Por Rangel Alves
da Costa*
A maioria das
pessoas certamente não conhece a história da Lua Luana nem da pessoa Lua Luana.
Eu também não conhecia, até que tudo me foi repassado através de um velho.
Encontrei este
velho ao acaso. Não recordo bem se em sonho, nas minhas andanças ou nas páginas
antigas e amareladas de qualquer livro esquecido pelos cantos.
É uma história
muito antiga, nascida num tempo esquecido, mas que até hoje brilha na força de
lua grande. E ganha contornos de lenda quando a noite está mais brilhosa.
Diz a história
ou lenda que Lua Luana era filha única de um pobre casal de camponeses,
moradores num lugar muito distante. Existem muitos lugares assim, distantes.
Pelos
arredores da moradia não havia vizinhança, não havia estrada aberta para
passagem de viajantes e comboieiros, somente um andarilho ou outro se arriscava
pelo lugar.
Distante de
gente e do mundo, tão longe das pessoas e multidões, mas ao lado da natureza,
da mataria, dos bichos do mato, das pedras grandes e da ventania do entardecer.
Era este o
mundo da menina que se tornou Lua Luana. Aliás, tal nome não foi pelos pais
escolhido, mas surgido por um desses acasos que muitos chamam de destino ou
sina.
A verdade é
que a menina nasceu e seus pais sequer pensaram num nome. Mas era tão bonita,
com olhos tão aureolados e brilhosos, que mais parecia com a mais bela lua
cheia.
Sem nome para
ser chamada, a mãe passou a chamá-la de lua. Ouvindo a esposa chamar, o pai
também se dirigia à menina chamando por lua. Mas não por muito tempo.
Por ali passou
um velho pastor de cajado e solidão e bateu à porta em busca de gole d’água.
Avistou a menina e foi logo dizendo: mas que criança graciosa, assim como uma
Ana.
Os pais
ficaram sem entender, mas a curiosidade instigou a perguntar por que Ana, já
que a menina, mesmo sem nome de batismo, vinha sendo chamada de Lua.
Então o velho
pastor descansou seu cajado e se pôs em rápida explicação. E disse: Que o nome
de sua filha seja Lua, então. Não há nome mais singelo e cheio de luz. Lua
bonita!
Porém sua
filha é mais que iluminada, é graciosa, é cheia de graça, como aquela que
presenteia pelo bondoso dom do coração. Eis que sua filha nasceu para a dádiva,
a bondade.
Assim bondosa
era Ana, aquela que deu ao mundo o profeta Samuel. Assim também era Ana, a profetisa
do templo que reconheceu em Jesus o verdadeiro Messias.
E se tens uma
Lua, cuja luz do olhar é também a luminescência do coração, também possuis uma
Ana, esta que amanhã terá a mão estendida a todos que necessitem de luz.
Sem
compreender muito bem o significado das palavras do visitante, os pais da
menina desejaram maior explicação. Porém não sabiam como pedir maior
aprofundamento.
O velho pastor
pressentiu o que desejavam, mas logo cuidou de partir e deixar que o próprio
destino trouxesse a compreensão. Assim estava escrito, e assim haveria de ser.
Assim que o
velho partiu, os pais da menina ficaram imaginando acerca daqueles dois nomes:
Lua e Ana. A mãe chamava a filha de Lua, mas o pai passou a chamá-la de Ana.
A menina,
contudo, acostumada ser chamada de Lua desde novinha, já crescida um dia
resolveu que dali em diante teria o nome que queria, mas também acataria o
desejo dos pais.
Chamou os pais
e explicou que daquele momento em diante seu nome completo seria Lua Luana,
pois o nome significava as duas luas nos olhos e a bondade no coração.
E disse ainda:
Uma lua de Lua e outra lua de Luana. E na Luana também a Ana, um nome tão
gracioso que me faz lembrar um tempo de colheita boa, dadivosa.
Não inventou
nada disso, pois em sonho o velho lhe trouxe o entendimento. E disse mais: mas
cuidado, pois a lua não estará sempre cheia e a maldade tentará seu coração.
Completou o
velho: A lua também escurece e parece perdida em meio à escuridão. Quando assim
acontece, só mesmo a força na chama do coração para reacender toda a luz.
Então Lua
Luana assim teve o seu destino. Na sua solidão, como não tinha a quem servir
senão aos pais já envelhecidos, se pôs a serviço do diálogo com a natureza.
Quando do
último adeus do último familiar, abriu janelas e portas e deixou que os
pássaros entrassem para os grãos que eram espalhados ao chão.
E nunca mais
houve noite sem lua pelos arredores. Sempre lua cheia, bonita, e mesmo na noite
os pássaros cantando ao redor de Lua Luana.
Poeta e
cronista
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