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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

UMA CRÔNICA DOMINGUEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.835

     Acordei com os passarinhos, montei nos dois pés e fui andar pela periferia, como sempre faço. Conversar, inquirir, curiar... Desci até à barragem, pensando que a rua que margeia a BR-316 (DENIT à barragem, rua de antigos quebradores de pedra) estivesse calçada. Nem vou dizer o que ouvi. Difícil andar por ela. Tive que ir para o asfalto, encolhendo-se para não ser atropelado na pista muito movimentada. Foi assim que passou um maluco numa moto, com um doido na garupa, acelerando, gritando e perseguindo seus cavalos soltos no asfalto. Nunca tinha visto um negócio daquele e por pouco não sofri acidente grave. Os cavalos do bandido, aterrorizados e olhos fora de órbitas, entraram em estrada vicinal na cabeça da ponte, com uma velocidade das “mile” e uma peste!

BARRAGEM A JUSANTE

        O cabra da moto deu um cavalo-de-pau e retornou em direção ao centro. Passou dois motoqueiros com pessoas na garupa, pegando corrida (em dupla) por cima da ponte.

BARRAGEM A MONTANTE

Cheguei à barragem apenas para bater algumas fotos e fazer contato com a Natureza. O assoreamento do antigo lago artificial no rio Ipanema, de mais de um quilômetro de espelho d’água, formou um bioma particular semi pantanoso naquele local. Fios d’água, poços, florezinhas multicores, areia grossa, vegetação rasteira, arbustos, arvoretas e árvores com até 20 metros de altura. Na parte inferior da barragem, também um panorama de encher os olhos, desde as pedras do rio, aos batentes da serra da Remetedeira, com sopé de barro vermelho no verde da paisagem. De repente perdi a coragem de encarar a estrada rumo ao riacho Salobinho ou a trilha que leva ao Poço Grande.
Nem irei falar do que estar acontecendo ali, sobre o meio ambiente nas areias do rio que já é de amplo conhecimento de todos. Apenas procurei gozar ao máximo o que a Natura poderia me oferecer. Respirei o mato verde, tomei o Sol da manhã, conversei com muita gente humilde, matei a saudade para não ser morto por ela e, ainda cedo da manhã do domingo (21), retornei ao lar, feliz como quem havia escalado o Pico da Neblina.


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“EI, VAMOS NAMORAR”, DIZ A PROSTITUTA DA ESQUINA

*Rangel Alves da Costa

Todos os dias - e a qualquer hora do dia - quem passar pela Rua Florentino Menezes, na região central de Aracaju, vai ouvir coisas assim: “Ei, vamos namorar!”, “Gostoso, vamos fazer neném!”, “Vamos pra cama!”, “Quer me comer?”. E sempre das mesmas bocas: as prostitutas que ali fazem ponto pelas calçadas, esquinas e abaixo das escadarias dos dormitórios.
Parece mais um beco de cabarés, uma vila de puteiros, um aglomerado de casas do sexo, mas apenas um trecho numa rua movimentada no centro da capital sergipana. Desde o amanhecer ao anoitecer, que chova ou faça sol, as prostitutas ali estarão chamando um e outro para namorar.
Não é normal que assim aconteça num centro de capital. Sabe-se muito bem que atrás de portões e portas, muros insuspeitos e fachadas bonitas, existem verdadeiros bordéis. E lá dentro prostitutas, garotas de programa, iniciantes da vida fácil e toda espécie de mulheres que comercializam prazeres.
No centro mesmo existem casas de mulheres assim. Num misto de casa de strip-tease, bar e bordel, outra função não há senão a pura comercialização do sexo. A única diferença é que as mulheres entram e saem dos ambientes sem que levantem qualquer suspeita, vez que jovens arrumadas, aparentando timidez e até muito bonitas.
Quase livre de toda suspeita é a rotina sexual da zona sul e da orla praieira. Casas de luxo, requintadas, com mulheres novas e de todas as formas, sempre se apresentando como universitárias. As mocinhas de programa se juntam àquelas que juram que não são dessa vida, e acabam recebendo aqueles dispostos a ter altos gastos.
Um comércio requintado do sexo onde o impensável de existir acaba se revelando na mera prostituição. E mais tarde, quando as idades já não revelarem as belezas e quando os atributos do corpo já não atraírem mais, então muitas destas acabarão em cabarés comuns, em ralés puteiros, em chinfrins casas da luz vermelha.


Muito diferente ocorre no trecho da Florentino Menezes, onde a partir da porta de um bar (Bar do Zé) as mulheres se espalham pelas calçadas, esquinas e aos pés dos dormitórios que se avizinham nos andares superiores das lojas. Os convites são feitos na rua, e acaso aceitos, ali mesmo nas proximidades ocorrerão as entregas. Basta subir as escadarias para chegar aos quartos miúdos, sujos e tomados de sujeiras envelhecidas de sexo.
Diversamente do que ocorre nos arredores e afastados da cidade, onde os cabarés já não são tão avistados como antigamente, o que chama a atenção naquele trecho é precisamente o fato de as mulheres da vida estarem quase que misturadas com as demais mulheres que passam. As escadarias dos dormitórios são ao lado das lojas, ali chegam pessoas a todo instante, e ali também as prostitutas fazendo o seu outro comércio. Em certas situações, difícil mesmo saber quem está ali fazendo vida ou fazendo compras, que está esperando cliente ou apenas passando.
Não é normal pela forma que se dá naquele trecho, ao lado de supermercado e lojas, bem como pela nenhuma importância que aquelas mulheres dão às famílias que passam. Ora, ali um logradouro comercial, com pessoas de todas as idades passando e voltando. E elas ali, sem se importar que passe o pai ou a mãe, um irmão ou parente, simplesmente esperando freguês. Certamente muitas já tiveram o desprazer de bater de frente com uma vizinha ou um parente. E fazer o que numa situação assim, simplesmente dizer que está ali por que é quenga, é meretriz, é rapariga, é prostituta?
Talvez seja o comum da profissão levado ao estado do tanto faz. Certamente que entre elas não há qualquer timidez ou envergonhamento, e tanto assim que não se escondem nem procuram negar o que fazem ali. E estão ali como putas, como quengas, como meretrizes, como mulheres da vida, em troca de trinta ou cinquenta reais, quando muito. Algumas permanecem dentro do bar, sentadas em mesas, esperando que um ou outro chegue para pagar uma bebida e fazer o tão esperado convite. Algumas se embebedam de bebida barata e fazem do dia mais um dia sem nada. Retornam tristes, chorosas, caindo por dentro e por fora.
Mas neste momento elas estão lá. De canto a outro elas são avistadas chamando quem passa para namorar. Envelhecidas, feias, magras, balofas, simpáticas, jovens, de todos os tipos. Lábios vermelhos, perfume barato, olhos pintados, caçadoras. Pedem cigarros, desejam atenção. Mas sempre passam. Passam, mas tendo que primeiro ouvir: “Ei, vamos namorar?”.

Escritor
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MUSEU DO SERTÃO FAZENDA RANCHO VERDE - MOSSORÓ - RN


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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O MOVIMENTO ARMORIAL E SEU CRIADOR: ARIANO SUASSUNA


Francisco Miguel de Moura*

Comecemos pelo nome ARMORIAL e a definição do movimento artístico-cultural: “A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum, principal, a ligação com o espírito mágico dos folhetos do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel) com a música de viola e rabeca ou pífano que acompanha os seus cantares, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das artes e espetáculos populares com esse mesmo romanceiro relacionados” (in ‘Jornal da Semana”, de 20-5-1975). Mas o Movimento foi um pouco tardiamente definido, em seus princípios, pois já existia desde que, oficialmente, em 18 de outubro de 1970, tendo à frente o Prof. Ariano Suassuna, já acompanhado por um grupo de escritores e artistas, e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco, foi publicamente proclamado. Marcando o lançamento ARMORIAL, houve na mesma Universidade: a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas, no Palácio de São Pedro, no centro da cidade. Dentre os escritores e nomes importantes da cultura nordestina que o apoiaram no primeiro momento, estavam o Antônio Madureira, Francisco Brennand, Raimundo Carrero, Gilvan Samico e Géber Accioly.

Está claro que, ao iniciar esse movimento cultural, Ariano Suassuna teve por objetivo valorizar a cultura popular do Nordeste. Mas há de acreditar-se que ele já pensava em termos mais amplos, visto que falara da “PRETENSÃO DE MOSTRAR E REALIZAR UMA ARTE BRASILEIRA BÁSICA A PARTIR DAS NOSSAS RAÍZES, PARA ESTENDER-SE A TODO O PAÍS”. 
  
Segundo Suassuna, “a palavra armorial é tomada no sentido do conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, e a heráldica (parassematografia), é uma arte muito mais popular do que qualquer outra”. Dessa forma, o nome que escolheu não tem nada de moderno nem “modernoso”.  Ao contrário, leva-nos a pensar as raízes e costumes históricos, ancestrais, de um povo, de uma nação. E foi este o seu desejo: começar das raízes e chegar ao atual, numa ligação que se estendesse (e se estendeu, pelo menos em termos de Nordeste), à pintura, à música, à literatura e demais outras: cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura, chegando até o cinema. Resumindo: universalizar, pela arte, a expressão dos sentimentos que permanecem na tradição da sociedade, do povo, tudo aquilo que é bom e belo. Quem quiser diga que isto é estilizar, modernizar, criar novo estilo, recrear. É tudo ao mesmo tempo, sem esquecer a tradição, porque o que fica da tradição, nas manifestações artísticas, quem melhor sabe traduzir o melhor para a sociedade.

No seu pensar, sentir e saber altamente criativos, Suassuna deu grande importância aos folhetos do romanceiro popular nordestino, a chamada Literatura de Cordel, por achar que neles se encontra a fonte de uma arte e uma literatura que expressam as aspirações e o espírito do povo brasileiro, além de reunir três formas de arte: as narrativas de sua poesia, a xilogravura que ilustra suas capas e a música, através do canto dos seus versos, acompanhada por viola ou rabeca.
  
Suassuna apontou também como importantes para o MOVIMENTO ARMORIAL, “os espetáculos populares do Nordeste, encenados ao ar livre, com personagens míticas, cantos, roupagens principescas feitas a partir de farrapos, animais misteriosos”. E cita “o boi” e o “cavalo marinho”.  Por fim, não foi esquecido o mamulengo - teatro de bonecos nordestino - também como fonte de inspiração, visto que essa espécie de dramaturgia é um modo singular de encenação e representação bem brasileiro, espalhado por pequenos grupos e até por artistas individuais e seus familiares, dedicados inclusive à diversão infantil.
  
Pego, agora, a importante deixa do Suassuna e lembro que, quando eu era menino, acompanhava o “reisado” - na parte do Piauí já perto do limites com o Ceará, como é Picos – representação não tão semelhante ao “bumba-meu-boi”, mas com ele confundido. O “reisado” é diferente. É feito à noite e o grupo teatral sai de casa em casa com seus apetrechos, músicas, cantos e artistas para alegrar o povo do lugar. As figuras do tal teatro popular das partes do Nordeste mais seco são: o boi, a burrinha, o avestruz, a ema, o lobisomem, as damas, todas comandadas pelos caretas, normalmente três. Começa no Dia de Reis, ou seja, em 6 de janeiro. Essa brincadeira acontece à noite e vai até alta madrugada, quando não até o dia seguinte. 
  
Para finalizar, com uma pequena comparação dos movimentos literários brasileiros passados e presentes, Wilson Martins, grande historiador e crítico, em seus “Pontos de vista”, disse: “O Modernismo acabou algum tempo depois da Semana de 1922. Daí por diante tudo é Modernidade e se traduz por movimentos: - movimento da poesia concreta, da poesia práxis”, do romance de 30, etc. Para mim, os movimentos representam grupos que se estendem mais ou menos por algum espaço e tempo limitados. Não sei se com o Movimento Armorial vai acontecer o mesmo. Ou se é uma escola literária para muito tempo. Acredito na última hipótese e o interpreto como uma espécie de volta ao Romantismo, pela ingenuidade visceral, pela sentimentalidade de tentar unir as artes através dos usos e costumes do povo. Porém é diferente no sentido em que os artistas já aprenderam a lição de que o clássico nunca morre, a literatura e as artes devem ser sempre estilizadas, provenha o seu sumo do Romantismo ou do Realismo, as duas escolas literárias que se rivalizam e as únicas existentes, conforme concordam a maioria dos críticos. E eu me confesso um deles. Assim, nem toda literatura de cordel é boa arte, nem toda arte popular terá longa vida se não entranhar-se por um terceiro caminho. É preciso que o poeta ou o prosador tenha um mínimo de consciência da técnica da escrita, do verso, da palavra, do ritmo, do som, do tom, da luz e do movimento. E isto deve ocorrer em todas as artes. O MOVIMENTO ARMORIAL, que começou com uma obra tão profunda e bem elaborada como a de Ariano Suassuna, “O romance da Pedra do Reino”, tende a refinar-se, tornar-se clássico, depois da incorporação do povo e seu saber. Segue, assim, o mesmo rumo dos demais movimentos que se prezam, na história das artes e da sociedade. 

*Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras - Piauí,  da União Brasileira de Escritores - São Paulo e Associação Internacional de Escritores e Artistas -Estados Unidos.   

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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A FESTA DE SANTO ANTONIO NO ANTIGO LUGAREJO

Missão Nova no começo dos anos 80

Manhã de domingo. O padre subia vagarosamente o alto barranco da estrada de barro em seu jerico. Um pouco à frente seguia sem muita pressa o seu desajeitado sacristão; quase um Sancho Pança de um Quixote surreal e, tipicamente sertanejo. Ia ele montado em seu burrico ‘cardão’ que parecia muito mais cansado do que de fato, se encontrava.
Vinham da cidade pela antiga estrada do Morro e do coqueiro para à tradicional celebração do santo padroeiro que naquele ano coincidiu também com a feira  de domingo. Dois acontecimentos marcantes daquele solitário e bucólico vilarejo esquecido na solidão do mundo.
No burrico em que vinha o sacristão, dois caçuás de couro surrado(que pela cor penso que não era de boi como a maioria, mas de bode curtido)... De cada lado dividido, o peso, entre outras coisas, também além de presentes; cuidadosamente as alfaias, os objetos sacros a serem utilizados no culto divino pelo sr. padre.
Missa de Santo Antonio – o padroeiro. O lugarejo estava em festa. O ar era de puro entusiasmo e alegria o que tornava aquele ambiente ainda mais encantador e aprazível. Tudo pronto e belamente organizado para receber o vigário e convidados. Gentes do povo e elite lá se misturavam em nome da divindade, como igualmente pelo profano e o sagrado afim de amenizar o azedume da vida uma vez a cada ano. 
Matos cortados nos beirais das cercas, capela pintada, altar enfeitado de flor pelas mãos carinhosas de Dona Zefinha(minha vó), Raimundo Alves, Margarida e minha tia Alaíde, além das fachadas das casas com uma aparência multicor sob o pincel do mestre Pedim. Estavam mais cheirosos e belos os jardins, notadamente o do casarão do Seu Osvaldo e Antonio Argeu. Até mesmo a beirada do ‘rio da rua’ estava roçada, assim como o cemitério, a vereda do canavial que dava para o ‘outro lado’ de Seu Joaca Tolim e dona Toinha - a mais caridosa senhora daqueles rincões. O  chafariz estava também pintado por Zé Maquinista. Apenas as moitas de mufumbo e de aveloz que ficavam pra bandas do brejo não foram decotadas. Lá, era onde se divertiam as ‘mulheres da vida’ e muitos homens daquela vila na noite de festa.
Toda a matutada bem vestida. Os coronéis dos engenhos com seus melhores trajes. Donzelas bem vestidas com laços de fitas coloridas nos cabelos. Batizados marcados e até casamentos eram esperados para a santa missa do domingo na capelinha que ficava à margem da estrada cerca de muitas árvores frondosas onde muitas descansavam e também se amarravam os seus cavalos. No fundo da qual ficava o engenho e bem ao lado após a grande cerca de aveloz o bananal, os coqueirais, o riacho que corria o ano todo e o canavial.  Muitos meninos correndo pelos terreiros. Engenhos em silêncio. Pifeiros e cambiteiros bebericando pelas barracas de palha de coco e pelos balcões dos vendeiros Damião Bento, Antonio Siqueira, Zé Caneco, Ciço do Bar e Seu Otávio ambos situados no quadro do comércio, onde também se instalara o circo de Fuxico, o bozó e Caipira, além da banca de bugigangas de seu Antonio da feira e o pequeno parque de diversão com suas balançantes canoas, o bingo,  o carrossel rodado à mão e o estúdio de som com suas cornetas tocando os sucessos daqueles anos.
De longe era possível se ouvi o som de sanfona e zabumba, além da banda cabaçal passeando ao redor da capela o dia inteiro. Era a única vez no ano que o delegado e três soldados se apresentavam para abrir a delegacia – um pequeno prédio dividido em dois cubículos. Fogos de artifícios explodiam o dia todo no céu daquela vila perdida no oco do mundo até que chegasse a noite festiva iluminada por imensos lampiões de gás e grandes candeeiros. Momentos propícios para as paqueras e os namoricos.
Malgrado o barulho e o reboliço no oitão da delegacia o doido Bento se mantinha alheio e distraído com seu olhar profundo mirado no firmamento do mundo e, de quando em vez contando as formigas que entravam e saiam do tempo todo do grande formigueiro que ali havia há anos. Quem sabe, como a nos dizer que, nada daquilo valeria sequer o trabalho reto e empedernido de cada formiga daquele formigueiro.
Foi assim. Mês de julho de um ano ido tão distante que até não mais me lembro dos números. O que sei de fato é que vivi também intensamente tudo aquilo, quando menino. Se não foi eu cegue! Juro por Santo Antonio – nosso divino e casamenteiro padroeiro.
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José Cícero
Aurora - CE
www.proeversojc.blogspot.com

ANTONIO SILVINO EM TELA

Por Volta Seca

Um retrato espetacular em grafite do ex-cangaceiro ANTÔNIO SILVINO, que passou em torno de 15 anos no cangaço e, foi antecessor de Lampião no banditismo rural nordestino.

Autor da foto: ( Zé Marques.)

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IRMÃ DULCE E O MENINO CANGACEIRO " VOLTA SECA ".



A bem aventura Irmã Dulce, sempre esteve ao lado dos miseráveis, esquecidos e injustiçados da Bahia. Na sua juventude, por amor ao próximo, transformou um galinheiro em uma Hospital, que hoje é um complexo de saúde, que atende 2 mil pessoas dia, com 1600 leitos para internação, 100% SUS. É a ultima porta para os menos favorecidos do Brasil. A estória de Irmã Dulce é vasta e grandiosa. É uma grande brasileira, digna de todos os méritos. Antes de transformar a saúde pública no estado da Bahia, a jovem religiosa dedicava também os seus dias para levar a fé e esperança a pessoas e lugares marginalizados, como as Palafitas de Alagados e a Cadeia da Coreia , com era conhecido o presídio de Salvador, prisão de trabalhos forçados, onde os maiores criminosos eram levados, poucos resistiam e morriam ali mesmo. Raro era o civil que, em sã consciência, se aventurava a visitar aquela raça de gente. Irmã Dulce, na sua fé franciscana, uma vez por semana era vista por lá.

Volta Seca, um dos primeiros cangaceiros a ser preso, cumpriu pena nesta cadeia por 20 anos, talvez uns dos poucos brasileiros a ficar tanto tempo preso.

A chegada do jovem membro do bando de Lampião, causou enorme reboliço em Salvador. A cidade quase parou, a espera na estação de trem no bairro da Calçada, foi antecipada em Paripe, subúrbio ferroviário, distante da outra cerca de 60km, devido ao tumulto da população. Exibido como uma fera selvagem, um troféu de guerra, ficou isolado e incomunicável. Na primeira semana só falava com a imprensa amarrado e fortemente vigiado. A única pessoa que esteve frente à frente com o temido monstro, desprovida de medo, foi Irmã Dulce. A freira cantava muito bem e tocava acordeom como poucos, e foi com a música que ganhou a confiança e a simpatia do acuado guerrilheiro. Não o acusava de nada, não o interrogava e acima de tudo não tinha medo. Volta Seca era praticamente uma criança, tinha só 14 anos e sobre ele pesava as mortes, todas as invasões e todos os crimes de todos os cangaceiros. Por diversas vezes a religiosa esteve com o cangaceiro. Ele ouvia atentamente as palavras de conforto e fé, até se permitia a cantar com a religiosa. Por Volta Seca, Irmã Dulce, tinha muita afeição. Era um menino vítima do seu meio, que precisava de atenção e cuidados. Este encontro inusitado está no enredo da peça O Cangaceiro Volta Seca. Outros cangaceiros ouviram as palavras de candura de Irmã Dulce: Bananeira, Labareda, Deus-te-cuide, Saracura e Cacheado, presos com Volta Seca após a tocaia em Angicos, onde tombou morto o rei do cangaço.

FONTE:
COLABORAÇÃO: JOSÉ JOÃO SOUZA

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DEFINIDA A AGENDA 2018 DO CARIRI CANGAÇO.



Com uma Agenda intensa e ousada o Cariri Cangaço promete reunir o Brasil de Alma Nordestina:


Cariri Cangaço Fortaleza, 26 a 29 de Abril
Cariri Cangaço Poço Redondo, 14 a 17 de Junho
Cariri Cangaço São José de Belmonte, 11 a 14 de Outubro
2018 um ano para não se esquecer !!!
Conselho Curador Alcino Alves Costa.
...
Se programe/agende; arrume as malas..IMPERDÍVEL..!

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JOSÉ, FILHO DE VIRTUOSA E LUIZ MARINHO, PROCURA O CANGAÇO



Naquele tempo, tempo do cangaço, os jovens também aprontavam das suas...

Viver a sua maneira e/ou achar que o mundo é pequeno e deles é uma coisa do ser humano desse que ele habita o planeta.

Luiz Flor filho do saudoso comandante Odilon Flor, em sua tenra adolescência é enviado, pela mãe para junto do pai que vivia embrenhado na Mata Branca a caçar bandoleiros. Luiz não fora simplesmente ‘enviado’. Ele fora mandado para que, estando junto do ‘velho’, esse lhe colocasse disciplina, já que estava dando bastante trabalho em casa e colocando sua própria vida em risco.

Pois bem, na família Ferreira também ocorreu um fato parecido. Uma das irmãs de Virgolino, Virtuosa Ferreira, casada com o senhor Luiz Marinho, era uma das mais velhas ‘manas’ do “Rei do Cangaço”, moravam na cidade do ‘Meu Padim’, Juazeiro do Norte, CE, quando seu filho José Ferreira dos Santos Marinha, começa a dar bastante trabalho aos pais. 


Não conseguindo colocar ‘cabresto’ no jovem, os pais o enviam para a casa de um dos irmãos, João Ferreira, único irmão de Lampião a não fazer parte do bando de cangaceiros, na cidade de Propriá no Estado sergipano.

Depois de algum tempo morando na casa do irmão de sua mãe em Propriá, seu tio, João Ferreira, percebe que não há solução fácil para que o jovem Ferreira siga um caminho bom, do bem, como o que ele levava. Então resolve encaminhá-lo para o bando de cangaceiros em que seu irmão, Virgolino Ferreira, o Lampião, comandava. João sabia do modo que seu irmão tratava e comandava uma caterva com pulso firme, fazendo com que verdadeiras feras humanas o acatassem e respeitassem suas ordens.

Infelizmente não há relatos explícitos nas literaturas sobre o que o jovem José Ferreira andou fazendo, aprontando, tanto na cidade cearense quanto em Propriá. 


João Ferreira entra em contato com um dos coiteiros de confiança de Lampião, o barqueiro Messias Caduda, e lhe dá a missão de levar seu sobrinho até o bando. Messias, já informado do paradeiro de seu chefe, segue por sobre as águas do Velho Chico até a altura onde localiza-se a fazenda Forquilha, por todos chamada de “Angico”, e após conversar com as pessoas na casa de dona Guilhermina, mãe de Pedro de Cândido e Durval Rosa, se certificando de onde realmente ficava o coito, segue para o local da grota em que estavam acampados os cangaceiros.


Essa parada e conversa na casa de dona Guilhermina vem mostrar que era rotina Lampião está por aquelas bandas se escondendo. Ao mesmo tempo derruba o que disse Durval Rosa ao referir que só conheceu Lampião no dia 21 de julho de 1938, na sexta-feira antes do ataque a grota do Riacho Angico pela tropa comandada pelo tenente João Bezerra.

“...Durval já conhecia Lampião de outras datas, e não o havia conhecido somente na sexta-feira anterior (dia 21) como declarou a diversas pessoas. Aliás, nosso amigo, o senhor Vicente Nascimento, nos contou que Lampião já havia estado na casa de D. Guilhermina algumas vezes e que Durval já o conhecia.” (BASSETTI, pg 87, 2015)


Chegaram ao acampamento no dia 26 de julho de 1938, uma terça-feira, e José Ferreira foi logo levados à presença do chefe mor do cangaço, seu tio Virgolino Ferreira. Segundo o próprio José Ferreira, seu tio lhe fez várias perguntas, querendo saber como estavam seus familiares, suas irmãs, seu irmão, primos, sobrinhos, sobrinhas e etc., por fim vieram as perguntas do porque querer se cangaceiro. Vejam bem, depois de ter levado várias cadeias e ter sofrido bastante debaixo das ordens e das bordoadas dos militares, cacete brabo no lombo, João, junto com um amigo, viajam quase que por uma noite inteira a cavalo até onde estava acampado seu irmão Lampião. Lá chegando diz ao mano que veio dessa vez para juntar-se a ele no cangaço. Virgolino não aceita que ele faça parte e diz que a responsabilidade dele é cuidar do restante dos familiares. Por essa notamos que não era só chegar e Lampião aceitar um parente entrar no cangaço. Sabedor das dificuldades, sofrimentos e sempre o risco de matar ou morrer diariamente ele tinha que entender o ou os motivos para aquela adesão. Tendo sido José Ferreira aceito em uma só conversa, subentende-se de que seu tio já estava a par das suas arruaças por onde andou, e lhe doa um rifle de presente.

Dois anos antes dessa viagem do barqueiro, Messias de Caduda, de Propriá ao coito, ele fez uma inversa, do coito, não o da grota do Riacho Angico, mas o do Poço dos Porcos, de onde levou a “Rainha do Cangaço”, Maria de Déa, para que fizesse um tratamento médico naquela cidade. (COSTA, pg 129, 2011)


Maria ao ficar ciente das estripulias causadas pelo jovem José Ferreira, com certeza relatado pelo ‘cunhado’, João Ferreira, leva o pedido da adesão do sobrinho para seu companheiro.

Na quarta-feira, 27 de julho de 1938, chega ao coito uma máquina de costura de mão para que fosse feito a vestimenta, ‘padronizada’, de cangaceiro para José Ferreira. Assim, durante todo aquele dia, 27 de julho daquele ano, apesar do esforço e empenho de Maria Bonita e outras cangaceiras que no acampamento estavam não deu tempo de aprontarem a toda a roupa.

Ao clarear do dia seguinte, quinta-feira, 28 e julho de 1938, o mundo se fecha com um tiroteio desenfreado e abrasador. José Ferreira, ao escutar o som dos primeiros tiros, de onde estava, dana-se de caatinga adentro mesmo sem conhecer onde estava. Na frente encontra-se com alguns cangaceiros que haviam fugidos e esses o leva para a casa do senhor Júlio Félix cunhado de Pedro de Cândido e Durval Rosa, na fazenda Logradouro. Entre os meses de julho e dezembro daquele ano, o jovem José Ferreira tenta se ‘arremediar’ com alguns bicos para sobreviver naquela região.


Na noite de Natal de 1938, encontrava-se na cidade de Canindé de São Francisco, SE, quando de longe o cangaceiro Balão o reconhece. Guilherme Alves, o cangaceiro Balão, que tinha feito parte do subgrupo comandado pelo cangaceiro Zé Sereno, usa de toda covardia e malícia que usara seu chefe. Estando, já naqueles dias, fazendo parte da volante do sargento Antônio Recruta, chama seu comandante atual e prendem o jovem José Ferreira. Levam o jovem para o xilindró da cidade de Jeremoabo, no Estado baiano, de lá, dias depois é transferido por ordem do capitão Aníbal para a capital, Salvador.

José não fica muito tempo preso mesmo porque ele não chegou, realmente, a ser um cangaceiro. Após ganhar a liberdade, notícias de que seguiu para o sul daquele Estado, Bahia, e depois não há referência alguma sobre o jovem sobrinho de lampião que queria ser cangaceiro.

Fonte Obs. Cts.
Foto Ob. Ct.
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O GRANDE E INCOMPARÁVEL SÍLVIO BULHÕES POR MANOEL SEVERO



Manoel Severo e Sílvio Bulhões

Este maravilhoso e encantador universo do cangaço! Um fenômeno de natureza beligerante que marcou por décadas os conflitos rurais de nosso sertão , com uma força extraordinariamente grande, guarda fortes relações com nossas raízes  e que trouxe tanta dor ao povo do sertão é capaz de nos proporcionar surpresas verdadeiramente fantásticas, uma delas: Sílvio Bulhões; filho dos lendários capitão Corisco e sua intrépida companheira, Dadá.

Conversar com Sílvio Bulhões, conhecer sua história, aproximarmo-nos de seu sentimento é algo de valor inestimável, tanto pela riqueza  e curiosidade histórica de sua vida como pelo grande ser humano que é, capaz de traduzir em poesia uma verdadeira saga de um menino que teve "dois pais e duas mães" aos quais dedicou todo o amor. O pequeno e grande Sílvio, filho de Corisco e Dadá, nasceu duas vezes: "Fui parido nas caatingas por minha mãe Dadá em um parto auxiliado pela cangaceira Moça, de Cirilo, em 1935  e depois tive um novo parto nove dias depois por minha mãe Liquinha, irmã do Padre Bulhões". O homem que teve dois pais: Corisco e Padre Bulhões e duas mães; Dadá e Liquinha; nos recebeu em uma visita inesquecível no ultimo dia 20 de janeiro de 2018, um momento para se guardar eternamente. Conto para vocês... 

Ingrid Rebouças, Manoel Severo, Sílvio Bulhões, Elane e Archimedes Marques

Por volta de 16 horas do domingo , 20 de janeiro, passando pelo centro de Maceió, acompanhado dos escritores Archimedes e Elane Marques e ainda Ingrid Rebouças, chegaríamos a casa do economista Sílvio Bulhões. A recepção ficou a cargo do pequeno e barulhento Haji ; o pequeno cão guarda-costas da família; que nos anunciava não só aos anfitriões mas pelo tamanho do barulho, à toda a vizinhança. Entrando na sala principal da casa , cercado pelas imagens dos pais famosos; Corisco e Dadá;  o abraço aguardado por mim, por tanto tempo em Sílvio Bulhões.

A emoção que se traduzia mútua, seria a tônica principal de mais de duas horas de uma prosa realmente inesquecível. Não foi preciso muita coisa para que Sílvio se sentisse mais que a vontade e se transportasse para os idos dos anos 30 e como num caleidoscópio espetacular pudéssemos juntos com ele, reviver os momentos marcantes de seu nascimento em plena caatinga, depois sua estada no bando por apenas 9 dias, sua chegada à casa do Padre Bulhões, sua infância, as primeiras noções de quem realmente era, as revelações, surpresas, até o dia em que conheceu as fotos dos pais, a viagem para conhecer Dadá, o ato de cremação do pai, as cinzas ao mar,enfim...a grande saga do filho de Corisco se descortinava passo a passo numa narrativa impressionantemente cheia de força e emoção. 

"Amigo Archimedes muito obrigado por trazer à minha casa esse amigo já mais que querido que só conhecia de nome, Manoel Severo. Que prazer e honra receber Severo em minha casa. O trabalho do Cariri Cangaço é fenomenal !" Revelava um emocionado Sílvio Bulhões.

Com a visão comprometida quase por completo; "atualmente vejo muito pouco, apenas vultos e com um pouco mais de esforço consigo identificar se ali ha pessoas, etc etc etc" ; Sílvio Bulhões se supera a partir de uma memória e uma lucidez fora do comum unidos a um caráter reconhecido por todos ao longo de toda sua vida, "cheia de aventuras", como ele próprio gosta de acentuar.   

 Sílvio Bulhões recebe o Diploma de Amigo do Cariri Cangaço
A visita do Cariri Cangaço a Sílvio Bulhões tinha tres objetivos: Primeiro proporcionar a todos esse encontro especialmente precioso, quando a história narrada com a poesia do coração é capaz de nos mostrar um outro lado da moeda, se tratando da crueza do mundo estranho dos cangaceiros; a segunda fazer um convite especial para que Sílvio Bulhões possa estar presente em uma das agendas do Cariri Cangaço, ao que ele asseverou: "Vou me organizar e se a saúde permitir será um grande prazer"; e a terceira de conceder de forma solene ao anfitrião, em nome do Conselho Curador Alcino Alves Costa, o Título de Amigo do Cariri Cangaço. Uma visita inesquecível e que passarei a publicar em duas postagens nos próximos dias neste mesmo blog do Cariri Cangaço.

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço
Maceió, 20 de Janeiro de 2018

https://cariricangaco.blogspot.com.br/2018/01/o-grande-e-incomparavel-silvio-bulhoes.html

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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

BATALHA E O LIVRO DE YSNALDO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de janeiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1834

Somente agora se acha em minhas mãos, o livro“Resquícios de minha temporada em BATALHA, capital da bacia leiteira alagoana”. O livro do bancário e advogado – hoje desfrutando sua aposentadoria – José Ysnaldo Alves Paulo, teve seu lançamento no final do ano passado, em Batalha, em comemoração ao aniversário daquele importante município sertanejo. Foi impresso na Fonte Editorial e consta de 299 páginas em papel fosco e amarelado o que motiva o conforto dos olhos do leitor.

CENTRO DE BATALHA. FOTO: (ÂNGELO RODRIGUES)
Estamos agradecendo a sua referência ao nosso livro “Ipanema, um rio macho”, às páginas 125, 126, 127, 128 e 129 e também como uma das fontes de pesquisa à página 289. As gordas citações referem-se ao rio Ipanema e, quando da passagem da nossa expedição por aquele festejado município.
Todos os autores têm suas preferências dentro da própria área dos seus escritos. Assim acontece no livro BATALHA, quando o foco de Ysnaldo estar dirigido para o social, num mergulho profundo naquela organização batalhense. O autor faz algumas incursões pela parte física, mas o forte são as pessoas da sua convivência e das pesquisas realizadas que, finalmente conta a história da urbe por este ângulo.
O livro, boa capa e ótima encadernação, traz a polêmica origem do nome do município em algumas opções. Para nós continua valendo o que dissemos ao autor por telefone ainda em sua fase de pesquisa. O próprio Ysnaldo encontrou a nossa referência em fonte segura que a mim, como curioso, parece a mais aceita, descrita na íntegra por ele. Entretanto, a escolha ficou em aberto para os filhos de Batalha.
O homem de Viçosa, levado a Batalha pelas circunstâncias da vida, durante uma década, amou, procurou entender, pesquisou e soube presentear à sociedade que o acolheu como funcionário de um banco da cidade. O autor deve estar muito feliz e, muito mais vibrante ainda, deve estar o povo da cidade sertaneja que teve sua história documentada. O livro “Resquício de minha temporada em BATALHA, capital da bacia leiteira alagoana”, além do objetivo principal, torna-se também grande fonte de pesquisa para as novas gerações que procuram entender Batalha no todo sertanejo. Louvem-se à coragem, o desempenho e à determinação de José Ysnaldo Alves Paulo.
Batalha continua festejando.


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POR QUE NÃO PRESERVAR O QUE RESTA DO POÇO DE CIMA?

Por Rangel Alves da Costa

O Poço Redondo (município dos sertões sergipanos) que se tem hoje nasceu como Poço de Cima, depois foi Poço de Baixo, até passar a ter a denominação atual. E sem esquecer que, para os antigos, sempre foi Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, denominação, aliás, muito mais apropriada para um município que desde muito vem definhando sua fé.
Poço de Cima por que povoação surgida em local mais elevado e nas proximidades de cacimbas ou “poços” existentes no riachinho logo adiante. Poço de Baixo pela denominação dada às fazendas que surgiram mais abaixo e se espalharam pelas distâncias. Com as fazendas, um novo núcleo habitacional formado principalmente por forasteiros. E Poço Redondo por outro “poço” existente no Riacho Jacaré e que em época de seca grande servia para iludir a sede dos bichos. “Aonde vai compadre?”. “Vou ali no ‘poço redondo’ dar água ao gado”. Assim surgiu Poço Redondo.
Pois bem, como dito, Poço Redondo nasceu no Poço de Cima, povoação logo um pouco mais acima do centro da cidade e que ainda subsiste somente no nome, na Capela de Santo Antônio de Poço de Cima e em alguns toscos casebres que insistem em se manter de pé, e por verdadeiro milagre. E também por um cemitério que resolveram inventar por lá, vez que aquele local nunca foi espaço público para enterros. Somente os originários do local possuíam e ainda devem possuir o privilégio de ter descanso ao redor da capelinha.
Mas por que não preservar o que ainda resta das antigas moradias daquele embrião sertanejo e que foi lar de nascimento de muitas famílias ainda frondosas? Os Sousa, os Cardoso, os Lucas, os Feitosa, dentre outras, vingaram naquela povoação e somente depois desceram a estrada. Imaginar que um dia ali as famílias e suas posses, os currais, os rebanhos, os escravos, os senhores e as sinhazinhas, a religiosidade incontida de um povo. E missas na igrejinha logo construída.


O que se tem hoje, contudo, são apenas restos e escombros de uma história que jamais poderia ser relegada ao esquecimento. Três casinhas demonstram bem o triste momento chegado pelo Poço de Cima. A primeira e a mais destruída, fica logo no início da estrada para que vai em direção ao hoje cemitério do Poço de Cima. A segunda fica defronte à capelinha e a última, logo adiante, ao redor de uma imensa barriguda, servindo apenas como depósito de velharias. Todas caindo aos pedaços, com o barro despencando mais e mais a cada sopro do tempo, do vento e das trovoadas que surgem num tempo e noutro.
A primeira casinha praticamente já não existe mais. O barro foi deixando uma desalentada nudez e os varais de madeira recurvando aonde raízes sertanejas se firmaram um dia. O mesmo acontecerá com as demais acaso nada se faça. É apenas uma questão de tempo para que o Poço de Cima desabe inteiramente na sua última moradia. Por que deixar que tudo aconteça assim, sem que ninguém se preocupe em, ao menos, jogar uma mão de barro por cima daqueles restos?
Sim, atualmente prega-se a destruição de toda e qualquer casa de barro para que em seu lugar seja levantada uma de tijolos. Mas este não é o caso daqueles restos ainda existem no Poço de Cima. Aquelas casinhas têm de ser preservadas, cuidadas e mantidas, pelo próprio significado histórico que possuem. Os seus donos devem ser alertados para a necessidade de preservação e caso não possam - por dificuldades financeiras - fazer os reparos necessários, então que os poderes públicos ajam para que a história não desabe de vez e, mais tarde, tenha-se que construir uma que faça relembrar aquele passado tão grandioso para a história e a memória de Poço Redondo.
Eu, como nada posso fazer, apenas fotografo para que os retratos sejam o meu álbum de tristeza e dor. Mas também de felicidade: o prazer de ter convivido com a história primeira de Poço Redondo. Fato que certamente, pelo passo do descaso, não mais será vivenciado pelas futuras gerações.

Escritor
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