orkut. “Sou um descendente de caceteiros”, diz, com ironia. “Isto não é legal.”

No rastro das “carroças salvadoras”.

O Estado viajou para Salvador em busca de uma das crianças órfãs de Pau de Colher. A equipe de reportagem encontrou no bairro de Matatu, a poucos quilômetros do Pelourinho, uma das menores levadas pelos militares para a capital da Bahia. Maria da Conceição Andreza Pinto, agora uma simpática e alegre senhora de aproximadamente 78 anos – no conflito, ela perdeu os documentos -, conta os horrores da guerra no semiárido baiano com uma surpreendente riqueza de detalhes. No início do ano, ela procurou jornais e rádios da Bahia para contar sua história e tentar localizar uma irmã desaparecida desde o começo da guerra.

A chegada da equipe ao apartamento de Cristina, uma das filhas de Maria, em abril, virou momento de festa. Aqui estão três orgulhos filhos da matriarca. Silvio, Cristina e Fernando pesquisam há 20 anos a história da mãe. As netas Clara e Talyta também estão na sala. Estudante de comunicação da Universidade Federal da Bahia, Talyta pretende fazer um documentário. “Eu queria voltar no tempo para não ter deixado minha mãe passar por isso”, diz Fernando.


Filha de Pedro de Andreza, um dos líderes do movimento, e de Justina, Maria tinha sete irmãos quando a tropa de Optato Gueiros chegou ao arraial. Pelo menos cinco deles morreram no tiroteio. A avó Andreza e mãe Justina também caíram mortas. O pai foi preso. Na capital baiana, Maria serviu de escrava até o final da adolescência em casas de famílias da elite.

 Sepultura coletiva para os mortos no conflito.
ripada em www.dominocencio.com

Por Leonencio Nossa e Celso Júnior
JORNAL O ESTADO DE S. PAULO
Especial ● Guerras desconhecidas do Brasil
19 de Dezembro de 2010.

Pesquei aqui visse Estadão On line

http://lampiaoaceso.blogspot.com/2011/07/guerra-de-pau-de-colher-casa-nova-ba-e.html

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EM 1929 JORNAIS BAIANOS REGISTRAVAM...

O mais antigo filme sobre Lampião

Por Rubens Antonio 

Aproveitando a puxada dos nossos amigos Guilherme Machado e Robério Santos no grupo cangaceirólogos, aqui cenas do mais antigo filme realizado sobre o Cangaço... 1ª matéria Publicado em 27 de novembro de 1929, no “Diario de Noticias”, Salvador, Bahia.. 

Ele procurava mostrar ações do bando de Lampeão já ocorridas, até então, na Bahia. A equipe de filmagem e atores se deslocaram até os locais dos eventos e, com base nos testemunhos locais, filmaram. Não sei onde foi parar, mas parece que chegou a ser apresentado em Salvador. 

A Cinematographia grava os crimes do Bandido

Nesta imagem, à esquerda, a câmera, à direita, reconstituição de um tiroteio.

Estamos numa epocha em que factos de tamanha sensação não podem ter a sua descripção limitada ao registro da imprensa; elles, graças á divulgarização da cinematographia, são mostrados, ao vivo, ao povo.

Em todo o mundo civilizado assim occorre, com a modernização dos novos processos de reportagem. Todo o mal que o bandoleiro faz ás nossas populações sertanejas é salientado, mediante uma reconstituição de scenas verdadeiras, honestamete feitas, nos proprios locaes onde ellas se verificam e mediante o testemunho de pessoas sabedoras dos factos. A empresa Nelli–Film, bahiana, se incumbe da organização dessa pellicula sensacioal.

É dificil distinguir–se qual o crime mais perverso

O reporter soube da confecção desse “film” e tranto investigou que acabou encontrando o sr. José Nelli, chefe da empresa. Palestraram. O industrial relatou as difficuldades que teve de vencer, da deficiencia de personagens aos trabalhos de reconscituição.
– Qual o crime de maior sensação?
Fica–se na duvida. Virgolino tem cem requintes de malvadez. E não é um valente nem um heroe. Assassina covardemente, para roubar ou por mero prazer.
– Posso, porém, dissenos o sr. Nelli, dizer–lhe que a morte da mulher queimada que se avantaja a tudo. Pretendera ella envenenar Lampeão, que, desconfiado, descobriu o ardil e ordenou que, amarrada a uma arvore, della fizessem uma tocha humana. Realizou–se, assim o homicidio. No cinema, isso é de grande effeito.
 A enguia da caatinga
– E por onde andou filmando:
– Pela zona do Rio do Peixe, Queimadas, Serrinha, etc. Apanham–se os factos “in loco”, sob o rigor da verdade.
– Que diz da acção da policia?
– Que procura atacar o grupo.
Essa caça faz–se com grandes sacrificios, porque Lampeão é como a enguia: some–se sempre na caatinga, fugindo.
– Tem reproduzido combates?
– Oh! diversos, bem como passagens curiosissimas, a que serve de moldura uma excellente natureza, prodiga em scenarios. E claro que teremos de solicitar o auxilio da Policia. Mostrado o bandido, é indispensavel divulgar o que tem sido a acção dos seus perseguidores implacaveis."
 27 de novembro de 1929, no “A Tarde”:
No Rastro dos Bandoleiros. As proezas de Lampeão e de seu sinistro bando num film

O sr. José Nelli, conhecido operador cinematographico, resolveu fazer um grande film de divulgação das façanhas de Lampeão e do seu terivel bando.

O intuito do sr. Nelli é, revivendo os moticinios e scenas de vandalismo do faccinorara apresental–o tal qual elle é: simplesmente um animal senguinario. Para isso o sr. Nelli esta percorrendo todo o nordeste reconstituindo os crimes de Virgulino. Os clichês acima mostram a estação de Rio do Peixe e uma scena do film.
 Os clichês acima mostram a estação de Rio do Peixe e uma scena do film.

Pescado no Cangaço na Bahia

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Adendo Lampião Aceso 

O título deste filme não foi citado na matéria do jornal pois estava em fase de produção. Concluído, ele foi batizado de LAMPIÃO, A FERA DO NORDESTE e outra remetência foi LAMPIÃO, O TERROR DO NORDESTE. Tratou-se de um longa-metragem silencioso.


Chegou a ser exibido em São Paulo no ano de 1931: de 20 a 22.de novembro no Royal; 1º de dezembro no Colombo; 2 de dezembro no São José; a 03.de dezembro no Cambuci; 04 de dezembro, no Glória. e nos dias 22 e 23.março de 1932 no Oberdan.

Sinopse

    "... Meia dúzia de apanhados da capital (Salvador) atoamente. Uma vista de Ilhéus da mesma forma. Um horrível apanhado da feira de gados em Feira de Santana. Um cafezal. Um canavial. Uma locomotiva chegando a Juazeiro. Um apanhado do Rio São Francisco. Uma vista péssima de Bom Jesus da Lapa. (...) Lampião ataca um rancho qualquer. Ataca Riacho Seco. (...) Outra cena Lampião cerca uma fazenda. Aparece a casa do 'coronel'. O coronel e a filha estão na sala de visitas. Ele de pés descalços, assentado num frangalho de cadeira, lê um retalho de jornal. A moça lava roupas num caixão de gasolina. Lampião entra na sala. O coronel protesta. Assassinam-no pelas costas. Lampião entra para um quarto. Vem lambendo os beiços...". (Cinearte, 16 de Abril de 1930)

As locações foram: Salvador; Ilhéus; Feira de Santana; Juazeiro; Rio São Francisco; Bom Jesus da Lapa; e Riacho Seco cidades do estado da Bahia.

Observações e resenha:

A revista Cinearte de 30 de Abril de.1930 informa que o filme estava programado para o Teatro Olímpia, de Salvador, mas teve a sua exibição proibida pela polícia. "Filme de enredo e cenas documentárias, com um ator no papel do Capitão Virgolino". muito provavelmente o primeiro filme de enredo rodado na Bahia".
A revista ainda publicou o seguinte comentário:
Tudo filmado com a pior fotografia do mundo, sem noção alguma de arte e realidade. A interpretação é pavorosa! Tudo horrível! Como filme Lampião é mais prejudicial à Bahia que o próprio bandoleiro”.
As pesquisas de Dídimo em seu livro "O cangaço no cinema Brasileiro" não apontaram referências aos nomes dos atores que trabalharam na obra. Em alguns sites há uma referencia de direção para Guilherme Gáudio porem o Dicionário de Filmes Brasileiros (longa-metragem), de Antônio Leão Neto, traz apenas a menção de José Nelli como produtor e Antônio Rogato na fotografia.

Pioneiros do tema cangaço

Quem pesquisar sobre os primórdios do cinema de cangaço vai identificar o filme Filho sem mãe, de Tancredo Seabra no ano de 1925, o primeiro em que aparece um grupo de cangaceiros e alguns de seus sinais de identidade, tais como trajes, armas, acampamentos etc.  
Sangue de irmão de Jota Soares em 1926.

Segundo Luiz Felipe Miranda em “Cinema e Cangaço – História” (1997), houve ainda um curta,chamado  Lampião, o banditismo no Nordeste, “do qual se desconhecem autoria e procedência [...] apresentado por volta de 1927” (1997, p.93). 

Em Lampião, A fera do Nordeste, uma ficção com cenas documentais. o rei cangaceiro já teria o papel de protagonista e, provavelmente, é o primeiro filme a abordar o cangaço como tema central. O filme relata o episódio da chacina do Rio do Peixe, na Bahia, mostrando Lampião monstruoso e sanguinário que matava ate criancinha, lançando ao ar e aparando com seu punhal.

Estes quatro títulos citados estão infelizmente desparecidos.

Fontes:

1) Cinemateca.gov.br

2) NORDESTE: MISERABILISMO LOCAL/SUMMA NACIONAL
Estudo de Sebastião Guilherme Albano da Costa.
Disponivel no: Razony Palabra

3)  Revista Fenix  O cangaço no cinema brasileiro: Um olhar panorâmico  estudo de Anderson R. Neves - Universidade Federal de Uberlândia – UFU.Disponível naRevista Fênix

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"MARIA BONITA: SEXO, VIOLÊNCIA E MULHERES NO CANGAÇO"


Por Adriana Negreiros

"Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço" na linda edição do caderno Vida & Arte, do jornal O Povo, da minha Fortaleza.




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UM TRAUMA LEVOU LAMPIÃO AO COMETIMENTO DE CRIMES BÁRBAROS...


Por Verluce Ferraz

Um substituto falso na memória do cangaceiro Lampião sempre foi largamente difundido entre os pesquisadores do Cangaço como se fosse a maior verdade: a justificativa dada por Virgolino Ferreira da Silva que afirmava haver entrado para o cangaço para vingar a morte de seus genitores. Entretanto, a importância principal da afirmativa não poderia ser aceita sem antes passar pelo crivo e embasamento das ciências, como de fato foi feito, mas sem qualquer resposta convincente, do Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, Bahia, quando feitos estudos nos crânios dos cangaceiros. É que, a época, acreditava-se que o tamanho, o formato, o peso de um crânio pudessem ser elementos de indícios que levariam uma pessoa ao mundo do crime. Os crimes sempre foram alvo de diversas pesquisas, desde Platão, Aristóteles, Montesquieu, Russeau, chegando à Escola Italiana, dos cientistas e médicos Lombroso, Ferri, Garófalo, etc. cada um apresentando sua teoria. Nessa época ainda não se estudavam o caráter subjetivo como fez Jean Martin de Charcot, professor de Sigmund Freud. Esse último desenvolveu o método arqueológico para estudar as mentes humanas que resultou na Teoria de Complexo de Édipo, consagrando-o como Pai da Psicanálise. E é com base nesse método que fui procurar as origens dos cometimentos de tantos crimes em Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Freud considerou de grande importância verificar os conteúdos da mente de uma pessoa como declarou Signorelli, que falou das lembranças substitutivas (relatado na obra de Freud).


Virgulino Ferreira da Silva, nasceu na casa de sua avó materna e foi criado pela mesma. Jacosa Vieira do Nascimento, uma parteira. Imaginemos o trauma que Virgulino não sofreu presenciado os momentos em que sua avó/mãe era convocada a fazer partos? A magnífica tarefa de receber no mundo uma criança pode não ter sido interpretada dessa forma. Um belo trabalho o de sua avó, mas uma tarefa árdua e muitas vezes deprimente; por que não era raro uma mulher, ao parir, sofrer um ataque de eclampsia chegando à morte. Entre gemidos, sangue e uma criança chorando. Outras vezes, as superstições e crendices não eram incomuns. Se precedesse a um parto um cantar de coruja rasga-mortalha, normalmente haveria um enterro. Muitas mães saiam dentro de redes para serem sepultadas. Crianças abortadas e enterradas no quintal. Cheiro de sangue e peças de roupas queimadas, quando uma criança, ao nascer, não resistiam aos traumas de um parto difícil e eram acometidas de ataques epilépticos; muitas vezes queimavam as roupas das crianças e colocavam para que cheirassem aquela fumaça para que os ataques não se repetissem. Não haviam os barbitúricos e as penicilinas eram raras. E aquela que era o seu ’porto seguro’, a sua avó/mãe Jacosa lá estava envolvida com tudo isso saindo, muitas vezes, de um quarto, sem cama e sem portas, com as mãos cheias de sangue e uma expressão de dor. 


Ponho agora tudo isso para relacionar os mistérios da mente de Virgulino Ferreira da Silva; com a certeza que vem daí o horror vivido pela criança para o transformar em criminoso e cangaceiro. O matar sangrando, o uso de rezas sob as vestes, o manter-se afastado das mulheres com a justificativa que elas traziam azar, o associar do choro das crianças ao berrar dos cabritos, a raiva de crianças e o desejo que teve de assassinar sua própria filha Expedita - não o fez porque a sua companheira Maria de Déia não permitiu - o gosto pelos perfumes para libertar-se da lembranças olfativas do sangue de uma parturiente; Virgulino absorveu na infância muita coisa que não conseguia resolver sozinho e isso lhe causou sérios traumas. Mesmo quando não presenciava um momento de um parto, por que não é necessário assistir presencialmente; mas havia a percepção e interpretação de tudo pela criança. Assim, ao tornar-se adulto, vai ocorrer o seu distanciamento das mulheres e a indecisão: ser mulher não é bom e traz azar - a minha mãe/avó é mulher... Também qui não posso deixar de colocar aqui que a figura feminina lhe traziam recordações ruins, de dor e morte. 


Momentos de angústia deve ter passado o menino Virgulino, sem saber discernir entre um trabalho de trazer à luz uma vida; noutros sair um enterro de uma pessoa cara...

Um esclarecimento - Foram levados ao Instituto Nina Rodrigues apenas os crânios dos cangaceiros para serem estudados - com certeza eram crânios de cadáveres que só mais foram enterrados depois de seus familiares haverem ingressado em juízo - Sendo concedido tal direito, as famílias sepultaram apenas as cabeças daqueles mortos, ha décadas. As mortes dos cangaceiros era objetivo do próprio Estado de Direito.


Outros dados:

Sigmund Freud analisou personagens da História como: Victor Hugo, Leonardo da Vince (1492), Dostoievsiki 1881/1821 (o parricida), Moisés, personagem bíblica, Shakespeare (1564/1616), entre outros - mostrando-nos que é possível analisar os comportamentos das pessoas através de seus atos, de suas obras. Portanto o meu trabalho de analisar Lampião não foi o assistindo e nem o escutando pessoalmente, mas com os elementos colhidos dos crimes por ele perpetrados.

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