Por: João de Sousa Lima
CANGACEIRA
ARISTÉIA
Extraído do
livro: Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço.
Autoria João
de Sousa Lima
A fazenda
Lajeiro do Boi, em Canapí era sempre visitada tanto por cangaceiros quanto por
policiais. Os proprietários desta fazenda era o casal José soares e Maria dos
Santos Lima. Eles tiveram sete filhos: Eleonora, Benedita, Dasdôres, Valdemira,
Luiza, Maria, Aristéia e Antenor. Todos nascidos no Capiá da igrejinha, local
onde fica a fazenda Lajeiro do Boi.
A policia passava com freqüência na fazenda Lajeiro do Boi. Em uma dessas passagens, um dos policiais ofendeu verbalmente ao velho patriarca dos “Soares”, enquanto ele descansava no alpendre da casa se aproximou uma volante e um dos soldados falou:
- Oh veio feio da peste!
- Cada qual como Deus fez! Retrucou José Soares!
- É verdade! Atalhou um soldado mais consciente!
Em outra ocasião, outra volante comandada pelo aspirante Porfírio espancou o
velho José Soares e o filho Antenor, tendo este último sua orelha cortada,
sendo atingido pela coronha de um mosquetão. De tal castigo, com seus 97 anos
de idade, Antenor guarda a cicatriz co remorso e revolta pela pena sofrida.
Porfírio, além de ferir os moradores da fazenda do Boi, espancou várias pessoas
da fazenda Talhada, seguindo até a fazenda Pedra D’água onde mataram Ramos.
Vizinho fazenda Lajeiro do Boi, ficava a fazenda Poço do Boi e foi nesta
fazenda onde Benjamim Abrahão se encontrou com o bando de lampião para realizar
as famosas fotografias e as filmagens. Benjamim passava dias instalados na casa
de Francelino, onde se dirigia sempre uma velha baraúna com pretexto de
fotografar Otacilia, filha de Francelino, usando a velha árvore como desculpa
para os encontros amorosos que vinha tendo com a filha do dono da fazenda.
Das filhas do casal José Soares e Maria Santos Lima, duas engrossaram as
fileiras do cangaceirismo. Uma indo por prazer, outra sendo forçada. A primeira
a entrar no bando foi Eleonora. Ela seguiu o cangaceiro Serra Branca.
Aristéia Soares de Lima nasceu em 23 de junho de 1916 ( dia que se comemora a festa de São João ) e lembra-se bem da passagem dos cangaceiros Corisco, Virgínio e Luiz Pedro em sua casa, sendo que por diversas vezes, outros cruzaram o terreiro da fazenda Lajeiro do Boi.
Aristéia Soares de Lima nasceu em 23 de junho de 1916 ( dia que se comemora a festa de São João ) e lembra-se bem da passagem dos cangaceiros Corisco, Virgínio e Luiz Pedro em sua casa, sendo que por diversas vezes, outros cruzaram o terreiro da fazenda Lajeiro do Boi.
Tendo seu nome envolvido como coiteira de cangaceiros e temendo a ação
vingativa dos policiais,Aristeia fugiu pra fazenda alto vermelho,entre lajinha
e campo,próximo a Santana do Ipanema,indo refugiar-se na casa das tias
Mariinha, Zifina,Santa e Maria Grande. Por essa época, Eleonora já se cobria
com a mescla azul e os bornais enfeitados com os desenhos de flores coloridas.
Cícero garrincha já tinha certa queda por Aristéia e assim que abraçou a nova
vida do cangaço começou a rondar a fazenda da família da moça. Em uma dessas
passagens, ele foi avisado pela amiga Celina, da localização de Aristéia.
Cícero seguiu pra fazenda alto vermelho e depois de conversar com a escolhida,
sem usar a força, conseguiu que ela, mesmo contra sua vontade, acompanhasse o
cangaceiro.
O novo casal seguiu ao encontro do grupo de moreno que os aguardava no coito
conhecido por pilão das “pêia junta”, próximo á casa de Aristéia. No esconderijo,
Aristéia foi festivamente recebida. Durvalina manejou a velha máquina de
costura e fez um vestido pra nova amiga, completando o figurino com bornais
floridos e um chapéu de feltro.
Logo após a entrada de Aristéia, suas primas Sebastiana e Quitéria seguiram os
cangaceiros moita brava e pedra roxa.
Capiá da Igrejinha
Zé Soares,
primo de Aristéia, jovem de dezesseis anos, na companhia do amigo Pedro Tomáz
seguiam para roça quando avistaram alguns cangaceiros que deram com a mão
chamando-os. O irmão chamou Zé para correr. Zé falou que se corressem podiam
morrer. Os dói foram ao encontro dos cangaceiros. O cangaceiro pedra roxa foi
logo identificado pelos irmãos. Pedra indagou aos jovens:
- Quem tinha na casa de Pedro Jaquinta?
- Tinha uma mulher!
- O que ela tava fazendo?
- tava torrando umas pipocas!
- Volte e traga uma cuia cheia de pipoca pra gente!
Os rapazes voltaram e quando deram o recado á mulher, ela caiu assustada.
Zé Soares apressou-se:
- Avia (se apresse ) Carolina!
Ainda no chão a mulher respondeu:
- Pegue ai, meu filho!
Zé pegou a cuia e levou até o cangaceiro.
- Oi só tem o torrero!
- Tá bom, ta bom! Volte e traga um machado pra eu tirar uma abelha que eu achei
aqui!
Zé voltou, encontrando a mulher ainda no chão, tentando se recuperar do susto.
- Levanta Carolina, me dá um machado que a coisa tá apertando!
- Pegue aí debaixo do banco!
Zé entregou o machado a Pedra roxa e o cangaceiro obrigou Pedro Tomáz a tirar o mel. A empreita entrou pela noite, gastando o rapaz, duas caixas de fósforos para clarear e fazer fumaça, espantando as abelhas.
Zé entregou o machado a Pedra roxa e o cangaceiro obrigou Pedro Tomáz a tirar o mel. A empreita entrou pela noite, gastando o rapaz, duas caixas de fósforos para clarear e fazer fumaça, espantando as abelhas.
De repente um barulho foi ouvido e um farol clareou os cangaceiros e os rapazes. Era um caminhão abarrotado de soldados. Os cangaceiros se abaixaram e por muita sorte não foram avistados. Refeitos do susto os cangaceiros foram saborear o mel. Pedra Roxa se aproximou dos dois irmãos e alertou:
- Olhe, vão embora, mais se conversarem que me viram, passam por essa daqui (apontando a boca do mosquetão )!
- Eu por mim me garanto, só não garanto por este daqui!Falou Pedro Tomáz.
Diante do embaraço da resposta do irmão, Zé ficou sem palavras para se defender. O cangaceiro ameaçou o jovem:
- Qué dizê, rapaz, que você é assim? Você agora achou! Você agora vai aprender a viver!
No momento de angústia, Zé Soares se lembrou da padroeira do Capiá a quem ele venerava : “ Valha-me Nossa Senhora Divina Pastora “ Clamou Zé, silenciosamente.
Com pensamento na santa, as palavras vieram e ele disse:
- Mais Pedro como é que você diz uma coisa dessas comigo, eu tenho visto esses homens muitas vezes, estando com você e nunca falei nem pra minha mãe!
Foram as palavras salvadoras. O cangaceiro reconheceu que estava seguro.
Os jovens puderam seguir o caminho de volta. No trajeto Zé reclamou de Pedro.
- Mais Pedro como é que você fala uma coisa dessas comigo?
- Agente com medo não Sabe o que diz!
A escuridão da noite era testemunha de uma conversa de amigo cobrava de um
amigo a sua lealdade e a justificativa do medo servia para pedir perdão e ser
perdoado.
Nota: Relato colhido pelo autor , no dia 25 de janeiro de 2007, em noite festiva, na novena consagrada á Divina Pastora, no Capiá da Igrejinha. Canapí, Alagoas, Presente a ex-cangaceira Aristéia e o próprio Zé Soares.
CONTINUA...
(*) Escritor,
Pesquisador, autor de 09 livros. membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e
da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. telefones para contato:
75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br
joao.sousalima@bol.com.br
http://www.joaodesousalima.com/2013/04/a-cangaceira-aristeia-soares.html