Por: Rangel Alves da Costa*
O QUE ESTARÁ PENSANDO “O PENSADOR”?
De vez em quando coloco os olhos diante da imagem da escultura “O Pensador”, de Rodin, e fico imaginando, pensando igualmente ao homem esculpido, o que ele estaria refletindo com aspecto tão circunspecto, entristecido, voltado para a sua imaginação mais íntima.
Segundo relatam as enciclopédias, a mais famosa das esculturas em bronze do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), propõe-se a retratar um homem em profunda e aflitiva meditação, buscando respostas internas para instigantes indagações.
Afirmam que ali estaria esculpido o poeta Dante Alighieri imaginando cenas que retrataria na “Divina Comédia”. Essa feição profunda do poeta, o cunho reflexivo que impõe, traduz características de uma arte claramente impressionista. Ora, nitidamente Rodin despreza a significação externa para nortear o significado espiritual com sua arte.
Se estiver certa a inspiração em Dante, então mais instigante ainda será o pensamento que povoa o pensador, eis que na sua obra o poeta descreve a dor do encontro do homem com seus próprios erros, com seus desacertos, pecados, males da vida que não podem mais ser reparados. Na “Divina Comédia”, Dante retrata o homem encontrando o seu lado mais obscuro, diante que está da prestação de contas por tudo o que fez.
Seja inspirado ou não em Dante, verdade é que Rodin acaba retratando o homem geral, o homem comum, o homem cotidiano. O homem-eu, qualquer um. E quantas reflexões dolorosas nesse homem, quantas dúvidas, medos e sofrimentos. E neste sentido um aspecto pessimista na obra rodiana, vez que a caracterização que impõe rebaixa o ser à escravidão do seu pensamento.
Mas o que realmente procura mostrar “O Pensador”? Não seria o próprio artista se refletindo em forma de arte. Será que dor, angústia, uma aflição do seu tempo? Ou seria um entristecimento causado por uma separação, um adeus de pessoa amada, uma dolorosa recordação, uma saudade angustiante? Motivos certamente não faltariam, e disto sabe-se pela força expressiva com que é representada.
O homem esculpido em 800 quilos de bronze, medindo 1,90 metros de altura, poderia também estar pensando simplesmente na vida, na sua existência, ponderando filosoficamente sobre a realidade do mundo e suas contradições. Mas também poderia ser em algo bem diferente. Então, no que estaria pensando “O Pensador”?
Representado sentado com o cotovelo direito sobre a perna, numa postura de encurvamento, esculpido num pedestal de meia altura, está desnudo e expressando características físicas musculosas, possui cabelos baixos, o rosto com ar de seriedade e preocupação, um pouco comprimido por causa do dorso da mão direita onde se apoia a parte entre o queixo e a boca. O outro braço desce sobre o corpo e a mão repousa sobre o joelho esquerdo, tendo os dedos que se estendem soltos.
Na sua linha de visão, se os olhos estivessem abertos, poderia encontrar o chão adiante, alguma coisa na areia, uma pedra talvez, ou nada. E ainda que muitas coisas estivessem ali à frente, certamente que nenhuma importância teria diante do olhar íntimo a que se impõe o homem com o seu pensamento.
Contudo, se impõe agora que deixe a escultura original guardada lá no Museu Rodin, em Paris, e permita que uma réplica seja exposta e tendo o nosso corpo, a nossa mente, o nosso pensamento, como o próprio monumento artístico. Assim, não estando mais o escultor comandando o pensamento de cada ser, o que essa escultura viva em cada um tende a representar?
Realmente não sei. Tenho andado muito sozinho e entristecido por muitas coisas, e por isso mesmo evitando parar para pensar sobre essa situação. Mas basta a ideia de sentar, colocar a mão na cabeça, refletir sobre o meu mundo, e já me sinto dolorosamente angustiado. Melhor seria sentar sem compromisso de pensar em nada.
Talvez sentar e ficar pensando assim feito estátua. Seria possível?
Poeta e cronista
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