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domingo, 14 de fevereiro de 2016

CALDEIRÃO OU PIAS...! SERÁ QUE EXISTEM DIFERENÇAS ENTRE AMBOS?


São formações naturais que apresentam uma cavidade na pedra, onde se acumula a água de chuva.


São muito utilizadas pelos sertanejos, bem como, mataram muita sede de CANGACEIROS...



Foto Inicial: Samuel Morais...

Observação: as três últimas fotos são de CALDEIRÕES existentes na Fazenda Maranduba no Estado de Sergipe, local onde aconteceu um grande combate de Lampião com volantes.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta

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CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - - PARTE VIII


DEIXANDO O PAU FERRADO

“A partida dos cangaceiros para outras terras deu-se assim: depois dos meados de 1924, alguém que se disse irmão de Lampião, estava com alguma dificuldade, possivelmente financeira, e foi procurar Virgulino nos Patos, na residência de Marcolino. Após identificar-se, Marcolino disse a ele que estava impossibilitado de ir até lá, pois ‘as coisas não estavam boas prá o lado de Princesa e que Lampião precisava tomar cuidado’. Disse que fosse a São José, procurasse Doca, dizendo que estava ali a mandado dele, e Doca o levaria ao local.

Chegando até Doca, identificou-se e deu o recado de Marcolino. Os dois saíram em direção a serra do Pau Ferrado.

Ao chegarem à parte alta, encontraram Lampião, conversaram um pouco, e ele pegou uma ‘lata cheia de ouro’. Quando estava abrindo, veio um cangaceiro gritando: ‘Lampião, a Serra tá enchendo de Macaco’. Lampião olhou para o que se disse irmão e para Doca e falou: ‘Eles num pode vê vocês’. Entregou um rifle a Doca, e outro ao visitante, e disse ‘- Corram pur esse lado e vortem iscondido pra São José, enquanto a gente distrái eles’. Os dois correram por dentro do mato, dando uma volta para não serem vistos, e chegaram a salvos em São José.

Os cangaceiros atiraram o maior tempo possível para favorecer a fuga dos amigos, mas depois fugiram. A Serra estava fervilhando de militares por todos os lados. Haviam descoberto o esconderijo do bando que ali passou anos” (Narrações de Zé de Doca).

Mas essa não foi a despedida de Lampião das terras de Patos, São José e Manaíra. Mais à frente veremos a saga do bando, nesse mesmo dia e nos seguintes, nas refregas que tiveram nos sítios manairenses do Boqueirão, Impueira, Areias de Pelo Sinal e Lagoa do Leonardo.

Serrote de Lampião – Majestosos rochedos, no alto do Pau Ferrado, de onde se vislumbra Patos, Saco dos Caçulas e São José, oferecendo grande segurança aos cangaceiros.

CLEMENTINO QUELÉ

No dia 31 de julho DE 1924, a tropa do major Teófanes, de Serra Talhada, travou combate nas Abóboras (PE), com o bando de Sabino Góis (dos Patos Irerê). Necessitando retornar à sua base, Teófanes passou o comando para Euclides Flor que, ao adentrar-se no território de Princesa, teve mais cinco tiroteios com os cangaceiros. Ao escurecer, chegaram à Alagoa Nova, povoado de Princesa, e acamparam.

Clementino José Furtado, o “Quilimintino” Quelé.

No povoado morava o sargento Clementino José Furtado, o Clementino Quelé, juntamente com sua mãe, Engrácia, e um irmão caçula – Antônio, apelidado de Ioiô -, também da polícia. Após as lutas com Lampião, em Santa Cruz da Baixa Verde, Clementino mudou-se para Alagoa Nova para proteger o que restou da família. Através de José Pereira entrou para a polícia paraibana, já com as divisas de sargento. Assim aposentou-se por ser totalmente analfabeto. Estava acamado com catapora, deitado em folhas de bananeira, que era um método utilizado pela medicina caseira, para a cura desse mal.

Casa construída na Tv. Joaquim Paixão, Manaíra, no mesmo local da casa de taipa de Quelé.

Ao saberem notícias de que Lampião estava nas proximidades de Cachoeira de Minas, no dia seguinte, Euclides Flor, Ioiô e suas volantes, seguiram para aquela localidade, ficando Quelé em repouso.

BATALHAS EM ALAGOA NOVA

GAVIÃO

1º de agosto – Nos lados de Cachoeira, no sítio Gavião[1], os cangaceiros ofereceram forte resistência e o irmão de Clementino, Ioiô, foi alvejado, não resistindo ao ferimento. Alguns cangaceiros também foram atingidos, mas não se teve notícias de terem morrido. Dali seguiu um portador para avisar a Quelé sobre o ocorrido com o irmão dele.

Conta o Sr. Miguel Peba, que conheceu muito bem Clementino e sua família: Já tava escuro, o portador chegou na casa de taipa, bateu na porta, e foi atendido pela mãe dos dois, que perguntou: 

- Quem é? 

Em resposta a senhora ouviu: 

- Chame aí Quelé, quero falar com ele. 

– Ele tá doente, respondeu ela. 

Novamente o portador:

- É que eu vim avisar a ele que mataram Ioiô”. 

Ioiô era o caçula da velha. 

Ela entrou e disse: 

- Oh! Quelé, mataram meu filho. 

Aí Quelé meteu-se dos pés, pegou a besta e raspou pro Gavião (sítio onde estava havendo o tiroteio). A partir daí Quelé pegou a espingarda e saiu matando cangaceiro até na Bahia, em 1928.

Clementino, Euclides e os companheiros voltaram à Alagoa Nova.

Seis anos depois, em 1930, Cícero Cazuza encontra-se novamente com Quelé. Cícero tinha seis anos e estava com sua irmã, ajuntando lenha para cozinhar. Uma fileira de 15 soldados vinha de Lagoa do Leonardo em direção à Alagoa Nova, onde morava Clementino. O primeiro deles deu um chute no feixe, espalhando toda a lenha. No coice da tropa vinha Quelé e, ao ver o menino chorar, perguntou-lhe o ocorrido. A irmã de Cícero contou o ocorrido e o sargento fez o soldado voltar e rearrumar a madeira.

BOQUEIRÃO

2 de agosto – Ao amanhecer do dia, ouviram o tiroteio que veio do Boqueirão, de onde desaguavam as chuvas vindas da Serra da Bernarda, duas léguas de Alagoa Nova. Entenderam que alguma volante estava em luta com os cangaceiros e foram ajudar. Lá encontraram o Sargento Higino, que não estava mais em combate. Havia corrido, diante da força dos adversários.

Entretanto, dois dos soldados de Higino (Sargento Gino) foram seguindo e observando, à boa distância, a direção que os cangaceiros estavam tomando. Alcançados pelas volantes, esses dois repassaram as informações e seguiram os rastros deixados pelos cangaceiros.

Para ilustrar esses acontecimentos, transcrevo parte do capítulo 23 do livro Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado, volume II, de Frederico Bezerra Maciel. Poderia ser de outro autor menos controverso, mas cito este propositalmente, por conta da riqueza de detalhes de sua narrativa, que envolve o leitor, e por conta da falsa inserção de Lampião em uma batalha onde ele não estava. Isto para contrastar com a versão, anteriormente citada, onde era Livino aquele que comandou a saga do bando nas terras de Alagoa Nova.

A Batalha da Baixa Verde (Boqueirão) – Agosto de 1924
... cem anos de perdão!

Esta batalha, um dos pontos culminantes na vida do cangaço de Lampião. Antes que uma batalha, uma sucessão delas, durante duas semanas ininterruptas, dia a dia, numa extensão linear de mais de cem quilômetros, pelas serras e catingas, areiais e serrotes, povoados e fazendas. Lampião, ainda convalescente e manquejando muito, com poucos homens: seus irmãos Antônio e Livino, Sabino, Laranjeira, Asa Branca, Curió, Estrela-Dalva, Corró, Ventania, Manuelito e Zé Vicente (isto é, Chico Pereira), número esse depois aumentado, numa luta, de vida e morte, contra mais de cem inimigos distribuídos em sete volantes comandadas pelos tenentes Benício, Chico Oliveira, Zé Guedes, sargentos Gino, Anete e Quelé e o cabo Maquinista.

Móvel da grande batalha – o coronel Zé Pereira, de Princesa.

Depois do saque de Sousa, recebera este muito dinheiro dos irmãos Ferreiras, em suas mãos depositado para guardar. Prova de absoluta confiança entre amigos. De posse de tanto dinheiro, resolveu Zé Pereira[2] apoderar-se dele para, decerto, aplicar na sua política. Mudou logo para isso o seu pensar: Lampião deixaria de ser amigo para ser apenas um bandido.

- “Dinheiro de bandido é roubado, não pode ficar com ele”, confidenciava a seu amigo e correligionário na política, o muito brabo e meio gira Padre Floro Pereira Diniz. O qual, por sua vez, maliciosamente, o absolveu declarando:

- “Quem rouba de ladrão, tem cem anos de perdão!”

Mas, como se apoderar dos setenta e tantos contos de Lampião e seus irmãos? Zé Pereira, que conhecia perfeitamente, os esconderijos de Lampião, decidiu-se a denunciá-lo à policia, na certa de sua infalível liquidação. Sabendo-o sagaz e perigoso, botaria tudo o que era de tropa em cima dele.

O Serrote de Lampião

Não permanecia Lampião muito tempo num refúgio. Mudava sempre, por tática de segurança e despistamento. Do saco dos Caçulas passou-se para a serra do Pau Ferrado. Ponto culminante de toda a Borborema, com 1.095[3] metros de altitude. De formação cristalina, granitóide, de migmatito, o cimo é uma chã de grande fertilidade. Descendo para Patos de Princesa (Irerê), a encosta, tapizada de densa vegetação, é extensa e suave. Á meia encosta, acha-se o famoso Serrote de Lampião. Ponto excelentemente estratégico, escolhido por ele. De lá de cima, dominava o povoado de Patos, com suas duas estradas: ao sul, uma bifurcando para Santa Cruz e Triunfo; em direção do norte, outra se ligando à Princesa através do povoado de São José. Ainda sob sua alçada: as altas vertentes em anfiteatro do maciço da Baixa Verde com o Saco dos Caçulas, o Livramento (ex-colônia de negros escravos outrora fugitivos), o Caldeirão ...; e o Baixio, ao norte, para as bandas de Alagoa Nova (hoje Manaíra). Impossível uma retaguarda pelo lado oposto da serra, que cai abrupta pelos paredões escarpados. Verdadeira fortaleza cheia de esconderijos onde ele se obrigou com sua tropa. Com bastante gente, munição abundante e suficiente provisão de boca, poderia tornar-se por muito tempo, baluarte inexpugnável, não fosse a natureza nômade da guerra preferida de Lampião.

Dali traçou Lampião, com todos os pormenores, a marcha sobre Sousa... dali comandava as correrias de seus grupos pelo território do sertão.

O sonho da traição

(...) Lembrou-se que, na noite anterior, Chico Pereira havia assassinado, no pé da serra, um pobre velho amalucado, de nome Salu. Talvez isto tenha chegado aos ouvidos da polícia. O sonho revelava-lhe o perigo? Começou a rezar o Credo para exconjurar aqueles maus pressentimentos. Errou três vezes. Então acordou seus companheiros para retirada imediata. Poucos homens estavam com ele naquele momento: seus irmãos Antônio e Livino, Sabino, Ventania, Curió, Asa Branca e Chico Pereira.

Nesse quando, surgiu, inopinadamente, o cangaceiro Estrela-Dalva, esbaforido, trôpego, quase sem mais poder andar, comprimindo com as mãos o lado esquerdo da barriga, com dor de veado, da corrida que dera ladeira acima. Contou que vinham avançando forças, do tenente Manuel Benício e outros mais...

Entrementes, novos toques de corneta se ouviram de outras volantes das bandas de Princesa, também, chegando[4].

O tenente Benício, ao pé da serra do Pau Ferrado, observara de longe, que um rapaz entregava uma panela a um homem, reconhecido como cangaceiro através dos arreios que trazia. Deu-lhes uns tiros. Estrela- Dalva, o cangaceiro, deixou a panela cair e saiu correndo ladeira a riba.

O rapaz, de dezessete anos de idade, chamava-se Joaquim, filho de um dos proprietários da fazenda Abóboras, Manuel Florentino Diniz. Confessou ele ao ser capturado pelo tenente, que a panela que entregara ao cangaceiro era de carne cozida, preparada no Saco dos Caçulas para o almoço de Lampião e seus cabras, ocultos lá em cima do serrote.

Resolveu o tenente, aproveitando a panela, almoçar logo ali com sua tropa e esperar pelas forças já marchando no coice da sua.

Enquanto isso, Lampião ganhava tempo e espaço, retirando-se.

Quelé[5], com dezoito homens armados e fornecidos por Zé Pereira, deveria, junto à volante de vinte e cinco praças, comandada pelo tenente Chico de Oliveira, alcançar a força do tenente Benício, também de vinte e cinco soldados, para, em ação conjunta, acabar de vez com Lampião e seu pequeno grupo no serrote. Antes, Quelé havia pegado Chico Barraqueiro, portador de uma carta de Chico Pereira, assinada com o pseudônimo Zé Vicente, dando noticias suas à família. Sob o nó da peia, o portador descobriu tudo.

No caminho para Patos as duas forças foram, de surpresa, interceptadas por uma patrulha-sentinela de Lampião. Na troca de tiros foi morto uma cabra de Quelé. A patrulha fugiu. Prosseguindo, chegaram as duas forças a se unirem à de Benício, perfazendo um total de sessenta e oito homens.

Á tarde, cercaram o serrote e abriram fogo cerrado e prolongado. Mas nada de resposta do serrote. Tudo silêncio. Cilada? Fuga? Outras e outras descargas se sucederam. Tomaram chegada. Não havia ninguém.
De longe, no sítio Boqueirão, divisa de Pernambuco com a Paraíba e meia légua antes de Alagoa Nova, Lampião[6] e os seus, na ocasião em que enchiam as cabaças d’água, divertiam-se ao ouvir o tiroteio nas pedras do serrote... vazio.

Enquanto isso Chico Oliveira e Quelé queriam, a todo custo, que Manuel Florentino Diniz desse conta dos cangaceiros. O pobre homem só não sofreu por causa de seu amigo, o tenente Benício.

Boqueirão

Não demorou muito, outra volante de quinze soldados, comandados pelo cabo Antônio Marques da Silva, vulgo Antônio Maquinista, se chocasse com o grupo de Lampião, agora com igual número, quinze homens. Durava uma hora o tiroteio e já se decidindo a favor de Lampião, quando, vindo no coice, chegaram Gino, com doze soldados, e, logo mais, Quelé, com dezessete cabras, obrigando o inimigo comum, lá deles, a fugir.

Nas Areias do Pelo Sinal

Recuando do ataque no Boqueirão, rumou Lampião[7] para o grande reduto secreto na fazenda Areias do Pelo Sinal, na fronteira interestadual.

Sem que fossem percebidos, dois rastejadores da polícia seguiram o grupo, à distância e o suficiente, para descobrir o escondedouro.

As sentinelas do Lampião deram aviso de tropa à vista. Era a tal volante de Antônio Maquinista, guiada por um dos rastejadores, enquanto o outro rastejador voltava para avisar às demais forças em Patos.

A modo de despistar a polícia, desviou-se Antônio Ferreira, com seu grupo de seis, noutra direção, umas duzentas braças. Aboletou-se num casebre e mandou por um rapaz convidar o cabo para nova brigada. Este, que havia feito alto para tomar café, não fez demora.

O grupo de Antônio Ferreira acabara de tomar gostoso xerém com leite, quando, sentindo a aproximação da tropa de dezesseis soldados, abriu fogo.

Fazia vinte e cinco minutos tiroteiavam, quando se ouviram toques de várias cornetas.

Cinco volantes marchavam na direção do reduto. Tenente Gino com vinte e cinco homens, sargento Anete vinte, Quelé dezoito, o subdelegado de Vila Bela oito, todas guiadas pelo segundo rastejador. Um total de noventa e dois homens incluindo o cabo Maquinista que, depois, se lhes juntou. Todas botadas pelo coronel Zé Pereira em cima de Lampião, inclusive mesmo as volantes pernambucanas por solicitação sua ao tenente Malta, comandante em Triunfo.

O grupo de Antônio Ferreira, que brigava com o cabo, resolveu voltar correndo ao reduto, a modo de reforçar a defesa de Lampião[8] que ficara com apenas sete homens.

O sargento Gino em vista de falta de convênio dos governos de Pernambuco e Paraíba para tropas de um Estado penetrar no outro, quando em perseguição a cangaceiros, não queria prosseguir. Um soldado, de banda, sem que Gino ouvisse, disse para alguns de seus companheiros:

- “É medo desse nego!...”

Finalmente, decidiu-se Gino, mas ordenando a Quelé:

- “Tome a frente que a retaguarda é minha. Dê no que der, vamo brigá ainda hoje”.

Cercada a casa da fazenda pertencente a Manuel Cazuza. Dentro, Lampião[9] com quinze homens, além da família do proprietário. Por fora, maior concentração das volantes na traseira, ponto mais vulnerável da casa toda de taipa, exceção da frente, de tijolo.

Oito horas da manhã rompeu o tiroteio. A fumaça cobria a serra e escondia a morte que voava nas detonações ininterruptas. De parte a parte, o parraxaxá, vozeiro infernal, gritos, imprecações, e nomes feios de mistura com vivas e gargalhadas. Em coro, cantavam os cangaceiros o estribilho da “Mulher Rendeira”, depois de cada quadra improvisada e cantada por Lampião insultando os atacantes. Estes, em campo raso, temendo aproximar-se.

Cada balaço certeiro atirado pelos de fora estambocava o enchimento de taipa, abrindo buracos nas paredes. Os varais de marmeleiro da armação de pau-a-pique se desfibravam com as balas até partirem, desenliçando, amolecendo e ameaçando desabar o arcabouço da casa. Até que, partindo-se a terça do telhado, desabou fragorosamente a cozinha, levantando grande poeira de cegar os olhos e entupir a respiração das narinas dos defensores. Por entre os escombros, defendiam-se estes, denodadamente, contra o avanço dos atacantes.

Começou a chover um sereno fino[10], cabuloso. Agora era a lama e a escuridão da noite, só alumiada pelos clarões relampejantes das bocas das armas atirando.

A casa desmoronando ao pedaços...

Sentindo a situação insustentável com o aumento da concentração dos atacantes, deslocados da frente para a traseira abatida, juntou Lampião[11] seu pessoal e, em ação fulminante, ordenou descargas cerradas contra o grupo inimigo que atacava a frente. Em seguida, feito loucos, atiraram-se Lampião[12] e os seus, saindo correndo de casa, pela porta da frente, conduzindo um morto - Corró e um gravemente ferido – Laranjeira, nos riscos supremos da vida e da morte. Ao impacto da fuzilaria e da abafação do panavueiro, ficaram os doze soldados, sob o comando do sargento Anete, completamente atarantados e abirobados! Sendo até derrubados pelo embate dos fugitivos na carreira, os cangaceiros passando por cima dos corpos caídos... Um soldado levou uma pisada tão danada no meio da barriga que perdeu a fala... Outro cambaleou com um soco tremendo aplicado por Livino na boca, quebrando-lhe os dentes...

Lampião[13], incrivelmente, espetacularmente, furava o cerco impossível de ser rompido! E embrenhara-se, pelo lugar Extrema, na catinga pernambucana de Vila Bela.

Durara o tiroteio treze horas consecutivas!

Eram nove horas da noite.

A casa completamente rendada de bala.

E, dentro, no chão umedecido de um quarto, agachados e comprimidos, debaixo do couro de boi de uma velha mala desmanchada, a dona da casa abraçada com o oratório dos santos, suas quatro filhas moças e um filho rapaz, todos estatelados de pavor...

Arrastando o rapaz, para fora, pelo sargento Anete a fim de ser sangrado como coiteiro. Domado no chão, já lhe batia a lâmina da faca na carótida para, inchada, mais facilmente ser rasgada, quando Gino puniu[14] por ele, livrando-o da morte.

Abrigara-se a soldadesca, como pudera, uns por cima dos outros, dentro da casa escura e gotejando.

Em contraste com os gemidos de cinco feridos, os soldados, no recanto de outro quarto, se sucediam na sevícia sexual do corpo de uma infeliz mulher-dama chamada Minerva.

Aos primeiros rubores do dia seguinte, amanhecido enxuto e frio, desafinadamente tocou uma corneta o despertar das tropas. Todos escornados e mortos de fome, sem o de que comer. A catinga, estraçalhada de bala, sinistramente emoldurava os restos de uma tragédia com dois corpos, em esgares e sem vida, espichados na terra – os cadáveres do soldado Pié e o cachimbo Pierre de Sousa, mortos por Chico Pereira.

Ali perto, as cinzas negras do reduto de Lampião, totalmente saqueado pela soldadesca que apurou o seguinte[15]:

·       8 malas “cheias de tudo o que é bom”: roupas, jóias, chapéus, e objetos de valor;

·       15 meios de sola;

·       12 selas roladeiras fabricadas em Cajaceiras[16], no Rio do Peixe;

·       21 animais, inclusive burros bons e cavalos de monta.

 Após o saque, foram incinerados os quinze casebres que formavam o reduto.

Voltando a Patos

Chegando na fazenda Abóboras, a primeira coisa que fez Lampião[17] foi mandar socorrer o ferido e sepultar o morto que deixara no meio do caminho, premido pela fuga[18].

Lampião trazia, no peito, um imenso ódio a Zé Pereira. Jamais esqueceria o feito do coronel e nem perdoaria. Sua preocupação era a vingança. E isto temia o coronel, que se precavia ao dobro. Impossível a Lampião atacá-lo em Princesa, cheio de macaco e capangas. Ah, se pudesse pegar o coronel solto na catinga, mesmo comandando força superior... O jeito, porém, era vingar-se como podia, matando-lhe capangas, incendiando-lhes as fazendas (como fez, mais tarde, com duas), futicando-o sem cessar. Mas precisava atacá-lo agora. Estava com o sangue infuleimado. O desânimo não existia no seu vocabulário de vida. E esse era um dos traços mais predominantes de sua complexa e insólita personalidade.

Juntou logo um grupo de vinte e um homens, entre os quais Luís Pedro, natural dali de perto, do sítio Cana Brava ou Retiro, no município de Triunfo, e que se tornaria famoso em catorze anos de vida no cangaço, numa fidelidade, a toda a prova, a seu lado.

Com esse grupo formado, tomou, de imediato e na afoiteza da coragem, o rumo de Patos de Princesa, levando debaixo de ordens Manoel Florentino Diniz para lhe apontar determinadas pessoas e locais.

Atravessando a fronteira de Triunfo, no lugar, Medeia, matou um inimigo.

Em São Mateus[19], prendeu, como reféns, dois cunhados de Manuel Florentino Diniz – João e Juvenal dos Santos Diniz, a modo de obrigar o pai deles, Manuel dos Santos Diniz[20], a lhe mandar dinheiro.

Em Sozinho prendeu e matou dois cabras de Zé Pereira, um deles Luís do Trião (Triângulo)[21] que fora cabra de Sinhô Pereira. Dos cadáveres fez uma coivara e tocou fogo.

Agradeceu a Manuel Florentino Diniz os serviços prestados naqueles dois dias e o libertou.

Às três da madrugada, arremessou-se Lampião contra Patos, que rapidamente se transformou em praça forte, com as volantes a postos, e em vigilância nas imediações. Um enxame de soldados. Obra de cento e quinze, afora a grande cabroeira de Zé Pereira. Tiroteios ferozes e lutas encarniçadas que se prolongaram até às dez horas[22].

Boqueirão II, Alagoa Nova e Marcolino

Em escaramuças contínuas, com os inimigos no sucaro, subiu Lampião a serra do Pau Ferrado. Desceu para o Boqueirão. Chico Pereira estropiado por estrepes venenosos que lhe inflamaram, agudamente, os dois pés, carregado nos braços dos companheiros. Dadas as anfractuosidades das veredas de fuga ao longo da serra cheia de porocotós, o considerável peso dos apetrechos bélicos e a vigilância sobre os dois presos-reféns, o carregamento do ferido era um estorvo e um perigo para todos. Na vagareza em que iam, bem que podiam ser alcançados pelas forças.

Sugeriu, então, Livino a Chico Pereira que se entregasse, naquela emergência, ao tenente Benício, de quem ele Chico, era grande amigo. Recusou, porém. Preferiu ficar oculto num partido de cana, ao pé de serra. Mais adiante Lampião pagou a um preto do Livramento para socorrer o amigo invalido, deixado atrás.

Perto de Alagoa Nova, teve Lampião um encontro com seu grande amigo, Marcolino Pereira Diniz, os quais censuraram a atitude do coronel Zé Pereira.

Enviou Lampião uma carta, ali mesmo escrita, a Zé Pereira, chamando-o abertamente de “ladrão”, “falso” e “mentiroso”.

Tangido para cima

As volantes reunidas, sob o comando de Gino, forçaram Lampião a subir para o norte. Combate em Tataíra, a légua e meia e, mais para cima duas léguas, outro combate em Cachoeira de Minas.

Persistente no seu propósito, tomou Lampião a tangente à esquerda, em marcha puxada, até Gavião[23], cinco léguas distante, donde pretendia voltar caindo sobre Patos, a quatro léguas dali. Mas, surpreendido pelas forças sob o comando de Zé Guedes, deu dois enfurecidos combates, perdendo o cangaceiro Manuelito. Resolveu então mudar a direção rumando em sentido contrário, para Conceição (PB) e, em seguida, para o Ceará.

Na travessia da Serra da Arara, divisa cearense, apresentou-lhe um positivo enviado por João dos Santos Diniz, com setecentos mil réis em moedas de prata. Era o preço da libertação de Juvenal, preso em São Mateus[24]. Quanto ao outro prisioneiro, João, havia ele fugido dois dias antes, indo se perder nas caatingas de Salgueiro...

Esteve Lampião no Juazeiro, em visita a seus irmãos.

Tanto na ida como na volta, hospedou-se em Milagres e Missão Velha, onde tinha a proteção de seus amigos, o prefeito Isaías Arruda e o coronel Antônio Joaquim de Santana.

Vigilância do coronel

Não demorou muito tempo Lampião no Ceará ou apenas o suficiente para se reequipar. Tinha pressa em voltar e futucar Zé Pereira. Assim, em começos de outubro, marchou sorrateiro na direção de Patos de Princesa. Queria chegar de imprevisto. Mas foi detido na serra da Bernarda, travando, contra as forças do destemido sargento Gino, pesado tiroteio, todavia, sem prejuízos das partes litigantes.

Zé Pereira bem sabia por que não podia dormir...

Lampião, descendo, penetrou em Pernambuco através dos carrascos de Flores, mas sempre com o coronel na mira de sua vingança. Por isso, não cessaria, até o ano de 1928, de aparecer pelas imediações.

- Agosto: Capturados quatro cangaceiros do grupo de Lampião. Morto Meia Noite[25], á traição, por um cabra de Zé Pereira, no Saco dos Caçulas.


CONTINUA...

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MORRE O ARTESÃO MESTRE EUDÓCIO COMPANHEIRO DE ARTE DO MESTRE VITALINO.


UMA GRANDE PERCA PARA A CULTURA NORDESTINA...

Uma triste notícia agora na comunidade do Alto do Moura. O artesão Manuel Eudócio, que tinha 84 anos, faleceu na noite desse sábado (13). Ele estava internado com os sintamos provocados pela Chicungunya e não resistiu, morrendo agora há pouco. De acordo com a cientista política Ana Maria de Barros, que mora na comunidade, a situação é muito triste no Alto do Moura e todos estão chocados. O velório deve ser realizado em dois locais diferentes. Na Câmara Municipal e na sede da associação dos Moradores, mas ainda não se sabe às certas informações sobre o sepultamento. O blog lamenta a morte e se solidariza com os parentes e amigos.

BIOGRAFIA – Sua arte de fazer cerâmica figurativa retrata o cotidiano popular do lugar onde vive, e onde aprendeu quando criança a fazer seus próprios brinquedos de barro, esculpindo cavalos, bois e vacas para brincar. Teve oportunidade de produzir cerâmica para vender quando foi morar com sua avó, após a morte de sua mãe, tendo contato com brinquedos populares de louça feitos pela avó para vender na feira. Inicia efetivamente sua vida de artesão em 1948, quando aprimorou suas técnicas com Mestre Vitalino e desenvolveu um estilo próprio, incorporando elementos do folclore pernambucano em suas cerâmicas. As peças de Manuel Eudócio são feitas em argila úmida, queimadas sem uso de esmalte, em forno de lenha que ele mantém em seu quintal e, posteriormente, decoradas com tinta óleo brilhosa ou fosca.

O seu legado de mais de 50 mil peças de barro representa personagens como Lampião e Maria Bonita, o Trio Nordestino e o Bumba-Meu-Boi. Suas peças compõem coleções particulares e acervos de importantes museus. Com quase 80 anos continua em plena atividade no Alto do Moura, em Caruaru.

Em maio de 2002 Manoel Eudócio foi eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Fonte: Blog do Mário Flávio
Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)

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A VIDA DEPOIS DO CANGAÇO - PARTE FINAL



Marinheiro era ainda mais jovem que Criança quando entrou no cangaço. Foi em 1936, ele estava com treze anos.

— Fui chamado pelo meu cunhado Zé Sereno. porque a volante queria me caçar. Depois que minha irmã Cila resolveu acompanhar o Zé, minha família passou a ser perseguida.

Até então, Marinheiro era vaqueiro de seu tio China, na Fazenda Recurso, em Sergipe. Voltou a ser vaqueiro depois do cerco de Angico, do qual escapou "correndo como louco no meio das volantes". Estava transtornado. Vira Maria Bonita morrer, bem de perto.

— Ela estava desarmada, nem pôde se defender.

 Como Zé Sereno, Marinheiro foi trabalhar na fazenda dirigida pelo Sargento Cardoso. De lá seguiu a mesma trilha: Palestina, Martinópolis, São Paulo. No começo, em São Paulo, a vida foi muito dura. Por dez anos, trabalhou na lavoura. Depois. passou para a indústria química, onde está até hoje. Vive satisfeito com o trabalho, com a vida.

— O cangaço era um inferno. Nem se podia dormir. Mas a gente não tinha outro jeito, não tinha encolha. Aqui a gente tem liberdade e pode dormir sossegado.

Marinheiro casou-se com a filha de um ex-volante, mora em casa própria. As filhas mais velhas, Maria José, de vinte anos, e Ivani, de dezessete, trabalham para ajudá-lo. Um dos meninos, Isaurino, está no quarto ano primário, e o outro, Wilson, de seis, saiu agora do jardim de infância.

— Se Deus quiser, eles vão ter na vida o que o pai não pôde ter. Marinheiro foi um dos raros cangaceiros que jamais sofreu um ferimento de bala. Corria no sertão que ele tinha "corpo fechado", fora encantado para ficar imune a tiro ou golpe de arma branca. Ele jura que não.

— Eu não tenho não. Mas tem muita gente que tem. 


"O que passou, passou" 


Zé Sereno é muito católico, organiza romaria todos os anos, em outubro, a Aparecida do Norte, sua padroeira. A mulher, Sila, é espírita, médium, mas ele é devoto da santa; usa sempre, fora da camisa, uma medalha de Nossa Senhora Aparecida. É outro homem, diferente do cangaceiro Zé Sereno. Agora sabe ser tolerante. Após a apresentação ao ex-volante Adriano, fechou o rosto, contrariado, mas logo se descontraiu, abriu a guarda. Passada a surpresa, abre os braços, aceita a confraternização com Adriano, vai abraçá-lo.

— Não guardo rancor. O que passou passou.

Adriano agora sorri, ainda surpreso, incrédulo, é como se visse um fantasma — o homem que êle procurara tanto estava ali diante de seus olhos. Também é sensível à reconciliação, abraça o antigo inimigo, procura explicar as razões da mudança de atitude.

— Eu tinha raiva mesmo era do coiteiro. Ele é que foi perverso. Vocês estavam na vida de vocês mesmo. Eu compreendo. Se eu achasse aquele coiteiro, agora, ele ia ver.

Zé Sereno está mais animado. Puxa o antigo volante para o lado, oferece-lhe uma batida, Adriano aceita, os dois bebem, começam o bate-papo. O cangaceiro intercala o diálogo com as mesmas expressões. — O que passou passou. Adriano quer explorar o terreno. Faz sondagens. Arrisca:

— O que eu queria mesmo é saber por que aquele coiteiro me mandou desviar do caminho. Você que mandou, Zé?

— De jeito nenhum, Adriano. Pra dizer a verdade, nem me lembro bem de quem era o coiteiro. Só sei que você tinha fama de delatar cangaceiro, e queria nos pegar. Os coiteiros é que diziam.

— Não é verdade, Zé. Eu vivia minha vidinha até aquele dia em que você e mais quatro me amarraram e fizeram o diabo comigo. Aí eu resolvi entrar na volante e ser contra vocês.

Zé Sereno desconversa, se desculpa, tenta recompor o passado.

— Os coiteiros às vezes falavam demais e mentiam pra gente. Sabe como é que é. A gente vivia num aperto danado, não podia descuidar. 

Uma invenção que pegou 


O almoço demora, Adriano toma a iniciativa de pedir "mais uma". Há uma surpreendente facilidade de comunicação entre o ex-cangaceiro e o ex-volante. Os dois agora recordam casos e combates. Zé Sereno quer saber se Adriano esteve na "brigada de Maranduba".

— Não, não estive, mas estava bem perto. Soube dos estragos. Vocês perderam três cabras, né?

— Perdemos, mas a volante perdeu muito mais. Morreram mais de quinze macacos. Adriano não gostou do termo "macacos". A súbita cordialidade está sob ameaça. Indaga com ar de reprovação:

— Por que vocês costumavam chamar os soldados de macacos?

— Isto quem inventou foi o Capitão. E pegou. Pra ele toda volante era macaco. Como é que você queria que a gente chamasse uns homens que estavam sempre na nossa persiga?

Adriano agora faz sinal de que concorda. Zé Sereno ganha fôlego.

— A volante é que fabricava mais cangaceiro. Está vendo aqui? — aponta para o cunhado, Marinheiro.

— Esse menino, com treze anos, teve que entrar no cangaço pra não morrer dependurado numa árvore.

A hora é de expiação de culpas. Adriano não revela o menor desejo de defender a volante. Já dissera que entrara na polícia apenas por desejo de uma desforra pessoal. Ouve atentamente Zé Sereno, faz-lhe uma confissão.

— Sabe de uma coisa, Zé? Volante e cangaço era tudo igual. Os dois atrapalhavam a vida do povo.


O almoço começa a chegar, bem à nordestina: cabidela de galinha, peixe e camarão no coco, vatapá, sarapatel. Zé Sereno senta à cabeceira da mesa. Para um ex-comandante, um lugar de destaque. Adriano vai ao bar do restaurante em busca da batida que demora. É a última, "para abrir o apetite". Volta, o grupo come, esquecido do cangaço, das "volantes"; prefere elogiar as virtudes dessa cabidela de galinha, as qualidades do peixe, as virtudes do coco, a substância de um vatapá, um sarapatel.

Chega a hora das despedidas. O volante toma a iniciativa:

— Zé Sereno, espero agora você na minha casa.

— Não, Adriano, você é que vai lá em casa.

— Mas eu tenho prazer em receber você, Zé. 

Mas Zé Sereno ainda teme uma traição.
— Lá, não. Lá eu não vou.

A custo Zé Sereno revela por que recusa o convite:

— Lá no bairro dele tem dois cabras que querem fazê a minha pele.

Adriano continua a insistir, mas o ex-cangaceiro já decidiu: não vai mesmo. Afinal, o ex-volante cede na discussão, que se prolonga por alguns minutos. Faz uma promessa:

— Está bem, Zé Sereno. Vou lá comer um sarapatel quando você matar aquele porco que está cevando no fundo do quintal.

O instinto venceu 

Longe de Adriano, já de volta a casa, Zé Sereno se dispõe a revelar os nomes dos homens que querem "fazer a sua pele". Um, o ex-volante Euclides Marques, suposto matador de Maria Bonita. Ele fica mais tranqüilo ao ser informado de que Euclides cumpre pena num presídio de São Paulo, por ter assassinado a esposa. E o outro nome? Zé Sereno faz certo mistério, mas acaba confessando que é mesmo o do ex-volante Adriano. Nesse instante o instinto do cangaceiro ressurgiu no pacato zelador de colégio.

— Sabe? A gente precisa ter certo cuidado. A pior coisa é traição.

FIM


Lampião e seus cangaceiros adoravam fotografias. No grupo estão os sobreviventes de Angico: Sila (segunda à esq.) , Zé Sereno (terceiro) , Criança (quinto) e Marinheiro (sexto).

FONTE DA MATÉRIA:
Revista Realidade de Janeiro de 1969

Reportagem de Cristina Mata Machado e Humberto Mesquita.
Fotos de Jorge Bodanzky

Facsímiles cedidos por Geziel Moura, de revista de sua coleção particular.

FIM!

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DESCRIÇÃO DA MORTE DO PATRIARCA DO JUAZEIRO

Material do acervo do escritor Junior Almeida

Pegando o gancho na postagem de Geraldo Júnior, aproveito e posto também nesse grupo:

Lourival Marques era um caixeiro viajante que estava em Juazeiro do Norte naquele 20 de julho de 1934, quando o Padre Cícero Romão Batista fez sua "última viagem", pouco antes das 7 horas da manhã. Lourival escreveu tudo que presenciou. Seu relato foi publicado em alguns jornais da época. Texto esse que disponibilizo aqui:

"Acordei pelo tropel de gente que corria pela rua. Fiquei sem saber a que atribuir aquelas carreiras insólitas. Quando cheguei à janela tive a impressão de que alguma coisa monstruosa sucedia na cidade. Que espetáculo horroroso, esse de milhares de pessoas alucinadas, correndo pelas ruas afora, chorando, gritando, arrepelando-se... Foi então que se soube... O Padre Cícero falecera... Eu, sem ser fanático, senti uma vontade louca de chorar, de sair aos gritos, como toda aquela gente, em direção à casa desse homem, que não teve igual em bondade e nem teve igual em ser caluniado.

Um caudal de mais de 40 mil pessoas atropelava-se, esmagava-se na ânsia de chegar à casa do reverendo. O telégrafo transbordava de pessoas com telegramas para expedição, destinados a todas as cidades do Brasil. Para fazer ideia, é bastante dizer que só em telegramas, calcula-se ter gasto alguns contos de réis. Logo que os telegramas mais próximos chegaram ao destino, uma verdadeira romaria de dezenas de caminhões superlotados, milhares e milhares de pessoas a pé, marcharam para aqui. Joaseiro viveu e está vivendo horas que nem Londres, nem Nova Iorque viverão jamais... O povo, uma onda enorme, invadiu tudo, derrubando quem se interpôs de permeio, quebrando portas, passando por cima de tudo. Pediu-se reforço à polícia, mas o delegado recusou, alegando que o Padre era do povo e continuava a ser do povo.

Arranjaram, no entanto, um meio de colocar o cadáver exposto na janela, a uma altura que ninguém pudesse alcançar e, durante todo o dia, várias pessoas encarregaram-se de tocar com galhos de mato, rosários, medalhas e outros objetos religiosos, no corpo, a fim de serem guardados como relíquias. Milhares de pessoas continuavam a chegar de todos os pontos, a pé, a cavalo, de automóvel, caminhão, de todas as formas possíveis.

Quatro horas da tarde... Surge no céu o primeiro avião do exército. Depois outro. Lançam-se de ponta para baixo, em voos arriscadíssimos, passando a dois metros do telhado da casa do Padre Velho. Duram muito tempo os voos. É a homenagem sentida que os aviadores prestam ao grande vulto brasileiro que cai... Desceram depois no nosso campo, vindo pessoalmente trazer uma riquíssima coroa, em nome da aviação militar.

A cidade é uma colmeia imensa; colmeia de 60 mil almas, aumentada por mais de 20 mil, que chegaram de fora. Nenhuma casa de comércio, de gênero algum, barbearias, cafés, bares, nada abriu. A Prefeitura decretou luto oficial por três dias. O mesmo imitaram as cidades do Crato, Barbalha e outras. Todas as sociedades e sindicatos têm o pavilhão nacional hasteado a meio-pau com uma faixa negra, em funeral".

Fonte: facebook
Página: Junior Almeida

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