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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A GALEGA E O GALO

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de outubro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.991

Já ouvimos falar bastante do perigo de um guará choco. Quando o lobo- guará parte para atacar o homem, afirmam todos, o cabra tem que está armado, ser muito macho e pode até morrer no duelo. O cachorro é outro bicho que também ataca o ser humano nas ruas. Duas ameaças ferozes conhecidas. No caso do guará choco, tem até gravação de forró dizendo que não deseja absolutamente nada de mal ao inimigo, apenas um encontro casual com um guará choco. Muito bem, estando em uma unidade de saúde, chega uma galega alta, forte, sexagenária e falante, mão inchada, braço na tipoia e dedos quebrados. “O que foi isso, mulé?”. E ela responda sorrindo; “Foi galo”. A admiração é a mesma entre todos. A galega conta em voz alta à aventura.
ILUSTRAÇÃO; GALO DA MADRUGADA.

Já ouvimos falar bastante do perigo de um guará choco. Quando o lobo- guará parte para atacar o homem, afirmam todos, o cabra tem que está armado, ser muito macho e pode até morrer no duelo. O cachorro é outro bicho que também ataca o ser humano nas ruas. Duas ameaças ferozes conhecidas. No caso do guará choco, tem até gravação de forró dizendo que não deseja absolutamente nada de mal ao inimigo, apenas um encontro casual com um guará choco. Muito bem, estando em uma unidade de saúde, chega uma galega alta, forte, sexagenária e falante, mão inchada, braço na tipoia e dedos quebrados. “O que foi isso, mulé?”. E ela responda sorrindo; “Foi galo”. A admiração é a mesma entre todos. A galega conta em voz alta à aventura.
Ao passar em uma das ruas de Santana do Ipanema, um galo a atacou. Um galo de, aproximadamente, três quilos, viciado, provavelmente de briga. A galega defendia-se com uma sombrinha. O galo afastava-se, preparava novo golpe e partia voando em direção ao rosto da senhora como querendo arrancar-lhes os olhos. A galega defendia-se desesperadamente sob o riso de algumas pessoas que assistiam o duelo. O galo fez nova carreira e pulou nos peitos da mulher que não resistiu ao impacto, caiu por cima do braço e quebrou os dedos. Não pode se levantar. O galo afastou-se e ficou ciscando com ares de vitória. Somente aí a galega foi socorrida pelo povaréu. Talvez precise operar os dedos.
Aguardando o médico, a galega narrava à aventura – digna de ser filmada – com animação. Ao sairmos, a mulher nos abençoou e pediu a Deus para não encontrarmos um galo doido por aí. Quem ia chegando queria saber a história dos dedos quebrados, mão inchada e tipoia. Logo imaginamos que o acontecido daria uma crônica, pelo fato cotidiano da presepada. Aproveitamos e dissemos a mulher bem humorada. “Aproveite e jogue no bicho, minha senhora. Aposte no galo... Quem sabe!”.
A galega dos dedos quebrados desatou uma gargalhada.


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NOVO LIVRO SOBRE O CANGAÇO NA PARAÍBA – SÉRGIO DANTAS LANÇA SEU QUINTO LIVRO SOBRE O TEMA


O livro ‘LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA’ não foi concebido com a intenção de se tornar uma obra revolucionária. O objetivo do autor foi apenas elaborar um registro perene e confiável sobre a atuação do célebre cangaceiro em terras paraibanas. Com 363 páginas e cerca de 90 fotografias de personagens envolvidas na trama – e lugares onde os episódios ocorreram -, o trabalho certamente será de grande utilidade aos estudiosos de hoje e de amanhã.
Dividido em 19 capítulos, com amplas referências e notas explicativas, tenta-se recontar, entre outros, os seguintes episódios:
“A invasão a Jericó; fazendas Dois Riachos e Curralinho; o fogo da fazenda Tabuleiro; os primeiros ferimentos sofridos por Lampião; as lutas com Clementino Furtado, o ‘Quelé’; combate em Lagoa do Vieira; Sousa: histórico do assalto e breve discussão sobre as possíveis razões políticas para a invasão da cidade; a expulsão dos cangaceiros do município de Princesa; combates em Pau Ferrado, Areias de Pelo Sinal, Cachoeira de Minas e Tataíra; o cangaceiro Meia Noite; Os ataques às fazendas do coronel José Pereira Lima; morte de Luiz Leão e seus comparsas em Piancó; confronto em Serrote Preto; Suassuna e Costa Rego; a criação do segundo batalhão de polícia; Tenório e a morte de Levino Ferreira; ataque a Santa Inês; combates nos sítios Gavião e São Bento; chacina nos sítios Caboré e Alagoa do Serrote; Lagoa do Cruz; assassinatos de João Cirino Nunes e Aristides Ramalho; Mortes no sítio Cipó; fuga de paraibanos da fronteira para o Ceará; confronto em Barreiros; invasão ao povoado Monte Horebe; combates em Conceição; sequestro do coronel Zuza Lacerda; o assalto de Sabino a Triunfo(PE) e Cajazeiras (PB); mortes dos soldados contratados Raimundo e Chiquito em Princesa; Luiz do Triângulo; ataques a Belém do Rio do Peixe e Barra do Juá; Pilões, Canto do Feijão e os assassinatos de Raimundo Luiz e Eliziário; sítios Vaquejador e Caiçara; Quelé e João Costa no Rio Grande do Norte; combates com a polícia da Paraíba em solo cearense; o caso Chico Pereira sob uma nova ótica; Virgínio Fortunato na Paraíba: São Sebastião do Umbuzeiro e sítios Balança, Angico e Riacho Fundo; sítio Rejeitado: as nuances sobre a morte do cangaceiro Virgínio”.
A obra certamente não abrangerá o relato de todas as façanhas protagonizadas pelo célebre cangaceiro no estado da Paraíba. Muito se perdeu com o passar dos anos. Os historiadores de ontem, em sua maioria, não tiveram grande interesse em dissecar os episódios por ele protagonizados no território do estado.
A presente obra busca resgatar o que não se dissipou totalmente na bruma do tempo.
Lançamento em Natal do livro de Sérgio Dantas “Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito (2006)”.
LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA, Polyprint, 2018, 363 pgs. Disponível em outubro de 2018.
Sobre o autor: Sérgio Augusto de Souza Dantas é magistrado em Natal. Publicou os livros Lampião e o Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada (2005), Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito (2006), Lampião Entre a Espada e a Lei (2008) e Corisco – A Sombra de Lampião (2015).
PARA ADQUIRIR LAMPIÃO NA PARAÍBA – NOTAS PARA A HISTÓRIA,  VENDAS A PARTIR DE OUTUBRO DE 2018, SENDO REALIZADAS EXCLUSIVAMENTE PELO PROFESSOR FRANCISCO PEREIRA, DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA, QUE ENTREGA PARA TODO O BRASIL PELO CORREIO.
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PENSAMENTOS QUE DOEM

*Rangel Alves da Costa

Demais conhecida é a sentença de Descartes: Penso, logo existo. Com efeito, o filósofo francês Renê Descartes procurou sintetizar o alcance do verdadeiro conhecimento. Tudo existe e na forma que o pensamento assim desejar.
Segundo o filósofo, é o pensamento que forma a consciência, que idealiza a existência das coisas. Não perante aquilo visível e palpável, mas diante daquele que surge à mente para tomar forma segundo a noção concebida pela pessoa.
Contudo, inverto tal síntese filosófica para colocá-la perante situações reais, que não podem somente ser imaginadas por que realistas demais ao pensamento. Nada que seja presumido ou idealizado, mas simplesmente sentido nos seus efeitos, como verdade que não se pode negar.
Então, diria: Penso, logo entristeço. Não só entristeço como sofro, lamento, agonizo. Não só me consterno como me aflijo, padeço, pranteio. E não poderia ser diferente: no mundo atual, parece não haver lugar para alegrias e felicidades. Há um manto de tristeza revestindo cada acontecimento.
Por isso, penso e logo entristeço. Não há com deixar de entristecer diante de tanta violência, tamanha atrocidade, tanto sangue inocente jorrando, tanta vítima da desumanidade e da brutalidade. Aqui e ali, por todo lugar, e a mesma notícia ruim que chega em ventania, que se amontoa nos canteiros putrefatos do mundo.
Penso, logo entristeço. Por mais que haja esforço, encorajamento, busca de encontrar bons motivos e esperanças, ainda assim persistem as dores e os sofrimentos. E nada de imaginação, mas de pura realidade: mais um ataque terrorista, mais uma cabeça decepada, mais ódio jurando de morte a todos.
Penso, logo entristeço. Penso que a vida poderia ser bem melhor, mais humana, mais agradável e convidativa a se viver. Mas o chefe não deixa, o patrão não deixa, o vizinho não deixa, o estranho não deixa, o político não deixa, o governante não deixa. Parece mesmo uma aptidão única para tornar a existência mais dificultosa e padecente.
Penso, logo entristeço. Tantas vezes até me belisco para saber se enfrento a realidade ou permaneço em sonho ruim. Dou-me conta da realidade e entristeço mais ainda. E não há como não entristecer diante do preço do feijão, do remédio, da vestimenta, de tudo que a pessoa precise para sobreviver com a mínima dignidade.


Penso, logo entristeço. Entristecido, baixo a cabeça para esconder a face estarrecida, porém não há quem consiga fugir do mundo real. Tão realista quanto feroz, voraz, faminto. Um mundo que desnorteia infâncias e juventudes, que sucumbe as morais humanas, que faz surge tantas aberrações e atrocidades. Ou não será o mundo, mas apenas o homem?
Penso, logo entristeço. Somente os insensíveis ou responsáveis pelas tristezas dos outros para não entristecerem perante os fatos novos, ou já envelhecidos debaixo de tapetes ou atrás de cortinas. E não há lugar para pensar, senão apenas confirmar, os nomes envolvidos em corrupção, em desvios de verbas públicas, em enriquecimentos ilícitos, em todos os tipos de falcatruas contra as verbas públicas.
Penso, logo entristeço. Gostaria de estar sorrindo pelas calçadas, nos bancos das praças, pelos caminhos e mais além. Mas como sorrir se roubaram os sorrisos, se furtaram as felicidades, se levaram a paz à mão armada? Como mostrar uma cara alegre se o olhar defronta a aberração, se o coração amarga a dor das crueldades em cada canto e cada esquina?
Penso, logo entristeço. E creio não haver mais lugar onde pessoas não estejam entristecidas. Em toda palavra o descontentamento com os salários atrasando cada vez mais. Em toda voz a angústia com o preço alto demais da sobrevivência. Em todo sussurro a aflição pela desesperança por dias melhores, vez que os abismos se aproximam cada vez mais e absolutamente nada permite pensar num amanhã que seja enfim prazeroso.
Penso, logo entristeço. Ligar o rádio, a televisão, o computador, o smartphone, ouvir o outro, ler o jornal? Qual o prazer na música de sucesso atual, qual o contentamento ante o noticiário na televisão, no computador, no jornal? Melhor o entristecimento pelo já conhecido a se entristecer mais ainda com a novidade que chega. Dor sobre dor, melhor o entorpecimento de vez.
Penso, logo entristeço. As pessoas não sabem mais o que querem, não conseguem mais ser coerentes consigo mesmas. Passam a rejeitar o que conseguem pelo simples desejo de a tudo negar. Luta-se pela saída de uma governante e passa a bradar pela saída do outro. E assim será com todo aquele que chegue ao poder. Quer dizer, nada possui serventia.
Penso, e se mais uma vez entristeço, então penso logo em desistir. Não. Não desisto. O ser humano deve carregar consigo o compromisso das transformações. Ainda que agindo sozinho, carregando pedras sobre espinhos, jamais poderá desistir de seus sonhos.
E penso que perante a situação, sobreviver para sonhar com um amanhã melhor já será de grande valia. Pois também penso que um dia voltarei a sorrir.

Escritor
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JOÃO NA PISADA DO CANGAÇO O ATAQUE DE LAMPIÃO AO CORONEL PETRONILO REIS

por João de Sousa Lima
Quando em 1928 Lampião cruzou o Rio São Francisco saindo de Pernambuco pra Bahia, um dos primeiros contatos foi com o coronel Petronilo de Alcântara Reis, "Petro". Era o chefe político de Santo Antônio da Glória, cidade hoje submersa pelas barragens do Rio São Francisco.

Vários livros contam que a amizade de Lampião com o coronel foi desfeita por que o coronel traiu Lampião, teriam os dois uma sociedade em terras e animais.

Quando houve a batalha que morreu Ezequiel, irmão mais novo de Lampião, fato acontecido na Baixa do Boi, em Paulo Afonso, Lampião encontrou em um dos bolsos de um policial morto no combate, um bilhete do coronel endereçado ao comandante da volante e o bilhete falava dos esconderijos dos cangaceiros. Lampião arquitetou sua vingança incendiando em torno de 18 fazendas do coronel. Começando de Glória, cruzando o Raso da Catarina, Lampião tocava fogo e matava os animais.
  
 Neste mesmo local ficava um curral queimado pelos cangaceiros.

Dessas fazendas a única que permanece de pé é a fazenda Paus Pretos. Antes Paus pretos pertencia a cidade de Curaçá e hoje pertence a Chorrochó. Em Paus Pretos ainda resta os tornos de madeira com marcas escuras do fogo.

 Dois tornos com marcas do fogo

A fazenda é administrada por Paulo Reis, neto do coronel. Nas cheias forma-se um açude com sete quilômetros de extensão, no momento o açude encontra-se seco. Na casa sede da fazenda Lampião prendeu o vaqueiro Agostinho e o fez entrar dentro do curral e pegar na mão um cavalo e o vaqueiro conseguiu depois de muito trabalho.
Sede da fazenda Paus Pretos

João de Sousa e Paulo Reis, neto do coronel Petro.

 Nesse açude os cangaceiros mataram vários animais.

Os cangaceiros tiraram madeiras do curral e tocaram fogo na casa, quando o fogo começou a tomar os compartimentos da residência um papagaio começou a gritar: Olhe o fogo Maria. Maria, Maria, olhe o fogo. Lampião mandou um cangaceiro entrar na casa, atravessar o fogo e salvar o papagaio. O curral foi todo queimado e os animais mortos.

O local onde Lampião assistiu a primeira missa na Bahia.        

Em 1928 quando Lampião atravessou pro estado da Bahia a região que fica dentro do Raso da Catarina foi muito explorada pelos cangaceiros. a primeira missa que os cangaceiros assistiram no estado baiano foi ministrada pelo  Monsenhor Emílio de Moura Ferreira Santos. o padre era o pároco de Santo Antônio da Glória, a antiga Curral  dos Bois.
 Escombros da casa de Júlia de Subaco

O povoado São José, em Chorrochó foi uma das localidades que os cangaceiros também assistiram missa. Mais a primeira que foi celebrada pelo Monsenhor Emílio aconteceu entre a fazenda Paus Pretos, que pertencia ao coronel Petro e a roça Baixa do Boi. A missa foi na casa Júlia de 'Subaco', na fazenda poço Comprido.

Pescado no Blog do primo João 

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Cel.%20Petronilo%20de%20Alc%C3%A2ntara%20Reis

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O CANTOR JOÃO MOSSORÓ FARÁ SHOW AMANHÃ (SÁBADO DIA 06 DE OUTUBRO DE 2018, NO RIO DE JANEIRO.


O cantor João Mossoró fará show amanhã (sábado dia 06 de outubro de 2018, no Rio de Janeiro, no bairro Benfica, no"Mercadão Cadeg".
Uma festa portuguesa, no "Cantinho das Concertinas".
 

Será uma festa bastante animada quando o artista cantará as mais lindas canções. 
Você que mora no Rio de Janeiro prestigie o artista, participando do seu show. 
Para quem não sabe João Mossoró é um dos fundadores do Trio Mossoró, que fez muito sucesso nas décadas passadas, mas lembrando ao leitor que o Trio Mossoró está apenas adormecido. Vez por outra, os irmãos Carlos André, Hermelinda Lopes e João Mossoró fazem shows por este Brasil afora como sendo  "Trio Mossoró".

https://www.youtube.com/watch?v=Hxu76ddt9Yg
Clique neste link e ouça uma bela música interpretada pelo João Mossoró

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ENCONTREI NO ADELEIRO FITA COMPLETA DO FILME DE LAMPIÃO FEITO POR BENJAMIN ABRAÃO BOTTO EM 1936/1937.

Por José Mendes Pereira

Sou serralheiro e serralheiro precisa de muitas peças metálicas que poderão ser aproveitadas. Ao amanhecer do dia, pela manhã, bem cedinho, do quintal da minha oficina um sujeito me chama, dizendo-me que tem ferragens para vender. Saí para atender. Era um senhor moreno, baixo, meio tísico, barba e bigode ralos, sujo, sentado quase em cima de um dos cabeçotes da sua carroça, e sobre o lastro dela, uma porção de peças metálicas para reciclagem, e mais outras coisas que não eram metálicas e nem me interessavam.

De cima da carroça o ainda não tão velho homem me diz que tinha uma porção de coisas que eu poderia gostar de uma, duas ou mais peças, algo que com certeza, se eu as compasse, serviriam para aproveitar na serralheria.

Vou até a carroça para verificar o que o velho barbudo levava de tão importante para a minha oficina. Revirando os ferros velhos vi que o velho não estava tentando me enganar, algumas peças eu as aproveitaria para minhas idéias no meio ofício de serralheiro. Entramos em negócio. O velho me diz o preço das peças que eu as separei. Um valor mínimo, porque ferro velho só quem ganha mesmo é o comprador que tem sucata. Cada peça quando entra na sua sucata vira ouro, e ouro de primeira linhagem, ouro do maior Quilate, de valor altíssimo e bom para ele vender.

Preço confirmado passo-lhe o valor em cédulas. O velho inicia carregando para dentro da minha oficina o que eu tinha comprado. Não foram muitos, mas as poucas peças metálicas que as paguei, iriam me garantir um bom lucro. Todas aproveitáveis.

O velho estava transportando a minha mercadoria para dentro da oficina e enquanto ele fazia este trabalho eu resolvo mexer mais um pouco nas peças velhas do velho. E lá em baixo vejo uma lata bastante enferrujada que antes servia para guardar filmes antigos de faroestes. Vi mais outra, mais outra..., e aos poucos, vou retirando uma por uma, e vi que ali eram 4 latas que guardavam filmes antigos mesmo, talvez 30, 40, 50 anos passados ou mais.

Eu não tive interesse de saber qual película de filme estaria ali dentro, mas tinha rolos de fitas cinematográficas. Temendo que o velho desistisse da venda daquelas latas já fui logo pagando-lhe uma boa grana. O velho embolsou o dinheiro e foi embora. Levo as latas redondas para dentro da oficina e tentei abrir uma das delas. Vi fitas de filmes já meio estragadas as partes laterias do possível longa-metragem.

Ao meio dia vou para casa fazer almoço. E antes do amoço, faço projetores manuais, do tipo dos antigos que nós alunos fazíamos quando residíamos na instituição de menores. Com uma lâmpada incandescente furada na parte que enrosca ao suporte, enchi com água para formar grau. Levei ao projetor improvisado e comecei rodar o filme manualmente. E lá, estava muitas partes do filme que o Benjamin Abraão fez com Lampião e seus comandados entre 1936 e 1937.


Não tive mais dúvida. O filme estava completo. Vi cangaceiros correndo atrás de reses para levá-las ao abate no meio da caatinga, carregando água para o coito em jarras de barro, treinando para os combates, e vi cangaceiros sentados com a tristeza estampada nos seus rostos por terem escolhido aquela vida de inferno. 

Vi Benjamin Abraão bebendo água em um cantil, e o vi conversando com Lampião. Vi Maria Bonita manuseando uma máquina de costura, mas não deu para ver o que ela costurava, e a vi servindo água para Lampião, Benjamin e Luiz Pedro. Vi Maria Bonita se preparando para brilhar dentro daquelas matas que escondiam as maldades dos cangaceiros. 


Vi Lampião rezando o ofício do dia para os cangaceiros e vi Lampião almoçando, fazendo raposa e levando para a boca com a mão sem usar colher. Vi Moreno e Durvinha dançando o baile perfumado. 

Durvinha e Moreno

Vi Luiz Pedro e Nenê do Ouro se abraçando. Vi Dadá dando bronca no jovem cangaceiro Corisco. Vi Inacinha e Gato de mãos dadas. Vi o cangaceiro Pancada discutindo com a sua Maria, porque ela arrastava uma das suas asas para um cangaceiro jovem. Vi o pássaro humano Juriti ao lado do seu comandado com jeito de segurança. 

Coiteiro, Juriti e Lampião

Vi Lampião pagando propina a um coiteiro. Vi Maria Bonita moldando uma calcinha sua para depois costurá-la. Vi Cristina traindo o seu companheiro Português com o cangaceiro Gitirana, mas não vi a Lili e nem a Lídia que traíra o seu companheiro Zé Baiano com o cangaceiro Bem-Te-Vi.

Colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Depois de tudo isso fui até ao computador para informar a todos os escritores, pesquisadores estudiosos do cangaço e curiosos, que finalmente, eu havia encontrado uma película do filme de Lampião feito pelo sírio-libanês Benjamin Abraão Botto... 

E depois de alguns minutos que se passara, vi que tudo não passava da minha mente que estava delirando, porque eu havia tomado uma porção de vodka na noite anterior, me deixando totalmente embriagado e sonolento. Era apenas ressaca que me fazia ver o firme de Lampião, pelo menos misturado no meio da sonolência.

Mas ainda há de aparecer película de filme do famoso Lampião gravado pelo Benjamin Abraão Botto. Todos têm o direitos de sonhar talvez o possível.

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LAMPIÃO, JUSTIÇA ABANDONADA POR FALTA DE JUSTIÇA


Manuel Neto, certa vez, foi encontrado por Gérson Maranhão perambulando pelos areais do Moxotó, acompanhado apenas de três homens armados.

Você não tem medo de andar assim com tão pouca gente? Perguntou-lhe Gérson.

Não respondeu ele. Nada tenho a perder na vida. Não quero mesmo viver. Só quero é morrer e o mesmo pensam os três que me acompanham. Ninguém de nós quer viver, mas só morrer.

O mesmo dizia o sargento Moisés, do povoado Bezerros, então pertencente ao município de Salgueiro (hoje Verdejante). Tornou-se ele, por questão de vingança, grande perseguidor de Lampião: "Meu desejo não é viver, mas morrer" dizia ele.

Também o sargento Lero (Aureliano de Sousa Nogueira), de Nazaré e perseguidor de Lampião: "Os nazarenos não tinham outro jeito, ou se acabar nas unhas de Lampião ou se acabar brigando com Lampião."

O que Lampião fez para esses valentes policiais lhe devotarem tanto ódio e perseguição? E por que reservei o nome desse artigo como "Justiça abandonada por falta de justiça"? se todos nós sabemos que Lampião era um facínora covarde e fez muita miséria por onde passava nos sertões nordestinos? Existiu algum momento dele ter uma vida social de honestidade e exemplo de cidadão pacato e cumpridor das leis?

Para seus cabras Lampião era um ídolo. Tinha a força de um mito. Para isso contribuía sua conquistadora personalidade, excepcional inteligência, espirito de liderança irresistível, genialidade guerrilheira, profundo misticismo religioso e outros carismas notáveis. Além disso o modo como dirigia o grupo: rigorosa moral, exemplo de honestidade, espírito de justiça, energia de autoridade, alegria e fraternidade. Dai por que nunca faltaram cabras que o seguisse e verdadeiras feras humanas, sendo de todos eles senhor absoluto, da vida e da morte. E para se explicar por que ele dominava dessa forma podemos ver algumas de suas decisões:

por motivo de traição, matou Mourão...

por razão de falta de respeito moral, matou Cacheado, matou Sabiá...

Quando viu que não havia mais jeito de cura, matou outro Sabiá, o cabra que tinha sido baleado no combate de Mata Grande, e que vinha sendo conduzido numa rede, por léguas e mais léguas, por vários dias na direção do Navio.

Lampião condoía-se da pobreza. Segundo se conta, quando era almocreve, fazia questão de não deixar passar, sem sua ajuda, um esmoler ou necessitado.

No cangaço exercia a prática de enfermeiro, dentista (extrações à ponta da faca!) e parteiro.

Por toda parte favorecia os pobres, quer como produto dos saques, quer com dinheiro.

Tanto assim que os cantadores nas feiras,  o exaltavam pela justiça que exercia com equidade.

Mas o mundo inteiro ficaria abismado diante de suas legendárias gestas dilacerantes, hora agindo com loucura vingativa, hora com pendores de honestidade e bondade, se bem que essa última afirmativa fosse infinitivamente inferior em quantidade de atos em relação à primeira. Mas sabemos que os cantadores de feira focavam mais suas estórias nos predicados de homem revoltado pelas injustiças a ele acometidas e seus feitos mitológicos e quixotescos. Se bem que entrava também o medo de falar mal do cangaceiro. Sabe lá se teriam um encontro com ele nas estradas e caminhos?

Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, celebraria em famosa poesia, para agregar mais ainda a construção de um mito, suas palavras de protesto em forma de endechas, sua grande decisão de viver do outro lado da lei. E isso era bastante compreensível pelo sertanejo pobre, que constantemente era empurrado para o paredão das injustiças que eram submetidos naquele caldeirão cultural onde o direito pendia para os afortunados:

"Por minha infelicidade
Entrei nesta triste vida
Não gosto nem de contar
A minha história sentida
A desgraça enche o meu rosto
Em minha alma entra o desgosto
Meu peito é uma ferida.

Aí peguei nas armas
Para a vida defender
Perseguido, aperriado,
Vi que era feio correr,
Vi a desgraça no meu rosto
Então senti-me disposto
Matar para não morrer".'

Foi um alvoroço geral quando os cantores cordelistas levaram essas palavras de Virgolino Ferreira, entoadas num choro sentido, pela escolha que o ídolo fizera, praticamente por imposição de uma casta dominante, que não aceitara por inveja, esse rapazinho de inteligência fora do comum e que sobressaía-se nos eventos sociais, onde as mocinhas o olhavam admiradas por sua postura de corpo e inteligência. Era poeta, músico, ótimo como domador de cavalos, bom vaqueiro, excelente artífice do couro, bom negociante, excelente almocreve, fino e educado, religioso e respeitador. Essa era a imagem lembrada por todos que o conheciam.

Sim amigos, os cantadores de feira eram os portadores das palavras do povo que em reconhecimento proclamavam Lampião com o epíteto de "Santo":

"O Santo Lampião,
Era um homem bem devoto
Só andava pelo voto
Do Padre Cirço Romão
O Santo Lampião
Era um home bem querido
Ele era protegido
Do Padre Cirço Romão
Quando o pai dele foi morto
Depois é que não sabia
O Santo disse um dia
Precisamos nos vingá.
Lampião é inteligente
Que o povo bem já se vê
o Santo adivinhou
Até o dia de morrê."

Sim amigos, esse era o mundo injustiçado e abandonado em que viviam os deserdados em sua pobreza infinita, onde os meninos e meninas acordavam com olhos remelentos e pregados, como se fosse providência divina para não enxergarem a pobreza em que viviam, onde até mesmo a água para desgrudarem as pálpebras era difícil.

Era o mundo pesado caindo nas costas daquele povo sofrido e injustiçado, onde para fazer justiça, a força das armas eram o revide para ofensas de toda sorte; injúrias, traições, pagamento de dividas e de salários, etc., eram resolvidos pela força e o crime de homicídio era avaliado naquele sertão de "deus dará" pela balança dos malfeitos cometidos. Era a justiça do povo.

Num mundo abandonado como aquele do sertão, absolutamente carente de justiça, Lampião iria aparecer, como um enviado quase hierático, reconhecido e consagrado pelo povo, para fazer justiça: ofensas de donzelas, resoluções de casamento, pagamento de dividas e de salários, etc, eram resolvidos por Lampião por onde  passava e que fazia questão de ser sempre justa, pois era

definitiva, aceita por todos sem discussão.  Conta-se que até mesmo crimes de homicídio anteriormente tão freqüentes, rarearam, porque Lampião seria chamado como juiz. Os rapazes pensavam duas vezes em mexer com uma moça donzela.

Um fato para ilustrar, colhido nos carrascais secos de Custódia, pelo padre Frederico Bezerra Maciel, conterrâneo de Lampião, onde este assunto surgira espontâneo e forte, pois ainda menino, fixou-se, não porém, como obsessão ou mesmo preocupação, mas como estudo pois era admirável e lhe despertara perguntas - "Quem é este homem para ser tão perseguido?” Perguntas como essa voejavam de sua mente e se misturavam ao apito nervoso dos trens que via, bufantes, fumacentos e poeirentos, transportando tropas volantes, ao toque estridente de cornetas,“ em demanda do sertão” o campo de batalha da Guerra de Lampião, onde recolhi dados para esse artigo; sua sextologia LAMPIÃO,  SEU TEMPO E SEU REINADO:

Seu Capitão e meu Padim, vim aquí pru mode tão dizendo que foi eu que buli com a moça, mas não foi eu não.

Me diga, zé Júlio, fale a verdade, você é meu afilhado. Só dou proteção dentro do direito e da justiça.

Juro meu Padim e Capitão, a moça já tava bulida.

Lampião depois de se inteirar rigorosamente, através de testemunhas, do caso e da inculpabilidade do afilhado, pune por ele, sentenciando peremptoriamente ao pai:

Trate de casar sua filha com outro. E não toque em Zé Júlilo, que não deve nada à honra dela.

E José Tiago da Silva, vulgo Zé Júlio, livrou-se de um casamento forçado à ponta de faca. Mais tarde, mudou-se ele para Belo Jardim onde se casou com D. Coleta Cirino. Matutão jeitoso e bom, tornou-se industrial de laticínios e fazendeiro, além de gostar de politica, chegando a ser prefeito municipal.

Lamplão tornou-se nome internacional e manchete obrigatória nos maiores jornais do mundo, "New York Times"; "Paris Match" e em Buenos Aires o "La Nación"

Não admira que a Enciclopéia Britânica, na sua edição brasileira BARSA, Ihe tenha dedicado verbete especial e na internet, pesquisa do portal Google, com milhares e milhares de páginas sobre ele, onde numa barafunda de histórias e estórias contam e inventam casos dele.

O poeta popular João Martins de Ataide, no folheto de sua autoria "Os projetos de Lampião", põe na boca de Lampião a seguinte sextilha:

"Muita gente no Brasil
Tem grande ódio de mim,
Outros julgam que eu nasci,
Somente para ser ruim,
Alguém está enganado,
Eu vivo nisto obrigado,
Mas nunca fui mau assim".

Então meus amigos, cheguei a conclusão que ninguém nasce ruim. Lampião foi levado àquela vida por fatos poderosos que talvez possa até ter tido inversão se tivesse sido assistido pela justiça dos homens. Mas, sabemos que esta é falha pois como diz, é a justiça dos homens! Agregado a isso, tem a questão do ego humano, o orgulho exacerbado das partes contribuindo para o crescimento da raiva e da dor. Além disso tem o mal uso das autoridades, de um poder que achavam ser ilimitado. E quem poderia ser contra? 

Vemos assim que até certa época da vida de Virgolino Ferreira, podemos dizer que era a de um rapaz comum, com seus almejos normais, dentro dos limites impostos a todos, pela imposição de uma sociedade imaginada, onde prevalecesse as regras independente do dinheiro e poder. Mas nunca foi igualitária, até os dias de hoje, mas houve melhorias. Mas isso não absolve Lampião. Poderá até absolver Virgolino. Mas nunca poderá absolver Lampião, pois sua conduta mesmo enaltecida em eventos humanísticos que são poucos, abate-se sobre ele a mão pesada da Justiça por sua vida de crimes e violência.

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