Por Geraldo Maia do Nascimento
Disse o
Senhor: “Escreve, pois o que viste...” Apocalipse, 1,19). E o mestre, seguindo
as recomendações bíblicas, tornou-se escritor e escreveu sobre sua terra e sua
gente. Nada escapou aos olhos investigativos do mestre Nonato. Rafael Negreiro
descrevia-o como “infatigável pesquisador da coisa pública, pesquisador de
hábitos, costumes, ritos, andante habitual de ruas, vielas, becos, avenidas,
alamedas e jardins”.
Escritor Raimundo Nonato da Silva
Raimundo
Nonato da Silva nasceu em Martins/RN, em 18 de agosto de 1907, num dia de
segunda-feira, sendo filho do casal lavrador João Cardoso da Silva e Ana de
Lima e Silva. Desde muito cedo começou a trabalhar com os pais na lida do
campo. Segundo seu depoimento: “A bem dizer, não cheguei a ter infância, nem
conheci a mocidade, pois mal abri os olhos para o mundo, fui logo atirado aos
rudes afazeres do campo, no trato da terra, na vida solta, no meio agreste de
uma natureza madrasta; a fome rodava por perto, era raro o dia em que o fogo
via a panela”.
Em
1919, aos 12 anos de idade, era tangido pela grande seca que assolava a região,
descendo a amada Serra do Martins, percorrendo o mesmo caminho de Lampião, até
chegar em Mossoró. A “cidade grande” o deslumbra, mas não tem tempo para
brincadeiras. Inicia sua vida como engraxate, ocupando também outros
subempregos como varredor de hotel, carregador de cadeiras ou qualquer outra
ocupação que lhe rendesse algum dinheiro. Não sabia ler; e foi com muita
dificuldade que iniciou os estudos das primeiras letras e noções gramaticais,
indispensáveis às necessidades educacionais. Com a ajuda de Raimundo Reginaldo
da Rocha ingressou na Escola Normal de Mossoró de onde saiu professor primário
na sua segunda turma em 1925, já com dezoito anos de idade. Ingressou no
magistério público como professor e diretor de Grupos Escolares em São Miguel,
Serra Negra, Apodi e Natal, onde serviu adido à Secretaria de Educação do
Estado.
Sua
atuação, quando fixando residência em Mossoró, foi das mais proveitosas nos
círculos educacionais, intelectuais e jornalísticos. Exerceu magistério
secundário na Escola Normal, Colégio Diocesano Santa Luzia, no Sagrado Coração
de Maria e na Escola Técnica de Comércio “União Caixeiral”. Foi colaborador da
imprensa local, ora escrevendo artigos, comentários, ora versejando com sua
revelação poética que somente mais tarde seria descoberta.
Formado
em Direito pela Faculdade de Alagoas, ingressou no Ministério Público, sendo
nomeado Juiz de Direito da Comarca de Apodi, em cuja função se aposentou. Em
1962 foi morar no Rio de Janeiro, mas nunca esqueceu a sua terra adotiva.
Sempre que podia, voltava a Mossoró para encontrar os amigos e rever a cidade,
principalmente nas festas de 30 de setembro, que é a maior festa cívica de
Mossoró. Além de professor, magistrado e jornalista, tornou-se cronista,
historiador, escritor e poeta, possuindo uma bagagem literária que o fez um dos
grandes da literatura potiguar.
Quando
questionado de como tinha se tornado escritor, respondeu:
“–
Desde o tempo de estudante que eu freqüentava umas pequenas tipografias. Eu
vivia lá por dentro e rascunhava umas cronicazinhas e depois uns jornalzinhos
de festas, levando pancada e bengalada, porque a gente bolia com os namoros,
depois dentro do próprio Mossoroense com outro jornalzinho, depois dentro do
Correio do Povo, com jornal mais sério, “O Correio Festivo”, com o Américo de
Oliveira Costa, onde nós fomos ameaçados de umas pauladas, por termos bolido
com o namoro de alguém e o Américo foi procurar o Juiz para garantir. De forma
que vem desse tempo o começo. O livro, cronicazinha, livro mesmo sério, eu
publiquei o meu. Sério é a forma de dizer quando publiquei o “Quarteirão da
Fome”.
Raimundo
Nonato era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte,
da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Federação das Academias de Letras do
Brasil, Instituto Genealógico Brasileiro de São Paulo, Associação Brasileira de
Escritores, Sindicado dos Advogados do Brasil, Ordem dos Advogados do Brasil no
Rio de Janeiro, Associação dos Professores do Rio Grande do Norte, Associação
Brasileira de Imprensa, Sindicado dos Jornalistas Liberais da Guanabara,
Sociedade Brasileira de Folclore de Natal e Instituto Cultural do Oeste Potiguar
de Mossoró. Deixou mais de oitenta livros publicados de fundo literário,
histórico e biográfico.
Morreu
no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1993, quatro dias após seu aniversário de
86 anos de idade. Num artigo publicado em 30 de setembro daquele ano,
intitulado “Bilhete a Nonato”, o historiador Raimundo Soares de Brito se
despede do amigo dizendo: “Enquanto houver um 30 de setembro, você estará aqui
conosco marcando presença em espírito na memória dos seus amigos que são
inumeráveis. Ficará para sempre porque você deixou o seu nome indelevelmente
gravado nas pedras das ruas de Mossoró. Nas pedras e nos corações dos
habitantes dessa Mossoró que você tanto amou. Boa viagem, meu velho companheiro
e até o próximo “trintão”, se Deus quiser...”
Geraldo Maia do Nascimento
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