*Rangel Alves da Costa
Costumeiramente se diz que perguntar não ofende. Quer dizer, indaga por que quer saber, na esperança que logo venha uma resposta satisfatória.
Mas as respostas satisfatórias nunca chegam segundo o desejado. E assim por que, dependendo da situação e do tipo de questionamento, perguntar ofende. E muito.
Ofende e muito por que a pergunta pode ser expressa como verdadeira armadilha, como um beco sem saída para quem tem de responder. Perguntas existem que são como armas apontadas.
Mas nada melhor que uma boa pergunta para que os ocultos sejam conhecidos, para que os lixos saiam debaixo do tapete, para que as dúvidas não continuem. Mesmo sem resposta, ao menos a pessoa perguntada fica sabendo que não é segredo aquilo que faz.
Perguntas têm o dom de enrubescer, de causar vermelhidão no corpo inteiro, de fazer estremecer, de causar suores e calafrios, de tornar uma pessoa de pele escura em galega, de tornar o de pele clara sem cor.
Não raro que a pessoa perguntada arregala os olhos ante a indagação. Já houve gente que desmaiou depois de uma pergunta bem feita sobre algo que achava no mais escondido do mundo. Não é raro também que a pessoa questionada emudeça de vez e procure um buraco para se meter.
“Meu bem, estava aqui pensando. Você nunca me deixa olhar seu celular, o que é que tem de tão especial a você que eu não possa ver? E por que deixa o celular sempre bloqueado e nunca me revelou sua senha? Tem algo a me dizer sobre isso?”.
“Meu amor, não é por nada não, mas você nunca usa perfume quando estou aqui. Quando retorno de viagem sempre encontro os frascos praticamente vazios. Por que isso acontece?”.
“Você usa Messenger também. Eu sei que usa, pois vejo quando você está online. Com quem você conversa tanto, quem são seus amigos no privado? Posso dar uma olhadinha nas suas conversas? Como minha namorada eu sei que você não vai negar, vai?”.
“Meu amor, sempre convido você para sair, para ir a bailes, shows, para passear. Como resposta você sempre diz que está cansada, com dor de cabeça, que não está nem um pouco com vontade de sair. Mas eu soube que você não para em casa quando eu não estou por perto. É verdade isso? Pra onde vai tanto, fazer o que?”.
“Outro dia, sem querer, você deixou seu celular aberto. E eu, sem intenção alguma de bisbilhotar sua vida, avistei no seu whatsapp alguns perfis de homens com uns nomes pra lá de estranhos. Nomes como ‘ele’, ‘docinho’, ‘outro’ e ‘aquele’, estavam lá. Pode me dizer quem são essas pessoas?”.
Diante de perguntas assim, muitas são as consequências. Desde as respostas mais esfarrapadas do mundo à brutal reação: “Quem mandou você pegar no meu celular? O celular é meu e eu faço o que eu quiser, falo com quem eu quiser, e pronto...”. E termina tudo.
Outras vezes, a resposta é somente para dizer que é tudo mentira. Não sai a lugar algum, não tem amigos no celular, odeia que enviem cantadas. E diz ainda que só usa o telefone para falar com mamãe, com alguma amiga ou para situações de emergência. Fora isso, nem gosta de celular.
Mas se o marido ou namorado chega em hora inusitada, bem naquele momento que o dedinho não para de teclar no whatsapp, ela imediatamente esconde o telefone e vai logo atacando: “Coisa bonita você, tava bebendo, tava com outra? Eu aqui agoniada esperando você e chega uma hora dessas. Diga logo onde tava”.
E ele, que ia exatamente perguntar o que ela tanto teclava no celular, terá que responder aquele disfarce premeditado.
Escritor
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