Texto de José Lima Santana
No ano de 1930
durante sua segunda passagem pelo município de Nossa Senhora das Dores no
estado de Sergipe, Lampião e seu bando praticaram várias atrocidades, entre
elas a castração do pobre Pedro Batatinha, que teve a infelicidade de
encontrar-se com o bando quando vinha da localidade conhecida como Malhada dos
Negros para Nossa Senhora das Dores com o objetivo de tratar um problema
dentário que há dias o incomodava.
Aproximando do
povoado por nome Tabocas, Pedro Batatinha houve dois tiros, sem saber que naquele
momento estava sendo morto um rapaz que tinha problemas mentais e que segundo
contam, teria mexido com o cavalo de Lampião, o que o sentenciou imediatamente
a morte.
Seguindo sem
tomar ciência do acontecido, Batatinha segue seu caminho e mais adiante, para
sua infelicidade, encontra-se com o bando que nesse momento cercava o cadáver
daquele que fora há pouco assassinado. De repente Pedro Batatinha se vê em meio
ao bando de cangaceiros e começa a partir daquele momento seu suplício.
Vejam o que
relata o escritor Ranulfo Prata que entrevistou Pedro Batatinha e conseguiu o
seguinte depoimento:
Prosseguindo,
encontrou o bando de Lampião cercando o cadáver de um homem que acabava de ser
assassinado naquela horinha.
Foi logo
cercado e revistado, tomando-lhe a quantia de 20$000, único dinheiro que
trazia.
Obrigaram-no,
em seguida, a voltar com eles, e ao chegarem ao povoado “Cachoeira do Tambory”
[na verdade, Lagoa dos Tamboris], apearam-se todos se dispersando pelas casas
da povoação e ficando ele, Batatinha, preso entre dois do bando, no terreiro da
casa de Sinhosinho, casado com uma sua prima, onde fora Lampião sentar-se em um
tamborete, na saleta da frente, à espera de um café que mandara fazer.
Os dois
bandidos começaram, então a surrá-lo a chicote de três pernas, ambos ao mesmo
tempo, sem motivo, sem quê nem pr’a quê. Empolgou-se de tamanho terror que não
sentiu dores.
Após a sova,
eis que chega um terceiro, de apelido “Cordão de Ouro”. Ordena-lhe que descesse
as calças e, segurando-lhe os dois testículos, cortou-os de um só golpe,
atirando-os fora, debaixo das gargalhadas e chacotas dos companheiros.
Disse-lhe o facínora:
- Quem lhe fez
isto foi “Cordão de Ouro”, é a lei que manda e tenho feito em muitos.
Lampião,
calado, assistiu à cena, perguntando, depois, ao castrador:
- Corto tudo?
Não, respondeu-lhe este. Deixei o resto porque o rapaz é novo (Ob. cit., p.
97-98). Encurtando a história, que é longa, os bandidos ainda deram pontapés e
pranchadas de punhal em Batatinha. Lampião ao montar, aproximou-se dele, sacou
do punhal e cortou-lhe um pedaço da orelha esquerda, acrescentando:
- É um garoto
que precisa sê marcado, p’ra eu conhecê quando encontrá.
E voltando-se
para as pessoas presentes, preveniu-lhes:
- Vocês trate do rapais senão quando eu passá aqui arrazo cum vocêis todo
(PRATA, Ob. cit., p. 98). Batatinha, enfim, fora socorrido pelo Dr. Belmiro
Leite, em Aracaju. Escapou e, segundo informações colhidas, morreu, na década
de 1990, em São Paulo. Além de Ranulfo Prata, alguns autores que escreveram sobre
Lampião registraram o fato da capação de Batatinha. O autor fecha o episódio
narrado em seu livro da seguinte maneira; Ao lado de todas estas tragédias, a
nota burlesca: Depois de ouvirmos o pobre Pedro e fotografá-lo, conversamos
também com um dos seus irmãos, que nos informou na sua linguagem pitoresca de
tabaréu malicioso:
- Pedro casou
ta gordinho que nem “bicho de dicuri”, e sem bigode. Penso que ele não dá conta
do matrimonho; regula duas muié numa cama... (Ob. cit., p. 98).
Texto de José
Lima Santana
Adendo:
Geraldo Antônio de Souza Júnior
Obs: A imagem
acima é pertencente ao acervo do escritor e pesquisador Antônio Amaury Corrêa
de Araújo. Uma imagem excelente e em Alta Definição que nos permite ver todos
os detalhes com clareza.
Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
http://blogdomendesemendes.blogspot.com