1874 - 19 de Fevereiro, às
duas horas da manhã, numa quinta-feira, chovendo bastante, não havendo ronda
noturna, Jesuíno Brilhante, seu irmão João Alves Filho, o cunhado Joaquim
Monteiro e outros, perfazendo um total de oito cangaceiros, todos montados a
cavalos, atacaram de surpresa a Velha Cadeia de Pombal, que na época era
guarnecida por um cabo, onze soldados da Guarda Nacional e um da Polícia. A
finalidade era liberar seu irmão que estava preso.
Fonte: http://lentescangaceiras.blogspot.com.br/search/label/A%20Cadeia%20Velha%20de%20Pombal%20%28Verneck%20Abrantes%29
O PESQUISADOR DO CANGAÇO ÂNGELO OSMIRO ESCREVEU SOBRE O CANGACEIRO ROMÂNTICO JESUÍNO BRILHANTE:
Jesuíno Alves de Melo Calado ou
simplesmente Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico. Nasceu no sítio Tuiuiú
nas proximidades de Patu no Estado do Rio Grande do Norte. Agricultor e criador
até os vinte e cinco anos, era um homem pacato. Segundo o grande folclorista
potiguar Câmara Cascudo que por sua vez ouvira do padre Antônio Brilhante,
Jesuino era de estatura baixa, robusto, pele clara, arruivado e de olhos azuis,
falava manso e tato; exímio atirador tinha grande pontaria sendo ainda
ambidestro. Casou-se com uma prima, chamada Maria Carolina C. de Mello com quem
teve cinco filhos.
Um verdadeiro “Robin Hood” do
sertão, roubava dos ricos para distribuir aos pobres, tendo como fato que
durante a grande seca que assolou o sertão nordestino em 1877, uma das mais
catastróficas da história, ele e seu bando saqueavam os comboios enviados pelo
governo transportando alimentos. Distribuía aos flagelados a seu critério; era
aquele que protegia as donzelas ultrajadas, fazendo casamentos, principalmente
de filhos de poderosos que abusavam das filhas dos sertanejos humildes, achando
que não seriam punidos ou obrigados a casar.
A entrada de Jesuíno Brilhante no
cangaço deu-se em razão de uma desavença com uns vizinhos da família Limão,
esses ligados ao partido Conservador, então dominante da política local, em
contra partida a família de Jesuíno estava ligada ao partido Liberal, “em
baixa” como se dizia na época. Este fato em especial viria causar a perseguição
de Jesuíno por parte de um governo tendencioso.
Após um roubo de cabras na
fazenda dos Calados, praticados por membros da família Limão, a briga
esquentou, tendo um irmão de Jesuíno de nome Lucas Alves, levado uma surra de
Honorato Limão na “rua” de Patu. O fato revoltou Jesuíno Brilhante que se
dirigiu à localidade em busca de vingança, tendo encontrado o agressor em um
bar, zombando e mandando abrir uma garrafa de cachaça em “honra do morto”.
Jesuíno invadiu o estabelecimento comercial e matou Honorato Limão a golpes de
faca, fato ocorrido precisamente no dia 25 de dezembro de 1871, noite de natal.
Outra versão é que um menino da
família Limão teria desrespeitado o patriarca da família, o major João Alves de
Mello Calado. Zé Limão cumprindo ordens de seu patrão José Lobo, fora à fazenda
Tuiuiú devolver uma junta de bois que João Alves havia emprestado a seu patrão.
Desgostoso com a ordem, o moleque foi a contragosto e chegando a propriedade
dos Calados, não tratara com o devido respeito ao velho fazendeiro. Naquele
mesmo instante chegava à fazenda Jesuíno, filho de João Alves que presenciou
toda a cena e pediu respeito para com seu pai, o menino atrevidamente respondeu
ao filho de João Alves e puxou uma faca para agredi-lo, sendo desarmado e
dominado por Jesuíno, acabou levando uma surra. A família Limão passou a jurar
vingança pela sova levada pelo caçula.
A partir do assassinato de
Honorato Limão, Jesuíno Alves de Melo Calado passaria a ser Jesuíno Brilhante,
o nome era uma homenagem a um tio, que havia abraçado a vida bandoleira
anteriormente.Sua vida foi repleta de histórias extraordinárias, como a que uma
vez, chegando à fazenda de um conhecido seu, pediu ao fazendeiro cavalos,
viveres e dinheiro, tendo este negado, dizendo que dar não daria se quisesse
que levasse, Jesuíno respondeu-lhe que era cangaceiro sim, ladrão não, montou
em seu cavalo e saiu sem mais nada dizer ou fazer. Outro fato famoso de sua
vida bandoleira deu-se no assalto a cadeia de Pombal na Paraíba, com o intuito
de soltar seu irmão que estava preso naquela cidade. Assim como também o ataque
à cadeia de Martins no Rio Grande do Norte, quando, enquanto tiroteava com seus
inimigos ia furando buracos nas paredes das casas conjugadas, indo sair na
última casa da rua, deixando seus adversários atônitos com sua astúcia. Nesta
ocasião deu fuga a 43 presos conforme consta no processo aberto para apurar o
caso.
Jesuíno entrou na vida bandoleira
aos vinte e cinco anos, passando cerca de dez anos vivendo em baixo do cangaço,
porém jamais foi assalariado para cometer qualquer tipo de crime, tinha orgulho
de dizer que nunca havia matado para roubar.Dentre as histórias heróicas da
tradição oral atribuída a Jesuino Brilhante, conta-se que certa vez pedindo
pouso em uma fazenda, foi atendido pela mulher do fazendeiro, pois este estava
viajando. Aflita, a mulher pede socorro, um valentão do lugar havia mandado
avisar que ela se preparasse àquela noite, pois ele viria dormir com ela.
Jesuino orientou a mulher a sair de casa e tomou seu lugar no quarto. Brilhante
esperou o valentão, que apareceu à noite e adentrou no quarto pensando
encontrar a pobre mulher indefesa. Pouco tempo depois o homem saiu gravemente
ferido e veio a falecer. Ao amanhecer a mulher voltou para casa, encontrou
Jesuino que a tranqüilizou, dizendo ter resolvido o problema, o valentão não
voltaria mais, pois havia viajado.
Também no Ceará, o cangaceiro
romântico fez das suas. Após sua esposa e seu pai sofrerem severas humilhações
praticadas pelo Alferes Sá Leitão no Rio Grande do Norte, o militar agressor
tentou refugiar-se nas redondezas da cidade de Russas, onde para seu azar,
moravam vários familiares do cangaceiro. Não demorou muito para que Jesuíno
Brilhante fosse avisado pelos parentes do paradeiro de seu inimigo.Deslocou-se
para as terras jaguaribanas acompanhado somente do cabra conhecido por Pajeú.
Sabendo de todos os passos do militar, Jesuíno preparou uma emboscada e feriu
mortalmente seu opositor, após o ocorrido voltou oculto para o território
potiguar.
Sua saga foi romantizada pelo
grande escritor cearense Rodolfo Teófilo, através do livro “Os Brilhantes”.
Escritor nascido na Bahia, entretanto dizia ser cearense por opção.Algumas
histórias de gentil homem são atribuídas hoje em dia ao cangaceiro Lampião, o
que cria de certa forma uma áurea de herói para o cangaceiro do Pajéu, o que na
realidade Lampião não foi, algumas dessas atitudes foram mesmo protagonizadas
pelo cangaceiro herói potiguar, esse sim um cangaceiro romântico. Outras
histórias sequer existiram, sendo pura criação do imaginário popular.
A vida de Jesuíno Brilhante foi
heróica, e sua morte não poderia ser diferente. Sendo atacado pela polícia
comandada por um seu inimigo da família Limão, vendo-se acuado montou em seu
cavalo e partiu célere em direção dos seus perseguidores disparando seu
bacamarte, mas foi ferido mortalmente pelo inimigo. Jesuino foi ainda carregado
pelos companheiros, vindo a falecer no lugar Palha, no meio do mato, onde foi
enterrado. Anos depois seu amigo o médico Francisco Pinheiro de Almeida Castro
exumou o esqueleto, levando a caveira para Mossoró, daí para a cidade do Rio de
Janeiro de onde não se sabe hoje seu paradeiro. Jesuíno Brilhante o verdadeiro
Cangaceiro Romântico.
*Ângelo Osmiro Barreto é
Historiador e Pesquisador do Cangaço, atual presidente da SBEC - Sociedade
brasileira de estudos do cangaço
http://cariricangaco.blogspot.com/2010/01/jesuino-brilhante-o-cangaceiro.html
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