Por Junior
Almeida
Sobre o maior
cangaceiro de todos os tempos, alguns conceitos são bem variados. A maioria
acha que Lampião foi bandido, outros, no entanto afirmam que Virgulino foi um
herói. Lampião foi herói e foi bandido, dependendo o lado da história em que se
estava. Perguntaram certa vez ao coronel Audálio Tenório, de Águas Belas,
Pernambuco, amigo e coiteiro do cangaceiro, como ele definia Lampião. O
potentado respondeu sem pestanejar, demonstrando toda a sua admiração pelo Rei
do Cangaço. Disse ele:
-Lampião era
um homem extraordinário, um homem de uma [grande] resistência, dos nervos de aço. Um monstro, uma fortaleza, homem de uma delicadeza sem igual com os companheiros.
Ainda da
região Agreste de Pernambuco, coronel Zezé Abílio, de Bom Conselho, também era
amigo de Virgulino, portanto para ele o cangaceiro teria sido um herói. Em
alguns casos, para alguns Lampião foi herói e depois bandido, em curto período
de tempo. Foi o caso dos coronéis Petro, da Bahia, Zé Pereira, de Princesa
Izabel, na Paraíba, além de Izaías Arruda no Cariri cearense.
Esses eram
amigos do cangaceiro, e o tinham como herói, afinal lucravam com essa amizade,
mas tendo rompido com Lampião, e só depois disso, Virgulino passou então a ser
para eles um perigoso bandido. O coronel do Ceará, por sinal, pagou com a vida
o “desentendimento” com Lampião, seu ex-amigo e seu ex-herói. Zé Pereira e
Petro escaparam da ira do cangaceiro, mas tiveram inúmeros prejuízos por conta
da rixa com Lampião.
Ao contrário
dos admiradores de Lampião, existiram os que não só o tinham como bandido
cruel, como destemidamente o combatia. É o caso dos nazarenos. Qualquer pessoa
de Nazaré do Pico, distrito de Floresta, Pernambuco, dos antigos que se
empenharam na luta ao banditismo, ou mesmo seus descendentes e moradores atuais,
dificilmente alguém tenha dito que Lampião foi um herói.
*Foto da capa do livro "Lampião, seu Tempo e Seu Reinado, de Frederico Bezerra Maciel.
Padre
Frederico Bezerra Maciel, glamourizou muitos dos atos do cangaceiro, muitas
vezes com relatos de ações que ninguém ouviu falar e até mesmo de sicários que
nunca existiram. Padre Frederico através de suas palavras transformou, para
muitos, Lampião em herói.
Já disseram
também que Lampião teria sido uma espécie de Hobin Hood, aquele lendário
personagem inglês que roubava dos ricos para dar aos pobres, quando na verdade,
quem tem alguma noção do que foi o cangaço, sabe que era justamente ao
contrário. Herói, bandido, e até como revolucionário já descreveram Lampião, só
faltando, porém, descrever a causa da sua revolução, mas a descrição mais
curiosa que fizeram de Virgulino Ferreira da Silva foi de que ele era
comunista. Isso mesmo. Comunista, daqueles sempre associados a anti-cristos,
invasores de terras e até comedores de criancinhas.
Frederico
Pernambucano de Mello, citando o jornal Gazeta de Notícias de 26 de agosto de
1936, nos conta em seu “Estrelas de Couro a Estética do Cangaço”, que “o
secretário do Interior e Justiça do Ceará, Martins Rodrigues, membro da
poderosa Liga Eleitoral Católica, a LEC, movimento direitista simpático ao
governo, em visita à cidade de Juazeiro do Norte no mês de agosto de 1936, em
discurso às lideranças locais, disse com ares de mistério que tinha consultado
‘certos documentos’ no Rio de Janeiro, que lhe permitiam sustentar que os
dirigentes do extremismo vermelho não tinham escrúpulos de lançar mão de todos
expedientes e elementos, até mesmo de cangaceiros como Lampião, para serviço de
seus sinistros planos.”
Como podemos
perceber nas declarações à imprensa do ilustre secretário, para ele Lampião era
um comunista a serviço da esquerda brasileira e, portanto os católicos da
direita, inimigos naturais dos comunistas, deveriam se precaver contra o avanço
da dita “praga”.
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