Por Rostand Medeiros
Geraldo
Batista dos Santos
Autor – Rostand
Medeiros
Um amigo em
comum me comunicou o recente falecimento de uma pessoa que me fascinou pelo seu
amor e dedicação pela história.
No último dia
14 de novembro de 2014, no município pernambucano de Macaparana, seguiu para o
plano superior o Professor, Historiador e Pastor evangélico Geraldo Batista dos
Santos.
Homem de
extrema sensibilidade para a importância da preservação e democratização da
informação histórica, não mediu esforços na busca de documentos, objetos e
informações sobre o passado de sua terra natal, a cidade pernambucana de
Macaparana, na região da Zona da Mata Norte. Mestre Geraldo, sem nenhum apoio,
chegou mesmo a criar um museu em sua própria casa.
Mestre Geraldo
em sua casa, recebendo, entre outras pessoas, Fernando leitão de Moraes, seu
filho Hermano Moraes e o autor deste artigo.
Entre 2011 e
2012 eu tive oportunidade de conhecê-lo no lugar Pirauá, um pequeno e belo
distrito de Macaparana. Fui ao seu encontro na companhia de Fernando Leitão de
Moraes, nativo desta região, que desde a década de 1960 vive em Natal, onde se
integrou a nossa sociedade, trabalhou no BNB e criou seus filhos. Na época eu
havia sido contratado pelo Deputado Estadual Hermano Moraes, um dos filhos de
Seu Fernando, para produzir a biografia do seu pai, em comemoração ao seu 80º
aniversário.
De Pirauá e
Macaparana eu não conhecia absolutamente nada! Mas além de me encantar com uma
região serrana particularmente bela, conheci maravilhosos detalhes de sua
história na companhia de Mestre Geraldo. Ele contou-me sobre os primeiros
engenhos de cana de açúcar, da ocupação dos brancos naquela área, das lendas,
dos escravos e das passagens dos cangaceiros de Antônio Silvino por aquele
pedaço de Pernambuco no início do século XX.
Ele me mostrou
com enorme satisfação o calhamaço de seu livro “Macaparana Centenária”, que
conta grande parte da história local e não foi publicado. Segundo ele por falta
de apoio.
Além do amplo
conhecimento histórico, do seu belo trabalho de conduzir as ovelhas em direção
ao evangelho, Mestre Geraldo mostrava com intenso entusiasmo o museu que criou
em sua casa.
Para mim
aquele contato, totalmente aberto e tranquilo por parte daquele pernambucano
maravilhoso, me abriu a mente e me mostrou o caminho para produzir “Da serra
dos canaviais à cidade do sol”, meu terceiro livro.
Talvez para
algum membro de alguma universidade, com um extenso currículo na Plataforma
Lattes, o que Mestre Geraldo tinha era um “ajuntamento de peças”. Mas aquele
homem estava muito distante do sectarismo rombudo e ignorante em relação à
democratização do conhecimento, que infelizmente permeia muitas Academias. Para
ele o maior prazer em possuir seu museu era receber os jovens estudantes
da região, para difundir e apresentar as histórias do seu lugar.
Rifle
Winchester 44 que teria pertencido a um dos cangaceiro do grupo de Antonio
Silvino.
Rifle
Winchester 44 que teria pertencido a um dos cangaceiros do grupo de Antonio
Silvino.
Entre as peças
do seu simples museu havia uma que particularmente me chamou atenção – um rifle
Winchester, calibre 44, cano sextavado, que havia sido deixado (ou perdido) por
um dos cangaceiros de Antônio Silvino em um combate perto de Macaparana.
Como Geraldo
Batista dos Santos, existem inúmeras pessoas que possuem uma enorme abnegação
pela história. É gente espalhada por vários rincões deste Brasil, que muito faz
para manter a memória de seus lugares e quase nada de apoio recebem. Isso
quando não são taxados de doidos e excêntricos!
Agora o mais
interessante que vejo em relação a estes “guardadores inúteis de história”,
como assim me definiu um professor da UFRN, após realizarmos uma visita a um
destes abnegados na região do Oeste Potiguar, é que na hora que os “Mestres” e
“Doutores” da Academia necessitam de informações, não raramente recorrem a
estas maravilhosas pessoas.
Igualmente,
após sugarem o conhecimento destas pessoas boas e honestas, quase nada fazem
por elas e pela sua luta pela história.
E no meu caso,
que também bebi da fonte, o que deixei para Geraldo Batista dos Santos?
Quando lá
retornei para uma segunda e última visita, lhe deixei apenas duas coisas; meus
livros e um material produzido pelo IBRAN – Instituto Brasileiro de Museus,
onde estava o Estatuto dos Museus e as regras e caminhos para conseguir apoios
e financiamentos para a instituição destes locais de memória.
Não sei se
Mestre Geraldo utilizou este material ou leu meus livros!
Mas jamais
poderia deixar de louvar uma pessoa com uma vida dedicada a Deus e a
preservação da memória local. Que difundiu, expôs e preservou a cultura da
região do seu jeito, fazendo os mais jovens conhecerem e se emocionarem com o
passado.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.com.br/2014/11/20/um-homem-de-deus-e-da-historia/
http://blogdomenbdesemendes.blogspot.com