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sábado, 31 de agosto de 2013

Casa de Menores Mário Negócio - Uma instituição extinta - Parte VII

Por: José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano:

Naquelas décadas de sessenta e início dos anos setenta não era tão fácil para se comprar objetos quando se desejava, como instrumentos musicais, bicicletas..., devido à malvada inflação que não dava chance a ninguém, principalmente para quem não trabalhava, assim como nós, que vivíamos ali naquela instituição sem a mínima preocupação, exceto o estudo, passávamos o dia inteiro sem fazer nada, e à noite nós desmanchávamos o que não tínhamos feito durante o dia. 

O governo Estadual mais malandro ainda, que sustentava uma porção de gente preguiçosa, desocupada e ainda tinha muitos que reclamavam da boa vida que levavam.

Eu havia me esquecido daquela noite em que saímos da Casa de Menores, “as escondidas” apenas com autorização do monitor, para fazermos uma serenata no bairro Boa Vista, não me recordo bem a Rua, mas era na casa de uma das suas namoradas.

 
trilhasdeluz.blogspot.com

Naquele tempo quem delegava Mossoró era o carrasco Tenente Clodoaldo, digo carrasco porque ele mantinha a cidade com autoridade, não dava chance a certos bagunceiros, malandros que tentavam tirar a tranquilidade da população. Querendo colocar ordem na cidade, distribuía rondas pelos bairros de Mossoró, na intenção de proteger toda população.

Nessa noite fomos surpreendidos pela ronda noturna do então tenente, e que por sorte, não fomos obrigados pelos policiais para voltarmos às pressas para casa. As ordens do tenente Clodoaldo eram para serem cumpridas.

 

Quando você percebeu que a ronda se dirigia à nossa direção, de pressa colocou o violão em um tonel que estava em uma calçada. Mas você não tinha a mínima ideia o que teria dentro daquele tonel.

Ali, ficamos fingindo que estávamos conversando, e a ronda passou vagarosamente nos observando, mas felizmente ela não disse nenhuma palavra, acelerou o jeep e tomou rumo para outras ruas.

 
acordesdeviolao.com.br

Após os nossos disfarces, foi retirado o violão de dentro do tonel. Mas por pouca sorte, você havia o mergulhado  em uma porção de água de cal virgem, que com certeza havia sido preparada para ser usada no dia seguinte por pintores.   

No dia seguinte, o violão que era bom de som, amanheceu todo descolado e empenadíssimo. Mas o único culpado e prejudicado foi você, que ficou sem o seu estimado pinho.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

http://sednemmendes.blogspot.com
http://mendespereira.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Foto premiada


O fotógrafo Mossoroense Fred Veras teve uma foto Premiada no Concurso de Fotografias do SENAD (Secretaria Nacional de Combate às Drogas). 

A foto foi feita na Feira do Livro de Mossoró em 2012, e o fotógrafo Fred Veras está à procura destas duas crianças que aparecem na foto, para comunicá-las acerca do concurso, como também dividir o prêmio.

Parabéns ao fotógrafo pela Premiação Nacional. Quem conhecer essas crianças, favor entrar em Contato pelo telefone: 84 8854 6144

Adendo: 
José Mendes Pereira

As duas crianças que aparecem nesta foto já foram identificadas. A criança que está em pé é o Paulo Ricardo que morava no conjunto Walfredo Gurgel, mas atualmente está residindo em Parnamirim.

A outra que está sentada na cadeira de rodas é o João Victor, e reside em Mossoró, à Rua Raimundo Firmino de Oliveira, 133, no bairro Costa e Silva, e é neto do administrador deste blog.

Os pais destas crianças já entraram em contato com o fotógrafo Fred Veras, que foi premiado com um valor em dinheiro, e as crianças irão receber uma quantia doada por ele, o qual mostrou que dinheiro não é o tudo, não querendo só para si.

Parabém ao fotógrafo Fred Veras pela sua iniciativa de colaborar com as crianças citadas

http://www.ocamera.com.br/site
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

JUNTO COM A TV BRASIL NAS TRILHAS DE LAMPIÃO EM PERNAMBUCO II

Publicado em 29/08/2013 por Rostand Medeiros
Contando a história da Fazenda Colônia, onde nasceu o cangaceiro Antônio Silvino
 Contando a história da Fazenda Colônia, onde nasceu o cangaceiro Antônio Silvino.

No próximo dia 5 de setembro, pela TV Brasil, ás 10 horas da noite, vai ser transmitido um programa específico sobre o tema cangaço, ao qual tive o grande honra e privilégio de participar.
O programa Caminhos da Reportagem é bem interessante, são jornalistas que viajam pelo país e pelo mundo atrás de grandes histórias, trazendo ao telespectador uma visão diferente, instigante e complexa de cada um dos assuntos escolhidos. Os jornalistas a quem tive a oportunidade de conhecer e que tive oportunidade de acompanhar por estes caminhos do cangaço foram a Carina Dourado, Osvaldo Santos e Alexandre Souza.
Em julho último publiquei em nosso blog, um primeiro material sobre esta viagem com o pessoal da TV Brasil a Pernambuco, onde os amigos do nosso Tok de História 
(http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/07/18/junto-com-a-tv-brasil-nos-caminhos-de-lampiao-em-pernambuco/)

Agora trago uma segunda mostra de fotos desta ação maravilhosa, com fotos cedidas pelos amigos Osvaldo Santos e Alexandre Souza.

Este é o grande amigo Braz de Buíque, da Serra da Colônia. Uma grande figura. Neste dia ele estava seguindo montado para uma missa de vaqueiros na vizinha Paraíba, mas deu um ótimo depoimento.

Este é o grande amigo Braz de Buíque, da Serra da Colônia. Uma grande figura. Neste dia ele estava seguindo montado para uma missa de vaqueiros na vizinha Paraíba e deu um ótimo depoimento

Uma panorâmica da região da Fazenda Colônia. Um ótimo local para um filme de época.

Uma panorâmica da região da Fazenda Colônia. Um ótimo local para um filme de época. É só esconder o poste que está um visual original e bem característico das fazendas do passado do Nordeste.

Esta é a Casa Grande das Almas, propriedade que está situada na área rural de Triunfo (PE), na divisa dos estados de Pernambuco com a Paraíba. Sobre este local podemos comentar que é que parte da casa está em Pernambuco, do outro lado é a Paraíba. Dizem que Lampião, era amigo dos proprietários e gostava de jogar cartas neste local. Afirma-se que quando perseguido na região abrigava-se nas Almas, daí,quando a polícia de pernambuco chegava ali, o rei do cangaço passava para o lado paraibano da casa , onde a policia pernambucana não podia atuar, e quando era perseguido pelos paraibanos, fazia o contrário

Esta é a Casa Grande das Almas, propriedade que está situada na área rural de Triunfo (PE), na divisa dos estados de Pernambuco com a Paraíba. Sobre este local podemos comentar que é que parte da casa está em Pernambuco, do outro lado é a Paraíba. Dizem que Lampião era amigo dos proprietários e gostava de jogar cartas neste local. Afirma-se que quando perseguido na região abrigava-se nas Almas, daí, quando a polícia de Pernambuco chegava ali, o rei do cangaço passava para o lado paraibano da casa, onde a policia pernambucana não podia atuar, e quando era perseguido pelos paraibanos, fazia o contrário.

Osvaldo filmando as Almas

Osvaldo filmando as Almas

Na bela cidade serrana de Triunfo. O grande prédio antigo na foto é o cine teatro Guarany, cujo administrador é nosso amigo André Vasconcelos

Na bela cidade serrana de Triunfo. O grande prédio antigo na foto é o cine teatro Guarany, cujo administrador é nosso amigo André Vasconcelos. Outra grande figura.

Aqui a Carina, Osvaldo estão juntos ao grupo de Xaxado de Triunfo e a nossa amiga Diana, grande batalhadora pela cultura de sua região.

Aqui a Carina, Osvaldo estão juntos ao grupo de Xaxado de Triunfo e a nossa amiga Diana, grande batalhadora pela cultura de sua região. Diana é uma grande incentivadora da participação dos jovens de sua cidade neste grupo de Xaxado, a dança dos cangaceiros.

Pelos caminhos do sertão, só não sei o que a Carina estava procurando.

Pelos caminhos do sertão, junto aos amigos André Vasconcelos e Carina Dourado. Só não sei o que a Carina estava procurando!

Na Fazenda Barreiros, de propriedade do amigo Alvaro Severo, na zona rural de Serra Talhada, próximo da Serra Grande, onde ocorreu um dos mais importantes e maior combate da história do cangaço


Na Fazenda Barreiros, de propriedade do amigo Álvaro Severo, na zona rural de Serra Talhada, próximo da Serra Grande, onde ocorreu um dos mais importantes e maior combate da história do cangaço

Pelos caminhos da Serra Grande, tendo a frente o Seu Luiz, sertanejo de grande coração, que conhece tudo da fauna e flora da caatinga.

Pelos caminhos da Serra Grande, tendo a frente o Seu Luiz, sertanejo de grande coração, que conhece tudo da fauna e flora da caatinga. Estando com ele o turista não passa fome nesta região

Seu Luiz mostrando os segredos da flora do sertão, úteis a sobrevivência em uma região seca

Seu Luiz mostrando os segredos da flora do sertão, úteis a sobrevivência em uma região seca

Panorâmica da Serra Grande. Quase sete horas de caminhada, entre subidas e descidas.

Panorâmica da Serra Grande. Quase sete horas de caminhada, entre subidas e descidas.

Outro visual da serra

Outro visual da serra

Outra parada para conhecer a flora da caatinga

Outra parada para conhecer a flora da caatinga

Deu para aprender bastante

Deu para aprender bastante

No alto da serra, junto com nosso animal de estimação, o pequinês que a tudo escutava. Era um microfone na mão do Fred, outro grande companheiro de viagem.

No alto da serra, junto com nosso animal de estimação, o pequinês que a tudo escutava. Era um microfone na mão do Fred, outro grande companheiro de viagem.

O amigo Alvaro Severo, que desenvolve um maravilhoso projeto de aproveitamento ecoturístico na região, com intensa participação do pessoal do local, comentado sobre a grande luta no alto da serra

O amigo Álvaro Severo, que desenvolve um maravilhoso projeto de aproveitamento ecoturístico na região, com intensa participação do pessoal do local, comentado sobre a grande luta no alto da serra

Toda a galera reunida no alto da serra

Toda a galera reunida no alto da serra

Bem, depois da Serra Grande eu voltei para casa, mas a galera da TV Brasil seguiu viagem. Estiveram na cidade baiana de Paulo Afonso, onde nosso amigo João de Souza Lima, grande pesquisador do cangaço, autor de livros, apresentou a região aos jornalistas. João é uma grande figura, a quem tenho extremo respeito

Bem, depois da Serra Grande eu voltei para casa, mas a galera da TV Brasil seguiu viagem. Estiveram na cidade baiana de Paulo Afonso, onde nosso amigo João de Souza Lima, grande pesquisador do cangaço, autor de livros, apresentou a região aos jornalistas. João é uma grande figura, a quem tenho extremo respeito pela pessoa e seu trabalho. João mostra a cruz que marca o local da morte de Antônio Curvina. Para saber mais, assista o programa dia 5 de setembro, na TV Brasil, ás 10 da noite.

Osvaldo em frente a casa de Maria Bonita, que foi fielmente restaurada e hoje é local de visitação

Osvaldo em frente a casa de Maria Bonita, que foi fielmente restaurada e hoje é local de visitação

Os amigos Osvaldo e Alexandre Souza entrevistando Seu Coquinho. Ele contou ótimas histórias sobre Lampião e seu bando Ele reside no povoado Brejo do Burgo, Bahia


Os amigos Osvaldo e Alexandre Souza entrevistando Seu Coquinho. Ele contou ótimas histórias sobre Lampião e seu bando Ele reside no povoado Brejo do Burgo, Bahia.

Local próximo da casa onde Lampião costumava fazer seus bailes

Local próximo da casa onde Lampião costumava fazer seus bailes

No próximo dia 5 de setembro, ás 10 da noite, na TV Brasil, vamos ver o resultado deste trabalho. Um abração a todos

No próximo dia 5 de setembro, às 10 da noite, na TV Brasil, vamos ver o resultado deste trabalho. Um abração a todos

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/07/18/junto-com-a-tv-brasil-nos-caminhos-de-lampiao-em-pernambuco

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UM COITO DE ACHADOS TANTOS

Por: Rangel Alves da Costa(*)
AS FACES PELA VIDA

Como acontecia nos tempos cangaceiros, onde o coito era o local de descanso dos homea do sol para a jornada seguinte, também tenho meu coito, ambiente de repouso do pensamento e de enveredamento nas trilhas da escrita. E muito mais.

É coito e escritório, é baú e folha seca, é memória e página em branco, é vereda e alcance do mundo mágico dos rabiscados pulsantes ou já adormecidos pelo tempo. No meu coito é onde me encontro e viajo, onde permaneço e de repente já estou dialogando com a justiça ou com os cabras de Lampião.


Do meu coito, um pequeno escritório de três também pequeninos ambientes e junto à moradia, avisto o passado e encontro o presente, proseio com o existente e a fantasia, saio catando restos daquilo que esqueceram pelos caminhos. Encontro o mandacaru e o xiquexique, a cabaça e a enxada, o tamborete e a moringa, o sol ardente e a lua plangente de romantismo e solidão.


No meu coito me divido entre as leis e a história, entre os brocardos e os proseados matutos, entre petições e textos de amorimorte. Num instante, requeiro a absolvição de um e no outro já estou trilhando as veredas escaldantes do meu sertão ou de outro rincão qualquer. Num instante me dirijo aos tribunais, no outro já estou correndo atrás do destemido calango sertanejo.

Às vezes estendo o olhar até a balança da justiça na estante e ali avisto as tantas injustiças pendendo de lado a outro, num mundo onde as leis são interpretadas pelas conveniências. Acabo sendo uma exegese do poder corrompendo tudo. Assim foi num tempo distante e também no dia de ontem, e inevitavelmente assim será amanhã. Tudo isso me interessa como objeto de escrita.

Sento diante do birô como o sertanejo faz no tronco de pau diante de seu casebre. O matuto, mesmo amargurado e cheio de desesperança, aprecia e se encanta com o seu mundo, com a natureza ao redor, com tudo aquilo que possui - que é quase nada. E faço o mesmo, me sinto do mesmo jeito, também fico extasiado com as pequenas coisas que tenho e posso dispor no dia a dia do meu coito.


De um lado, bem defronte aonde me sento, um grande mostruário envidraçado contendo os meus livros e os de meu pai. São mais de vinte, sendo seis escritos por ele. Um armário com documentos e material de escritório, tendo por cima uma cabeça-de-frade que continua verdejante como no sertão. Ao lado do birô uma parede com desenhos emoldurados de minha autoria. Todos com motivos sertanejos.

Na mesma parede há ainda dois quadros com textos jornalísticos de minha autoria. O primeiro é sobre o filme Sargento Getúlio como patrimônio cultural de Poço Redondo (pois filmado por lá na década de 80); o segundo acerca de Zé de Julião, ou cangaceiro Cajazeira, o mais valente de todos os meus conterrâneos poço-redondenses. Os textos são ladeados por fotografias de igual dimensão.

Zé de Julião

No outro lado, acima da parte azulejada da parede outros desenhos emoldurados, também com cenas e motivos sertanejos, e uma pintura a óleo, todos de minha lavra e dos meus instantes de aprendiz. Mais duas pinturas fazem parte de outro pavimento do coito. E já estou providenciando outros desenhos, dessa vez reproduções a verniz e guache de xilogravuras, para dar maior vivacidade ao ambiente, que numa estante já conta com objetos de barro e madeira retratando figuras do meu sertão. Ali Lampião e Maria Bonita, cactos, animais de cargas, utensílios da cozinha sertaneja e outros objetos do meu mundo interiorano.


Ainda na parte central do meu coito, dessa vez na estante principal, alguns livros que sempre coloco ao meu alcance. Códigos, doutrinas e outras publicações jurídicas, mas também obras sobre o cangaço, poesias e romances famosos. E duas Bíblias, uma pequenina, aberta num Salmo qualquer, e outra maior, sempre à espera que eu releia suas lições. E ainda pequenos objetos artesanais, fotografias e uma igrejinha de madeira adornada por rosários e fitas. Dois cavalinhos de barro acima da estante, e um pouco mais alto, na parede, um quadro com fotografia e texto sobre o legado cultural de Alcino Alves Costa.

E eu no meio disso tudo. Pensando, rememorando, escrevendo. É capital, mas é como estivesse noutro lugar, nas distâncias sertanejas, pois ladeado por um mundo muito diferente do portão da frente em diante. Assim é que desperto ainda nas madrugadas para encontrar esse coito, encontrar a natureza e a história que ali dispus, e depois colher as flores e os espinhos dos escritos cheirando a chão, a terra sertaneja.

Poeta e cronista
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CANGACEIRO

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

Homem que carrega a canga. Mas canga não no sentido de tronco atravessado às costas, mas levando por cima dos ombros o peso da opressão, o fardo da exploração, a carga da submissão humana aos ditames das injustiças sociais e dos mandos governamentais e coronelistas. Mas nem de todos os coronéis, que se diga.

Sertanejo das brenhas do mundo. Sofrido até dizer chega, explorado até dizer basta, subjugado pelo poder político e econômico, esquecido de tudo, com serventia apenas para mostrar sua coragem para lutar. E foi assim que fez. Um dia foi chamado à luta e enveredou pelas caatingas construindo o seu próprio destino.

As motivações? Todas e muitos mais. Um Nordeste de latifúndios, de poder político encanecido pelas velhas e desumanas práticas, onde o pobre sertanejo era tido muito mais como objeto do que qualquer outra coisa. E por cima do matuto as imposições tributárias, as injustiças sombreando os mais fracos, a escravização sem precisar de chibata e grilhão.


Eis um homem desencantado com o seu meio, fugindo das perseguições, sendo ferido na sua honra, sendo aviltado pelos abusos policiais e das autoridades. E também as rixas pessoais, os desejos de vingança, as promessas e ilusões de um meio onde só cabia os mais valentes e destemidos. Tudo isso, e muito mais, motivou o passo na vida cangaceira.

Homem rude, iletrado, do mato, da mataria, das distâncias de tudo. Mas nem sempre assim. Muito cangaceiro sabia ler e escrever, tinha tino no juízo, sabia o que queria, possuía uma ideologia e conhecia bem o significado de sua vida e de sua luta. Um ou outro, como Cajazeira, era de família abastada. Percorrer as caatingas e viver debaixo de lua e sol, desafiando autoridades e enfrentado constantes perigos, eis a sina deliberada no mundo injusto e cruel.

Homem da terra, cheirando a sol, a suor, a sangue estancado da luta, a bicho do mato, a fumaça do fogo do coito, a chumbo do cano quente e enfumaçado. Mas também um destemido vaidoso, perfumado de qualquer loção, cheio de adornos e ornamentos dourados, com uma trova na língua e uma canção dolente cortando o silêncio das noites sertanejas enluaradas. E tantos amores embrenhados na cama da terra espinhenta.

Sertanejo de longa história, do passo catingueiro lá desde séculos passados. Desde o século XIX que começou a fazer história até sua saga ter fim já no século passado, depois da bala certeira dada em Corisco, lá pelos idos de 1940. Cangaceiro de bandos primitivos, como os de Lucas Evangelista, o Lucas da Feira; Jesuíno Alves Calado, o Jesuíno Brilhante; Antônio Silvino; e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. E também o bando desgarrado de Corisco, o Diabo Louro.

De características inconfundíveis, vestia seu manto encourado, sua calça lonada, sua preferência azulada, seu brim desgastado na passarela de urtiga e cansanção, ponta de pau e espinho traiçoeira, vereda encoberta e mataria fechada. Dia e noite na luta e sempre no porte altaneiro, ainda que o brilho das joias e o colorido das roupas estivessem ofuscados pela poeira da lide.

Cabra valente de estética desafiadora para a vida difícil que levava. Chapéu de couro estendido, ovalado e com estrelas estilizadas ou medalhões de metal na porta frontal da aba. Um ou outro usava a jabiraca, que era um lenço envolvendo e descendo pelo pescoço. Encontrar um cabra assim nas caatingas já sabia o que era. Cangaceiro, seu moço, cabra valente sim.

Alpercata de couro cru, mais conhecida como “apracata de rabicho”, possuía a leveza apropriada para cortar os tantos caminhos difíceis e subir e descer as trilhas mais íngremes. E também mais fácil de virar a frente pra trás para enganar a volante sempre no encalço. Cartucheira cortando o peito, também cruzava o couro do embornal do ombro até a cintura. Um cantil também enfeitado, estilizado. Era tudo pesado, desde a roupa e adereços até chegar aos mantimentos que carregava. Falam em mais de vinte quilos.

Anéis adornando os dedos, alianças enfeitando o chapéu, cabelos mais alongados, muitas vezes repuxados na brilhantina ou óleo de coco. Costumava carregar peças de ouro e moedas no embornal. Não esquecia o perfume, a gaita ou qualquer outro instrumento. Armado até os dentes, o peso maior se dava por conta das armas e da farta munição que levava.


O armamento se diversificava, podendo ser revólver, pistola, mosquetão ou fuzil, sem falar no velho rifle Winchester, também conhecido como “papo amarelo”, mas sempre acompanhado da faca ou punhal. E tudo de marca famosa: Revólver Colt, Pistola Luger, Pistola Browning, Fuzil Mauser, Mosquetão Mauser, Winchester, Bergmann. Onde conseguia? Quase tudo trazido pelo coiteiro, a mando do coronel amigo e protetor. E logicamente protegido.
Uma vez aceito no bando, o nome de batismo dava lugar a um apelido. Dali em diante seria conhecido e chamado por nome de bicho, de pássaro, de elemento da natureza ou de qualquer outra denominação que mais parecesse com o alcunhado. E assim Jararaca, Zabelê, Corisco, Diferente, Mergulhão, dentre muitos outros. As mulheres geralmente mantinham seus nomes. Alguns cangaceiros continuaram com os seus nomes originais.

Mas falar em cangaceiro é falar principalmente naquele cabra, e também mulher bonita, que serviu ao bando do Capitão Lampião, o mais famoso de todos que enveredaram pelos caminhos nordestinos revirados de trincheiras e respingados de sangue. Até hoje é o bando de Lampião que sintetiza toda a história cangaceira e sua luta. Virgulino foi o maior dos cangaceiros e o seu bando o mais famoso e destemido.

Mas afinal, o que era mesmo esse tal de cangaceiro, era gente ou bicho do mato, pessoa ou desatinado, ser de carne e osso ou uma besta humana em busca da próxima vítima? Cangaceiro vivia com cega maldade, jogando criancinha para o alto e a recebendo na ponta do punhal, estuprando aonde chegava, ferrando quem encontrasse, alastrando todo tipo de terror por onde passasse?

Pelo não se encontra o sim, pela negação se encontra a verdade, pelo que o cangaceiro não era é possível conhecer o que ele foi. E o que ele foi, por mais que se atreva em dizer, sempre estará distante da crueza daquela realidade. Por isso que todo dizer ainda falta alguma coisa a ser dita.

Mas algumas coisas sopraram no vento da verdade e cimentaram na história. Não pela certeza, mas pela lógica do acontecido e hoje tão analisado e lido. Disso decorre não ter sido o cangaceiro um pistoleiro, um jagunço, um celerado bandido, um assassino a sangue frio, um matador de aluguel, um delinquente qualquer, uma bestialidade desordeira. Contudo, muitos, no exagero e na ignorância, procuram maculá-lo com as maiores infâmias do mundo.

Não, e não. A verdade só quer um pouco de luz. E não porque não assassinava por empreitada, não tocaiava desafeto de um mandante, não dava cabo de ninguém a troco de conto de réis. Não era um bandido qualquer que assaltava ou salteava à mão armada, não era um frio homicida que empunhava a arma na testa de um e apertava o gatilho, não se desgarrava do bando para praticar vilezas e atrocidades.

Também não era salteador, pois não se escondia pelas beiradas das estradas para assaltar quem passasse. Do mesmo modo, jamais agiu aos modos da jagunçada, fazendo serviços para os coronéis em troca de vintém e proteção. O pacto de proteção ao coronel era muito diferente. Era coisa de bicho grande, de coronel a coronel. Nesse meio se envolvia para atemorizar um dos lados. Também nunca foi um sicário, contratado para cometer qualquer espécie de crime.

Guardando as proporções, pode-se dizer, isto sim, que não se distanciava muito do bandoleiro, do facínora, do malfeitor, do errante, do justiceiro, do indignado. Bandoleiro porque vivia em bando e agia segundo os ditames deste, mas sem a intenção de praticar crimes comuns.

Facínora porque muitas vezes agiu com extrema maldade e perversidade. Ora, a situação exigia. Malfeitor porque contradizendo a lei de então, afrontando autoridades e confrontando policiais. Justiceiro errante pela cega ilusão de que sua luta inglória iria combater as injustiças que à época imperavam.

Mas como é normal acontecer nos grupamentos humanos, verdade é que nem todos possuíam uma índole aproximada. Alguns tentaram contradizer até mesmo as ordens do Capitão. E estes, por bebedeira ou nos instantes de maior liberdade de ação, certamente extravasaram, praticaram desmedidas atrocidades até com inocentes. Por isso que não é mentira o ferro abrasado de Zé Baiano no rosto da donzela canindeense. O JB fumegou na face da bela sertaneja.


Nem todos foram assim. A grande maioria certamente que não. Na vida que levava, fugindo de palmo em palmo, sendo caçado com fera perversa, tendo seus dias e suas noites tomados de sobressaltos, não lhe restava outra coisa senão reagir, confrontar, para continuar sobrevivendo. E quem não está disposto a ter morte certa, logicamente que mata. Por isso que muito gatilho foi apertado, daí que muita gente rolou de ribanceira abaixo.

Meu parente cangaceiro, irmão de minha avó Emeliana, simplesmente voou para não morrer naquele dia 28 de julho de 38, lá na Gruta do Angico. Com nome de passarinho, Zabelê bateu asas que ninguém mais teve notícias. Não sei se um dia alcançou o céu, mais que voou ele voou.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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As mulheres....E a ilusão do Cangaço

Org. por Aderbal Nogueira

Minha opinião sobre a vida no cangaço: " Uma vida miserável " em todos os sentidos. Sofrimento físico, privações básicas, violência extrema, fome, sede, etc. Para as mulheres, então? Dessa vez não sou eu quem digo, são alguns dos próprios sobreviventes. Não endeuso cangaço, eu estudo o fenômeno do cangaço. Escutem com atenção os depoimentos e vejam a diferença entre o que eles dizem da situação no cangaço e muito do que já foi escrito.

Ao reler o livro "Sila, uma cangaceira no Divã" de Daniel Lins encontrei uma citação da biografada que retrata exatamente o que chamo de "A ilusão do cangaço".

"Sim, eu tinha medo dos cangaceiros, porém, como todas as mocinhas da minha época, eu sonhava em conhecer aqueles homens valentes. Estava dividida: atração e repúdio. Qual a jovem que não sonha com uma aventura? Apesar da crueldade atribuída aos cangaceiros, na minha imaginação pareciam sair diretamente de um conto no qual o terrível e o belo coabitavam: era o real brigando com o irreal. Valentes, ricos, marginais para uns, heróis para outros, desafiadores da ordem, os cangaceiros eram fonte de sonho e pesadelos, curiosidade e desprezo, amor e ódio."



Coletânea (fragmentos) de depoimentos de ex-cangaceiros(as) colhidos dos seguintes documentários:

- A mulher no cangaço – [Hermano Penna], Globo Repórter, 1976
- A musa do cangaço – [José Umberto], 1981
- O último dia de Lampião- [Maurice Capovilla], Globo Repórter, 1975.
- Sila – Com participação especial de Adília companheira de Canário. [Aderbal Nogueira], Laser Vídeo SBEC 1999.
- Candeeiro (depoimento do ex-cangaceiro Manuel Dantas Loiola) - [Aderbal Nogueira], Laser Vídeo/SBEC 1997.


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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

MEMORIAL LUIZ GONZAGA - RECIFE -PE

Foto: MEMORIAL LUIZ GONZAGA - RECIFE-PE

Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas

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Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço Kydelmir Dantas

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Joca do Brejão e a Saga dos Terésios

Por: João Macedo
Foto
Bosco André e Manoel Severo ladeando Joca Coelho, pai do autor deste artigo e neto do lendário Joca do Brejão.

No século XVIII, ainda em sua primeira metade, entre os primeiros colonizadores do Cariri, inscreve-se um alagoano de nome José Paes Landim. Foi ele o fundador do Engenho de Santa Teresa, encravado em terras na ribeira do rio Salamanca, entre Missão Velha e Barbalha. De seu casamento com Geralda Rabelo Duarte origina-se a numerosa prole designada de Terésios pelo historiador Joao Brigido. O antigo Engenho de Santa Teresa contempla várias propriedades rurais, todas historicamente orientadas para a cultura de cana de açúcar e fabricacão de rapadura. São lugares ainda hoje facilmente visitados , bastando sair da rodovia que liga Missao Velha à Barbalha, e pegar à direita estrada carrossal que se inicia no sitio Carnaúba em direção à Barbalha. Passando-se pela vila de Santa Teresa, margeando um verde vale, adiante alcançamos o Brejão. Neste território viveu no inicio do século XX o coronel João Raimundo de Macedo, conhecido como Joca do Brejão.

Filho de D. Jacinta Maria de Jesus, a D. Iaiá, com Raimundo Antônio de Macedo (Mundoca). De seu primeiro casamento, D. Iaiá teve como segundo filho o legendário coronel Antônio Joaquim de Santana (coronel Santana), que morava distante dali, ou seja, na Serra do Mato, nas bordas da chapada do Araripe. Com a idade avançada, o coronel Santana voltou ao vale-matriz dos Terésios, onde veio a falecer em casa ainda hoje existente, e que pode ser facilmente avistada transitando-se por aquela mesma rodovia caririense.

Por sua posição geográfica privilegiada, espécie de paraíso entre o Cariri e o sertão, e pelas conhecidas características pessoais do coronel Santana, a Serra do Mato se constituiu em local de visita assídua de Lampião. Aliás, as incursões do bandoleiro no Cariri costumavam ser nas escarpas da chapada e no lado oriental da região, saindo de Porteiras, Brejo Santo, passando por Milagres, Missão Velha, pelos lados da Cachoeira, e as bandas da Aurora. É possível, portanto, que o líder maior do cangaço jamais tivesse passado pelo Brejão do coronel Joca, um vale mais densamente povoado, na vizinhança de Barbalha e da movimentada Juazeiro.

Com a tomada de Missão Velha por seu irmão em 1901, o coronel Joca vislumbrou assumir o comando político de Barbalha e assim o fez em 1906, desbancando o coronel Neco Ribeiro, sobrinho de Pinto Madeira, em uma disputa que durou oito horas. Relatos dos mais antigos apontam o coronel Joca como homem de notável postura moral. Assim, ainda que mais jovem do que o coronel Santana, e possuidor do mesmo espirito tenaz, conta-se que em muitas situações atuou como orientador do irmão, procurando regulá-lo em seus excessos. O coronel Joca foi um dos signatári os do "pacto dos coronéis" em 1911, embora não tenha comparecido pessoalmente, enviando como representante seu filho José Raimundo de Macedo. Ocorrida em Juazeiro, sob os auspícios do Padre Cícero Romão Batista, essa reuniao, como assinalado por Joaryvar Macedo, em seu "Império do Bacamarte", foi utópica na medida em que previa um conjunto de posturas e ações incompatíveis com o espirito político da época. É tanto que logo após sua realização, o coronel Joca veio a se confrontar com o próprio juiz que selou o pacto desta reunião, por este ter assumido posições que se chocavam com a estrutura de poder em Barbalha.

Em que pese a conturbada época, de inicio do século XX, quando o mandonismo e a forca imperavam, emanaram dos Teresios personalidades no mundo das letras e da cultura, como o destacado filho do coronel Santana, o desembargador Juvêncio Santana, que veio a ser afilhado e mentor do Padre Cicero, assim como deputado e secretário do Interior e Justica do Ceará. Criterioso e equilibrado, certa vez o jurista foi em Fortaleza instado a explicar a atuação de seu pai como coiteiro de cangaceiros. Argumentou que a um proprietário rural restavam somente duas op ções para evitar receber um bando em sua casa: ou abria fogo contra os cangaceiros, o que não era recomendável, visto ser atividade de risco, gerando grande desassossego para a familia, ou o governo colocaria uma tropa oficial na porteira de cada fazenda, o que seria impraticável. Outro destacada personalidade originária dos Teresios foi o professor Antônio Martins Filho, reitor e fundador da Universidade Federal do Ceará. Apesar de ter sido oficialmente registrado como nascido no Crato, o reitor teve como local de nascimento exatamente a Santa Teresa. Em seu livro "Memórias - menoridade (Imprensa Universitária-1995)", registrou sua infancia no Cariri e a ligacao de seus pais com o coronel Joca: "o mundo em que anteriormente vivíamos, podia ser muito limitado, mas era limpo e, principalmente cordial. De fato, conhecíamos somente o sitio Santa Tereza, o Brejão do seu Joca e a cida de de Barbalha, em que todos eram conhecidos e amigos". O bisavô de Martins Filho chamava-se João Antonio de Jesus, conhecido como o Major Janjoca, dono da maior parte do sítio Santa Teresa.

A extensa distribuição dos Terésios no Cariri e o senso de pertencimento a um mesmo tronco ancestral, conferiram ao clã uma notável articulação afetiva, traduzida tanto na sucessão de casamentos entre parentes, quanto no apoio mútuo e incondicional em situações e conflitos em que algum membro esteve envolvido. Cite-se o caso em que a matriarca Marica Macedo de Aurora, quando de seu conflito em 1908 com o chefe político daquele município, Totonho Leite, retirou-se com a família para Missão Velha em busca de apoio dos coronéis Joca e Santana. O primeiro marido de Dona Marica, Cazuza Ma cedo, era irmão do pai do coronel Joca e padrasto do coronel Santana, Raimundo Antônio de Macedo (Mundoca) e também irmão da sogra do coronel Santana. Ocorre que quando de seu percurso, fazendo pernoite no sitio Taveira, entre Aurora e Milagres, Dona Marica acabou sendo vitima do cerco dessa propriedade pelas forcas governistas, que combatiam os Santos e Paulinos, desafetos de Totonho Leite e que estavam ali abrigados sob proteção do coronel Domingos Furtado. Como resultado do chamado "fogo do Taveira", morreram várias pessoas, incluindo o filho mais novo de Dona Marica. Exaltados com a ocorrência cruel contra sua parente, o coronel Joca e o coronel Santana juntaram-se ao coronel Domingos Furtado de Milagres e o major Zé Inácio do Barro, e neste município reuniram seiscentos homens, prontos para aniquilarem Aurora, caso o presidente Nogueira Acioli nao retirasse de imediato as forças que ali permaneciam. As forças foram retiradas, mas mesmo assim Aurora veio a ser invadida sob o comando do major Zé Inácio, sucedendo-se o domínio da cidade pelo coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido do Pavão) e a liderança feminina de Marica Macedo, que veio a falecer em 1924.

Percebe-se quão movimentado e contraditório foi o contexto histórico em que viveram os Terésios no início do século passado. Os acontecimentos dessa época tiveram influência profunda na geopolítica da região.
João Macêdo " Médico
Professor da UFC - Universidade Federal do Ceará

Web site: cariricangaco.blogspot.com/  Autor:   João Macêdo

http://www.cangacoemfoco.jex.com.br/historias+sertanejas/joca+do+brejao+e+a+saga+dos+teresios

Ambição, Injustiça, Violência, Traição e Morte...


Nascido em 1898, no Sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco, Virgulino Ferreira da Silva viria a transformar-se no mais lendário fora-da-lei do Brasil. O cangaço nasceu no Nordeste em meados do século 18, através de José Gomes, conhecido como Cabeleira, mas só iria se tornar mais conhecido, como movimento marginal e até dando margem a amplos estudos sociais, após o surgimento, em 1920, do cangaceiro Lampião, ou seja, o próprio Virgulino Ferreira da Silva. Ele entrou para o cangaço junto com três irmãos, após o assassinato do pai.

Com 1,79m de altura, cabelos longos, forte e muito inteligente, logo Virgulino começou a sobressair-se no mundo do cangaço, acabou formando seu próprio bando e tornou-se símbolo e lenda das histórias do cangaço. Tem muitas lendas a respeito do apelido Lampião, mas a mais divulgada é que alguns companheiros ao ver o cano do fuzil de Virgulino até vermelho, após tantos tiros trocados com a volante (polícia), disseram que parecia um lampião. E o apelido ficou e o jovem Virgulino transformou-se em Lampião, o Rei do Cangaço. Mas ele gostava mesmo era de ser chamado de Capitão Virgulino.

Lampião era praticamente cego do olho direito, que fora atingido por um espinho, num breve descuido de Lampião, quando andava pelas caatingas, e ele também mancava, segundo um dos seus muitos historiadores, por conta de um tiro que levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades. Dinheiro, prataria, animais, joias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando. "Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar", diz o historiador Anildomá Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo. Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda conseguia aliados.

Anildomá Souza
  
Os ataques do rei do cangaço às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares. A situação chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, "de qualquer modo, o famigerado bandido". "Seria algo como 200 mil reais hoje em dia", estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. Mas as histórias e curiosidades sobre essa fascinante figura continuam vivas.


Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais velhos e pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para jantar e pernoitar num pequeno sítio - como geralmente faziam. Um dos homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com uma cabra morta nos braços. "Tá aqui. Matei essa cabra. Agora, a senhora pode cozinhar pra mim", disse. A velhinha, chorando, contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou ao sujeito: "Pague a cabra da mulher". O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa: "Isso pra mim é esmola", disse. Ao que Lampião retrucou: "Agora pague a cabra, sujeito". "Mas, Lampião, eu já paguei". "Não. Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague."

Criado com mais sete irmãos - três mulheres e quatro homens -, Lampião sabia ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava e era habilidoso com o couro. "Era ele quem fazia os próprios chapéus e alpercatas", conta Anildomá Souza. Enfeitar roupas, chapéus e até armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião. O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.

Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um estado de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.


Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum se tornou tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita, que em algumas narrativas é chamada de Rainha do Sertão.

 
Benjamim Abraão, Lampião e Maria Bonita

Da união dos dois, nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. "Eu tinha muito medo das roupas e das armas", conta. "Mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo pra conversar comigo", lembra dona Expedita, hoje com 75 anos e vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais foram mortos. 
  
Na madrugada de 28 de julho de 1938, o sol ainda não tinha nascido quando os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco. Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa - muitos ainda dormiam -, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.  
  
Mesmo após mais de 70 anos depois da sua morte, Virgulino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. E sua extraordinária história leva a crer que nunca o será. 

Matéria baseada na edição 135 da revista Os Caminhos da Terra, por David Santos Jr. e em relatos de Gervásio Aristides da Silva (Pernambuco), Rosalvo Joaquim (Sergipe) E Lampião, Rei do Cangaço, de Eduardo Barbosa (fotos).

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