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segunda-feira, 4 de junho de 2018

NOTAS PARA A HISTÓRIA DO NORDESTE.

Autor brasileiro José Romero Araújo Cardoso apresenta "Notas para a História do Nordeste"


Por Shirley M. Cavalcante (SMC)


José Romero Araújo Cardoso nasceu em 28 de setembro de 1969, em Pombal (PB), filho de Maria de Lourdes Araújo Cardoso e Severino Cruz Cardoso. Graduou-se em Licenciatura em Geografia pelo Departamento de Geociências do Centro de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal da Paraíba, Campus I, João Pessoa (PB). Cursou especializações em Geografia e Gestão territorial e em Organização de Arquivos. Submeteu-se,em 1998, a concurso público para docente do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Central, Mossoró (RN), obtendo primeiro lugar. É professor AdjuntoIV. Concluiu, em julho de 2002, mestrado em desenvolvimento e meio ambiente-PRODEMA-UERN, com dissertação versando sobre a importância da caprino-ovinocultura em assentamentos rurais de Mossoró (RN). Assessorou a Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, por onde lançou os seguintes livros: Nas Veredas da Terra do Sol (1996); Terra Verde, Chapéu de Couro e Outros Ensaios (1996);Aos Pés de São Sebastião –novela sertaneja (1998); Fragmentos de Reflexões –ensaios selecionados (1999); A Descendência de Jerônimo Ribeiro Rosado e Francisca Freire de Andrade – A Família de Menandro José da Cruz (2001); A Importância da Caprino-ovinocultura em Assentamentos Rurais de Mossoró-RN (2002); e Euclides da Cunha e as Secas (2005). É autor de inúmeras plaquetas, a exemplo de Mossoró e a Resistência a Lampião (2002) e de Maria do Ingá a Maringá (2003). É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e sócio da Associação Paraibana de Imprensa, além de sóciofundador do Grupo Benigno Ignácio Cardoso D’Arão. É estudioso do semiárido nordestino e dos movimentos sociais desta região.

Boa leitura!

Escritor José Romero, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que o motivou a escrever “Notas para a História do Nordeste”?

Romero Cardoso - A motivação para escrever “Notas para a História do Nordeste” está diretamente vinculada ao sentimento telúrico que nutro pela região Nordeste, pois riquíssima em episódios históricos marcantes, com ênfase no cangaço, notabiliza-se como celeiro fértil de variados temas que busquei abordar a fim de socializar conhecimentos que venho adquirindo por meio de leituras e estudos de campo. Renomado bibliófilo de nome Francisco Pereira Lima, natural de São José de Piranhas (PB), residente em Cajazeiras (PB), instigou-me a elaborar trabalho literário, visando contribuir para a compreensão da região em diversos momentos.

Quais os principais objetivos a serem alcançados por meio da publicação desta obra literária?

Romero Cardoso - A primeira versão de Notas para a História do Nordeste é em formato e-book. Estou lutando para que a obra seja lançada em formato impresso. Lancei-a em Princesa Isabel (PB), em 19 de março de 2015, quando do evento cultural “Cariri Cangaço Princesa 2015”, ocasião em que realizei conferência sobre o Território Livre estruturado em 1930, pois os principais objetivos de “Notas para a História do Nordeste” são destacar marcas indeléveis de nossa história e buscar evitar que as gerações presentes e futuras sejam vítimas de processo de aculturação que atinge frontalmente as bases de nossa identidade enquanto nordestinos.

Apresente-nos os principais desafios para a escrita de “Notas para a História do Nordeste”.

Romero Cardoso - A falta de estímulo para que a cultura tenha lugar de destaque apresenta-se como desafio à concretização de projetos literários. Para lançar “Notas para a História do Nordeste”, contei com a colaboração imprescindível da Profa. Dra. Marinalva Freire da Silva, residente em João Pessoa, cujo auxílio, tanto no quesito revisão como organização, foi extremamente positivo. No presente, o maior desafio está sendo publicar “Notas para a História do Nordeste” em formato impresso, pois a crise por que passa o país tem fomentado nefastas manifestações de desprezo à cultura.

Conte-nos um fato que o marcou após pesquisas para a escrita desta histórica obra literária.

Romero Cardoso - O fato mais marcante foi o convite feito pela diretoria do Cariri Cangaço para realizar conferência em Princesa Isabel, pois vários capítulos de “Notas para a História do Nordeste” destacam o turbulento início da década de 30 do século XX no Estado da Paraíba.

O que mais o atrai na cultura nordestina?

Romero Cardoso - A originalidade e a resistência me atraem consideravelmente. O Nordeste é um campo fértil para pesquisas de variadas matizes de estudos. A cultura nordestina é ímpar, pois o processo de construção coletiva ainda se apresentabastante preservado.Exemplo disso vamos encontrar na proeminência da literatura de cordel em quase todos os quadrantes da região, servindo, dessa forma, como suporte ao reconhecimento enquanto nordestinos, estabelecendo o sentido de pertencimento.

Onde podemos comprar seu livro?

Romero Cardoso - Como destaquei em resposta anterior, “Notas para a História do Nordeste” ainda se encontra em formato e-book. Estou aguardando que surja momento oportuno para que seja lançado em formato impresso. Os exemplares que levei para ser divulgados em Princesa Isabel foram todos vendidos. Espero que o formato impresso, quando for publicado,seja disponibilizado para o maior número possível de leitorese possa ser mais uma fonte de informações sobre o Nordeste brasileiro.

Quais os seus principais objetivos como escritor?

Romero Cardoso - Divulgar a cultura regional e contribuir para a valorização da região Nordeste, tendo em vista que há uma forte tendência estimulada pelos objetivos e propósitos da globalização em sua fase atual de macular as bases da nossa formação cultural, pois sob a ótica do capital não interessa a preservação da memória, tanto local como regional.

Você participa das atividades do “Cariri Cangaço”. Apresente este projeto para nossos leitores.

Romero Cardoso - Ainda não integro o Cariri Cangaço. A direção da confraria cultural reuniu-se em Princesa Isabel e aventou a hipótese de inserir-me como membro do Cariri Cangaço, mas parece que não houve consenso.

Esse projeto importantíssimo, fruto da obstinação do curador Manoel Severo Barbosa, visa contribuir para a compreensão dos estudos por meio da realização de eventos culturais, os quais já foram realizados em vários estados nordestinos.

Quem desejar conhecer as principais atividades desenvolvidas pelo “Cariri Cangaço” como deve proceder?

Romero Cardoso - A melhor forma é pela participação dos eventos culturais que vêm sendo realizados. O site do Cariri Cangaço demonstra a importância assumida pelo projeto cultural que vem se tornando referência para os estudos sobre o Nordeste brasileiro.

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor José Romero Araújo Cardoso. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Romero Cardoso - Que valorizem a cultura regional e busquem se aperfeiçoar nas técnicas de escrita, conseguidas por meiode leituras e da elaboração de textos, pois a evolução humana passa obrigatoriamente pela educação e pela cultura.

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O RABO DO JUMENTO

Clerisvaldo B, Chagas, 4 de junho de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.914

        O que estar acontecendo em Santana do Ipanema? É a cidade que quer virar capital? É a evolução da cidadania no município? É a consciência política que estar chegando às praças? Será um momento de lucidez coletiva ou um caos que tomou conta da “Rainha do Sertão”? Estamos estarrecidos nos logradouros públicos, no ambiente de trabalho, nas ruas, nos becos, nas avenidas. Denúncias e mais denúncias ganham as manchetes na mídia da cidade todos os santos dias e logo a partir das seis da manhã. Na expressão sertaneja: “O cacete come” no sistema radiofônico desde o amanhecer do dia até a bendita hora do almoço. É tanta denúncia da mídia e do povo que até fica difícil se concentrar no trabalho.
ARTESÃOS ACODEM O BABAU. FOTO: (LUCAS MALTA).
Denúncias sobre o hospital atraso de pagamento, anúncio de greve, movimentos reivindicatórios nas ruas, paralização de transportes e até mesmo, pasmem os senhores, convite de aniversário para churrasco de ofício! Sim, isso mesmo, aniversário de um ofício que alguém enviou ao poder público sobre o concerto do rabo da estátua do jumento. Um ano sem resposta... Povo convidado a comer churrasco diante do jumentinho, nosso irmão. E se houve churrasco, houve cerveja, quem já viu churrasco sem a “lourinha”? A semana passada, compadre, Santana quase vira Maceió ou mesmo o Rio de Janeiro, com um rasgar de goela por tudo quanto é lugar. E se esta semana o barulho todo acontecer com a mesma intensidade, é capaz de haver muitas mãozadas por aí.
Não sabemos quais serão os resultados de tantas e tantas pancadarias virtuais ou não, saídas de todos os recantos do município: do Malembá a Divisão, da Lagoa Bonita a foz do riacho Jenipapo. Entre as inúmeras cacetadas da semana, tenta-se proteger o jegue, pelo menos o rabo do jegue. E a estátua do “babau” volta a ser polêmica. Antes do churrasco prometido, artesãos correm para salvar o “inspetor”. Dizem que agora vai haver bolo de chocolate pelo atendimento tardio. Com certeza estar faltando à presença do Coronel Ludgero e sua trupe. Acho que ele não teria perdido o churrasco proposto e faria imediatamente sua exigência de “coroné”:

“Você disse que é brabo Nascimento
Você cortou o rabo do jumento
Eu não quero pagamento, Nascimento,
Quero é outro rabo no jumento”.     


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DOCUMENTÁRIO LAMPIÃO O REI DO CANGAÇO

https://www.youtube.com/watch?v=f49LW4TZcHE
Publicado em 26 de mai de 2014
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LAMPIÃO, O CANGAÇO E OUTROS FATOS DO AGRESTE PERNAMBUCANO

Por Roberto Almeida

Com poucos mais de 40 anos de idade, Júnior Almeida lançou seu primeiro livro, “A Volta do Rei do Cangaço”, uma ficção com um toque de Quentin Tarantino, pois mostra Virgulino vivo nos tempos atuais, como vítima de uma espécie de maldição que o torna imortal e não o deixa envelhecer.

“Tarantino mudou a história matando Hitler num atentado, por que não posso ressuscitar Lampião? ”, explicou Júnior, ao comentar o romance, que teve boa acolhida na região e em outras partes do país, principalmente pelos intelectuais apaixonados pelo inesgotável tema do cangaço. Agora, o escritor volta ao tema, mas desta vez deixa de lado a ficção e nos apresenta um trabalho de uma minuciosa pesquisa de campo, livros, jornais antigos e documentários, mostrando como o cangaço esteve presente em algumas cidades do Agreste Meridional, na primeira metade do Século XX.

O livro registra as ligações de coiteiros, volantes e cangaceiros com o Agreste Meridional, nas cidades de Águas Belas, Garanhuns, Angelim, Capoeiras, São Bento do Una, Caetés, Canhotinho e Paranatama, e a passagem de Lampião e outros bandoleiros por algumas delas. Na sua pesquisa, Júnior descobriu fatos relacionados com os “fora da lei do Sertão”, nunca antes revelados e o que são agora, neste livro que representa uma contribuição para a História do Cangaço, do Agreste, de Pernambuco e do Brasil.

Um dos personagens que chama a atenção, no trabalho, é José Caetano, um dos maiores nomes no combate ao cangaço, militar que lutou contra as forças de Antônio Silvino, Sinhô Pereira e Lampião. O destemido volante morou em várias cidades de Pernambuco e terminou a vida em Angelim, a pouco mais de 20 km de Garanhuns, onde está sepultado. Dona Branca, de Paranatama, que viveu até os 103 anos de idade, foi entrevistada mais de uma vez pelo autor do livro e passou informações bem interessantes da passagem de Lampião por Paranatama, alguns anos antes do bandido ser assassinado pelas forças volantes, em 1938.

Capitão Virgulino Ferreira passou uma das maiores humilhações de sua vida no ataque a Paranatama, que à época se chamava Serrinha: sua companheira, Maria Bonita, levou um tiro na bunda e os cangaceiros tiveram de fugir pressas, levando a mulher nos braços. Lampião saiu cheio de ódio a Serrinha e prometeu voltar um dia para incendiar a vila e matar todo mundo que morava no lugar. Tudo isso e muito mais, num estilo seco, objetivo, você vai encontrar em “Lampião, o Cangaço e Outros Fatos no Agreste Pernambucano”. Vale a pena a leitura pelas informações inéditas, por esse novo olhar no fenômeno do cangaço e pela identificação do autor com a realidade de uma parte do Agreste de Pernambuco.

Júnior se interessou por História e está fazendo História, com seus livros que falam de bandoleiros conhecidos, que retratam a luta das forças do governo contra os pistoleiros da primeira metade do século passado, com violências praticadas pelos dois lados e o povo pobre sofrendo, vítima dos cangaceiros, dos coronéis do Agreste e Sertão, do próprio Governo, que ontem, como hoje, tende a servir aos poderosos.

Roberto Almeida

"Lampião, o Cangaço e outros fatos do Agreste Pernambucano" será lançado dentro da Programação do 
Cariri Cangaço Poço Redondo 2018 !

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ENSINA-ME A CUMPRIR TUA VONTADE!

*Rangel Alves da Costa

Senhor, então me ensina a cumprir Tua vontade. Assim está escrito no Salmo 143,10: Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus. O teu Espírito bom me guie por terra plana.
E assim Senhor, por que nada tenho e nada possuo que não seja de tua dádiva e de tua caridade, e por ter recebido de tuas mãos, que eu possa sempre preservar e frutificar e fazer do seu uso o melhor à vida e ao viver.
Se me fizeste para o bem, para a bondade, para a fraternidade, então por que eu haveria de percorrer outros caminhos e ser diferente? Se me deste a dádiva da existência, do viver e semear sobre a terra, então por que eu haveria de transgredir ao que me foi confiado?
Senhor, meu Pai, confiaste a mim a graça de ser filho teu. Deste-me a paternidade e um livro aberto com todas as lições para a vida. Jamais será honroso a um filho renegar sua paternidade nem rasgar o sagrado livro da existência.
Ensina-me Senhor, ensina-me a cumprir sempre a tua vontade. Num mundo desnorteado, num mundo amedrontado e violento, num mundo pecador e de perdição, não permita que eu fraqueje perante o mal. Se é da tua vontade viver para o bem, então me proteja com teu manto e dê-me o cajado para afastar de mim as más ovelhas.
Sou teu filho ó Pai, mas um frágil filho, um temeroso filho, um filho apenas. Dai-me, então, a força que não seja a do enfrentamento rancoroso, a coragem para lutar sem pegar em armas que firam, o destemor para conquistar caminhos sem ter que passar por cima das flores do caminho nem das pessoas que seguem pela mesma estrada.
Ensina-me ó Pai, ensina-me sempre a cumprir tua vontade. Se é da tua vontade que eu cumpra a tua vontade, se é do teu desejo que eu seja um filho fiel, então afasta de mim o cálice sujo de sangue, a má companhia, toda ingratidão que me ronda, toda falsidade que me persegue.


Torna-me, Senhor, não a perfeição humana, não o mais correto dos homens, não o menos pecador entre todos, mas apenas aquele que viva sem levar entristecimento aos olhos teus. Bem sei, ó meu Pai, o quanto sofres pelo filho desregrado, pela cria que se desgarra do rebanho e vai por tortuosos caminhos.
Senhor, meu Pai, ouça bem o que digo: mesmo nascido como dádiva sagrada, o ser humano dificilmente conseguirá fazer brotar a boa semente acaso a terra onde pise esteja devastada pela incúria, pela falsidade, pelo egoísmo, pela arrogância, pela cobiça, pela vaidade. Sozinho o filho teu é frágil demais para vencer todo o mal, então que lance sobre a terra a proteção aos justos e os arrependimentos aos injustos.
Se quiseres, meu Senhor, que teu filho cumpra fielmente tua vontade, que faça chover dádivas sobre a boa terra e do seu leito os melhores frutos: amor, compaixão, perdão, irmandade, fraternidade, comunhão, afeto, compreensão, pureza no coração. Floresça, ó Pai um jardim no meu e em todo coração.
Torna-me, meu Senhor, mais humanizado e tão humano que não esconda a lágrima quando sinta a dor, que não grite a aflição perante a tormenta, que não silencie perante a necessidade de bradar. Meu Senhor, somente a humanização dos sentimentos fará brotar o verdadeiro olhar diante da fome, da sede, da pobreza, de toda necessidade.
Prometo Senhor, não descurar do que foi escrito nem reescrever a minha sorte ao sabor de minhas conveniências. Reconheço, ó Pai, que nada sou sem vossa paternidade. Por isso que ao acender a vela e levantar minhas mãos em oração, que tudo seja como uma porta do Pai que se abre para reconhecer no filho, no teu filho que sou, aquele que serve ao mundo em nome do Pai.
Ensina-me, pois, a cumprir tua vontade. E mais que teu filho serei, pois serei orgulho e alegria perante o teu olhar!

Escritor
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"LAMPEÃO É NOSSO SANGUE"

Por Renilson Soares

"PELA PRIMEIRA VEZ A FAMÍLIA DO "CAPITÃO" VIRGULINO DEFENDE EM PÚBLICO A SUA MEMÓRIA"

Fontes: Revista O Cruzeiro, Ano 1953, Ed. 0050, p. 7

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NOTÍCIA ÓTIMA PARA A UERN


Por Aluísio Barros Oliveira

Notícia ótima para a UERN: estamos habilitados para receber 962 bolsas da CAPES, sendo 362 no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID - e mais 600 no Programa de Residência Pedagógica. 


Somos a segunda Instituição de Ensino Superior em captação de bolsas no RN. A primeira é a UFRN. Isso quer dizer q além do ensino gratuito, o nosso aluno - graças ao nosso excelente quadro docente -ainda se capacita para ganhar enquanto estuda mais. Bonjour, amores.


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DE VOLTA A RUA DO COMERCIO DE UMA POMBAL DA DÉCADA DE 1960


Texto de Jerdivan Nóbrega de Araújo e Verneck Abrantes de Sousa*

Quero de volta a Rua do Comércio: lugar de muitas histórias, acontecimentos diários e de saudade que veem e vão em nossas memórias...

Nos finais de tarde as pessoas debulhavam feijão nas calçadas. A bodega de Maria Noca, Severino Pedro, Josafá e de Toinho de Alice. Rua que lembra os pastéis da velha Petronila, os sequilhos e cavalinhos de goma de Ana Benigno, Nanzinha e dona Lourdes. A calçada de tio Cândido e dona Chiquinha, onde à noite o velho Manssonilo vinha se juntar ás demais pessoas para contar histórias antigas e fantasiosas da sua vida.

Os frondosos pés de fícus-benjamim, onde sob suas sombras os meninos jogavam peão e futebol com bola de meia, ao som gostoso dos cantos dos canários amarelos que procuravam migalhas nas soleiras das janelas entre abertas.

No meio da rua, sob à luz vigilante do luar, as vozes das meninas suavizavam a penumbra. De mãos dadas elas cantavam cantigas de rodas enquanto que os meninos, brincavam de “Pega Ladrão” a vista dos mais velhos, que em suas cadeiras preguiçosas trocavam ideias e cumprimentavam os que passavam, vindo da lida para o repouso do lar.

E quanta gente boa para cumprimentar: – Boa noite, dona Ana! – Boa noite, Seu João Lindolfo!

Seu Mizim a se balançar em sua cadeira de ferro, mestre Álvaro ouvindo rádio, Ciço de Nini, Pindó Gouveia, Joana Teresa na lorota e o Cego Rosendo que passa vendendo pão de ló, alfenim e broa preta. Otarcilio de dona Guiomar, Deoclécio Maniçoba, Dr. Lourival, Zulima, Pirrita, Licô, Jovem Formiga, Bernadino Bandeira, Odílio, Tambaqui e Cora de Onofre, dona Benigna na risada gostosa e Maria Antonieta vigiando suas filhas.
Era Adamastor ensaiando seu trombone para a apresentação da Banda Municipal, Maria de Deca sempre com uma história nova pra contar e Leó Formiga entregando uma chapa fotográfica que fizera na tarde anterior.

– Quantos ainda circulam pelas ruas de Pombal, quanto já se foram?

Nas chuvas de inverno, as águas rolam formando riacho no meio da rua descalçada e vão desembocar na enlameada Rua de Baixo, para finalmente desaguar no Rio Piancó.

Alí os moleques espertos, viviam cada momento das suas vidas, gritando em meio aos clarões de relâmpagos e o som estridente dos trovões, procurando uma e outra biqueira para tomar banho na chuva. As meninas adolescentes com seus vestidos colados ao corpo: quantas fantasias a despertar em nossas mentes inocentes.

Rua do Comércio! Das casas antigas e de muitas botijas de ouro enterrada e desenterradas por Cicero de Bembem e Filemon, dois bons contadores de lorotas e por onde as mulheres passavam com sua “reca” de filhos para receber o leite redentor no Posto de Puericultura.

O passado sendo desmemoriado pelo tempo. As imagens que distanciam e se apagam no tempo, mudando o antigo e dando lugar ao novo. Resta-nos recompor estas lembranças, trazer à luz o nome de saudosas pessoas à quem muito devemos as lições de vidas do que hoje somos.

A modernidade é cruel e não respeita as mais elementares lembranças e segue fazendo o seu papel. São as transformações que vão demolindo o nosso passado, transformando-o num imenso quebra-cabeça, o qual nos cabe remontá-lo, nem que seja faltando partes, pois há estilhaços que se negam a se juntar: são os remendos irremediáveis: o nome das ruas, por exemplo, que era dado pelo povo e não por leis como hoje acontece.
Quem há de saber quem primeiro denominou aquela artéria, uma das mais antigas da cidade de Pombal, de Rua dos Prazeres depois Rua do Comércio e hoje João Leite?

Mas, se essa rua centenária é, por força de lei municipal, denominada de Cel João Leite, por força da memória indemolivel do povo de Pombal é a eterna Rua do Comércio; do feijão debulhado as calçadas; das lorotas e vantagens contadas pelos nossos avós, onde seus fantasmas ainda hão de circular por muitas gerações.

E quanta gente boa para cumprimentar: – Boa noite,  Seu Lelé! – Boa noite, seu Onofre! Eu ainda escuto o eco da Rua do Comércio!

*Jerdivan Nobrega de Araújo e Verneck Abrantes


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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CARLOS ANDRÉ: A ESPERA QUE VENDEU UM MILHÃO DE DISCOS

Por Fabiana Moraes

Quando Carlos André resolveu gravar “Se Meu Amor Não Chegar”, teve gente que o alertou: “Essa música é popular demais para o senhor”. Colocaram a canção lá no lado B de um compacto duplo. Em poucos dias, tornou-se sucesso que fez o disco sumir das prateleiras. O hino do homem que sofre à mesa de um bar é até hoje uma das âncoras que mantém o cantor no mercado: além dos shows, de frequência semanal, ele também media apresentações de colegas como Roberto Müller e José Ribeiro. “Se eu gravasse o ‘quebra-mesa’ hoje, ficava rico.”

“O Rei dos Motoristas de Táxi”. Carlos André estava chegando a Manaus para mais um show quando viu o cartaz que anunciava a sua apresentação naquela noite. Era ali apresentado a mais um título que indicava tanto o seu lugar quanto o de seus fãs na pirâmide sociocultural do País. Conhecia outros: era “artista de cabaré”, “cantor de brega”, fazia “música de empregada” (e de caminhoneiros, pedreiros, manicures, serventes, estivadores, putas).

Carlos e os outros cantores do romântico popular eram os tenores de uma enorme parcela de trabalhadores que prestavam serviços pouco prestigiados para a classe média criada com banquinho e violão. Serviam – antes mais, hoje menos – como contraponto daquilo que era “de bom gosto” ou, no máximo, cabiam na esfera do folclórico e do risível.


Nesse sentido, era quase um impropério, entre intelectuais e demais esclarecidos do Brasil de 1975, ouvir e cantar versos como “não posso mais, eu confesso/ confesso que vou chorar/ eu hoje quebro essa mesa/ se meu amor não chegar”. Escondida na última faixa do lado B do compacto duplo O Apaixonado, a música “Se Meu Amor Não Chegar” (de Lindolfo Barbosa e Wilson Nascimento) provocou um sismo nas rádios do País quando foi lançada.

Foi em grande parte por causa dela que o artista nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, foi parar em Manaus: virou astro nas regiões Norte e Nordeste do País, aquelas que melhor acolhiam tais artistas e, por isso mesmo, terminavam fazendo parte do cimento do preconceito em relação a tal produção.

Esse olhar negativo era duplo: enquanto direitistas julgavam as músicas como cafonas, esquerdistas viam ali o subjugo do intelecto a favor da alienação. “A esquerda era muito elitizada”, conta Carlos André, cujo escritório é decorado com várias capas de discos, inclusive aquele que traz o “quebra-mesa”, como seu maior sucesso ficou conhecido.

O enorme interesse pela música agradou imensamente à gravadora Beverly: um milhão de cópias foram vendidas, instigando a empresa a realizar mais cinco discos com o mesmo título O Apaixonado (que distinguiam-se pelo número do volume: 2, 3, 4, 5, 6).

Foi o momento máximo de um artista que havia iniciado a carreira no fim da adolescência, quando fez parte do Trio Mossoró (ao lado dos irmãos Hermelinda e João, ele usava o nome de batismo, Oséas Lopes). O trio, formado nos anos 50, fez sucesso em um Sudeste que consumia com certo apetite o forró e o baião, sendo Luiz Gonzaga o mais cortejado nome. Quando o interesse por tais ritmos começou a arrefecer, foi a vez de a música romântica trazer seus ídolos, e foi aí que Carlos André deixou Oséas para trás, gravou suas dores – e estourou.

Queria ser artista desde criança: usava folha de carnaúba como se fosse sanfona, gostava de chamar atenção de quem estava ao seu redor. “Na vesperal de domingo, o programa era ir ao cinema ou ver Oséas Lopes pular da ponte.” Prestou serviços pouco comuns, como pintar carroceria de caminhão e entregar bilhetes para o delegado soltar este ou aquele preso. Nessa época, usava uma bicicleta que tinha um motorzinho.

Mas gostava mesmo era de cantar. Aprendeu ouvindo a própria mãe, que cozinhava e arrumava a casa soltando a voz. Esse gosto foi observado por Canindé Alves, locutor da rádio Tapuyo, que chamou o rapaz lá no estúdio. Ele cantou uma música para Nossa Senhora Aparecida e fez sucesso. “Eu era o cara mais famoso da cidade.” Só que a cidade era pequena demais para o nível de aparecimento que Oséas queria: decidiu ir para Fortaleza. Também achou pequena. Veio para Recife e se apresentou no programa de Fernando Castelão (o popularíssimo Você faz o show, apresentado aos domingos na TV Jornal). Trabalhou também com Orlando Silva, criador de novelas para a mesma emissora.

Mas não era exatamente o que queria: voltou para Mossoró e para o antigo emprego, no qual ganhava bem. Mas queria mesmo o Rio de Janeiro. Em 1959, arrumou as malas e pegou um navio. Foram sete dias e sete noites navegando até chegar ao porto da cidade. Instalou-se em um dos galpões localizados no bairro de São Cristóvão. Lotado de nordestinos que também buscavam algo dourado na cidade, o local quase não conseguia abrigar mais uma rede.

“Era um depósito de sal. Não tinha lugar pra mim. Aí um vigia, Calazans, que também era de Mossoró, encontrou um canto pra minha rede. Mas era bem no local onde passava o trem. Eu tinha que acordar todo dia às 5h30, pois o trem passava às seis. Calazans me acordava gritando ‘olha o trem!’. Eu pagava a ele comprando uma abacatada e um pastel, toda manhã.”

Apesar de contar com o apoio financeiro do pai, cuja renda permitia uma confortável vida familiar, Carlos André começou a fazer bicos – e foi mais ou menos por causa de um deles que mais tarde obteve a incrível soma de 1 milhão de discos vendidos. Estava entregando uma carta no edifício da rádio Nacional quando encontrou o prestigioso Trio Irakitan, contratado da casa.

Também vindos do Rio Grande do Norte, Edinho, Paulo e Joãozinho ficaram sabendo que o conterrâneo estava havia quase um mês no Rio experimentando um pouco confortável anonimato após sair de Mossoró, onde era celebridade.

Oséas também aproveitou o laço geográfico que os unia: o trio possuía um programa na rádio, o que o ajudou a chegar a nomes como Rildo Hora(caruaruense exímio na harmônica) e Paulo Gracindo, apresentadores do programa Gaita Hering. Conseguiu ser contratado e logo saiu do galpão de sal.


Os irmãos de Oséas vieram do RN e continuaram a parceria iniciada no Nordeste. Em 1962, lançaram “Rua do Namoro”, em 1965 “Quem Foi o Vaqueiro”. Ganharam o troféu Elterpe (o maior da música popular nacional nos anos 60) com a música “Carcará”, aquela que dois anos depois transformaria uma jovem Maria Bethânia, cantando no Teatro Oficina, em mito. Foram mais dez discos até que, em 1972, Oséas Lopes decidiu ser Carlos André e o trio chegou ao fim.

https://www.youtube.com/watch?v=H6DBrv5MSdU

O Apaixonado veio em 1974 e logo todos cantavam as dores do homem que se perguntava “pra que dois copos na mesa/ e uma cadeira vazia?”. Ironicamente, a canção que tornaria Carlos André nacionalmente famoso quase não era gravada – foi considerada por alguns como “popular demais” para ser interpretada pelo cantor. Seu conteúdo atormentado, pouco contido, dramático, soava meio… brega. “Diziam: ‘Essa música é muito sem-vergonha para o senhor cantar’. Mas se ser brega é agradar o povão, então eu sou.”

Lançou mais 32 discos, boa parte deles gravados enquanto Carlos também trabalhava como diretor artístico da Copacabana, que o contratou em 1979. Produziu trabalhos de artistas como Luiz Gonzaga (“ele ajudava todo mundo”).

Com dinheiro no bolso e fama, Carlos André não entrou na rotina padronizada dos artistas populares que o cercavam, preferindo não envolver-se em farras intermináveis, onde a soma bebida e mulheres era regra. “Eu era muito família, saía do show e ia direto pro hotel.” Nos anos 80, lançou seis discos e mais uma coletânea, trabalhos que foi realizando até sair da Copacabana, no fim da década.

A década de 90 vaticinou o fim de uma época, e foi justamente nela que Carlos André iniciou um quase caminho de volta: foi morar em Fortaleza, cidade que sempre cortejou os cantores populares – e onde vários deles, a exemplo de Genival Santos, presente nesta série, vivem. Foi o momento no qual regravou um sucesso popular, “Siboney” (Ernesto Lecuona e Dolly Morse), que se tornou famoso nas rádios nordestinas.

Recife, no entanto, continuava a ser o polo regional de música, o que logo atraiu o artista: em 1996, veio para a capital a convite de João Florentino, dono da Polydisc, produzir a famosa série 20 Super Sucessos (na qual os hits de cantores como Roberto Muller, José Ribeiro, Adelino Nascimento, Waleska, Fernando Mendes e Leonardo foram compilados). Trabalhou durante anos na empresa até ser desligado. O mercado já sentia os efeitos da gravação caseira de discos.

“A pirataria acabou com a produção”, diz Carlos André, que, naquele momento, voltara a também ser Oséas Lopes, o homem à frente do escritório local da Sociedade Brasileira de Administração e Proteção dos Direitos Intelectuais (Socinpro). É desse trabalho, além dos shows que faz e ainda produz, que vive hoje. “Se o ‘quebra-mesa’ fosse sucesso hoje, eu estaria rico”, comenta ele, que, religiosamente, durante seus shows, desce até a plateia para cantar seu maior hit ao lado dos fãs.

“Não acho cansativo, acho gratificante. Quando a música se imortaliza, não se acaba mais. Estamos fazendo shows com sucessos de ontem”, comenta, referindo-se a colegas como Müller e Bartô Galeno (seu maior parceiro nas mais de cem composições que escreveu, músicas como “Toma Juízo Mulher”, “Vou Devolver a Cama”, “Vou Dormir no Chão”).

No escritório da Socinpro, ele vai recebendo interessados em contratar seu show ou de outros cantores – é difícil manter sua atenção contínua na entrevista enquanto ele tenta marcar datas e estabelecer preços. Nas cerca de duas horas, no primeiro encontro com Carlos, seu telefone tocou 13 vezes (celular e fixo). No último deles, o artista recebia mais uma proposta de show. “Estou em uma entrevista, mas me ligue depois. Você sabe que quando quiser um brega é aqui. E é de qualidade.”

(Fabiana Moraes é jornalista e socióloga, repórter especial do Jornal do Commercio (Recife), autora de reportagens especiais como “Ave Maria“, “A Vida é Nelson“, “O nascimento de Joicy” (Prêmio Esso de reportagem em 2011) e “Os sertões” (Esso de Jornalismo em 2009). Publicou, no formato livro-reportagem, Os Sertões (2011) e Nabuco em Pretos e Brancos (2012). A série “O clube dos corações partidos” foi publicada originalmente no Jornal do Commercio.)

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