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terça-feira, 24 de maio de 2016

EDUCAR E/OU ENSINAR?

(*) Rinaldo Barros

Hoje me bateu uma tristeza infinita por tudo o que perdemos ao longo dos anos.

É quase certo que o caro leitor já teve a curiosidade de saber qual é o verdadeiro significado da palavra “Educar”. Essa é uma tarefa da família ou da escola?

Nestes tempos pós-modernos, para a maioria das pessoas adultas, “Educar” é uma obrigação exclusiva das escolas e de seus respectivos profissionais. Um grande erro, o qual abre muitas possibilidades a inúmeros problemas na relação ensino/aprendizagem.

Já participei de reuniões de “pais e mestres”, onde escutei disparates tipo “pago caro para esta escola educar meus filhos”; como se aos pais, às famílias, não coubesse a elevada responsabilidade de educar seus rebentos. A meu ver, este é o pecado original para todos os vícios emergentes atualmente, no patropi.

Por outro lado, perdemos o respeito pela nobre missão de educar, professores são maltratados e agredidos em sala de aula, assim como perdemos a capacidade de compreender que a causa verdadeira está na ausência de um Projeto civilizatório de Nação.

Cá no meu canto, correndo o risco de ser carimbado como “conservador”, ainda tenho a convicção de que Educar é função, obrigação, de todos, tanto dos pais quanto dos educadores.

O conceito de Educar vai muito além do ato de transmitir conhecimento, educar é estimular o raciocínio, é aprimorar o senso crítico, as faculdades intelectuais, físicas e, notadamente, exercitar a ética; as opiniões e atitudes fundadas nos valores universais: Liberdade, Responsabilidade, Verdade, Justiça, Honestidade, Solidariedade, Respeito, Disciplina, entre outros.

Cabe às famílias dar “régua e compasso”, dar exemplos, parâmetros, faróis, para que as novas gerações possam usar como ferramentas ao logo de suas vidas.

Leia o que escreveu a professora Ivone Boechat

Ensinar não é educar. Ensinar também não é somente transmitir conhecimentos.
Por Ivone Boechat (autora)

O educador não tem o vírus da sabedoria. Ele pode e deve orientar a aprendizagem, ajudar a formular conceitos, a despertar as potencialidades inatas dos indivíduos para que se forme um consenso em torno de verdades e eles próprios - crianças e jovens - encontrem as suas opções.

A etimologia revela que o substantivo aprendizagem deriva do latim "apprehendere", que significa apanhar, apropriar, adquirir conhecimento. O verbo aprender deriva de preensão, do latim "prehensio-onis", que designa o ato de segurar, agarrar e apanhar, prender, apossar-se de.

Ensinar é também palavra latina “insignire”, quer dizer "marcar, distinguir, assinalar". É a mesma origem de "signo", de "significado".

O professor, como agente de comunicação, transformou-se num dos mais pobres recursos e, ao mesmo tempo, dos mais ricos.

Explico: quando se imagina dono da verdade, rei do currículo, imperador do pedaço, mendiga e se frustra. Quando se apresenta cheio de humildade, de compreensão e vontade de aprender, como eterno aprendiz, resplandece, brilha, e recebe o reconhecimento de todos.

“Mestre é aquele que, de repente, aprende”, ensinou Paulo Freire.

Sem querer oferecer “receita de bolo” para questão tão complexa, acredito que se deve abolir, de imediato, a cultura do supérfluo, selecionando conteúdos mais significantes e atualizados. E sejam presentes no mundo e no imaginário das novas gerações, e não na mente do professor. Apresentar todas as nuances das questões, todos os fatos e todas as ideias envolvidas, sem imposição, sem doutrinação. A escolha é privilégio do aluno, de quem está estudando, aprendendo.

 O educador deve se preparar para estar apto perante a onipotência das novas tecnologias, das imensas possibilidades da internet; e não se assustar com a sua eficiência. Estar sempre atento aos transbordamentos da ciência e não se embrutecer na resposta. Quer outra?

Confunde-se frequentemente “cultura” com “entretenimento”. Os enlatados culturais intoxicam mentes e corações, se transformam em "pacotes culturais" e saem por aí, empacotando a sensibilidade, a criatividade, que tanto contaminam a educação. Um exemplo?

Entende-se barulho como música! Poesia como cafonice, família como utopia, Pátria como sucata.

Em verdade, educar é educar-se a cada dia, com a pretensão de preparar para a vida, e não apenas para a próxima prova. O poder de adivinhar o futuro o educador não o possui. No entanto, ele pode orientar para que, em situações imprevisíveis, se processem alternativas.

É preciso ensinar a pensar! Educar não é ensinar, é aprender.
Ivone Boechat (autora)

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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DOCUMENTÁRIO O RAPTO DAS FLORES


Coisas de Florânia Filmes, convida a todos para o lançamento do documentário “O RAPTO DAS FLÔRES... memórias de um filho órfão pelo cangaço”, no dia 25 de maio de 2016 (quarta-feira) às 19 horas, no auditório da Escola Estadual Teônia Amaral em Florânia – RN.

“O Senhor Basto Aleixo, de 96 nos de idade, atua como personagem principal, revelando detalhes do rapto de sua mãe pelos cangaceiros, que nos anos de 1920, invadiram e saquearam a cidade de Souza no Estado da Paraíba”.

att. Luiz Eduardo

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CARIRI CANGAÇO FLORESTA--PE...TÁ CHEGANDO A HORA...! 3...2....1 DIAS


Está chegando a hora, meu povo. Pernambuco e mais precisamente a nossa amada Floresta irá receber no próximo dia 26/05, o maior encontro de cultura já realizado em nossa região. Escritores, pesquisadores, fotógrafos, cineastas, repórteres, filhos de cangaceiros e volantes, além de uma infinidade de visitantes, apaixonados pela epopeia do maior mestreadas caatingas, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. 


O Cariri Cangaço, sob a batuta do maestro Manoel Severo Barbosa virá trazendo para a nossa cidade, a oportunidade única de colocarmos Floresta e Nazaré na rota do Cangaço em nosso Estado. Vamos lutar pela reforma do Batalhão. Esse projeto é uma parceria com a Prefeitura Municipal de Floresta, na administração da Prefeita Rorró Maniçoba. O evento é gratuito e contamos com a presença de todos.

Parabéns Rorró, Gatão, Kaio, Isabella, Eugênio, Dilma Marques, Fátima Rocha, Amanda, Raul, Elba, Murilo, demais vereadores e todos aqueles que colaboram com o nosso sonho. Essa será a grande VITÓRIA do povo Florestano. Por favor compartilhem. Vamos divulgar e trazer cultura para o nosso povo. 

Essa foto com uma peça indígena é um voto de apoio ao povo Pankara que sofreu um incêndio covarde no seu local sagrado de cultos e religiosidade.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste

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JESUÍNO BRILHANTE ROMANTIZADO

Por Francisco Antônio de Paiva

A história do banditismo no sertão brasileiro sempre leva os amantes da história ao grupo de cangaceiros mais famoso do Nordeste liderado por Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Mas a história revela outros personagens que podem trazer tantas outras revelações de um fenômeno que deixou de existir oficialmente, o cangaço.
  
O fenômeno do banditismo rural está ligado muitas vezes à rebeldia, esses sujeitos chegam até a ser pensados como bandidos sócias, uma espécie de “Robin Hood”, aquele que tira dos ricos e dá aos pobres.
            
É preciso separar o que é banditismo social do banditismo comum. O primeiro é romantizado, transformados em heróis que lutam contra a opressão do estado e dos senhores de terra. O segundo é o banditismo comum que roubam, matam e estupram. O fenômeno do cangaço pode reunir essas duas vertentes que podem ser analisadas por diversos estudos.

É nesse contexto de banditismo rural que surge Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno Brilhante, ele nasceu em Patu, Rio Grande do Norte no ano de no ano de 1844 e, devido a rixas com outra família protegida por grandes proprietários de terras da região fez-se chefe de cangaceiros, o sítio tuiuiú foi seu reduto de onde comandava suas ações.
            
As grandes ações de Jesuíno foram à resistência à prisão em Martins e o ataque à cadeia de Pombal para libertar seu pai e seu irmão que ali se encontravam presos. Sua área de atuação era o semiárido potiguar e paraibano, mas ele ficou conhecido mesmo, segundo relatos, como o cangaceiro romântico. Um homem que procurava combater as injustiças dos poderosos da região.
            
Para Eric Hobsbawm (2010, p.36) “Os bandidos sociais são camponeses que os senhores de terras e o estado encaram como criminosos”, mas “continuam a fazer parte da sociedade camponesa, que os considera heróis, campeões vingadores, os que lutam por justiça, talvez até vistos como líderes da rebelião e, sempre como homens a ser admirados”.
            
Jesuíno Brilhante morreu em 1879 em uma emboscada comandada por um inimigo seu da família Limão em Belém do Brejo do Cruz, na Paraíba. As histórias sobre ele o transformaram em herói, um camponês que foi perseguido por poderosos da região, defensor dos humildes, mulheres defloradas e roubava dos ricos para dar aos pobres.
            
O Jesuíno Brilhante romantizado pode ser o mais próximo de bandido social que pode ter havido no sertão nordestino, mas é preciso fazer ressalvas. Um bandido social pode ser um homem que luta contra as injustiças  em seu espaço de convivência e ser um bandido comum em outras áreas. Neste caso trabalhamos com a imagem romantizada de Jesuíno, uma visão não problematizada e simplista já que muitos bandidos precisavam de apoio de pessoas influentes para manter-se na ativa.

http://www.jornalfolharegional.com.br/2016/05/24/jesuino-brilhante-romantizado/

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POMBALENSE É CONVIDADO PARA PARTICIPAR DE DEBATE COM PESQUISADORES EM EVENTO SOBRE O CANGAÇO


O pombalense José Tavares de Araújo Neto será um dos integrantes da mesa de debates do "Cariri Cangaço", que será realizado na cidade de Floresta (PE) nos dias 26, 27, 28 e 29 de maio.


O grupo de Estudo “Cariri Cangaço”, que congrega os mais importantes pesquisadores e estudiosos da temática no Brasil, já realizou esse tipo de evento nos Estados do Ceará, Paraíba, Alagoas e Sergipe, sendo a primeira vez que irá a Pernambuco, Estado natal dos mais importantes líderes do cangaço, como Antônio Silvino, Sinhô Pereira e Lampião.

No vizinho Estado também nasceram os mais destacados perseguidores de cangaceiros, a exemplo dos comandantes de volantes Tenente Theophanes Ferraz, que prendeu Antônio Silvino, Tenente Arlindo Rocha, além dos comandantes nazarenos João Flor e seus filhos: Odilon, Manoel, Euclides, Ildefonso; Manoel Neto, David e João Jurubeba e João Gomes de Lira.

Esta será a segunda vez que um pombalense participará de mesa de debate neste evento, reconhecido como o maior encontro de pesquisador do cangaço do Brasil.

No ano passado, o Professor José Romero de Araújo Cardoso, primo de José Tavares, foi o principal conferencista que teve como tema que tratou da relação entre o Coronel Zé Pereira e o bando de Lampião.


A mesa da qual o pombalense engenheiro agrônomo José Tavares fará parte irá debater sobre a participação do tenente João Gomes de Lira, que foi um dos notáveis perseguidores de Lampião conhecido por “Nazarenos”, denominação dada aos caçadores do rei do cangaço por serem originários do povoado de Nazaré do Pico, em Floresta – PE.

LIBERDADE PB
http://www.liberdadepb.com.br

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MANUEL DE SOUZA NETO - “O DESTINO DE UM BRAVO"

Por Leonardo Ferraz Gominho

"Antônio Mendes de Sá morava na beira do rio São Francisco quando, em 1865, viu-se envolvido na intriga que se chamou de questão do Sabiucá (Gomes de Sá,). Acabou sangrado, depois que foi arrancado para fora da prisão, pelos inimigos. Dos seus filhos, Ana (Aninha “Braba”) casou-se com Cazuzinha “do Roque” (MOM, B 9) e lhe deu a neta Maria.

Maria casou-se com Gregório Nogueira do Nascimento, conhecido por Gregório Flor por ser filho de Florência Filismina de Sá (Flor) e de Manoel de Souza Ferraz (Manezinho). O casal deixou oito filhos: Auta, Amerina e Filomena; Alonso, Afonso, Ancilon, Arconso de Souza Ferraz e Manuel de Souza Neto.


Manuel de Souza Neto nasceu nas terras da antiga fazenda Algodões, município de Floresta, no dia 1º de novembro de 1901. Cresceu ao lado dos parentes, os “nazarezistas”. Ao lado deles, se engajaria numa luta ingrata, dura, heróica. Virgulino Ferreira da Silva - o futuro Lampião - ali chegara muito cedo, instalando-se com a família na fazenda Poço do Negro, nas imediações de Nazaré, e logo se indispôs com os filhos da terra, fazendo uma história já conhecida e que levou luto a muita gente da região.


Em 1921, o primeiro filho de Nazaré seguiu com destino ao Recife para ingressar na polícia: Arconso de Souza Ferraz deixou seu emprego em loja para se tornar militar. Outros seguiriam seus passos.

Diz Marilourdes Ferraz (O Canto do Acauã, p. 141) que, em 1922, “Manuel de Souza Neto partiu da casa do seu tio João Flor, ao lado do comerciante Adão Feitosa, para Rio Branco (atual Arcoverde), a fim de comercializar peles de bode. A viagem foi extenuante, feita a pé e parte a cavalo mas, ainda assim, por iniciativa própria, prolongou seu itinerário até a capital para efetuar alistamento, seguindo o exemplo do seu irmão Arconso.”

Estava destinado a ser um dos mais valorosos combatentes do cangaço. Com 21 anos de idade incompletos, engajava-se com coragem numa luta que duraria pelo menos 16 anos. E logo se destacaria por sua bravura.

Em janeiro de 1924, Manuel Neto foi um dos soldados que mais se fizeram notar, sob o comando do sargento Higino José Belarmino, nas lutas travadas contra o grupo de Lampião e em defesa de Clementino Quelé, que vira seu distrito de Santa Cruz, em Triunfo, ser atacado violentamente. No dia 5, o jovem soldado avançou correndo de Triunfo até aquele local, onde Virgulino procurava liquidar o antigo companheiro Quelé. Seis dias depois (dia 11), entrava novamente em choque com o grupo de bandidos, forçando-os a deixar o Estado de Pernambuco e fugir para a Paraíba.

Um ano depois (fevereiro), ao lado de uma força volante composta de civis, procurava descobrir o paradeiro de Lampião. Tomara conhecimento da presença do bando na região de Betânia. Encontrou a força sob o comando do sargento José Leal, seguindo todos na direção da Cachoeira dos Galdinos. Ali estavam os cangaceiros. A força se compunha de pouco mais de vinte homens; os bandidos, trinta e tantos. Avistados os cangaceiros, foram descobertos, iniciando-se o tiroteio. Batalha duríssima, com resistência tenaz. No auge da luta, o sargento José Leal e o soldado João Preto abandonaram o campo da luta. Manuel Neto assumiu, nessa ocasião, pela primeira vez - segundo João Gomes de Lira -, um comando na campanha contra o banditismo.”

Transcrição Sálvio Siqueira
Fonte/foto lampiãoaceso.com

Fonte: facebook

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O BEATO DA CRUZ NO JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO

Material do acervo do pesquisador Raul Meneleu Mascarenhas

BEATOS E CANGACEIROS 

Esse livro editado no ano de 1920 de autoria de Xavier de Oliveira, nos relata as estórias de beatos e cangaceiros, como história real e observação pessoal do autor, que desde o ano de 1909,  em sala de aula do Colégio São José, na cidade do Crato, Ceará, ter sido dado um trabalho escolar aos alunos, para desenvolverem o tema O Cangaço no Cariry. Nesse artigo, trago a atenção para um beato que viveu na cidade do Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero Romão Batista, a partir do ano de 1894, quando ali chegou para pagar penitências, como um romeiro qualquer. Trazia marcado em sua alma um crime, como a estória abaixo lhe dirá qual foi, e a Síndrome de Jerusalém que trata-se de um grupo de transtornos mentais, envolvendo a ideia obsessiva de temáticas religiosas, delírios e ideias psicóticas, que surgem após uma visita à cidade de Jerusalém, e que em artigo EVENTOS MARCANTES DO CARIRI CANGAÇO 2015 – Edição de Luxo, faço menção, quando digo que tal síndrome é o nome dado a um grupo de fenômenos mentais envolvendo a presença de ideias obsessivas de temática religiosa, delírios ou outras experiências de cunho psicótico que são desencadeadas por alguns que visitam a cidade. Na Jerusalém Brasileira, o Juazeiro do "Padim Ciço" cidade onde respira-se religiosidade, não poderia ser diferente, especialistas da área acreditam que esta síndrome trata-se de um transtorno dissociativo histérico, no qual indivíduos geram outra personalidade, em decorrência da sobrecarga do tema religioso que paira no ar e digo eu, por pesquisas sobre o tema, quando uma pessoa tem uma alta carga de culpa, ao aderir à religião, torna-se um fanático.

Não é exclusiva de uma única religião, porém acomete mais frequentemente judeus e cristãos de diferentes formações sócio-econômicas. O primeiro a identificar esta síndrome foi o Dr. Yair Bar-El, ex-diretor do hospital psiquiátrico Kfar Shaul da cidade de Jerusalém. Este médico examinou 470 turistas e considerou-os temporariamente insanos, entre os anos de 1979 e 1993. Desse total, 66% eram judeus, 33% eram cristãos e 1% não tinha religião definida.

Mas vamos à estória do Beato da Cruz, que deixo ipsis litteris assim como encontrei nesse livro. Uma narrativa bonita e marcante de um homem arrependido que incorporou a Sídrome do Juazeiro dos santos e beatos:

Que é um beato lá no meio religioso de Joazeiro do Padre Cicero? É um sujeito celibatário, que faz votos de castidade (real ou apparentemente), que não tem profissão, porque deixou de trabalhar, e que vive da caridade dos bons e das explorações aos crentes. Passa o dia a rezar nas egrejas, a visitar os enfermos, a enterrar os mortos, a ensinar orações aos crédulos, tudo de occôrdo com os preceitos do catecismo! Veste á maneira de um frade: uma batina de algodão tinto de preto, uma cruz ás costas, um cordão de São Francisco amarrado á cintura, uma dezena de rosados. uma centena de bentinhos de São Bento, uns saquinhos com breves religiosos e com orações poderosas, tudo pendurado do pescoço.

São geralmente individuos vagabundos, hypocritas, delirantes religiosos, ou bandidos! Não cabe aqui a historia dos beatos do Joazeiro, visto que, além do Beato da Cruz, apenas dois deles, porque incluidos no numero dos famosos cangaceiros do Nordeste, merecem descriptos: o Beato Vicente e o Beato Ricardo. 

O Beato da Cruz não era um cangaceiro. Não andava de arma longa, nem de arma curta, nem mesmo de facão, e apenas, trazia um punhal occulto na sua batina azul (excepção entre os de sua classe. sua batina era azul, em vez de preta) de modo a não ser percebido por ninguem.

O Beato da Cruz não era, propriamente um cangaceiro! Apenas, dizem os romeiros que o conheciam do Rio Grande do Norte, sua ferra natal, quando era ahi pelos seos vinte annos, assassinou seu pae. Não sei, ninguem sabe as razões que o levaram ao parricidio. E por isso, mais dificio se torna fazer um juizo approximado a respeito da molestia que lhe deve ter perturbado o mente, desde então.

De uma feita, os guarda-locaes Pedro Araujo, Zé de Binda e Zé Biá, a mando de um famoso João Bento, por esse tempo delegado da então povoação do Joazeiro, quizeram desinferrufar os seos facões em suas costas. Mas se arrependeram da empreza. O beato arrancou de debaixo da sua batina azul o seo língua de peba (um punhal de dois gumes, estreito e longo) e com a cruz numa mão, e com o punhal na outra, fez debandar a tropa que o queria surrar.

— Uai... Uai... Uai... meo Pae, perdoae-lhes que não sabem o que fazem — disse, embainhando a arma terrivel, e em pranto, marchou, corcunda, a cruz ás costas, pelo beco da Velha Chica do Sobrado acima.

Que eu saiba, foi essa a sua segunda façanha, e a unica que praticou durante sua longa permanencia em Cariry. Não devia, pois, figurar neste livro, que trato apenas, dos famosos guerrilheiros que conheci nos sertões nordestinos. Em verdade. fui busca-lo no material que possúo para a — JERUSALEM BRASILEIRA (Jaozeiro Padre Cicero), ora em estudos. E só o fiz, para o fim de, com a sua interessante figura de beato penitente, dar uma idéa exata e per- feita ao leitor, do que vem a ser essa entidade exotica e singular, propria do meio religioso, que é o Joazeiro do Padre Cicero. Voltemos ao beato.

Ahi pelo anno de 1894, um rico fazendeiro norte-rio-grandense, de nome José da Cruz, como tantos outros milhares de sertanejos, veio em romaria a Joazeiro, pagar uma promessa que fizera a Nossa Senhora das Dores. padroeira do santo logar, e ao Padre Cicero. Empolgado o seo espirito fraco pelo sentimento de religiosidade que ali observou nos romeiros residentes, encontrou, assim, o campo onde logo puderam medrar com exuberancia as idéas delirantes de que já se achava possuido. Tanto chegou e, para logo, se tornou o que se vê da sua figura macabra de beato penitente. 

Assim, vestido á frade, e cruz ao ombro, a rezar nas egrejas, a ler a biblia e as historias dos santos, começou por querer imitar o Santo João Baptista, sem dispensar, nem mesmo o seo cordeirinho manso, o animal sagrado dos israelitas. Era para se penitenciar dos seos peccados mortaes. Homem de côr branca, de grandes olhos azues, sem nenhum estygma physico apparente de degenerescencia, de quando o conheço (e foi desde que me entendo) até dois annos, quando felecêo, sua vida foi sempre a mesma: rezar nas egrejas e occupar-se das coisas de Deus. Humor triste, facies abatida, olhar piedoso de perfeito visionario, em constante anciedade, era sua preoccupação unica salvar sua alma das penas eter-nas ! Era para isso que passava a vida inteira a fazer penitencia! Não sei se confessava sempre, o que não é provavel; mas é certo que levava o dia inteiro a ir de uma para outra egreja, a postar-se de joelhos, contricto, deante do altar do Senhor Morto, a orar em extase, a se lastimar, a chorar, a dizer-se culpado de estar ali crucificado o Filho de Maria, o meigo Nazareno de Belém e rei de Judá. - Uai... uai... uai... meo Pai, fazia o beato, prostrado aos pés da cruz, numa anciedade indescriptivel, offegante, a fazer caretas, banhado em lagrimas e coberto de suor. 

Na mesa do Revd. Padre Luiz Maranhão de Lacerda, vigario de Milagres, num dia de 1910 eu estava, quando, com sorpreza para mim, portas a dentro, entrou elle cantando, em voz sonora, e em som de cantochão, o seo bemdicto predilecto:
Na quinta-feira maior,
O Deus Jesus Christo previa,
Que na sexta-feira santa,
Ás tres horas elle morria. 
Uai... Uai . . . Uai . . meo Pai!

As ultimas palavras de sua toada plangente, desfez-se em pranto o beato. Ainda era o mesmo. Havia, seguramente, seis annos não o via. Fizera progresso nos habitos de religioso, pois já então, estava com a sua cruz de penitente cheia de milagres que obrara para os fieis que tinham fé em sua santidade, em seo prestigio junto a todos os santos do céo e junto ao proprio Deus !... 

— Uai. . . Uai... Uai. . . meo Pai! disse em prantos, banhado em lagrimas. cahindo de joelhos aos pés do sacerdote e beijando-lhe a batina.

— Sente-se ahi, José, deixe-se de choro e vamos comer, disse para elle o bom do parocho, apon-tando-lhe uma cadeira á mesa. 

E o beato fez-nos companhia no agape. Puxei então de conversação com elle, e durante todo o almoço. falámos de Juazeiro. Disse-lhe o mêdo que me causava quando menino, o via aos pés da cruz, ou deante do Senhor Morto, ao meio dia em ponto, a chorar, a gemer dolorosamente... Uai... Uai... Uai... meo Pai! .. e que mais me parecia o uivo lastimoso de um cão soffredor do que os lamentos de um beato penitente. Uai... Meo Padre, eu sou peor que um cão, bradou lamentoso o beato, quando o padre: — Ora, José, não faça assim deante do major... O major, na ironia christã do ilustre Revdo. era eu então, um segundannista de gymnasio... — Sim meo Padre, - e terminou o beato dizendo-me de referencia ao Revd. Maranhão: ele é muito bomzinho para mim. Consolado, continuou o comer.

Depois da refeição, dando graças a Deus e ao sacerdote que lhe dera o pão daquele dia, rezou muitas orações, fez uma centena de — em nome do Padre - os grandes olhos vermelhos do pranto er-guidos aos céos, piedosos, despedia-se de nós e sahio, a cruz ás costas, com o seo manso cordeiri-nho pelas ruas de Milagres, a cantar em voz cava e sumida, numa toada plangente, o seo bemdicto predilecto: 

Na quinta-feira maior,
O Deus Jesus-Christo previa,
Que na sexta-feira santa,
Ás tres horas, elle morria. 

Quem o poderia saber? Era, talvez, o remorso do beato, por haver morto seu pae, possivelmente, numa sexta-feira tambem, que explodia naquellas palavras que dizia cantando, em voz penosa e sombria, e numa musica funebre de cantochão... Só de tempos em tempos ia o Beato da Cruz a Joazeiro, donde fora obrigado a sahir, em vista da rixa que se creou entre elle e os guarda-locaes da cidade que, de outra feita, o pegarem de geito, e lhe deram uma grande sova. Mas, ainda que distante de Centro... quando apparecia era um successo. Empanava o prestigio santo de todos os seos collegas de classe, á excepção apenas, do beato Manoel Antonio da taba furada, bebedor de kerozene e fallador da vida alheia, como elle proprio se dizia.

Este, que passava a vida a escrever ás centenas, aos milhares, as orações: 

Oh! Maria Concebida sem peccado,
Rogue por nós que recorremos o Vós

e a distribui-las gratuitamente aos romeiros, como aos demais beatos, levava na troça o proprio Beato da Cruz, a quem para melindra-lo, chamava-o em tom de brincadeira: MANCEBADO 

— Uai... meo Pai, perdoae-lhe... fazia o beato, e sabia rua fora a chorar emquanto o seu collega e rival, Manoel Antonio de taba furada, ria á bandeira despregada, do effeito da sua pilheria.

Eis ahi está o beato da Cruz, com o seo cordeirinho santo, á porta da egreja de Nossa Senhora do Perpetuo Soccorro, em cuja nave, num carneiro a um canto, á direita de quem entra pela porta principal, está o sepulchro da celebre beata Maria de Araujo.

Além, por traz do beato vë-se um paredão. É o muro do cemiterio do Joazeiro. Foi lá que em 1914 baixou ao tumulo o corpo do celebre beato e grande cangaceiro Ricardo: e foi lá tambem que ha dois annos teve sepultura o corpo innanimado do santo Beato da Cruz, que apenas matou seo pae, e, com sua cruz numa mão e com seo punhal na outra, fez debandar, em Joazeiro. Um bando de guarda-locaes. O seo cordeirinho, certamente já foi comido pelos famintos da grande metropole sertaneja. Mas a sua memoria e as suas virtudes jamais deixarão de ser veneradas, enquanto houver um romeiro credulo na JERUSALEM BRAZILEIRA. 

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RELAÇÃO DE LIVROS À VENDA (PROFESSOR PEREIRA - CAJAZEIRAS/PB).


O MAIOR ACERVO DE LIVROS À VENDA SOBRE OS TEMAS NORDESTE E CANGAÇO. GARANTIA DE QUALIDADE E ENTREGA DO MATERIAL.

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DINHEIRO DE CIRCULAÇÃO NA ÉPOCA DO CANGAÇO LAMPIÔNICO


Lampião queria quatrocentas notas iguais a essa para não atacar a cidade de Mossoró no Estado do Rio Grande do Norte, no ano de 1927. Como seu “pedido” não foi atendido ele foi buscar, mas o que encontrou, foi uma chuva de balas, e consecutivamente a primeira grande e significativa derrota do seu currículo cangaceiro.

Obs: nota de 1 (hum) conto de réis.
Geraldo Antônio de Souza júnior (administrador do grupo no facebook “O Cangaço”).

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O ENTERRO DO BEATO ZÉ LOURENÇO.


O homem que, a mando do Padre Cícero desenvolveu uma comunidade (SÍTIO CALDEIRÃO - CRATO-Ce ) com características socialistas e, que foi bombardeado pela polícia do Ceará, num ato desumano, culminando com centenas de mortes de indefesos camponeses.

O ENTERRO DO BEATO ZÉ LOURENÇO


Foto: Cortesia Kacarekus - Face
Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
Link: https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?fref=ts

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CORONEL JOSÉ PEREIRA DE LIMA DE PRINCESA

Por Adalto Silva

Essa é para ler e guardar... Sensacional matéria da revista o Cruzeiro, de 8 de outubro de 1949, com o Coronel Zé Pereira, sobre a campanha de Princesa.











Fonte: facebook
Página:Adauto Silva

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O ÚLTIMO DIA DE LAMPIÃO 1975

https://www.youtube.com/watch?v=8URaA8ypQAQ&t=619s

Publicado em 14 de maio de 2015

Ótimo documentário feito pela Rede Globo em 1975 relatando os fatos que culminaram com a morte de Lampião.

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