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sábado, 18 de maio de 2019

80 ANOS ANGICO - PARTE 1

Por Aderbal Nogueira

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CANGAÇOLOGIA - APRESENTAÇÃO


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ANIVERSÁRIO DE EMANUELY BÊNÇÃO PARA FAMILIARES É AMIGOS.



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PARTIDA DE MARIA HELENA, DONA NONON...


Por Manoel Severo

A Vida além de ser a Arte do Encontro é também um eterno Momento de Celebração. Ontem minha querida mãe, dormindo docemente partiu para mais uma maravilhosa Missão. Um grande presente Divino. Deus Pai no alto de sua Misericórdia nos acolhe cheio de amor.

VELORIO: Paz Eterna, rua Julio Siqueira, 854 Dionisio Torres
MISSA Matriz de Maranguape as 15horas
SEPULTAMENTO: Cemiterio de Maranguape às 16:30 Horas.


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SOB A PROTEÇÃO DO CEL. SANTANA ANTÔNIO SILVINO EM MISSÃO VELHA, CE

Por João Bosco André
"O governador do Sertão"

O afamado cangaceiro Paraibano, Antonio Silvino, esteve também por estas bandas de Missão Velha, sob a proteção do Cel. Antonio Joaquim de Santana, juntamente com alguns dos seus irmãos. Um dos irmãos de Silvino, de nome Pedro Silvino, mantinha uma casa de comércio na Cidade, isso entre os anos de 1902 para 1904 e tendo um dos irmãos do cangaceiro Paraibano, andado metendo os pés pelas mãos em Missão Velha, um belo dia do mês de abril, Antonio Silvino recebeu um recado do Cel. Santana, convocando-o até o seu Quartel General na Serra do Mato. Antonio Silvino, imediatamente selou um animal e se pôs à viagem, ali chegando, já se encontrava à mesa para o jantar o Cel. Santana, que o convidou para sentar-se e jantar, Silvino atendeu ao convite, se sentado para jantar, mais com o seu rifle nas pernas. Terminado o jantar o Cel. Santana, usando o seu linguajar roceiro, disse: 
“Sim senhor Antônio Silvino, mandei lhe chamar aqui, para lhe dizer que você não tem mais a minha proteção em missão velha”; “O lugar do seu rifle aqui na minha casa, era ali no canto daquela parede, hoje você jantou na minha mesa com o rifle nas pernas”. 

  
Cel. Santana

Imediatamente Antônio Silvino se levantou e convidado pelo cel. Santana, para tomar o café, Antônio Silvino respondeu-lhe: “na sua casa eu não tomo mais, nem água” e de rifle em punho e já engatilhado, saiu de costas até o alpendre onde se encontrava o seu animal amarrado e pulando de costas em cima do animal, cortou-lhe a corda que o amarrava na varanda do alpendre e desceu para missão velha, isso já tudo escuro, pois já era noite e chovia muito, só via a estrada quando o relâmpago abria. 

Chegando em Missão Velha, já noite velha, foi acordar os irmãos e ordenou-lhes que deveriam deixar Missão Velha, antes do dia amanhecer, pois temia um ataque do Cel. Santana. O seu irmão que era comerciante, foi acordar os seus vizinhos para vender as mercadorias existentes na sua bodega. Os colegas de comércio, sabendo que os Irmãos Silvinos, tinham que deixar Missão Velha às pressas, ficaram se amarrando para ficar com as mercadorias de graça, foi quando  Pedro Silvino, notando a matreirice dos seus colegas de comércio, começou a espalhar umas latas de gás dentro da sua mercearia e começou a furá-las a punhal. Perguntaram o que ele iria fazer, ao que ele respondeu-lhes: 
“- Vocês acerem o que é de vocês, porque eu vou queimar o que é meu”; “não vou deixar nada de graça prá ninguém”.
Neste instante, os comerciantes que eram seus vizinhos, resolveram a comprar as mercadorias de Pedro Silvino, más o que é certo que antes de amanhecer o dia seguinte, os irmãos Silvinos desocuparam Missão Velha e nunca mais voltaram aqui.

História que me foi contada pelo Sr. José Gonçalves de Lucena. O comércio de Pedro Silvino ficava localizado na Rua Cel. José Dantas, onde hoje funciona atualmente o Café de Dona Didi Fideles.


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ACADEMIA DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ASCRIM ASSOCIAÇÃO DOS ESCRITORES MOSSOROENSES-ASCRIM


ASCRIM/PRESIDENCIA – NOTA DE GRANDE PESAR PELA PARTIDA DA MÃE DO PADRE GUIMARÃES - OF. Nº 005/2019.

MOSSORÓ-RN, 17 de MAIO de 2019.

“RECEBES ESTE EXPEDIENTE PORQUE A ASCRIM O(A)VALORIZA E RESPEITA, PELO ALTO NÍVEL DE QUEM TEM O PRESTÍGIO DE SER ASSIM CONSIDERADO(A).” 

NOTA DE GRANDE PESAR PELA PARTIDA DA MÃE DO PADRE GUIMARÃES

O PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASCRIM, FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO, EM NOME DE TODO O CORPO SOCIAL, CONSTERNADO COM A “PARTIDA PARA O CÉU” DA DEVOTÍSSIMA SENHORA ANGELITA FERNANDES DA MOTA GUIMARÃES, MÃE DO ACADÊMICO MANOEL VIEIRA GUIMARÃES NETO, VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO FISCAL DA ASCRIM, ACONTECIDA HOJE,
PESAROSAMENTE,
TRANSMITE AO PADRE GUIMARAES, PROFUNDAS CONDOLÊNCIAS PELA DOLOROSA PASSAGEM, ROGANDO DEUS O CONFORTE E AOS SEUS FAMILIARES E AMIGOS NOS MOMENTOS DA SAUDADE, TRANSFORMANDO O SOFRIMENTO DA PERDA EM RESIGNATÁRIO DA PAZ, CONAÇÃO PARA RECORDAR A COSTUMEIRA ALEGRIA DO CONVÍVIO MATERNO EM FAMÍLIA.
SAUDAÇÕES ASCRIMIANAS
FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO
-PRESIDENTE DA ASCRIM-
P.S.: 1. CONSIDERANDO A ESSÊNCIA DA HUMANIDADE INTELECTUAL, INSERIDA NA REPRESENTATIVIDADE DE TODOS SEGMENTOS SOCIAIS ABAIXO RELACIONADOS, ENCAMINHA-SE ESTA CÓPIA ORIGINAL, EM CARÁTER PESSOAL DIRETO AOS INSIGNES DIGNITÁRIOS:

EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES, DIRIGENTES E AUTORIDADES DE ENTIDADES GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, MAÇONICAS E MILITARES.
REVERENDÍSSIMO(A)S PRESIDENTES, DIRIGENTES E AUTORIDADES DE ENTIDADES RELIGIOSAS.
MAGNÍFICOS REITORES E AUTORIDADES DE UNIVERSIDADES.
EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES DE ENTIDADES E INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS.
EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES DE ENTIDADES CULTURAIS E INSTITUIÇÕES CONGENERES.
EXCELENTÍSSIMO(A)S PRESIDENTES DE ENTIDADES EDUCACIONAIS E INSTITUIÇÕES CONGENERES.
ILUSTRÍSSIMO(A)S DIRIGENTES DE INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS, EDUCACIONAIS E DE CIDADANIA.
ILUSTRÍSSIMO(A)S JORNALISTAS E COMUNICADORES.
DIGNOS ACADÊMICO(A)S DE ENTIDADES CULTURAIS E INSTITUIÇÕES CONGENERES
DIGNOS ACADÊMICO(A)S DA ASCRIM.

DIGNOS POTENCIAIS CANDIDATO(A)S A ACADÊMICO(A)S DA ASCRIM.

Enviado pela ASCRIM 

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LAMPIAO NA SERRA GRANDE, 26-11-1926:


Por Virgulino Ferreira da Silva

Em março de 1926, Lampião recebeu do Batalhão Patriótico de Juazeiro do Norte, a patente de capitão. Mesmo considerando que a patente não era legítima, o cangaceiro se tornou mais fortalecido e mais violento, também. Nesse ano, ocorreu uma série de atentados na região do Pajeú, com diversas mortes e sequestros, episódios que culminaram com a famosa Batalha da Serra Grande, ocorrida em 26 de novembro de 1926, a cinco quilômetros do distrito de Varzinha município de Serra Talhada. Lampião tinha sequestrado Pedro Paulo Magalhães Dias, um inspetor da Standard Oil Company. O fato aconteceu na estrada de Triunfo para Vila Bela (atual Serra Talhada). Pedro Paulo era natural da cidade de Sabará, em Minas Gerais, e, por isso, ficou conhecido como Mineiro. Lampião pedia vinte contos de réis para libertá-lo, o dinheiro deveria ser entregue na Fazenda Varzinha, local indicado por Lampião.

Quando o bando chegou a Fazenda Varzinha, foi direto à residência de Silvino Liberalino, o qual tinha sido subdelegado de Vila Bela, no ano de 1911. Logo que viu a tropa, Silvino não percebeu que estava diante dos comandados de Lampião, pois, naquela época, as roupas dos cangaceiros eram iguais às da polícia. Então, saltou na calçada, com um rifle na mão, e fez a seguinte pergunta:

- É Lampião ou é Força?

O bando respondeu:

- É a Força Volante.

Silvino Liberalino se sentiu mais seguro e disse:

- Então podem entrar. Se fosse Lampião, ia comer bala.

Os cangaceiros entraram e pediram água para beber, quando Silvino colocou a mão no pote para retirar água, os cangaceiros o seguraram e se identificaram:

- Você está falando é com Lampião cabra.

E o prenderam, e para comemorar, deram alguns tiros em frente da residência, ainda hoje, existem algumas marcas de balas nas portas da casa. Os bandoleiros, que já vinham com o refém, Pedro Paulo Magalhães Dias (o Mineiro), levaram também, Silvino Liberalino, os dois presenciaram a Batalha na Serra Grande.

A intenção do bando de Lampião na Fazenda Varzinha, além de receber o resgate, era uma vingança por um antigo assassinato, ocorrido na Serra Negra, no município de Floresta, cometido por José de Esperidião, que se mudara para Varzinha.

O resgate foi levado por intermédio de Manuel Macário, homem da confiança de Cornélio Soares, no entanto, já na Fazenda Varzinha, o portador foi flagrado pela força policial do sargento Manuel Neto, que lhe aplicou severas torturas e recolheu o dinheiro.

O bando seguiu em direção à casa de José de Esperidião, cuja esposa, Rosa Cariri de Lima, ao ver de longe, a multidão, avisou o marido, alertando-o para que se retirasse. José de Esperidião perguntou:

- Quantas pessoas você acha que vêm?

Ela respondeu:

- Uns vintes homens.

Ele disse:

- Não corro com medo de vinte homens.

A mulher calculou muito mal, o quantitativo do bando era de aproximadamente, 68 cangaceiros.

José de Esperidião pegou seu rifle e dois bornais de balas e ficou entrincheirado no quarto. O tiroteio foi grande, de toda ribeira se ouvia o barulho das balas, após certo tempo de tiroteio, o bando resolveu colocar fogo na casa. Para tanto, retiraram toda madeira do curral, que ficava em frente da residência. Segundo o livro, o Canto do Acauã de Mariloudes Ferraz, na Varzinha o bando encurralou um rapaz que, sozinho, lutou até esgotar a munição.

Tiburtino Estevão ainda tentou socorrer o amigo. Pegou seu rifle e tentou se aproximar, mas foi visto por alguns cangaceiros, que passaram a atirar em sua direção. Uma bala atingiu uma galha de xique-xique, próximo da cabeça de Tiburtino. Vendo que nada podia fazer, o homem retornou à sua residência.

No dia seguinte, foram retirar o corpo de José de Esperidião para fazer o sepultamento, não encontraram marcas de balas no corpo dele, portanto, chegou-se à conclusão de que a morte fora por asfixia provocada pela fumaça.

José Pereira Lima, conhecido por Cazuza, filho da vítima, com apenas sete dias de nascido, encontrava-se deitado em uma rede na sala, no momento do tiroteio. Foi baleado, ficando com uma marca no pé pelo resto de sua vida. Geralmente, quando ia comprar sapatos, adquiria dois pares, um par 41 e outro par 42, pois o pé defeituoso ficara menor.

O bando seguiu viagem rumo às ribeiras do tamboril, chegando até o Sítio dos Nunes no município de Flores, de onde voltaram. Ao chegar ao Sítio Morada, hoje município de Calumbi, Lampião estava ciente que a policia estava no seu encalço, portanto, ali mesmo, abasteceu o bando e pegou o rumo da Serra Grande.

O sequestro de Pedro Paulo Magalhães Dias e os fatos acontecidos na Fazenda Varzinha foram interpretados como sendo um desrespeito às autoridades, por terem ocorridos na comarca de Vila Bela, na época, a sede do comando militar de combate ao cangaço no interior de Pernambuco. Portanto, foi preparado um destacamento com mais de 300 soldados, chefiados por seis comandantes de volantes, todos fortemente armados, inclusive com duas metralhadoras Hotchkiss, e muita munição, era um verdadeiro exército. Tudo inspirava confiança e dava a certeza da vitória.

Lampião estrategicamente com seus 68 cangaceiros, subiram a serra, e prepararam uma emboscada, em um local onde existem grandes pedras e fendas profundas, que lhe dava uma visão completa sobre o campo da batalha.

O combate teve início antes das 9 horas da manhã e terminou ao anoitecer, a polícia mesmo com um quantitativo superior, e os soldados atacando corajosamente, não conseguiram vencer a resistência do capitão Virgulino Ferreira e seus comandados.

A localização dos cangaceiros era ótima, conforme disseram os policias. Segundo o cangaceiro Ventania, no local que Lampião estava, nem canhão tirava ele de lá, no entanto, a posição dos soldados era extremamente precária, entrincheiravam-se como podia, sem comando, sem tática, salve-se como puder.

Arlindo Rocha recebeu um balaço no rosto que lhe fraturou o maxilar inferior, ainda no início do tiroteio, Manuel Neto foi baleado nas pernas, Luiz Careta de Triunfo faleceu com uma bala na cabeça, Euclides Flor recolocou ainda em combate as vísceras abdominais de Vicente Ferreira (Vicente Grande), atingido na altura do umbigo, o soldado Luiz José sofreu um ferimento na coxa. Para provocar os policiais, o cangaceiro Genésio deu um aboio triste e sonoro, os soldados se sentiram encurralados como gado, Antônio Ferreira não se conteve e se expôs totalmente, gritando como vaqueiro: Ei, booooi... Nesse momento, o sargento Filadelfo Correia de Lima, deu-lhe uma rajada de metralhadora, a partir de então, a polícia acreditava que Antônio Ferreira tinha morrido no combate. Com a chuva de balas vindas de cima da serra, os soldados ficaram desesperados, portanto, aproveitavam a cobertura de fogo das metralhadoras para se debandar na caatinga, deixaram grande quantidade de armas, munições, cartucheiras, cantis, bornais, etc. Levavam apenas alguns companheiros feridos, quando podiam. Após a batalha, os cangaceiros recolheram 27 fuzis e mosquetões.

A Batalha da Serra Grande é considerada a mais violenta da história do cangaço, segundo o historiador Frederico Bezerra Maciel, morreram "26" policias e "38" saíram feridos, no bando dos cangaceiros não houve registro de morte.

Foram a Serra Grande verificar os fatos de perto, o Major Theóphanes Torres comandante de Vila Bela, o juiz de direito Dr. Augusto de Santa Cruz e o promotor de Salgueiro.

Antes do regresso para Vila Bela, o Tenente Higino ainda providenciou o sepultamento de sete corpos em uma única cova, no rancho de Pedro Rodrigues (proprietário local). Tomaram parte na batalha os seguintes cangaceiros: Luiz Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e Dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Ás de Ouro, Candeeiro, e seu irmão Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija-Flor e seu irmão Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel e seu irmão Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três Coco, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Felão, Biu, Cordão de Ouro, Genésio, Ferreirinha, Antônio Ferreira, Lampião e outros.

No dia seguinte à Batalha da Serra Grande, Lampião, já na Fazenda Barreiros, entregou uma carta a Pedro Paulo Magalhães Dias, endereçada ao então governador de Pernambuco, Dr. Júlio de Melo, propondo dividir o estado em dois, com os seguintes limites:

"Governo o sertão até as pontas dos trilhos em Rio Branco (Arcoverde), e vosmecê daí até a pancada do mar no Recife..."

O relato sobre a Batalha da Serra Grande encontra-se no processo criminal contra Virgulino Ferreira et al., de 28 de novembro de 1926, 1° Cartório de Serra Talhada PE:


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UMA CANOA DENTRO DO MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA

*Rangel Alves da Costa

Não faz muito tempo que fiz uma postagem afirmando que não demoraria muito para que uma canoa (inteira e de verdade) passasse a fazer parte do acervo do Memorial Alcino Alves Costa, em Poço Redondo, sertão sergipano.
Afirmei ainda que ela seria colocada numa das dependências e que em nada tomaria os espaços dos outros objetos do acervo, pois uma atitude devidamente planejada para tal. Nada feito sem o planejamento adequado para tudo desse certo.
As críticas logo surgiram. As afirmações eram no sentido de que corria o risco de o Memorial ficar abarrotado demais. Contudo, mostrei que não. A canoa foi colocada e os espaços até parecem ter ficado maiores.
E realmente ficaram, e pelo simples fato de que uma dependência que servia como quarto de dormir teve suas paredes modificadas, as portas retiradas, e passou a servir como local para exposição permanente da canoa. E completa.

E quem doravante visitar o Memorial vai logo avistar a canoa toda bonita, pintada, com os panos em vermelho e amarelo, com remo e até com uma tarrafa numa das laterais. O nome: Dona Peta, uma justa homenagem a uma das mulheres mais singelas nascidas em Poço Redondo. E minha falecida mãe.
Contudo, a presença da canoa no Memorial não significa apenas uma embarcação como parte do acervo, pois muito mais, envolvendo principalmente aspectos históricos e culturais da povoação e do sertão sergipano.
Com efeito, num tempo onde a mata era senhora e dona de todo o sertão, onde a vegetação nativa fazia pujança por todos os quadrantes, somente através do Rio São Francisco, o querido Velho Chico, foi possível o desbravamento destas terras inóspitas e desconhecidas.
O rio foi, efetivamente, o primeiro e grande caminho dos sertões. Foi através de seu leito que despontaram as embarcações com os primeiros habitantes. Foi nas suas beiradas que surgiram os primeiros currais. Foi nas suas ribeiras que surgiram as primeiras povoações.
E a canoa simboliza tudo isso. Simboliza o transporte do homem ribeirinho, seu meio de sobrevivência, seu objeto adorado de uso. A canoa e o rio representam aqueles sertões molhados e que, mais adiante, foram encontrando os outros sertões da terra seca, esturricada de sol.


A canoa simboliza ainda o viver ribeirinho em toda a sua feição. O beiradeiro na sua lide de todo dia, ora lançando a tarrafa ora colhendo seu fruto de sobrevivência. Canoa que sempre voltava cheia de peixe, de frutos das margens, de esperanças e de tanta fé.
Desse modo, a canoa do Memorial homenageia o sertão de beira de rio, o sertão dos currais ribeirinhos, o sertão das pequenas povoações e aldeias de pescadores, o sertão nostálgico e saudoso demais.
Daí sua importante presença no Memorial. Perante sua visão, certamente um livro aberto em páginas do passado, mas sem o qual não seria possível a presença deste sertão de agora.

Escritor
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CONVITE TEM CANGAÇO NA SEMANA DOS MUSEUS DA BAHIA


O historiador e geólogo Rubens Antonio fará a palestra "Cangaço ... fenômeno, crime e arte", nesta quinta (16), às 17 horas, no Palacete das Artes. O encontro integra a programação da Semana dos Museus que tem como tema “A Cultura do Sertão da Bahia nos Museus do IPAC”.

A programação completa está no site www.ipac.ba.gov.br

Entrada gratuita - Rua da Graça, 289


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OPINIÃO O VERDADEIRO HERÓI DE ANGICO

O escritor e jornalista Valdemar de Souza Lima,  (Foto) natural de Palmeira dos Índios, nos deixou um dos melhores estudos sobre o cangaço. O seu livro "O Cangaceiro Lampião e o IV Mandamento", lançado em 1977, traz informações detalhadas sobre as andanças do Rei do Cangaço e seu bando pelo Nordeste.

Até no prefácio do livro, que reproduzimos abaixo, encontramos informações importantes. Nele, o autor comenta sobre quem verdadeiramente conseguiu conduzir a Polícia Militar de Alagoas a cumprir o seu papel no combate ao cangaço. Valdemar de Souza Lima relata o papel destacado que teve o comandante Teodoreto Camargo do Nascimento, um nome pouco citado quando se conta a história do cerco a Angicos.

Nas próximas postagens, vamos reproduzir capítulos do livro com outras histórias sobre o cangaço. Agradecemos antecipadamente a Hugo Lima, filho de Valdemar, que nos cedeu o exemplar do livro e autorizou a publicação.

Duas palavras

Valdemar de Souza Lima

No ano de 1936 chegou em Maceió um rapaz moreno, alto e esbelto, natural de Sergipe — era capitão do Exército e se chamava Teodoreto Camargo do Nascimento. Tinha sido convidado pelo governador de Alagoas, professor Osman Loureiro, para comandar a Policia Militar do Estado.
Teodoreto Camargo do Nascimento chegou a Maceió como tenente do Exército e assumiu o comando da Polícia Militar.

Teodoreto Camargo do Nascimento chegou a Maceió como tenente do Exército e assumiu o comando da Polícia Militar.

De pronto se ficou sabendo que o órgão de segurança a cuja frente se colocara, passava por uma série de reformas, de vez que sua preocupação não se limitava a manter ou aumentar os efetivos da milícia, mas, sobretudo, pugnar pela indispensável qualidade deles. Talvez por isso o jovem comandante não conseguiu se transformar na moeda-de-vinte-patacas, que agrada a todos. Pelo contrário, passou a ser apontado como um homem arguto como poucos e extremamente duro, a ponto de descambar às vezes para a mordacidade, como recurso para se fazer mais facilmente compreendido. E o certo é que ninguém brincou com ele.

 Atravessávamos então uma fase verdadeiramente crítica. Convencido de que era mesmo “senhor e possuidor” do Nordeste semiárido, pois realmente, não tropeçava em obstáculos maiores para pousar onde queria, Lampião convertera aquilo numa ilimitada faixa de areia movediça, onde ninguém dispunha de um mínimo de confiança para arrumar sua magra economia primária e viver com relativa tranquilidade no seio de uma sociedade, ainda que obscura, organizada.

De posse dos elementos que julgou indispensáveis para dar um balanço em tão indesejável situação e após chancelar um plano estratégico que lhe parecera satisfatório, o novo comandante da Força Pública sugeriu ao governo a criação do 2° Batalhão da Polícia, com sede em Santana do Ipanema, cujo comando seria confiado ao major José Lucena de Albuquerque Maranhão, oficial reconhecidamente destemido e afeito ao combate à desordem na zona explosiva — e era assim de esperar que a partir daí o temível bandoleiro não contasse mais com as facilidades de praxe para cometer impunemente as suas tropelias.

Infelizmente essas avaliações otimistas e que oneravam extraordinariamente o orçamento estadual, não iriam acenar na prática com os frutos desejados. Nos últimos anos de sua tumultuosa existência, Lampião jamais se mostrara tão nocivo à nossa vida; enquanto isso, ao invés de reencontros decisivas das volantes com o seu bando, as medições constantes dos boletins não passavam de meras escaramuças.
Bando de Lampião em foto de Benjamin Abrahão


O coronel Teodoreto sentiu os riscos que afetavam a sua posição — embora não parecesse perceber os que pessoalmente corria, pois, eu mesmo, que nunca sequer troquei com ele um cumprimento, vi-o, por vezes, cruzando, quase sem escolta, a zona convulsionada, sujeito a cair de um instante para outro nas malhas da “gang” sanguinária — e evidentemente não iria contemporizar com uma colocação que se chocava com o seu temperamento e formação.

Chamou, portanto, Lucena a Maceió, visando identificar o dedo misterioso que incidia sobre o contexto e levava àquele resultado deplorável. É claro que ele não punha em dúvida a lealdade e competência do seu subordinado, mas precisava descobrir a causa da frustração e eliminá-la, custasse o que custasse. Cumpria restaurar a confiança das populações massacradas pelo cangaço, nas providências do governo, em última análise o responsável pela sua segurança.

Teodoreto não abriria mão a partir de agora de ação efetiva e ajustada, sob pena de apelar para medidas drásticas — e até arbitrárias — contra aqueles que fossem apanhados violando suas determinações. José Lucena revelou, no dia imediato, em casa de seu amigo Pedro Rodrigues Gaia, em Palmeira dos Índios, que saíra do encontro tão amargurado, que rumara dali para a Catedral, a fim de orar e pedir a Deus ânimo e luzes para se safar do sério embaraço em que se via metido.

E uma vez de volta a catinga, reuniu os comandantes de volantes, passou-lhes o ocorrido, frisando que não estava ali apenas como um emissário do seu chefe para fazer-lhes uma advertência, mas, na verdade como um executor inflexível de suas novas ordens. Menos de um mês após isso, Lampião tombava em Sergipe e o seu bando se desintegrava para sempre.

O tumulto que o extraordinário episódio motivou, desencadearia uma onda de publicidade como jamais imaginamos nos nossos mundos obscuros. Tudo agora a imprensa escrita e falada queria saber a respeito das figuras que, de uma forma ou de outra, tinham contribuído para aquele resultado. O comandante da Polícia não teve, porém, encontros com repórteres, segundo penso, pois, naquele instante seus cuidados se voltavam para um assunto mais humano e cristão, que era arrebanhar e cercar das necessárias garantias pessoais os remanescentes da quadrilha que se entregavam às autoridades — dando por essa forma o primeiro passo para sua recuperação. Eles eram irmãos nossos, reduzidos à mais extrema miséria — pelo rigor do meio-ambiente, pela seca, pelo analfabetismo e outras tantas mazelas que não vale repetir. E afinal, bem poucos entre os comparsas do terrível bandoleiro, preferiram prosseguir na senda do crime.

O general Teodoreto Camargo do Nascimento já não pertence mais ao número dos vivos. Pouco importa, para mim ele permanece como o artífice máximo do feito de Angicos — e mais do que isso: o homem escolhido pelo destino para vibrar o golpe de misericórdia no banditismo militante do Nordeste brasileiro. Este livro constitui, pois, o testemunho de minha veneração à sua memória.

Brasília, Setembro de 1977.


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